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Editorial

Editorial

Os critérios de avaliação de nossos cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados) apontam para a internacionalização como via incontornável para que se possam obter os graus mais altos da avaliação, a saber, a pontuação de 6 e 7. A exigência específica é que parte da produção científica dos programas seja veiculada em periódicos internacionais. Isto tem feito que a preocupação com critérios de periódicos internacionais e as exigências para ser publicado internacionalmente tenham passado a despertar atenção e interesse crescentes em nossa comunidade científica de administração.

Acompanhando como editor desta revista e também como autor procedimentos de avaliação (blind review) de periódicos internacionais, constato que as avaliações de artigos submetidos são de maneira geral bem mais severas, abrangentes e cuidadosas do que as que realizamos de material submetido aos nossos periódicos brasileiros. E aqui incluo os considerados pelo Qualis como Nacional A. Caso um artigo ultrapasse o julgamento liminar do editor principal ou de algum dos editores associados, será encaminhado para ser avaliado por pessoas que estão entre as que mais conhecem no mundo o tema de que trata o material. Isso torna indispensável que o autor esteja absolutamente atualizado sobre o assunto que versa o texto submetido. Aqui, a nossa produção é particularmente frágil.

Boa parte de nossos artigos considera como referencial teórico uma "revisão da literatura" muito empobrecida. O autor repete mal e de maneira truncada o que os autores referidos fizeram de forma muito mais apropriada. A revisão da literatura implica não em mostrar erudição, mas em saber relacionar o que foi produzido com as posições, hipóteses ou contestações que o autor pretende realizar em seu artigo. Em resumo, o autor deve dizer a que vem e como seu trabalho se justifica diante do que foi até o momento produzido a respeito do assunto.

Para que essas dificuldades sejam superadas, é fundamental que o autor se familiarize com a literatura internacional. Isso demanda uma contínua leitura de periódicos de sua área. Não esquecer que o etnocentrismo é inegável e que um periódico tende a considerar como conhecimento atualizado ter lido o que aparece em suas páginas e em outros periódicos semelhantes. Portanto, para se publicar internacionalmente é necessário ler os periódicos internacionais. A produção científica brasileira é particularmente vulnerável neste ponto. Nossos autores ainda apóiam suas idéias em livros e mais raramente em artigos de periódicos. Quando o fazem, a tendência é referir-se à produção nacional. Daí freqüentes referências a EnANPADs, RAE, RAC, RAUSP etc. O resultado é que artigos escritos por brasileiros submetidos a periódicos internacionais voltam com uma avaliação na qual se encontram às vezes páginas de bibliografia que deve ser consultada. Delicadamente se está a dizer que o autor, antes de escrever ou elaborar o projeto de pesquisa que deu origem ao artigo, deveria ter lido bem mais do que lera.

Esses procedimentos de avaliação são muito oportunos num universo de "publicar ou perecer" que acabou se implantando também entre nós aqui, deste outro lado do equador. Como editor e membro da comunidade, percebo que muitos artigos submetidos a periódicos e também a encontros acadêmicos são apressados e carecem ainda da maturidade necessária. Diríamos que se fôssemos usar a analogia da orquestra sinfônica, muitos deles não passam de uma primeira leitura, feita pela orquestra, da partitura que se pretende executar. Até que aquilo se transforme numa execução digna de um grande concerto, muitas horas de ensaio serão necessárias. Muitos de nossos artigos não ultrapassam uma primeira versão e poderiam ser considerados apenas esboços tentativos. Isso pode ser constatado quando nos deparamos com um "artigo" que é a revisão da literatura para a produção de uma tese ou dissertação acadêmica.

Se já podemos contar com avaliadores que efetivamente produzem avaliações de nível internacional, sugerindo alterações e atuando como reais conselheiros do autor, dessa forma chegando quase a uma "co-autoria" de fato, muitos avaliadores ainda avaliam pela rama. São poucas as justificativas para aprovar e publicar na forma como o artigo foi apresentado ou para rejeitá-lo também sem grandes explicações. Ambas as alternativas são reveladoras de uma avaliação pobre. Mas felizmente já podemos contar com avaliadores que redigem avaliações substantivas, adicionando sugestões de leituras complementares, adentrando no referencial teórico e nos procedimentos metodológicos e também comentando e contribuindo na análise dos resultados.

Ficam aqui algumas reflexões nascidas do exercício da tarefa de editar periódicos científicos. Espero que não sejam vistas como um misto de reflexão e desabafo, mas especialmente como um esforço para que possamos chegar a artigos com graus mais elevados de avaliação e atingir rapidamente o nível de qualidade internacional almejado, estabelecido legitimamente pelos critérios da pós-graduação brasileira e já conquistado por outras áreas.

Carlos Osmar Bertero

Diretor e Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Set 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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