Acessibilidade / Reportar erro

Mudanças da distância entre a carina e o tubo orotraqueal durante cirurgia bariátrica aberta ou laparoscópica

RESUMO

OBJETIVO:

Analisar se há mudanças na distância entre o tubo orotraqueal (TOT) e a carina (CA) induzidas pelo afastador ortostático ou pelo pneumoperitônio em pacientes obesos submetidos a gastroplastia.

MÉTODOS:

Foram estudados 60 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica por duas técnicas: aberta (G1) ou videolaparoscópica (G2). Após a intubação orotraqueal, a ventilação adequada de ambos os hemitórax foi confirmada por meio da ausculta pulmonar. A distância TOT-CA foi estimada com o uso de um fibrobroncoscópio antes e após a instalação dos afastadores ortostáticos no G1 ou antes e após a insuflação do pneumoperitônio nos pacientes no G2.

RESULTADOS:

Integraram o G1 22 pacientes e 38 o G2. Não houve casos de intubação endobrônquica em nenhum dos grupos. A média de variação da distância TOT-CA foi -0,03 cm (95% IC 0,06 a -0,13) no grupo dos pacientes submetidos à gastroplastia aberta e -0,42 cm (95% IC -0,56 a -1,4) no grupo dos pacientes submetidos à gastroplastia videolaparoscópica. Os extremos de variação em cada grupo foram: 0,5 cm a -1,6 cm no dos pacientes submetidos à cirurgia aberta e 0,1 cm a -2,2 cm no dos pacientes submetidos à cirurgia videolaparoscópica.

CONCLUSÕES:

Não houve alteração significativa na distância TOT-CA após instalação dos afastadores ortostáticos nos pacientes submetidos à gastroplastia aberta. Houve redução na distância TOT-CA após a insuflação do pneumoperitônio nos pacientes submetidos à gastroplastia videolaparoscópica. Sugerimos atenção à ausculta pulmonar e aos sinais de monitoração da ventilação e reavaliação do posicionamento do TOT após insuflação peritoneal.

Palavras-chave:
Intubação intratraqueal/Complicações; Obesidade; Cirurgia bariátrica; Pneumoperitônio; Laparotomia

ABSTRACT

OBJECTIVE:

To examine whether there are changes in the distance between the orotracheal tube and carina induced by orthostatic retractor placement or by pneumoperitoneum insufflation in obese patients undergoing gastroplasty.

METHODS:

60 patients undergoing bariatric surgery by two techniques: open (G1) or videolaparoscopic (G2) gastroplasty were studied. After tracheal intubation, adequate ventilation of both hemitoraxes was confirmed by lung auscultation. The distance orotracheal tube-carina was estimated with the use of a fiber bronchoscope before and after installation of orthostatic retractors in G1 or before and after insufflation of pneumoperitoneum in patients in G2.

RESULTS:

G1 was composed of 22 and G2 of 38 patients. No cases of endobronchial intubation were detected in either group. The mean orotracheal tube-carina distance variation was estimated in -0.03 cm (95% CI 0.06 to -0.13) in the group of patients undergoing open gastroplasty and in -0.42 cm (95% CI -0.56 to -1.4) in the group of patients undergoing videolaparoscopic gastroplasty. The extremes of variation in each group were: 0.5 cm to -1.6 cm in patients undergoing open surgery and 0.1 cm to -2.2 cm in patients undergoing videolaparoscopic surgery.

CONCLUSIONS:

There was no significant change in orotracheal tube-CA distance after placement of orthostatic retractors in patients undergoing open gastroplasty. There was a reduction in orotracheal tube-CA distance after insufflation of pneumoperitoneum in patients undergoing videolaparoscopic gastroplasty. We recommend attention to lung auscultation and to signals of ventilation monitoring and reevaluation of orotracheal tube placement after peritoneal insufflation.

Keywords:
Endotracheal intubation/complications; Obesity; Bariatric surgery; Pneumoperitoneum; Laparotomy

Introdução

Após a intubação, o avanço do tubo orotraqueal (TOT) além da carina resulta em ventilação de apenas um dos pulmões. Essa condição, conhecida como intubação endobrônquica ou intubação seletiva, pode causar hipoxemia, hipercapnia ou pressão intrapulmonar excessiva e potencialmente causar danos secundários, como lesão cerebral ou ruptura traqueobrônquica, especialmente na presença de outras comorbidades, tais como pneumotórax, choque ou trauma.11. Goodman BT, Richardson MG. Case report: unilateral negative pressure pulmonary edema - a complication of endobronchial intubation. Can J Anaesth. 2008;55:691-5. and 22. Engoren M, de St Victor P. Tension pneumothorax and contralat- eral presumed pneumothorax from endobronchial intubation via cricothyroidotomy. Chest. 2000;118:1833-5. A intubação endobrônquica é a causa mais comum de dessaturação arterial.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. A ausculta de cinco pontos no tórax tem sido o método tradicional de confirmação do posicionamento do TOT.44. Dronen S, Chadwick O, Nowak R. Endotracheal tip position in the arrested patient. Ann Emerg Med. 1982;11:116-7.

Um método desenvolvido para estudo da árvore traqueobrônquica é a fibrobroncoscopia. É considerado um método diagnóstico seguro, rápido e de custo efetivo.55. Pattnaik SK, Bodra R. Ballotability of cuff to confirm the correct intratracheal position of the endotracheal tube in the intensive care unit. Eur J Anaesthesiol. 2000;17:587-90. Como método confirmatório da posição do TOT, o procedimento é feito através do TOT e a visualização direta da carina pode detectar o posicionamento incorreto do tubo.66. Rudraraju P, Eisen LA. Confirmation of endotracheal tube posi- tion: a narrative review. J Intensive Care Med. 2009;24:283-92.

O objetivo deste estudo foi analisar se há mudanças na distância entre o TOT e a carina (TOT-CA) induzidas pelo afastador ortostático ou pelo pneumoperitônio em pacientes obesos submetidos à gastroplastia aberta ou videolaparoscópica, respectivamente.

Método

Após a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética e Pesquisas em Seres Humanos (00232.1208-11) e obtenção da assinatura do termo de consentimento informado, foram incluídos pacientes de ambos os sexos, entre 18 e 60 anos, estado físico I, II ou III e Índice de Massa Corporal superior a 35 kg.m-2, que foram submetidos à cirurgia bariátrica sob anestesia geral. A amostra constou de pacientes submetidos à gastroplastia aberta em um hospital universitário e de pacientes submetidos a gastroplastia videolaparoscópica em uma instituição privada, conforme as técnicas cirúrgicas de rotina nas respectivas instituições. Foram excluídos do estudo gestantes ou mulheres em período de aleitamento, portadores de deformidade traqueobrônquica, pacientes com ausculta pulmonar pré-operatória prejudicada e pacientes com relato de hipersensibilidade às drogas previstas no protocolo.

Os pacientes não receberam medicação pré-anestésica. Todos foram posicionados com travesseiros no tórax, no pescoço e na cabeça, de forma a alinhar a fúrcula esternal e o meato auditivo externo.77. Ebert TJ, Shankar H, Haake RM. Perioperative considerations for patients with morbid obesity. Anesthesiol Clin. 2006;24:621-36. Foi usada a monitoração com oximetria de pulso, pressão arterial não invasiva, capnografia e cardioscopia. Todos receberam oxigênio a 100% por máscara facial por três minutos. A indução da anestesia constou de infusão de remifentanil 0,3 µg.kg-1.min-1 (segundo o peso ideal) e propofol 2 mg.kg-1 (segundo o peso real). Após a perda da consciência administrou-se succinilcolina na dose de 1 mg.kg-1 (segundo o peso real).

Após um minuto, procedeu-se à intubação orotraqueal com tubo 7,5 mm nas pacientes do sexo feminino e 8,5 mm nos pacientes do sexo masculino. Para confirmação da intubação traqueal foi usada a capnografia. O paciente foi ventilado mecanicamente com ventilação com pressão positiva controlada por volume e pressão positiva no fim da expiração de 5 cm H2O para manter EtCO2 entre 30-35 mmHg. Nesse momento, foi usada a ausculta pulmonar em ambos os hemitórax anteriores. Caso o murmúrio vesicular estivesse diminuído ou abolido em um dos lados, seria suposto o diagnóstico de intubação seletiva. O tubo seria reposicionado, se necessário, até que a ausculta pulmonar estivesse normal em ambos os hemitórax. Posteriormente foi efetuada a fibrobroncoscopia com fibrobroncoscópio pediátrico de 3,6 mm flexível (Storz, Alemanha) lubrificado com cloridrato de lidocaína gel 2% por anestesiologista com mais de dois anos de experiência com o procedimento. Foi usado um conector valvular que permitiu que a fibrobroncoscopia fosse feita sem interromper a ventilação do paciente.

A posição correta do tubo era confirmada quando fosse possível a visualização da carina traqueal e a introdução do fibrobroncoscópio em ambos os brônquios-fonte. O orifício do brônquio lobar superior do pulmão direito após a bifurcação da carina traqueal foi usado como reparo anatômico principal. Foi estimada a distância da extremidade do tubo orotraqueal à carina traqueal da seguinte maneira: o fibrobroncoscópio foi posicionado na carina (fig. 1) e foi marcado com uma fita de esparadrapo na porção proximal, junto à extremidade proximal do TOT. Em seguida, o fibrobroncoscópio foi tracionado até que fosse visualizada a extremidade distal do TOT e o fibroscópio foi marcado pelo mesmo método (fig. 2). A distância TOT-CA foi estimada como a distância entre as duas fitas (fig. 3).

Figura 1
Broncofibroscópio posicionado junto à carina traqueal.

Figura 2
Vista endoscópica da extremidade distal do tubo orotraqueal na traqueia.

Figura 3
Distância estimada entre o tubo orotraqueal e a carina.

A ausculta pulmonar e a estimativa da distância TOT-CA foram repetidas após a instalação dos afastadores ortostáticos nos pacientes do G1 ou após o pneumoperitônio nos pacientes do G2.

O tamanho da amostra foi estimado em no mínimo 22 pacientes para cada grupo, o número necessário para um erro alfa de 5% e um erro beta de 20%, considerando um estudo anterior que encontrou uma movimentação do TOT de 0,7 ± 1,4 cm após insuflação do pneumoperitônio e com o objetivo de detectar uma redução de 1 cm na distância TOT-carina.88. Lobato EB, Paige GB, Brown MM, et al. Pneumoperitoneum as a risk factor for endobronchial intubation during laparoscopic gynecologic surgery. Anesth Analg. 1998;86:301-3. Os dados foram armazenados em um banco de dados no programa Microsoft Office Excel v. 7.0 (Microsoft, Seattle). Posteriormente, as análises foram feitas com o uso do programa IBM SPSS Statistics v 17.0. Foi admitida significância estatística quando p < 0,05.

Os dados estão descritos como média (desvio-padrão) ou frequência absoluta (frequência relativa ou porcentagem). Para verificar associação entre as variáveis qualitativas entre os grupos foi usado o teste de Fischer. Para análise das diferenças das variáveis quantitativas segundo grupos foi usado o teste t de Student. Para estudo da diferença entre as medidas da distância TOT-CA antes e após afastadores ortostáticos ou pneumoperitônio foi usado o teste t para medidas pareadas e análise de Bland-Altman.

Resultados

Dos 60 pacientes incluídos no estudo, 38 foram submetidos à gastroplastia aberta e 22 à gastroplastia videolaparoscópica. Nenhum dos pacientes foi excluído da análise por falhas na IOT ou na fibrobroncoscopia. As características demográficas da amostra estão expostas na tabela 1. Observou-se diferença entre os grupos nas variáveis IMC e gênero. O grupo dos pacientes submetidos à cirurgia aberta apresentou maior média de IMC e maior proporção de mulheres em relação ao grupo dos pacientes submetidos à cirurgia videolaparoscópica, com tendência a serem mais velhos.

Tabela 1 -
Características demográficas dos pacientes em ambos os grupos

Não foram observados, neste estudo, alterações na ausculta pulmonar ou casos de intubação seletiva em nenhum momento em ambos os grupos.

A tabela 2 mostra os dados referentes às medidas da distância TOT-CA logo após a IOT e após os afastadores ortostáticos ou o pneumoperitônio.

Tabela 2 -
Distância entre o tubo orotraqueal e a carina nos dois grupos logo após intubação e após afastadores ortostáticos ou pneumoperitônio

A média de variação foi -0,03 (95% IC da média 0,06 a -0,13) no grupo dos pacientes submetidos à gastroplastia aberta e -0,42 (95% IC da média -0,56 a -1,4) no grupo dos pacientes submetidos à gastroplastia videolaparoscópica. Os extremos de variação em cada grupo foram 0,5 cm a -1,6 cm no grupo dos pacientes submetidos à cirurgia aberta e 0,1 cm a -2,2 cm no grupo dos pacientes submetidos à cirurgia videolaparoscópica. Na figura 4 estão dispostas, na análise de Bland-Altman, as variações da distância TOT-CA após a colocação de afastadores ortostáticos e a insuflação peritoneal, respectivamente.

Figura 4
Variações da distância da extremidade do tubo orotraqueal (TOT) à carina nos pacientes submetidos à cirurgia aberta ou videolaparoscópica.

Discussão

Neste estudo, o dado que mais chama a atenção é a redução significativamente maior da distância entre a extremidade do TOT e a carina após a instalação do pneumoperitônio em gastroplastias videolaparoscópicas quando comparadas às gastroplastias abertas. Como uma consequência, pode-se especular que há um risco maior de intubação endobrônquica no transoperatório em cirurgias videolaparoscópicas em relação aos pacientes submetidos à cirurgia aberta.

A intubação endobrônquica é um importante problema em anestesiologia e está intimamente associada a aumentos de morbidade.11. Goodman BT, Richardson MG. Case report: unilateral negative pressure pulmonary edema - a complication of endobronchial intubation. Can J Anaesth. 2008;55:691-5. 22. Engoren M, de St Victor P. Tension pneumothorax and contralat- eral presumed pneumothorax from endobronchial intubation via cricothyroidotomy. Chest. 2000;118:1833-5. and 33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. Essa condição representa o quarto incidente mais comum da anestesia geral e o incidente mais comum que envolve o TOT.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. Dentre as consequências mais graves estão a hipoxemia, a atelectasia do pulmão não ventilado e a hiperinsuflação do pulmão ventilado com possibilidade de pneumotórax;33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. rupturas traqueobrônquicas, edema pulmonar unilateral e casos de alterações hemodinâmicas seguidos de dano cerebral e morte também já foram descritos.11. Goodman BT, Richardson MG. Case report: unilateral negative pressure pulmonary edema - a complication of endobronchial intubation. Can J Anaesth. 2008;55:691-5. and 22. Engoren M, de St Victor P. Tension pneumothorax and contralat- eral presumed pneumothorax from endobronchial intubation via cricothyroidotomy. Chest. 2000;118:1833-5.

Embora a ausculta pulmonar seja o principal critério clínico para o diagnóstico de intubação endobrônquica, estudos vêm sugerindo certa inacurácia do método.66. Rudraraju P, Eisen LA. Confirmation of endotracheal tube posi- tion: a narrative review. J Intensive Care Med. 2009;24:283-92. 88. Lobato EB, Paige GB, Brown MM, et al. Pneumoperitoneum as a risk factor for endobronchial intubation during laparoscopic gynecologic surgery. Anesth Analg. 1998;86:301-3. 99. Sugiyama K, Yokoyama K, Satoh K, et al. Does the Murphy eye reduce the reliability of chest auscultation in detecting endo- bronchial intubation?. Anesth Analg 1999;88:1380-3. 1010. Sitzwohl C, Langheinrich A, Schober A, et al. Endobronchial intubation detected by insertion depth of endotracheal tube, bilateral auscultation, or observation of chest movements: ran- domised trial. BMJ. 2010;341:c5943. and 1111. Ezri T, Khazin V, Szmuk P, et al. Use of the Rapiscope vs chest auscultation for detection of accidental bronchial intubation in non-obese patients undergoing laparoscopic cholecystectomy. J Clin Anesth. 2006;18:118-23. Deslocamentos do TOT sem alterações no padrão da ausculta pulmonar foram observados em pacientes cuja extremidade do tubo ultrapassava a carina em até 3,2 cm.99. Sugiyama K, Yokoyama K, Satoh K, et al. Does the Murphy eye reduce the reliability of chest auscultation in detecting endo- bronchial intubation?. Anesth Analg 1999;88:1380-3. Quando comparada a outro método diagnóstico, a ausculta bilateral do tórax foi capaz de detectar apenas dois casos de intubação seletiva em pacientes submetidos à colecistectomia videolaparoscópica dos oito casos confirmados por radiografia do tórax.1111. Ezri T, Khazin V, Szmuk P, et al. Use of the Rapiscope vs chest auscultation for detection of accidental bronchial intubation in non-obese patients undergoing laparoscopic cholecystectomy. J Clin Anesth. 2006;18:118-23. A baixa sensibilidade da ausculta pode ser explicada pela transmissão torácica dos sons pulmonares ao se tornarem mais brônquicos em qualidade durante a ventilação mecânica - situação que pode ser agravada na presença de alterações anatômicas do tórax, como mamas grandes, obesidade e tórax em sino.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31.

Os sinais de intubação seletiva incluem mudanças no pico de pressão inspiratória, dessaturação arterial e variações das concentrações de dióxido de carbono na capnografia.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. 66. Rudraraju P, Eisen LA. Confirmation of endotracheal tube posi- tion: a narrative review. J Intensive Care Med. 2009;24:283-92. and 1212. Brunel W, Coleman DL, Schwartz DE, et al. Assessment of rou- tine chest roentgenograms and the physical examination to confirm endotracheal tube position.. Chest 1989;96:1043-5. Essas alterações, no entanto, são consideradas inespecíficas e suas primeiras manifestações podem ser sutis e não causar alarme.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31. and 1313. Kato H, Suzuki A, Nakajima Y, et al. A visual stethoscope to detect the position of the tracheal tube.. Anesth Analg 2009;109:1836-42. Apenas 11,5% dos casos de intubação seletiva apresentaram alterações capnográficas, sem registro concomitante de mudanças na pressão de pico inspiratória. A incerteza da simetria da ausculta pulmonar, a presunção da possibilidade de algum artefato ou de falha de instrumentos e o desejo de não interromper a cirurgia, bem como a dificuldade de acesso à região torácica no transoperatório, contribuem para o diagnóstico tardio da complicação.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31.

No transoperatório, a migração do TOT pode ocorrer após o seu correto posicionamento no início da anestesia e resultar de alterações na inclinação da mesa cirúrgica, da insuflação peritoneal, da flexão da cabeça e do pescoço do paciente ou de seu reposicionamento em geral. Cirurgias neurológicas, ginecológicas e videolaparoscópicas apresentam os maiores índices de intubação endobrônquica, com um terço dos casos associado a cirurgias que envolvem o segmento da cabeça e do pescoço.33. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31.

A alta incidência de intubação seletiva em neurocirurgias está relacionada principalmente à posição prona e/ou à movimentação da cabeça e do pescoço do paciente pelo cirurgião no transoperatório. Por sua vez, cirurgias videolaparoscópicas ginecológicas apresentam significativa associação com intubação endobrônquica em consequência da instalação do pneumoperitônio em posição de cefalodeclive. Nessas cirurgias, foi reportada uma redução média de 1,6 cm da distância entre a extremidade do TOT e a carina após a instalação do pneumoperitônio (de 2,1 ± 0,8 cm para 0,54 ± 1,4 cm), com oito casos de intubação seletiva em uma amostra de 30 pacientes submetidas à cirurgia ginecológica videolaparoscópica.1414. Kim JH, Hong DM, Oh AY, et al. Tracheal shortening dur- ing laparoscopic gynecologic surgery. Acta Anaesthesiol Scand. 2007;51:235-8. Similarmente, em estudo que examinou radiografias de tórax antes e após insuflação peritoneal de 10 mmHg, foram encontradas movimentações cefálicas do TOT de 1,1 ± 0,4 cm como consequência do aumento da pressão intra-abdominal.1515. Morimura N, Inoue K, Miwa T. Chest roentgenogram demon- strates cephalad movement of the carina during laparoscopic cholecystectomy. Anesthesiology. 1994;81:1301-2.

Em nosso estudo, a instalação do pneumoperitônio em pacientes obesos submetidos à gastroplastia videolaparoscópica foi responsável por uma movimentação de -0,42 ± 0,5 cm do TOT em relação à carina e chegou ao extremo de redução de mais de 2 cm. Além do risco de intubação seletiva, o pneumoperitônio acarreta outras consequências importantes sobre a função pulmonar. A migração cefálica do diafragma está associada tanto à diminuição da capacidade residual funcional quanto ao aumento do volume de fechamento das pequenas vias aéreas, o que leva a um distúrbio ventilação/perfusão e a um aumento do shuntintrapulmonar. Além disso, mecanismos de ventilação são alterados em vista da diminuição da complacência pulmonar, com consequente aumento da resistência nas vias aéreas. 1616. Joris J, Cigarini I, Legrand M, et al. Metabolic and respiratory changes after cholecystectomy performed via laparotomy or laparoscopy. Br J Anaesth. 1992;69:341-5. and 1717. Cunningham AJ. Anesthetic implications of laparoscopic surgery. Yale J Biol Med. 1998;71:551-78. Pacientes obesos durante a anestesia constituem um grupo de risco, uma vez que já apresentam redução da capacidade residual funcional, com fechamento de vias aéreas e distúrbio ventilação/perfusão sob ventilação corrente normal. 77. Ebert TJ, Shankar H, Haake RM. Perioperative considerations for patients with morbid obesity. Anesthesiol Clin. 2006;24:621-36. 1818. Lorentz MN, Albergaria VF, Lima FA. Anesthesia for morbid obe- sity. Rev Bras Anestesiol. 2007;57:199-213. and 1919. Eichenberger A, Proietti S, Wicky S, et al. Morbid obesity and postoperative pulmonary atelectasis: an underestimated prob- lem.. Anesth Analg 2002;95:1788-92. Essa situação se agrava ainda mais na vigência de comorbidades associadas a baixas reservas pulmonares ou cardiopatias. 1818. Lorentz MN, Albergaria VF, Lima FA. Anesthesia for morbid obe- sity. Rev Bras Anestesiol. 2007;57:199-213.

Estudos relatam que a extremidade do TOT se aproxima da carina após a instalação do pneumoperitônio com risco significativo de causar intubações endobrônquicas.88. Lobato EB, Paige GB, Brown MM, et al. Pneumoperitoneum as a risk factor for endobronchial intubation during laparoscopic gynecologic surgery. Anesth Analg. 1998;86:301-3. 1414. Kim JH, Hong DM, Oh AY, et al. Tracheal shortening dur- ing laparoscopic gynecologic surgery. Acta Anaesthesiol Scand. 2007;51:235-8. 2020. Mendonca C, Baguley I, Kuipers AJ, et al. Movement of the endotracheal tube during laparoscopic hernia repair.. Acta Anaesthesiol Scand 2000;44:517-9. 2121. Bottcher-Haberzeth S, Dullenkopf A, Gitzelmann CA, et al. Tra- cheal tube tip displacement during laparoscopy in children.. Anaesthesia 2007;62:131-4. and 2222. Hwang JY, Rhee KY, Kim JH, et al. Methods of endotracheal tube placement in patients undergoing pelviscopic surgery. Anaesth Intensive Care. 2007;35:953-6. Nossos resultados estão de acordo com outros estudos ao encontrar maior movimentação da extremidade do TOT após a insuflação do pneumoperitônio quando comparada a pacientes submetidos a cirurgia aberta. Assim, parece que o aumento da pressão intra-abdominal constitui um risco importante para intubação endobrônquica acidental também em pacientes obesos submetidos à gastroplastia videolaparoscópica.

Em nosso estudo, o uso de afastadores ortostáticos em gastroplastia aberta não foi associado a mudanças significativas na distância entre a extremidade do TOT e a carina. Contudo, nossos resultados devem ser avaliados com cautela, pois a cirurgia videolaparoscópica tem sido associada a diversos benefícios no período pós-operatório, tais como menor necessidade de analgésicos, melhor função pulmonar, melhores resultados estéticos,2323. Davila-Cervantes A, Borunda D, Dominguez-Cherit G, et al. Open versus laparoscopic vertical banded gastroplasty: a randomized controlled double blind trial. Obes Surg. 2002;12:812-8. menor taxa de complicações perioperatórias,2424. Hutter MM, Randall S, Khuri SF, et al. Laparoscopic versus open gastric bypass for morbid obesity: a multicenter, prospec- tive, risk-adjusted analysis from the National Surgical Quality Improvement Program. Ann Surg. 2006;243:657-62. menor taxa de complicações de parede abdominal e menor tempo de internação hospitalar.2525. Lujan JA, Frutos MD, Hernandez Q, et al. Laparoscopic ver- sus open gastric bypass in the treatment of morbid obesity: a randomized prospective study.. Ann Surg 2004;239:433-7. Efeitos adversos advindos do uso de afastadores ortostáticos são lesão de nervo periférico,2626. Celebrezze Jr JP, Pidala MJ, Porter JA, et al. Femoral neu- ropathy: an infrequently reported postoperative complication: report of four cases. Dis Colon Rectum. 2000;43:419-22. lesão do cólon,2727. Noldus J, Graefen M, Huland H. Major postoperative complications secondary to use of the Bookwalter self-retaining retractor. Urology. 2002;60:964-7. lesão do fígado2828. Saranita J, Soto RG, Paoli D. Elevated liver enzymes as an operative complication of gastric bypass surgery.. Obes Surg 2003;13:314-6. e dor crônica.2929. Rogers ML, Henderson L, Mahajan RP, et al. Preliminary findings in the neurophysiological assessment of intercostal nerve injury during thoracotomy. Eur J Cardiothorac Surg. 2002;21:298-301.

Em resumo, em pacientes obesos submetidos à gastroplastia, a insuflação do pneumoperitônio em procedimentos videolaparoscópicos proporciona maior redução da distância entre a extremidade do TOT e a carina quando comparada com a colocação dos afastadores ortostáticos em gastroplastias abertas. Os resultados apontam para a necessidade de atenção especial à ausculta pulmonar e aos sinais de monitoração da ventilação, assim como reavaliação do posicionamento do TOT após a insuflação peritoneal.

References

  • 1. Goodman BT, Richardson MG. Case report: unilateral negative pressure pulmonary edema - a complication of endobronchial intubation. Can J Anaesth. 2008;55:691-5.
  • 2. Engoren M, de St Victor P. Tension pneumothorax and contralat- eral presumed pneumothorax from endobronchial intubation via cricothyroidotomy. Chest. 2000;118:1833-5.
  • 3. McCoy EP, Russell WJ, Webb RK. Accidental bronchial intuba- tion. An analysis of AIMS incident reports from 1988 to 1994 inclusive. Anaesthesia. 1997;52:24-31.
  • 4. Dronen S, Chadwick O, Nowak R. Endotracheal tip position in the arrested patient. Ann Emerg Med. 1982;11:116-7.
  • 5. Pattnaik SK, Bodra R. Ballotability of cuff to confirm the correct intratracheal position of the endotracheal tube in the intensive care unit. Eur J Anaesthesiol. 2000;17:587-90.
  • 6. Rudraraju P, Eisen LA. Confirmation of endotracheal tube posi- tion: a narrative review. J Intensive Care Med. 2009;24:283-92.
  • 7. Ebert TJ, Shankar H, Haake RM. Perioperative considerations for patients with morbid obesity. Anesthesiol Clin. 2006;24:621-36.
  • 8. Lobato EB, Paige GB, Brown MM, et al. Pneumoperitoneum as a risk factor for endobronchial intubation during laparoscopic gynecologic surgery. Anesth Analg. 1998;86:301-3.
  • 9. Sugiyama K, Yokoyama K, Satoh K, et al. Does the Murphy eye reduce the reliability of chest auscultation in detecting endo- bronchial intubation?. Anesth Analg 1999;88:1380-3.
  • 10. Sitzwohl C, Langheinrich A, Schober A, et al. Endobronchial intubation detected by insertion depth of endotracheal tube, bilateral auscultation, or observation of chest movements: ran- domised trial. BMJ. 2010;341:c5943.
  • 11. Ezri T, Khazin V, Szmuk P, et al. Use of the Rapiscope vs chest auscultation for detection of accidental bronchial intubation in non-obese patients undergoing laparoscopic cholecystectomy. J Clin Anesth. 2006;18:118-23.
  • 12. Brunel W, Coleman DL, Schwartz DE, et al. Assessment of rou- tine chest roentgenograms and the physical examination to confirm endotracheal tube position.. Chest 1989;96:1043-5.
  • 13. Kato H, Suzuki A, Nakajima Y, et al. A visual stethoscope to detect the position of the tracheal tube.. Anesth Analg 2009;109:1836-42.
  • 14. Kim JH, Hong DM, Oh AY, et al. Tracheal shortening dur- ing laparoscopic gynecologic surgery. Acta Anaesthesiol Scand. 2007;51:235-8.
  • 15. Morimura N, Inoue K, Miwa T. Chest roentgenogram demon- strates cephalad movement of the carina during laparoscopic cholecystectomy. Anesthesiology. 1994;81:1301-2.
  • 16. Joris J, Cigarini I, Legrand M, et al. Metabolic and respiratory changes after cholecystectomy performed via laparotomy or laparoscopy. Br J Anaesth. 1992;69:341-5.
  • 17. Cunningham AJ. Anesthetic implications of laparoscopic surgery. Yale J Biol Med. 1998;71:551-78.
  • 18. Lorentz MN, Albergaria VF, Lima FA. Anesthesia for morbid obe- sity. Rev Bras Anestesiol. 2007;57:199-213.
  • 19. Eichenberger A, Proietti S, Wicky S, et al. Morbid obesity and postoperative pulmonary atelectasis: an underestimated prob- lem.. Anesth Analg 2002;95:1788-92.
  • 20. Mendonca C, Baguley I, Kuipers AJ, et al. Movement of the endotracheal tube during laparoscopic hernia repair.. Acta Anaesthesiol Scand 2000;44:517-9.
  • 21. Bottcher-Haberzeth S, Dullenkopf A, Gitzelmann CA, et al. Tra- cheal tube tip displacement during laparoscopy in children.. Anaesthesia 2007;62:131-4.
  • 22. Hwang JY, Rhee KY, Kim JH, et al. Methods of endotracheal tube placement in patients undergoing pelviscopic surgery. Anaesth Intensive Care. 2007;35:953-6.
  • 23. Davila-Cervantes A, Borunda D, Dominguez-Cherit G, et al. Open versus laparoscopic vertical banded gastroplasty: a randomized controlled double blind trial. Obes Surg. 2002;12:812-8.
  • 24. Hutter MM, Randall S, Khuri SF, et al. Laparoscopic versus open gastric bypass for morbid obesity: a multicenter, prospec- tive, risk-adjusted analysis from the National Surgical Quality Improvement Program. Ann Surg. 2006;243:657-62.
  • 25. Lujan JA, Frutos MD, Hernandez Q, et al. Laparoscopic ver- sus open gastric bypass in the treatment of morbid obesity: a randomized prospective study.. Ann Surg 2004;239:433-7.
  • 26. Celebrezze Jr JP, Pidala MJ, Porter JA, et al. Femoral neu- ropathy: an infrequently reported postoperative complication: report of four cases. Dis Colon Rectum. 2000;43:419-22.
  • 27. Noldus J, Graefen M, Huland H. Major postoperative complications secondary to use of the Bookwalter self-retaining retractor. Urology. 2002;60:964-7.
  • 28. Saranita J, Soto RG, Paoli D. Elevated liver enzymes as an operative complication of gastric bypass surgery.. Obes Surg 2003;13:314-6.
  • 29. Rogers ML, Henderson L, Mahajan RP, et al. Preliminary findings in the neurophysiological assessment of intercostal nerve injury during thoracotomy. Eur J Cardiothorac Surg. 2002;21:298-301.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2015

Histórico

  • Recebido
    14 Dez 2012
  • Aceito
    01 Mar 2013
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org