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A videolaparoscopia deve ser usada rotineiramente na avaliação do casal infértil?

GINECOLOGIA

A videolaparoscopia deve ser usada rotineiramente na avaliação do casal infértil?

Márcia Mendonça Carneiro; Aroldo Fernando Camargos

A propedêutica básica do casal infértil inclui a avaliação das tubas uterinas, que pode ser feita através da histerosalpingografia (HSG), videolaparoscopia (VLP) e histerossonografia. Tradicionalmente, a HSG é inicialmente realizada permitindo não só a avaliação da permeabilidade tubárea como também da cavidade uterina. A VLP, por sua vez, é um método superior na detecção de patologia tubo-peritoneal, além de possibilitar a combinação do procedimento diagnóstico com o terapêutico em um mesmo tempo cirúrgico. Apresenta limitações, todavia, na avaliação da obstrução tubárea proximal e de aderências intratubáreas.

Não parece haver dúvidas quanto à necessidade de se realizar a VLP se a HSG encontra-se alterada, mas não está estabelecida a sua utilidade na presença de HSG normal. Alguns autores indicam a VLP para excluir a existência de aderências peritubáreas e endometriose, reduzindo-se desta forma a incidência de esterilidade sem causa aparente (ESCA) de 10% para 3,5%.

A literatura mostra que na presença de uma HSG normal, a probabilidade de se encontrar uma alteração tubárea relevante ou um grau de endometriose que necessite tratamento é tão baixa que a VLP se faz desnecessária. Se os resultados da HSG são suspeitos, a VLP revelará alterações em mais de 2/3 dos casos com mais da metade apresentando doença pélvica moderada à grave. Na presença de uma HSG anormal, a probabilidade de se encontrar alterações a VLP sobe para 93,5%, sendo 81,7% dos casos de acometimento pélvico moderado à grave.

Alguns autores sugerem a classificação das pacientes, conforme sua história pregressa, exame ginecológico e duração da infertilidade, em grupos de baixo e alto risco. Recomenda-se no grupo de alto risco (história prévia de doença inflamatória pélvica ou cirurgias pélvicas exame pélvico alterado e HSG suspeita ou anormal) a VLP deve ser incluída na avaliação inicial, podendo ser postergada nas pacientes de baixo risco.

Parece lógico, desta forma, propor algumas questões antes de se indicar uma VLP:

1. Qual a probabilidade de se encontrar uma alteração?

2. Que alterações podem ser previstas?

3. O cirurgião possui habilidade/competência para corrigir alterações porventura existentes?

4. A correção da(s) patologia(s) existentes afeta o prognóstico da paciente e/ou o tratamento proposto?

Referências

1. Petrozza, JC. The role of diagnostic laparoscopy in evaluation of infertility. Infertil Reprod Clin North Am 1997;8:327-35.

2. Evidence-Based Reproductive Medicine in daily practice. American Society for Reproductive Medicine. Annual Meeting Post-graduate Program. Orlando; 2001.

3. Fatum M, Laufer N, Simon A. Investigation of the infertile couple: should laparoscopy be performed after normal hysterosalpingography in treating infertility suspected to be of unknow origin? Hum Reprod 2002;17:1-3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2003
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
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