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Aspectos do tratamento da deficiência de hormônio de crescimento (GH) (parte II)

Diretrizes

Pediatria

ASPECTOS DO TRATAMENTO DA DEFICIÊNCIA DE HORMÔNIO DE CRESCIMENTO (GH) (PARTE II)

A grande controvérsia que tem surgido quanto a critérios diagnósticos e de tratamento em pacientes deficientes em hormônio de crescimento motivou uma reunião da Sociedade de Pesquisa em GH, em Eilat, Israel, no período de 17-21 de Outubro de 1999, para se estabelecer consensos com relação aos critérios diagnósticos e de tratamento da deficiência de GH. A primeira parte desta recomendação abordou os aspectos de diagnóstico e, neste artigo, enfocaremos as recomendações sobre tratamento.

Tratamento da deficiência de GH em crianças - Pacientes com deficiência comprovada de GH devem ser tratados, o mais cedo possível, com hormônio de crescimento recombinante humano, sendo o objetivo da terapêutica a normalização da altura durante a infância e a possibilidade de atingir uma estatura normal na vida adulta. Pacientes com craniofaringeoma com deficiência de GH, que estejam crescendo normalmente, também devem ser tratados pelos benefícios metabólicos e de composição corpórea, bem como pelo incremento do crescimento no estirão pubertário. No presente, não há informações suficientes para se avaliar a utilidade de GHRH, secretagogos de GH e GH de depósito.

Dose de GH - O GH é rotineiramente usado na dose de 25 a 50mcg/kg/dia (0,075-0,15 U/kg/dia). Nessa faixa de dose, nos primeiros dois anos de terapêutica, há uma clara relação entre velocidade de crescimento e a dose utilizada. Sob circunstâncias especiais, pode-se utilizar uma dose maior.

Monitorização da terapêutica com GH - O seguimento rotineiro de pacientes deficientes em GH deve ser feito pelo Endocrinologista Pediátrico, em conjunto com o Pediatra e deve implicar avaliações a cada 3 a 6 meses. A determinação da resposta de crescimento, ao tratamento com GH é o parâmetro mais importante na monitorização da criança com deficiência de GH. As dosagens de IGF-I e IGFBP-3 podem ser úteis para se avaliar a aderência ao tratamento, mas seus níveis nem sempre se correlacionam bem com a resposta de crescimento.

Fatores afetando a resposta ao GH - Todo o esforço deve ser feito para diagnosticar e tratar as crianças o mais cedo possível. É muito importante maximizar a altura com a terapêutica de GH antes do início da puberdade. Se tal feito é conseguido, não precisamos nos preocupar com a modulação da dose de GH durante a puberdade. Nos pacientes com deficiências múltiplas de hormônios hipofisários em quem a puberdade não ocorre espontaneamente, deve-se iniciar a puberdade na época apropriada após discussão com o próprio paciente.

Deficiências múltiplas de hormônios hipofisários ¾ Pacientes com deficiência múltipla de hormônios hipofisários, comprovada ou suspeita, devem ser manipulados de modo semelhante aos pacientes com deficiência isolada de GH, tendo-se atenção ao tratamento das outras deficiências (T4, cortisol, esteróides sexuais, hormônio antidiurético). No paciente com diagnóstico inicial de deficiência isolada de GH, particularmente se houver neuro-hipófise ectópica ou outras anomalias de desenvolvimento, o clínico deve ficar alerta para o risco de desenvolvimento de deficiência hipofisária múltipla.

Aspectos de segurança ¾ O tratamento com GH pode desmascarar um hipotireoidismo de base. Efeitos colaterais significantes de GH em crianças são muito raros. Incluem hipertensão intra-craniana benigna, ginecomastia pré-puberal, artralgia e edema. Uma história e exame físico cuidadosos são adequados para identificar sua presença. Na ausência de outros fatores de risco, não há evidência que o risco de leucemia, recorrência de tumor cerebral, deslizamento de cabeça femural ou diabetes esteja aumentado em tratamentos a longo prazo com GH.

Conclusão ¾ O diagnóstico e o tratamento da deficiência de GH em crianças tem evoluído durante as últimas várias décadas. O documento de consenso atual representa o resultado de uma revisão intensiva de milhares de trabalhos publicados e a quantidade incalculável de experiência pessoal de peritos do mundo todo. Claramente, muitos estudos adicionais baseados em evidência envolvendo o diagnóstico e o tratamento da deficiência de GH continuarão a ser feitos e certamente modificarão o enfoque a este importante tema.

Comentário

Não somente o diagnóstico, mas os aspectos terapêuticos nas deficiências de GH têm sido motivo de controvérsia e o documento publicado pelo Grupo de Pesquisa em GH vem normatizar vários desses aspectos e, como o assunto é extremamente amplo e sujeito a debates, deixa em aberto as eventuais mudanças a este consenso nos anos vindouros.

É importante ressaltarmos que o GH não é apenas um hormônio que faz crescer, como impropriamente seu nome sugere, mas é um hormônio extremamente importante no metabolismo orgânico e daí a necessidade de se manter sua administração, uma vez atingida a altura final, preenchidos alguns critérios que passam pela demonstração de que a deficiência persiste.

Outro aspecto que é enfatizado pelo Grupo de Estudo é o fato de não haver evidências de risco de reativação ou de indução de doenças neoplásicas, de modo que, evidentemente, sob vigilância, o GH pode e deve ser administrado a pacientes que apresentam deficiência do hormônio como decorrência de neoplasisas (craniofaringeomas, leucemias, dentre outras).

Achamos este documento do Grupo de Pesquisa em GH extremamente valioso, oferecendo guias com relação ao diagnóstico e ao tratamento que refletem a experiência de um grupo respeitável de endocrinologistas pediátricos.

DURVAL DAMIANI

Referência

GH Research Society. Consensus Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Growth Hormone (GH) Deficiency in Childhood and Adolescence: Summary Statement of the GH Research Society. J Clin Endocrinol Metab 2000;85:3990-3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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