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Por que avaliação e preparo psicológicos são necessários para o paciente candidato à cirurgia bariátrica?

À BEIRA DO LEITO

Por que avaliação e preparo psicológicos são necessários para o paciente candidato à cirurgia bariátrica?

Alessandra M.B.C. AkamineI; Elias Jirjoss IliasII,* * Autor para correspondência. E-mail: miz@uol.com.br (E.J. Ilias).

IServiço de Cirurgia Bariátrica da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

IIDepartamento de Cirurgia, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

A obesidade é definida como acúmulo anormal de gordura corporal consequente do desequilíbrio entre a energia ingerida e a gasta pelo indivíduo, representando risco à saúde, pois aumenta a possibilidade de desenvolvimento de comorbidades, que podem levar o indivíduo à morte. É considerada como uma doença crônica e de origem multifatorial, que abrange a associação de fatores genéticos, orgânicos, ambientais, comportamentais e psicológicos1. O tratamento clínico baseado em aumento de atividade física combinada a dietas hipocalóricas e uso de medicações muitas vezes é insuficiente para os pacientes obesos grau III, sendo, a cirurgia da obesidade, nesses casos, considerada como a abordagem mais eficaz até o momento.

A cirurgia bariátrica, que, resumidamente, restringe significativamente a quantidade de alimento ingerida combinada à desabsorção de nutrientes, interfere em apenas um dos fatores que causam a obesidade (metabólico). Quanto ao lado psicológico, o paciente deve ser esclarecido pela equipe multidisciplinar a respeito das mudanças pelas quais passará, sendo a principal delas a adaptação aos novos hábitos alimentares pelo resto da vida2.

Como a obesidade é uma doença complexa de difícil manejo, a equipe multidisciplinar, composta por cirurgião, endocrinologista, nutricionista e psicólogo/psiquiatra, treinada adequadamente para atender a estes pacientes, se faz necessária. Desde 2000, o Ministério da Saúde, juntamente com Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, definiu diretrizes que tornam obrigatória a avaliação multidisciplinar destes pacientes.

O obeso grau III é uma pessoa doente que tem a vida ameaçada pelo excesso de peso e necessita de tratamento efetivo e, de preferência, em curto prazo; porém, as demais repercussões deste fenômeno também precisam ser abordadas e levadas em consideração. Neste sentido, o suporte psicológico assume um papel relevante, já que a tentativa de controlar cada fator isoladamente pode inviabilizar um bom resultado geral. O papel do psicólogo engloba desde a avaliação pré-operatória como também o manejo clínico, visando o preparo e a adaptação pós-cirúrgica3.

A avaliação psicológica busca investigar o comportamento alimentar do paciente, avaliar sintomas e níveis de ansiedade, depressão e compulsão alimentar que podem interferir na etiologia e na manutenção da obesidade, bem como a compreensão e as expectativas sobre o procedimento cirúrgico. Além disso, a avaliação psicológica visa compreender como foram as tentativas anteriores de perda de peso, a postura da família, por que o paciente quer emagrecer, como a obesidade interfereemsua vidaeaoqueo paciente atribui a causa de sua obesidade.

Propor estratégias assertivas de controle e mudança, favorecer informações sobre a doençaeotratamento cirúrgico, propiciar espaço para expressão de sentimentos, dúvidas e medos, oferecer apoio psicoterapêutico e psicossocial, promover adesão ao tratamento, pensar sobre como o paciente se adaptará ao novo estilo de vida, verificar o apoio familiar e o quanto o paciente está implicado e ciente a respeito do tratamento e seus desdobramentos fazem parte das intervenções psicológicas.

Assim sendo, o vínculo que é estabelecido entre psicólogo e paciente, de confiança e continência, é de extrema importância no desenrolar do tratamento, porque pode ser determinante para o retorno do paciente, quando o mesmo se deparar com dificuldades ao manejar a nova situação após a cirurgia4.

Além de tudo o que foi exposto, devemos lembrar que a avaliação psicológica respalda legalmente a realização do procedimento cirúrgico. Temos visto que muitos problemas legais têm surgido principalmente porque alguns cirurgiões realizam cirurgias bariátricas sem a devida avaliação da equipe multidisciplinar. Tal fato pode tornar o procedimento inadequado e ilegal, além de comprometer o resultado do tratamento da obesidade mórbida.

Recebido em 10 de junho de 2013

Aceito em 11 de junho de 2013

  • 1. ABESO. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Disponível em: http://www.abeso.org.br
  • 2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Disponível em: http://www.sbcbm.org.br
  • 3. Ximenes E. Cirurgia da obesidade: um enfoque psicológico. São Paulo: Livraria Santos Editora; 2009.
  • 4. Benedetti C. De obeso a magro: a trajetória psicológica. São Paulo: Vetor; 2003.
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    Autor para correspondência. E-mail:
    miz@uol.com.br (E.J. Ilias).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Set 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013
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