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Novos ensinamentos no tratamento da hipertensão: estudo VALUE

PANORAMA INTERNACIONAL

CLÍNICA MÉDICA

Novos ensinamentos no tratamento da hipertensão: estudo VALUE

Agostinho Tavares

O recém-publicado estudo VALUE (The Valsartan Antihypertensive Long-term Use Evaluation) é o maior estudo com o uso de um bloqueador dos receptores da angiotensina para o tratamento anti-hipertensivo. Dos 15.245 pacientes hipertensos com alto risco cardiovascular, com idade média de 67 anos, 58% homens, 32% com diabete melito e com média de pressão arterial de 155/87 mmHg, foram randomizados para valsartan ou amlodipino, de maneira duplo-cega, com o objetivo de controlar a pressão arterial com a mesma intensidade. A média do seguimento foi de 4,2 anos. Como previa o desenho do estudo, muitos pacientes receberam drogas hipotensoras adicionais, tanto para o grupo valsartan quanto para o grupo amlodipino, excetuando-se, obviamente, drogas das mesmas classes e inibidores da enzima conversora, tanto para um grupo quanto para outro.

A pressão arterial foi reduzida em ambos os grupos, todavia com maior intensidade para o grupo amlodipino, particularmente nos primeiros três meses (4,0 mmHg para a sistólica e 2,1mmHg para a diastólica, em média). Aos seis meses de seguimento, a diferença entre amilodipino e valsartan era de 2,1mmHg e 1,6mmHg, em média, para sistólica e diastólica, respectivamente. E assim permaneceu até o final do estudo.

O desfecho primário (morbidade e mortalidade cardiovasculares) ocorreu em 810 pacientes tomando valsartan e em 789 tomando amlodipino, o que não foi estatisticamente significante. No entanto, os IAMs fatais e não fatais ocorreram mais no grupo valsartan; 369 contra 313 no grupo amlodipino, com significância estatística (p=0,02). Os AVCs fatais e não fatais ocorreram em 322 pacientes no grupo valsartan e em 281 pacientes do grupo amlodipino, com p=0,08. Quando esses resultados foram analisados por períodos, a significância estatística, em favor do amlodipino, foi mais acentuada nos primeiros seis meses, justamente onde a pressão arterial diminuiu mais com esse hipotensor. Houve uma menor freqüência de novos casos de diabete melito tipo 2 no grupo valsartan do que no grupo amlodipino (13,1% versus 16,4, respectivamente. P<0,0001).

Comentário

A diferença entre os níveis tencionais dos dois grupos faz a análise comparativa dos desfechos entre valsartan e amlodipino impossível. No entanto, com o intuito de esclarecer esse aspecto, os autores usaram uma técnica estatística chamada "serial median-matching", na qual tenta-se analisar pacientes em iguais condições, inclusive e necessariamente em relação à pressão arterial. Dessa maneira, conseguiram os autores reunir 5.000 pacientes equivalentes e mostraram que não houve diferença em número de desfechos entre valsartan e amlodipino. Outra subseqüente análise, mostrou que, após os seis meses, os indivíduos que alcançaram controle adequado da pressão arterial, isto é, abaixo de 140/90mmHg, tiveram menos desfechos do que aqueles que não alcançaram os valores ótimos de pressão arterial, independente do grupo onde estavam alocados. Tomando esses dados em conjunto, o estudo VALUE nos mostra claramente que devemos reduzir a pressão arterial mais rapidamente, ou seja, entre três e seis meses, e se possível, abaixo dos valores de corte para a hipertensão, principalmente para os hipertensos com alto risco cardiovascular.

Ao contrário do exposto acima, onde nenhuma diferença fez o uso de valsartan ou amlodipino, mas sim o valor tencional, o aparecimento de novos casos de diabete melito tipo 2 é dependente da droga. Apesar de estudos anteriores também mostrarem uma menor freqüência de novos casos de diabete naqueles que usam bloqueadores dos receptores da angiotensina, este tem particular importância, pois foi utilizado contra um bloqueador dos canais de cálcio, tido como um agente neutro em relação ao metabolismo glicídico. Isso faz pensar que os bloqueadores dos receptores da angiotensina possuam ação farmacológica favorável no controle glicêmico.

Referência

1.Julius S, Kjeldsen SE, Weber M, Brunner HR, Ekman S, Hansson L, et al. Outcomes in hypertensive patients at high cardiovascular risk treated with regimens based on valsartan or amlodipine: the VALUE randomised trial. Lancet 2004; 363(9426):2022-31.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jan 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2004
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