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A videotorascoscopia tem indicação no tratamento do empiema pleural na criança?

PEDIATRIA

A videotorascoscopia tem indicação no tratamento do empiema pleural na criança?

Uenis Tannuri

Nos últimos 10 ou 12 anos, o recurso da videocirurgia trouxe inquestionáveis vantagens no tratamento de várias afecções, em adultos e crianças, particularmente a colecistite crônica calculosa e a doença do refluxo gastroesofágico. Com a maior experiência dos cirurgiões na utilização deste recurso, passou-se a utilizar a videocirurgia em afecções da cavidade torácica e destas, o empiema pleural para-pneumônico. Quanto a esta afecção, deve-se lembrar a grande freqüência em crianças em nosso meio, e o principal aspecto a ser considerado refere-se às marcantes diferenças em relação aos adultos. A evolução de crianças com brocopneumonia e empiema pleural é, de modo geral, mais benigna, e com excelente resposta apenas ao tratamento com antibióticos e punção e/ou drenagem pleural. O que de fato se observa em crianças é que, após a drenagem pleural, por vezes persiste imagem radiográfica sugestiva de acentuado espessamento pleural, ausência de expansão pulmonar, pequenos derrames septados ou mesmo retração intercostal e deformidade torácica. Todas estas alterações regridem após 2 a 3 meses, sem qualquer intervenção cirúrgica, diferente de pacientes adultos1. Deve-se enfatizar que na evolução do empiema pleural na criança não há correspondência entre imagem radiográfica e quadro clínico. Alterações radiográficas significativas não devem ser interpretadas como situações de preocupação e, portanto, com indicação cirúrgica. Na prática clínica, tenho observado várias crianças com empiema pleural serem tratadas por cirurgiões com pouca experiência, que indicam precocemente a videotoracoscopia, com base em trabalhos científicos, cuja única conclusão é que o procedimento diminui o período de internação hospitalar2. Após mais de 30 anos de experiência no tratamento de empiema pleural em crianças, conclui que a videotoracoscopia não tem qualquer papel de valor. O que se observa, de fato, é que muitos cirurgiões, particularmente aqueles com experiência limitada aos adultos, "forçam" a indicação do procedimento em crianças, que se revela absolutamente desnecessário. A realização de toracotomia (não videotoracoscopia) após broncopneumonia e empiema na criança deve ser considerada apenas tardiamente, após 2 ou 3 meses de evolução, em casos em que não ocorre expansão pulmonar, em decorrência de destruição de um lobo ou segmentos pulmonares pelo processo infeccioso. Tais situações são excepcionais e representam menos de 2% dos casos.

Referências

1. Tannuri U. Management of parapneumonic collections in infants and children. Letter. J Pediatr Surg 2001; 36:537

2. Doski JJ, Lou D, Hicks BA, Megison SM, Sanchez P, Contidor M, et al. Management of parapneumonic collections in infants and children. J Pediatr Surg 2000; 35:265-70

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2003
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
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