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O estado atual do diagnóstico por imagem no acometimento musculoesquelético pelas infecções tropicais

As infecções "tropicais" são aquelas tipicamente encontradas na região delimitada pelos trópicos de Câncer e Capricórnio. Ao fazermos uma pesquisa mais detalhada, observamos que, no passado, estas infecções eram encontradas em zonas temperadas como na Europa e nos Estados Unidos, citando como exemplos a "peste negra", que acometeu a Europa medieval, e também a ancilostomose e a malária, no início do século XX, nos Estados Unidos(1Peh WCG. Tropical and unusual infections of the musculoskeletal system. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:439-40.). É importante notar que estas infecções não eram relacionadas às condições climáticas e, sim, às más condições sanitárias, de higiene, educacionais e ao difícil acesso às medicações nestas épocas passadas.

O termo "infecção tropical" foi consagrado nos tempos atuais, pois a maioria dos países em desenvolvimento e os países mais pobres do globo estão localizados na zona tropical. Estes países têm dificuldades variáveis nas condições gerais da população, como higiene, educação e acesso à saúde, sendo, portanto, mais comum o desenvolvimento destas infecções, com maior morbimortalidade relacionada.

O diagnóstico por imagem é um instrumento importante no atendimento primário e no diagnóstico específico das infecções tropicais, especialmente no que se refere ao grau de comprometimento dos órgãos alvos. Esta é outra importante discussão relacionada aos "países tropicais", onde o acesso a equipamentos por imagem é restrito ou em condições inapropriadas(2Ng KH, McLean ID. Diagnostic radiology in the tropics: technical considerations. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:441-5.). Desta forma, as conclusões diagnósticas também ficam comprometidas.

A paracoccidioidomicose é uma infecção típica do nosso país, sendo endêmica nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste(1Peh WCG. Tropical and unusual infections of the musculoskeletal system. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:439-40.,3Shikanai-Yasuda MA, Telles Filho FQ, Mendes RP, et al. Consenso em paracoccidioidomicose. Rev Soc Bras Med Trop. 2006;39:297-310.). Sua manifestação clássica é o acometimento pulmonar. O comprometimento musculoesquelético pelo Paracoccidioides brasiliensis é raro, observando-se alguns relatos de casos na literatura(1Peh WCG. Tropical and unusual infections of the musculoskeletal system. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:439-40.,4Marchiori E, Dalston M, Zanetti G, et al. Paracoccidioidomycosis: another cause of sternal osteomyelitis. Joint Bone Spine. 2012;79:323-4.

Valera ET, Mori BM, Engel EE, et al. Fungal infection by Paracoccidioides brasiliensis mimicking bone tumor. Pediatr Blood Cancer. 2008;50:1284-6.
-6de Freitas RS, Dantas KC, Garcia RS, et al. Paracoccidioides brasiliensis causing a rib lesion in an adult AIDS patient. Hum Pathol. 2010;41:1350-4.). Não existem, no entanto, estudos originais abordando esta forma específica de micose óssea. Fazendo um mea culpa, este "vazio" na literatura é grande responsabilidade nossa, dos pesquisadores brasileiros, por se tratar de uma doença muito mais comum no Brasil.

Na edição passada da Radiologia Brasileira, Lima Júnior et al.(7Lima Júnior FVA, Savarese LG, Monsignore LM, et al. Aspectos de imagem da paracoccidioidomicose osteoarticular na avaliação por tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2015;48:1-6.) preencheram este "vazio" e publicaram um interessante estudo descrevendo os achados por tomografia computadorizada da paracoccidioidomicose no sistema musculoesquelético. Os autores demonstraram que a doença se manifesta por lesões líticas ósseas únicas ou múltiplas, bem definidas, com fino halo esclerótico, acometendo preferencialmente o esqueleto apendicular. O sequestro ósseo não foi um achado frequente e a maioria dos pacientes apresentava-se sintomática do ponto de vista osteoarticular. Propõem também que a presença destas lesões à tomografia computadorizada em pacientes que residem ou estiveram em zonas endêmicas deva fazer com que se inclua a paracoccidioidomicose no diagnóstico diferencial das lesões líticas ósseas.

Que este estudo seja apenas o primeiro a abordar os aspectos por imagem de uma condição que, apesar de rara, é típica e endêmica em nosso país, com o intuito de termos uma melhor compreensão e fazermos diagnósticos mais precisos.

REFERENCES

  • 1
    Peh WCG. Tropical and unusual infections of the musculoskeletal system. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:439-40.
  • 2
    Ng KH, McLean ID. Diagnostic radiology in the tropics: technical considerations. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:441-5.
  • 3
    Shikanai-Yasuda MA, Telles Filho FQ, Mendes RP, et al. Consenso em paracoccidioidomicose. Rev Soc Bras Med Trop. 2006;39:297-310.
  • 4
    Marchiori E, Dalston M, Zanetti G, et al. Paracoccidioidomycosis: another cause of sternal osteomyelitis. Joint Bone Spine. 2012;79:323-4.
  • 5
    Valera ET, Mori BM, Engel EE, et al. Fungal infection by Paracoccidioides brasiliensis mimicking bone tumor. Pediatr Blood Cancer. 2008;50:1284-6.
  • 6
    de Freitas RS, Dantas KC, Garcia RS, et al. Paracoccidioides brasiliensis causing a rib lesion in an adult AIDS patient. Hum Pathol. 2010;41:1350-4.
  • 7
    Lima Júnior FVA, Savarese LG, Monsignore LM, et al. Aspectos de imagem da paracoccidioidomicose osteoarticular na avaliação por tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2015;48:1-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015
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