Acessibilidade / Reportar erro

Breve história da escravidão

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Romualdo Luiz Portela de Oliveira

Professor no Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Universidade de São Paulo

Maestri Filho, Mário José. Breve história da escravidão. Porto Alegre, Mercado Aberto. 1987. 112 p. (Série Revisão, v. 25.)

A discussão da escravidão em nossa formação social tem merecido nos últimos anos inúmeros trabalhos - tanto acadêmicos, quanto de divulgação que nos têm permitido uma melhor compreensão deste importante fenômeno econômico-social.

O Brasil, último país americano a abolir a escravidão, por mais de 300 anos dependeu dessa forma bárbara de exploração humana. Apesar de decorridos quase 100 anos do 13 de maio da 1888, "única revolução social conhecida pela história brasileira", a posição subalterna a que o negro está condenado em nossa sociedade e a velada - às vezes explícita - discriminação enfatizam de forma espantosa as vicissitudes da idéia de democracia econômica e social em nosso país.

Desde o lançamento, em 1978, do livro O escravismo colonial, de Jacob Gorender (Ática), instaurou-se viva polêmica sobre a natureza de nosso sistema colonial, tendo como contraponto mais expressivo a tese de Fernando Novais, Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial 1777-1808(Hucitec, 1979).

Gorender advoga a tese de que o 'escravismo colonial' seria um "modo de produção historicamente novo", específico do Novo Mundo, enquanto Novais trabalha com a idéia de que o nosso sistema colonial era fundamentalmente um apêndice do emergente modo de produção capitalista, em desenvolvimento na Europa Ocidental e, portanto, regido pela lógica deste. Os problemas metodológicos que contrapõem as duas interpretações têm rendido muita discussão, entre elas a da determinação interna ou externa para a análise da formação social brasileira ou a valorização diferenciada de episódios de nossa história, como, por exemplo, a já citada abolição.

Mário Maestri, ex-professor de história da África no Curso de Mestrado em História da UFRJ, escreveu primeiramente setor» o desenvolvimento do escravismo colonial no Sul do País, na mesma linha de Gorender. Mencione-se o texto de divulgação O escravo gaúcho: resistência e trabalho (Brasiliense, 1984) e sua tese de doutorado defendida em louvain (Bélgica), posteriormente publicada pela Editora da Universidade de Caxias do Sul, intitulada O escravo no Rio Grande do Sul: a charqueada e a gênese do escravismo gaúcho (1984). Posteriormente publicou, entre outros, O escravismo antigo (Atual/Ed. Unicamp, 1985).

Com este trabalho, procura apresentar, em linhas gerais, as principais características de diferentes sociedades que conviveram com o trabalho escravo, quer como forma dominante de trabalho (caso do escravismo antigo, em suas versões grega e latina e, também, do Novo Mundo), quer como forma periférica (caso do feudalismo).

Partindo do "pressuposto de que a escravidão - status jurídico consuetudinário ou institucional no contexto de diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas materiais, deu origem a diferentes sociedades escravistas", o autor procura analisar características destas sociedades, bem como faz uma crítica dos processos de transição de um modo de produção a outro, enfrentando questões polêmicas, corno, por exemplo, a do desenvolvimento ou não das forças produtivas na passagem do escravismo antigo ao modo de produção feudal.

A abordagem clara e referenciada nos principais especialistas de cada período, além da relativa escassez de textos que façam uma análise comparativa da escravidão ao longo da história ocidental, torna este texto um bom guia para um primeiro contato com o tema, podendo ser muito útil para os cursos de nível médio e básico do ensino superior.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1987
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br