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H. pylori e câncer gástrico

CLÍNICA CIRÚRGICA

H. pylori e câncer gástrico

Pedro Luiz Squilacci Leme; Caio Romeiro Bove; Rodrigo Altenfelder Silva

McColl e El-Omar, do Departamento de Medicina da Universidade de Glasgow, relatam que o H. pylori atualmente é reconhecido como um co-fator importante na etiologia do câncer gástrico. Os tumores do tipo histológico-intestinal se desenvolvem de uma forma complexa e multifatorial; inicialmente ocorre a progressão de gastrite superficial para a gastrite atrófica com metaplasia intestinal e hipocloridria. Esta alteração da mucosa gástrica pode evoluir para displasia e câncer. Muitos co-fatores estão envolvidos nesta progressão, incluindo linhagem do H. pylori, fatores genéticos do doente, interleucina-1 e fatores ambientais como o fumo e a dieta. A colonização intestinal por helmintos também pode alterar a imunidade e resposta inflamatória ao H. pylori. Como conseqüência, a prevenção da infecção ou a erradicação precoce desta bactéria reduz a incidência deste tipo de tumor.

Comentário

Os mecanismos que implicam o H. pylori na etiopatogenia do carcinoma gástrico ainda não estão devidamente esclarecidos e são discutidos por vários autores, mas a infecção por esta bactéria tem sido relacionada com o linfoma gástrico e, embora existam controvérsias, também ao adenocarcinoma. Possivelmente existem diferentes graus de virulência entre as cepas da bactéria, que rompe a barreira da mucosa do estômago através de toxinas, enzimas e mediadores da inflamação, provocando dano celular epitelial, alteração do fluxo sangüíneo na mucosa, alteração do muco e da liberação de gastrina. A liberação de gastrina após as refeições está aumentada nos infectados pelo H. pylori e retorna ao normal após a sua erradicação.

As cepas mais virulentas têm maior motilidade e produzem enzimas adaptativas, tais como urease, lipase, oxidase, mucinase, catalase, protease e fosfolipase, assim como fatores quimiotáticos para os neutrófilos e monócitos, citocinas, fatores de adesão e proteína inibitória da produção de ácido.

Embora muitos aspectos a respeito desta bactéria e a virulência de suas cepas ainda estão por ser elucidados, a efetividade do tratamento e a melhora clínica dos doentes ulcerosos e portadores de dispepsia funcional tratados, além de sua associação com o câncer gástrico, justificam seu tratamento sempre.

Referências

1. McColl KE, El-Omar E. How does H. Pylori infection cause gastric cancer? Keio J Med 2002; 51(Suppl 2):53-6.

2. Safatle-Ribeiro AV, Ribeiro U Jr, Lopasso FP, Deutsch C, Mucerino D, Arab-Fadul R, et al. Fatores de risco para o câncer gástrico. In: Gama-Rodrigues JJ, Lopasso FP, Del Grande JC, Safatle NF, Bresciani C, Malheiros CA, et al., editores. Câncer do estômago. Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento. São Paulo: Andrei; 2002.p.29-58.

3. Rahal F. Doença ulcerosa. In: Rahal F, Pereira V, Malheiros CA, Rodrigues FCM, Gonçalves AJ, editores. Condutas normativas – Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 9ª ed. São Paulo; 1998. p.10-27.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Set 2003
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