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Transmissão vertical do HIV em gestantes com rotura das membranas ovulares

Panorama Internacional

Obstetrícia

TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EM GESTANTES COM ROTURA DAS MEMBRANAS OVULARES

A rotura das membranas ovulares nas gestantes portadoras do HIV é assunto muito discutido por vários pesquisadores e divulgados na literatura internacional pertinente. Entre estes, podemos citar o estudo de Minkoff et. al1, que ocorreu entre janeiro de 1986 e janeiro de 1991 nos Estados Unidos. Estudando 127 mulheres com o vírus HIV e rotura prematura de membranas ovulares, demonstraram maior taxa de transmissão de acordo com o tempo de rotura e o nascimento. As pacientes foram divididas em 2 grupos segundo a contagem de células CD4. Este autor observou que quando o tempo de bolsa rota era menor que 4 horas, a taxa observada foi de 18,9% e de 11,8% (com CD4 alto e baixo, respectivamente). Se o intervalo da ocorrência da rotura das membranas e o parto era entre 4 e 8 horas, a taxa se elevava significativamente para 26,1% e 50%, enquanto que se o tempo era maior que 8 horas, as taxas permaneciam inalteradas (20% e 54,5%).

Mandelbrot et al.2, analisando dois estudos (Estudo Colaborativo Europeu e o Coorte Francês) realizados entre os anos de 1985 e 1993, totalizando 1632 mulheres, observaram que em 26,9% ocorreu a rotura de membranas. A taxa de transmissão com bolsa rota foi de 23,8% comparado a 17,8% sem a rotura de membranas. Verificaram também que a taxa de transmissão vertical era mais alta quando o tempo de bolsa rota era maior que 12 horas. Vale ressaltar que nestes estudos não há administração da terapêutica antiretroviral e, com isso, demostram a transmissão vertical "natural " do HIV.

Estudos mais recentes têm associado a bolsa rota com a presença de corioamnionite como fator de aumento à taxa de transmissão. Popek et. al 3, verificaram que quando existia bolsa rota com tempo menor que 4 horas, com ou sem corioamnionite, a transmissão foi de 6%; quando o tempo decorrido entre a rotura e o nascimento era maior que 4 horas, mas sem corioamnionite, era de 5%, porém quando existia corioamnionite com o tempo maior que 4 horas, a taxa se elevava muito, atingindo cifras de 38%.

Se, de um lado, podemos concluir que a taxa de transmissão vertical do HIV está aumentada na presença prolongada de bolsa rota, principalmente se associada à corioamnionite, por outro, não há estudos que demostrem se o tratamento da corioamnionite seria eficaz na prevenção da transmissão do HIV.

Além disso, os dados que dispomos em literatura são insuficientes para testar se a taxa de transmissão vertical seria aumentada naquelas mulheres com bolsa rota, carga viral baixa e sob terapêutica antiretroviral eficaz.

Comentário

Inegavelmente, os esforços atuais referentes à HIV e ciclo gravídico-puerperal canalizam-se para diminuir a transmissão vertical deste vírus, isto é, da gestante ao produto conceptual. A terapêutica anti-retroviral, instituída com a implementação de protocolos bem estabelecidos, significou grande avanço, acabando por determinar taxas muito baixas de transmissão do vírus à prole. Entretanto, há que se convir que várias intercorrências que ocorrem principalmente no período final da gestação necessitam de melhores estudos para que se alcance aquilo que se deseja, porque interferem sobremaneira na dinâmica entre mãe e feto. Por outro lado, deve-se considerar que o aspecto fundamental e que ainda permanece com resposta incompleta se relaciona à influência nas taxas de transmissibilidade do HIV da carga viral e da terapêutica instituída sobre as doenças intercorrentes, durante as diversas fases da gestação, principalmente no período do nascimento. Enquanto estas lacunas não forem adequadamente preenchidas, estaremos sob constantes mudanças ao sabor das convicções dos grupos de estudo que normatizam as condutas destes casos.

Alessandra Rezzaghi

Referências

1. Minkoff H; Burns DN; Landesman S; Youchah J; Goedert JJ; Nugent RP; Muenz LR; Willoughby AD. The relationship of the duration of ruptured membranes to vertical transmission of human immunodeficiency virus. Am J Obstet Gynecol 1995;173(2): 585-9.

2. Mandelbrot L; Mayaux MJ; Bongain A; Berrebi A; Moudoub- Jeanpetit Y; Bénifla JL; Ciraru-Vigneron N; Le Chenadec J; Blanche S; Delfraissy JF. Obstetric factores and mother-to-child transmission of human immunodeficiency virus type 1: the French perinatal cohorts. SEROGEST French Pediatric HIV Infection Study Group. Am J Obstec Gynecol 1996; 175(3 pt 1): 661-7.

3. Popek EJ; Korber BT; Merrit L et al. Acute chorioamnionits and duration of membrane rupture correlates with vertical transmission of HIV1. 4th Conference on Retrovirures and Opportunistic Infections. 1997; 158 (abstr 504 ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Abr 2001
  • Data do Fascículo
    Mar 2001
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