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A revista que queremos ou da qual precisamos ?

Editorial

Clínica Médica

A REVISTA QUE QUEREMOS OU DA QUAL PRECISAMOS ?

"Les articles soumis doivent être rédigés en bon français."

Na tabela abaixo, figuram algumas publicações científicas acompanhadas do respectivo fator de impacto publicado pelo Institute for Scientific Information (ISI). Um fator de impacto elevado (superior a 1) geralmente significa que o conteúdo da revista foi e será citado em outras publicações, garantindo a disseminação e geração do conhecimento.

Parece haver um consenso na comunidade científica de que um dos pré-requisitos para alcançar fator de impacto elevado seja o uso do inglês obrigatório para os manuscritos. As vantagens de uma língua científica internacional são enormes: uniformização de termos técnicos, maior velocidade no fluxo e maior intercâmbio de conhecimento. Em busca deste objetivo, algumas revistas passaram a aceitar artigos em inglês, optaram por uma versão bilingüe ou mudaram para a língua inglesa obrigatória, como é o caso dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da italiana Cardiologia (que modificou seu nome para Italian Heart Journal) e do Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Mas há quem não concorde: a frase na epígrafe deste texto pode ser encontrada em "Recommandations aux auteurs" da revista "Archives des Maladies du Cœur et des Vaisseaux". A Archives, além de não aceitar artigos em inglês, exige que eles sejam escritos em bom francês, caracterizando-se como periódico dirigido para um grupo específico de autores e de leitores.

Há outras revistas que também preferiram manter a orientação original. As razões para isto podem incluir tradição, preferência por uma maior penetração no meio não acadêmico ou ainda o compromisso com leitores que não tem o domínio perfeito da língua inglesa. Para estas revistas e seus leitores, a atualização científica, a disseminação e a geração de conhecimento podem ocorrer também na própria língua.

Os pesquisadores brasileiros tendem a preferir publicar seus artigos em revistas com maior fator de impacto, em língua inglesa. E quando um trabalho, mesmo original, foi publicado num periódico em língua portuguesa, raramente é citado em outros artigos, nem mesmo na própria revista. Este fato contribui, com certeza, para seu baixo fator de impacto. Dificilmente este quadro será revertido, mas a existência das revistas em português garante acesso ao conhecimento e atualização a um grupo de leitores provavelmente maior. Esta característica, infelizmente, não é valorizada pelos critérios utilizados no cálculo do fator de impacto.

Uma alternativa interessante é a publicação de um mesmo trabalho em diferentes línguas. Na opinião do International Committee of Medical Journal Editors, grupo reunido pela primeira vez em Vancouver em 1978 e que estabeleceu as diretrizes para o formato dos manuscritos submetidos aos seus periódicos, "a publicação de um artigo em uma segunda revista é justificável e pode ser benéfica, na mesma ou em outra língua, especialmente em outros países". O "Committee" menciona ainda que a segunda publicação pretende atingir a um diferente grupo de leitores. É claro que esta publicação deve preencher critérios de qualidade, além de obter autorização da primeira revista, mas a aceitação de que ela pode ser benéfica implica na existência e sobrevivência dos periódicos em português.

E as publicações nacionais contam agora com um grande aliado: a Scielo Scientific Electronic Library Online (www.scielo.br), organiza uma biblioteca virtual que abrange coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros, a maior parte em português. Esta biblioteca contém amplo arsenal científico à disposição dos leitores e autores em língua portuguesa. A sua utilização e a citação dos artigos aí publicados garantirá a sobrevivência dos periódicos em língua portuguesa, necessária para manter a diversidade científica, definida como a preservação de informações expressas por códigos ou modelos culturais diferentes. Mas acima de tudo, significa o respeito a um público leitor sem qual os progressos científicos não seriam aplicados.

A questão da língua fez parte da discussão a respeito do novo perfil editorial da RAMB. A decisão dos editores da revista, publicada nas novas Normas para Publicação vai ao encontro do pensamento de nossos colegas franceses: "Os artigos poderão ser escritos em Português ou Espanhol, em linguagem fácil e precisa".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2001
  • Data do Fascículo
    Out 2000
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