Acessibilidade / Reportar erro

Nova farmacotécnica para velhos agentes

EDITORIAL

Nova farmacotécnica para velhos agentes

A Anestesiologia Experimental é uma área que pode abrir novos caminhos e propor soluções para problemas enfrentados na Anestesiologia Clínica.

Em 1995, Eger e MacLoad estudaram a administração por via venosa de uma emulsão de isoflurano em camundongos 1. As principais vantagens relacionadas pelos autores foram eliminação do circuito anestésico do respirador e da capacidade residual funcional do pulmão, permitindo uma aceleração da indução da anestesia. Ao final do estudo os autores concluíram que a técnica foi possível, a indução e manutenção da anestesia desenvolveram-se de maneira segura e reprodutível. Sugeriram também que outros estudos com animais maiores seriam importantes para determinar as características, toxicológicas, físico-químicas, farmacocinéticas e farmacodinâmicas desta mistura ou de outras similares.

Em 1984 e 1999, um grupo europeu e um americano, estudaram respectivamente os efeitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos de emulsão lipídica de halotano em cães, ratos e porcos. Estes trabalhos descrevem grupos com injeção única e infusão, isoladas ou combinadas, com comportamento farmacológico semelhante à administração por via inalatória. Não foi observado efeito tóxico, mas registrado um aumento de 12 vezes na concentração plasmática de triglicérides no grupo de cães 2-4.

Neste número da Revista Brasileira de Anestesiologia, um grupo de pesquisadores brasileiros 5 apresentou um modelo experimental em porcos, para estudar algumas das características farmacocinéticas e farmacodinâmicas de emulsão de isoflurano. Os resultados obtidos são similares aos de Eger e MacLoad, com uma relação direta entre os efeitos farmacodinâmicos e a concentração expirada de isoflurano.

Em nosso meio a indução da anestesia, por via inalatória, é empregada principalmente em crianças, quando nem sempre é fácil a obtenção de um acesso venoso. Pelas características fisiológicas da função pulmonar deste grupo de pacientes, normalmente a indução por via inalatória é rápida. A eventual vantagem obtida no tempo de indução com o uso da via venosa, contrapõe-se à dificuldade de seu acesso.

Considerando a contaminação do ambiente pelo uso de agentes anestésicos por via inalatória, o seu emprego por via venosa não a elimina, uma vez que a concentração expirada do agente corresponde aos seus efeitos farmacodinâmicos sendo proporcional tanto à quantidade administrada como à profundidade anestésica que se deseja.

Quanto a prescindir de equipamentos sofisticados para sua vaporização e administração inalatória, estes seriam trocados por equivalentes para a infusão venosa.

Deve-se ainda esclarecer se existem repercussões metabólicas decorrentes do uso venoso desta emulsão lipídica, como acidemia e hipercolesterolemia, observadas com outros agentes venosos de formulação semelhante.

Assim, permanece a questão, que até o momento parece não ter sido respondida, sobre os benefícios desta proposta farmacotécnica.

A pesquisa, no entanto, não deve se pautar por benefícios óbvios e imediatos, pois no seu desenvolvimento, fatos novos podem ser observados e ganhos importantes obtidos.

Dra. Judymara Lauzi Gozzani, TSA

Editor-Chefe da Revista Brasileira de Anestesiologia

REFERÊNCIAS

01. Eger RP, MacLeod BA - Anaesthesia by intravenous emulsified isoflurane in mice. Can J Anaesth, 1995;42:836-837.

02. Johannesson G, Alm P, Biber B et al - Halothane dissolved in fat as an intravenous anaesthetic to rats. Acta Anaesthesiol Scand, 1984;28:381-384.

03. Biber B, Johannesson G, Lennander O et al - Intravenous infusion of halothane dissolved in fat. Haemodynamic effects in dogs. Acta Anaesthesiol Scand, 1984;28:385-389.

04. Musser JB, Fontana JL, Mongan PD - The anesthetic and physiology effects of an intravenous administration of a halothane lipid emulsion (5% vol/vol), Anesth Analg, 1999;88:671-674.

05. Mathias LAST, Piccinini Filho L, Rites JC et al - Isoflurano em emulsão lipídica por via venosa promove estabilidade cardiovascular respiratória em modelo experimental. Rev Bras Anestesiol, 2004;54:650-662.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2004
  • Data do Fascículo
    Out 2004
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org