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Por que meu paciente asmático não consegue ficar estável apesar da medicação aparentemente adequada?

À beira do leito

Clínica Médica

POR QUE MEU PACIENTE ASMÁTICO NÃO CONSEGUE FICAR ESTÁVEL APESAR DA MEDICAÇÃO APARENTEMENTE ADEQUADA?

A asma é atualmente reconhecida como uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, o que mudou o enfoque do seu tratamento nos últimos tempos. Não basta simplesmente tratar as crises, mas sim procurar utilizar medicamentos e manobras preventivas que possam evitar o aparecimento das crises. O advento das formulações de corticosteróides (CE) para uso inalatório, na forma de spray, pó ou solução inalatória, tornou este medicamento a base do tratamento de manutenção para o asmático. As orientações educacionais sobre o manejo da asma são, também, parte fundamental do tratamento. Orientar quanto às manifestações de gravidade da doença (presença de crises noturnas, uso de doses crescentes de broncodilatadores, aumento dos sintomas, medida do pico de fluxo expiratório menor que a habitual, apesar do aumento das doses dos medicamentos), e a diferença entre os medicamentos preventivos e os de alívio (broncodilatadores) e orientações em relação ao controle ambiental são partes integrantes da consulta médica.

O paciente vem utilizando CE inalatório (entre 800 a 2000 mcg/ dia), ß2 agonista inalatório de longa duração, em associação ou não à teofilina de longa duração, e mesmo assim vem necessitando de broncodilatadores para alívio e de ciclos freqüentes de CE sistêmico. Um dos motivos para a dificuldade de estabilização pode ser a dificuldade do paciente para o uso correto dos medicamentos. Periodicamente, nas consultas, a técnica do uso dos inalatórios deve ser revista e corrigida para otimização do aproveitamento dos medicamentos.

Outro motivo que deve ser lembrado é a exposição perene à substâncias às quais o paciente pode ser sensível, por isso a importância da orientação do controle ambiental, enfatizando a necessidade de manter principalmente o quarto sem objetos que acumulem pó/ácaros (como carpetes, bichos de pelúcia, estante com livros), trocar a roupa de cama com freqüência e lavá-la de preferência com água quente, evitar umidade, manter animais fora do quarto, ter capas impermeáveis para colchão e travesseiro e permanecer afastado do cigarro e de pessoas fumando.

É importante também lembrar da possibilidade da presença concomitante de refluxo gastro-esofágico e sinusite, condições que estão relacionadas com a dificuldade do controle da asma e que, muitas vezes, podem passar desapercebidas ou oligossintomáticas, devendo ser investigadas nesta situação, bem como do uso de medicamentos que podem desencadear crises, como ß-bloqueadores e ácido acetil-salicílico.

Deste modo, o tratamento do paciente asmático com sintomas persistentes requer não apenas o ajuste da medicação, mas também uma avaliação quanto aos fatores que podem estar contribuindo para a permanência dos sintomas, que muitas vezes não são facilmente identificados, requerendo um acompanhamento muito próximo e participação constante do paciente no seu tratamento.

Ricardo Borges Magaldi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Abr 2001
  • Data do Fascículo
    Mar 2001
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