Acessibilidade / Reportar erro

A persistência dos cânceres e as células-tronco tumorais

a04v52n6

PANORAMA INTERNACIONAL

CANCEROLOGIA

A persistência dos cânceres e as células-tronco tumorais

Classicamente, o processo de tumorigênese envolve a aquisição progressiva de múltiplas mutações que, governadas pela seleção natural, levam a expansão de subpopulações celulares mais agressivas, contribuindo para a progressão tumoral. Apesar desta teoria estar bem estabelecida, a identificação das células capazes de originar o tumor só começou a ser analisada de forma experimental recentemente. Ao contrário do que se acreditava no passado, apenas um pequeno número de células da massa tumoral é capaz de proliferar e formar novos tumores quando enxertado em animais imunodeficientes, como demonstrado no câncer de mama1, próstata2 e leucemia3. As células com essas habilidades são denominadas de células-tronco tumorais e compartilham diversas características com sua contraparte normal. Ambas as células são capazes de se auto-renovarem, mantendo a população de células-tronco indefinidamente, e de gerarem células capazes de se diferenciarem em pelo menos uma linhagem específica. Uma vez que a diferenciação progressiva é acompanhada de diminuição da taxa proliferativa, as células terminalmente diferenciadas são incapazes de proliferar e tendem, após certo tempo, a iniciar o programa de apoptose. Assim, muitas das células que compõem a massa tumoral não são tumorigênicas. Desta forma, os tumores exibem células em diferentes estágios de proliferação e diferenciação, contribuindo para a heterogeneidade tumoral.

Uma vez que as células-tronco dependem de um microambiente específico para manterem a capacidade de auto-renovação e tendo em vista que os tecidos peritumorais influenciam na manutenção do estado tumoral4, estudos detalhados sobre a influência dos microambientes na manutenção das células-tronco tumorais são centrais para o entendimento da biologia dos cânceres.

Em relação à progressão tumoral, duas propriedades intrínsecas das células-tronco são de extrema relevância: baixa taxa proliferativa e alta expressão de proteínas de resistência a múltiplas drogas. Ambas as características implicam imediatamente na baixa eficiência de eliminação destas células por meio de quimioterapia convencional, que tem como alvo preferencial células proliferativas.

Desta forma, a identificação de vias moleculares diferencialmente ativadas nas células-tronco tumorais, bem como o entendimento do microambiente tumoral, poderá levar ao desenvolvimento de terapias alvo-específicas, menos agressivas e mais hábeis em induzir apoptose nas células que sustentam a população tumoral, diminuindo a incidência de recaídas.

Leandro de Souza Thiago

Referências

1. Al-Hajj M, Wicha MS, Benito-Hernandez A, Morrison SJ, Clarke MF. Prospective identification of tumorigenic breast cancer cells. Proc Natl Acad Sci USA. 2003;100(7):3983-8.

2. Collins AT, Berry PA, Hyde C, Stower MJ, Maitland, NJ. Prospective identification of tumorigenic prostate cancer stem cells. Cancer Res. 2005; 65(23):1094-1095.

3. Cox CV, Evely RS, Oakhill A, Pamphilon DH, Goulden NJ, Blair A. Characterization of acute lymphoblastic leukemia progenitor cells. Blood. 2004, 104(9):2919-25.

4. Borojevic R, Roela RA, Rodarte RS, Thiago LS, Pasini FS, Conti FM, et al. Bone marrow stroma in childhood myelodysplastic syndrome: composition, ability to sustain hematopoiesis in vitro and altered gene expression. Leuk Res. 2004; 28(8):831-44.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jan 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br