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Plasma rico em plaquetas em lesões de joelho

À BEIRA DO LEITO

ÁREA: MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Plasma rico em plaquetas em lesões de joelho

Romulo Paris SoaresI; Felipe Toyama AiresI; Wanderley Marques BernardoII

IAcadêmico da Faculdade de Medicina de Santos - UNILUS, Santos, SP

IICoordenador do Projeto Diretrizes AMB-CFM e Professor de Medicina Baseada em Evidência da Faculdade de Medicina de Santos - UNILUS, Santos, SP

As lesões que acometem o joelho ocorrem com uma incidência relativamente alta, principalmente em atletas, e causa instabilidade e diminuição da função, além de serem muito dolorosas, principalmente na fase aguda. O tratamento cirúrgico é amplamente aceito como a escolha da terapia e é recomendada especialmente para jovens atletas que precisam de retorno imediato às suas atividades.

Nos últimos anos o uso de fatores de crescimento tem sido utilizado para acelerar a cicatrização, com a ideia de um retorno mais rápido à atividade sem restrições1. O plasma rico em plaquetas (PRP) é definido como um volume da fração do plasma de sangue autólogo com uma concentração de plaquetas acima do valor inicial. As plaquetas contêm um grande número de fatores de crescimento e citocinas que teriam um papel fundamental na regeneração óssea e maturação dos tecidos moles2. A justificativa para utilização do PRP reside na inversão de relação de glóbulos vermelhos no sangue que são menos úteis no processo de cicatrização e aumento de plaquetas para a recuperação3. Visto que a utilização do PRP está aumentando para melhorar o tratamento de diferentes patologias ortopédicas, realizou-se revisão a fim de elucidar a eficácia do PRP em pacientes com lesões no joelho.

A dúvida clínica foi: "Em pacientes com lesão no joelho o uso do PRP acelera a resposta clínica?

Para responder a esta questão, realizou-se uma busca criteriosa da literatura na base de dados MEDLINE através da seguinte estratégia: (prp OR platelet rich plasma) AND (ligament OR Knee). Apenas estudos publicados em inglês, português e espanhol foram incluídos. Incluíram-se apenas ensaios clínicos randomizados e estudos coortes (força de evidência 1B ou 2B). As medidas consideradas na análise foram a redução ou aumento do risco absoluto com um intervalo de confiança de 95%.

Após avaliação crítica foram incluídos apenas dois estudos relacionados à questão clínica. O primeiro estudo4 analisou 40 pacientes com lesão do ligamento cruzado anterior diagnosticada pelo exame clínico e com imagem de ressonância magnética, sem cirurgia prévia no joelho ou antecedentes de lesões ligamentares. Os pacientes foram divididos em dois grupos: 10 pacientes foram submetidos ao tratamento convencional, e 30 foram submetidos ao mesmo tratamento e adicionado o uso do concentrado rico em plaquetas de três diferentes formas: 1ª) PRP no final da cirurgia, 2ª) PRP no final da cirurgia e intra-articular e 3ª) Combinado de PRP com trombina. Os resultados mediram o nível de celularidade e vascularização no túnel femoral por meio da intensidade do sinal da ressonância magnética. Não houve diferenças significativas entre os grupos com relação a ambos os desfechos.

O segundo estudo incluído5 utilizou testes clínicos e resultados de ressonância magnética em pacientes sem antecedentes de lesões. Um total de 100 pacientes foi randomizado em dois grupos: grupo controle de tratamento convencional e grupo intervenção no qual foi utilizado um gel com um concentrado rico em plaquetas. Estado funcional, parâmetros inflamatórios, dosagem de proteína-C reativa e critérios radiológicos foram avaliados para verificar a cicatrização do enxerto. Os resultados não mostraram diferença significativa entre os grupos. mbora o uso do PRP possa acelerar a recuperação de lesões do joelho no momento não há evidência consistente que sustente esta hipótese na prática clínica.

  • 1. Anitua M, Sanchez E, Nurden A, Nurden P, Orive G, Andia I. New insights into and novel applications for platelet-rich fibrin therapies. Trends Biotechnol 2006; 24: 227-34.
  • 2. Pietrzak W, Eppley B. Scientific foundations platelet rich plasma: biology and new technology. J Craniofac Surg 2005; 16: 1043-54.
  • 3. Marx RE. Platelet-rich plasma (PRP): what is PRP and what is not PRP? Implant Dent. 2001; 10: 225-8.
  • 4. Silva A, Sampaio R. Anatomic ACL reconstruction: does the platelet-rich plasma accelerate tendon healing? Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2009; 17: 676-82.
  • 5. Nin JR, Gasque GM, Azcárate AV, Beola JD, Gonzalez MH. Has platelet-rich plasma any role in anterior cruciate ligament allograft healing? Arthroscopy. 2009; 25: 1206-13.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Ago 2010
  • Data do Fascículo
    2010
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