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Análise de uma curva de salários

ARTIGOS

Análise de uma curva de salários

Siegfried HoylerI; Oswaldo de Paula RamosII

IGerente de Relações Industriais e Públicas, da Alumínio do Brasil S.A

IIGerente de Administração de Salários, da Alumínio do Brasil S.A

"No exercício de suas funções os administradores de pesarei devem constantemente investigar problemas específicos, interpretar fatos e atitudes e desenvolver planos e procedimentos." - ARTHUR M. WHITE-HILL, JR.

A administração de salários de uma emprêsa tem dois objetivos fundamentais:

1.º) estabelecer o equilíbrio interno dos salários, proporcionando-se a cada empregado um salário consentâneo com as atribuições e com a complexidade do seu cargo, considerado o mérito individual, em confronto com os outros empregados da emprêsa;

2.º) promover o equilíbrio externo dos salários, levando-se em consideração os níveis salariais do mercado (para cargos passíveis de comparação).

Neste trabalho não nos demoraremos no primeiro dos objetivos citados já exaustivamente tratado, mas no segundo, cuja importância pretendemos salientar. O propósito dêste artigo é apresentar os meios adequados para o necessário confronto dos resultados obtidos pela aplicação de uma política salarial com os dados colhidos do mercado de trabalho. Trata-se de uma análise da curva salarial efetuada para grande metalúrgica nacional com o propósito de verificar o equilíbrio externo dos salários, ou seja, a curva salarial obtida pela colocação de todos os salários (ou cargos representativos específicos) num gráfico cartesiano e a comparação dessa curva com os dados do mercado.

Convém esclarecer, contudo, quais são, em resumo, as práticas de administração salarial que tendem a manter o equilíbrio interno de salários:

a) os cargos são analisados e descritos para fins de avaliação;

b) os cargos são avaliados pelo método de pontos;

c) de acordo com os resultados das avaliações, os cargos são classificados em grupos (ex.: no grupo 1 são classificados os cargos com 81 a 100 pontos; no grupo 2, cargos com 101 a 120 pontos etc.);

d) considera-se como salário indicado para cada grupo de cargos a média dos salários do grupo;

e) para a fixação dos salários individuais a emprêsa, partindo do salário médio de cada grupo, compõe faixas salariais defasadas em 30% entre o mínimo e o máximo.(1 1 ) Para informações sobre as práticas citadas recomendamos as seguintes obras: • RUY A. S. LEME, "Administração Salarial", Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. • J. A. PATTON e C. A. LITTLEFIELD, "Job Evaluation: text and cases", Fichard D. Irwin, Inc. • LANHAM, "Job Evaluation", McGraw-Hill. • BELCHER, "Wage & Salary Administration", Prentice-Hall. )

Nesta parte introdutória resta-nos informar que os salários a que aqui faremos referência serão representados por números irreais.

O MERCADO DE SALÁRIOS

Podemos dispor num gráfico os grupos de cargos e os respectivos salários de uma emprêsa; no mesmo gráfico podemos registrar os salários do mercado, obedecendo à mesma classificação da emprêsa considerada, como no GRÁFICO 1.


Suponhamos que essa emprêsa tenha uma estrutura salarial igual à curva "A", e que o mercado de trabalho ofereça atualmente um pagamento correspondente à curva "B".

Em tôda a área riscada verticalmente - isto é, do grupo 1 ao grupo 11 - a emprêsa estaria perdendo dinheiro, pagando acima do mercado, tornando difícil a competição do seu produto, agravado por custos elevados no setor da mão-de-obra, enquanto que na área quadriculada - ou seja, do grupo 11 ao grupo 30 - a emprêsa estaria provàvelmente perdendo seus colaboradores ou arriscada a perdê-los, e justamente aquêles de mais alto nível, cujo treinamento terá exigido maior investimento da emprêsa, em favor de outras emprêsas (talvez concorrentes) que lhes estariam acenando com melhores ofertas de salário (evidentemente, supondo-se um mercado normal de trabalho).

Nem o primeiro nem o segundo caso correspondem certamente aos interêsses da emprêsa. O salário está, por conseguinte, em grande parte, em função do mercado.

PESQUISA DOS DADOS DO MERCADO

Para analisar a curva de salários promovemos uma pesquisa de salários com a preocupação de obter dados sobre os salários pagos na comunidade, que pudessem representar todos os grupos de cargos da companhia. Para certos grupos foram encontrados, com facilidade, dados de 5 ou 6 cargos; para outros os dados colhidos só se referiam a 3, 2 ou apenas 1 cargo. Tal fato, porém, não alterou os resultados, porquanto o que se pretendia era trabalhar com as médias dos grupos de cargos.

As formas de obtenção dos dados do mercado mais comumente adotadas pelas emprêsas são três:

• Participação em pesquisas promovidas por outras emprêsas ou por grupos de permuta de informações salariais - Essa forma geralmente não permite a obtenção de todos os dados necessários e requer, portanto, uma pesquisa complementar. Por outro lado, a prática da participação em pesquisas salariais realizadas por emprêsas pode absorver de tal modo os responsáveis pelas informações objeto das pesquisas que essa sobrecarga se tornará desnecessária e injustificável. Há outros inconvenientes, particularmente no caso de a pesquisa ser promovida por grupos informais de trocas de informações sôbre salários, fenômeno que não nos cabe aqui analisar.

• Participação em pesquisas promovidas por emprêsss especializadas - A nosso ver, a consulta a uma agência especializada criteriosamente selecionada, que mereça a confiança dos participantes, constitui a melhor forma de avaliar periodicamente a posição salarial da emprêsa.

• Promoção de uma pesquisa própria dos cargos desejados junto a emprêsas previamente selecionadas - Essa forma pareceu-nos para o nosso caso específico a que mais informes poderia fornecer: escolhemo-la.

TRATAMENTO DOS DADOS DO MERCADO

Através da pesquisa própria que promovemos junto a emprêsas representativas de nossa área geográfica, obtivemos informações satisfatórias sôbre os salários de 77 cargos selecionados e passíveis de comparação.

Considerando que nossa preocupação era testar a curva de salários (formada por 27 grupos de cargos), foi necessário inicialmente agrupar os dados dos 77 cargos pesquisados nos 27 grupos de cargos que possuíamos, obtendo-se com isso 27 valores para representar a curva de salários do mercado. Obtivemos dados que representavam 23 grupos de cargos, distribuídos do grupo I ao grupo XXVII, não estando representados os grupos II, III, XXIV e XXVI, conforme mostra o QUADRO 1, o qual ilustra o processo seguido para encontrar o salário do mercado para os vários grupos de cargos (no caso, apenas para o grupo X).


As médias obtidas para cada grupo de cargos formaram os valores da curva dos salários do mercado, cuja tendência, uma vez traçada, foi confrontada com a da emprêsa. Dessa forma, no QUADRO 2 registramos os dados dos 77 cargos pesquisados (obtendo a média do mercado para cada grupo, de acordo com o critério adotado no QUADRO 1 ) e as médias respectivas da emprêsa. No GRÁFICO 2 vemos a curva das médias.



DETERMINAÇÃO DA LINHA DE TENDÊNCIA

Utilizando os dados do QUADRO 2, pudemos traçar a linha de tendência da série de salários pagos no mercado. Para tanto preferimos operar com o "método dos mínimos quadrados" que. apesar de complexo, oferece melhor resultado.(2 (2 ) Procuramos evitar neste trabalho a aplicação de quaisquer métodos ou formulas baseados em estimativas. O método dos mínimos quadrados "é o que nos dá imediatamente a linha a partir da qual a soma dos quadrados dos erros 6 a menor possível..." (A. E. WAUGH, Elementos de Estatística). )

Considerando-se, por inspeção visual do GRÁFICO 2, que a curva de salários é melhor representada gráficamente por um trinomio de segundo grau, e denominando-se os grupos salariais por x e as médias do mercado por y, a tendência de y ou seja, yc - será encontrada com a aplicação da fórmula:

(Fórmula A),

onde a, b e c representam as constantes, enquanto que x e yc representam as variáveis definidas acima.

Os valôres constantes foram encontrados através das seguintes equações:(3 (3 ) RUY A. S. LEME, "Curso de Estatística", Ao Livro Técnico S.A., pág. 231. )

Resolvendo o sistema dessas três equações, encontramos fácilmente os valores de a, b e c. Entretanto, tivemos primeiramente a necessidade de encontrar os valores de x2, x3, x2y etc. para a solução das equações, o que fizemos no QUADRO 3.


Com os resultados do QUADRO 3 pudemos compor as equações, visando a obter os valores de a, b e c.

Pela segunda equação encontramos fácilmente o valor de b:

Com o nôvo valor conhecido, conjugando a primeira e a última equações, temos:

Promovamos nas duas equações acima a igualdade de a para encontrar o valor de c. Para tanto bastará multiplicarmos tôda a primeira equação por um mesmo número (60,66). É óbvio que com essa operação a equação não se alterará, pôsto que:

1638a + 178542c = 407704 e

- 1638a - 99361c = -354679.

Ora, 79181c = 53025.

Portanto, c =

= 0,66.

Com os novos valores conhecidos (b = 19,9 e c = 0,66) encontramos com facilidade o valor de a:

Encontradas as constantes da parábola (a = 176, b - 19,9 e c = 0,66), utilizemo-las na Fórmula A (yc = a + bx + cx2 ) e teremos, como é natural, para cada valor de x um valor de yc.

Por exemplo, sendo x = -12, teremos:

Para x = -6, yc = 80; para x = 7, yc = 348, e assim por diante. Donde se infere que para o grupo salarial VIII representado no QUADRO 2 como - 6 (valor de x), tínhamos a tendência do mercado (yc) igual a 80.

Procedendo dessa forma em relação a todos os valores de x, do grupo I ao XXVII - vale dizer, de -13a a + 13 - encontramos as tendências de y, isto é, encontramos os 27 pontos da parábola que representam a tendência do mercado. Os valores de yc assim encontrados estão no QUADRO 4.


Em seguida, dispusemos no Gráfico 3 a tendência do mercado, os salários médios do mercado e as médias dos grupos salariais da emprêsa.


COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO

Vamos calcular agora o grau de correlação existente entre os salários da emprêsa (x) e a tendência dos salários do mercado (yc). Preliminarmente, tracemos no GRÁFICO 4 o diagrama de dispersão, mostrando a relação entre os salários da emprêsa (nas abcissas) e a tendência dos salários do mercado (nas ordenadas). A curva obtida pela reunião dos pontos das coordenadas x e yc indica que a relação pode ser considerada linear, como se nota. pela superposição razoável qus ocorre entre a curva e a reta pontilhada constantes do GRÁFICO 4. Se traçarmos o diagrama de dispersão mostrando a relação entre os saiarios da emprêsa (x) e a média dos salários do mercado (y), como no GRÁFICO 5, também concluiremos que a relação pode ser considerada, com razoável satisfação, de natureza linear.



Coeficiente de correlação é a medida que indica o grau de dependência funcional existente entre duas séries de valôres. Se a dependência funcional entre os salários da empresa e os do mercado fôsse perfeita, teríamos uma linha reta, como as linhas pontilhadas dos GRÁFICOS 4 e 5. Se não houvesse correlação nenhuma, os pontos obtidos seriam dispersos ao acaso.

As fórmulas para calcular o coeficiente de correlação entre duas séries são de tal maneira compostas que dão como resultado máximo o valor 1. Assim, o resultado 1 denota perfeita correlação; o resultado zero denota ausência de correlação. Os resultados ou coeficientes de correlação situam-se sempre entre -1 e + 1. Um coeficiente de correlação igual a 0,03, por exemplo, indica a existência de insignificante grau de correlação. Já um coeficiente de 0,83 indica ótimo grau de correlação.

Coeficiente de Correlação da Curva da Emprêsa com a Curva de Tendência de Salários do Mercado

Para constatar a existência ou não de correlação entre a curva da emprêsa e a curva da tendência do mercado, usamos a conhecida fórmula

(Fórmula B ),

com os seguintes valores:

r = coeficiente de correlação

x = média dos grupos salariais da emprêsa

y = tendência dos salários do mercado

N = número de pontos no gráfico (número de grupos salariais)

Mx = média de x

My = média de y.

Compusemos um nôvo quadro para encontrar tais valores (QUADRO 5).


Resumamos os resultados do QUADRO 5:

∑X = 5.681

∑y = 5.830

xy = 1.921.301

x2 = 1.912.901

y2 = 1.942.340

Mx = 210,400

My = 215,920.

E agora apliquemos a êsses resultados a Fórmula B:

O coeficiente de correlação igual a 0,99 indica haver correlação quase perfeita entre a curva de salários da emprêsa e a curva de tendência dos salários do mercado.

CONCLUSÃO

O presente estudo visou, principalmente, a comparar a curva salarial obtida pela aplicação do sistema de avaliação de cargos próprio da companhia, com a obtida através de uma pesquisa salarial dirigida a 40 emprêsas escolhidas e representativas de determinado mercado de trabalho. Essa comparação foi feita não só gráficamente, como também - para maior precisão da análise - algébricamente. De um estudo da correlação entre as duas séries obtivemos um resultado altamente positivo igual a 0,99.

Subsidiàriamente, o presente estudo visava a testar, através dos resultados obtidos, o próprio critério utilizado para a classificação dos cargos. A emprêsa já havia estabelecido a sua curva de salários, utilizando um método aborígine, adaptado empiricamente às suas condições.

Sabe-se que as tarefas mais difíceis da criação de um método de avaliação de cargos são a especificação dos fatores de análise e a ponderação dêsses fatores. Alheios a métodos matemáticos complexos, os administradores de salários recorrem, não raro, a aproximações sucessivas quando não se satisfazem com qualquer resultado obtido, que pode ser desde casualmente coincidente, até francamente absurdo em relação ao mercado.

Através do estudo aqui descrito procuramos analisar, também, a validade do método de avaliação de cargos utilizado, e concluímos, diante da coincidência dos resultados da emprêsa com os do mercado, pela absoluta validade do método de avaliação de cargos adotado pela emprêsa.

  • RUY A. S. LEME, "Administração Salarial", Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
  • J. A. PATTON e C. A. LITTLEFIELD, "Job Evaluation: text and cases", Fichard D. Irwin,
  • LANHAM, "Job Evaluation", McGraw-Hill.
  • BELCHER, "Wage & Salary Administration", Prentice-Hall.
  • (3) RUY A. S. LEME, "Curso de Estatística", Ao Livro Técnico S.A., pág. 231.
  • 1
    ) Para informações sobre as práticas citadas recomendamos as seguintes obras:
    • RUY A. S. LEME, "Administração Salarial", Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
    • J. A. PATTON e C. A. LITTLEFIELD, "Job Evaluation: text and cases", Fichard D. Irwin, Inc.
    • LANHAM, "Job Evaluation", McGraw-Hill.
    • BELCHER, "Wage & Salary Administration", Prentice-Hall.
  • (2
    ) Procuramos evitar neste trabalho a aplicação de quaisquer métodos ou formulas baseados em estimativas. O método dos mínimos quadrados "é o que nos dá imediatamente a linha a partir da qual a soma dos quadrados dos erros 6 a menor possível..." (A. E. WAUGH, Elementos de Estatística).
  • (3
    ) RUY A. S. LEME, "Curso de Estatística", Ao Livro Técnico S.A., pág. 231.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jul 2015
    • Data do Fascículo
      Jun 1966
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