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Ventilação não invasiva após a extubação

Cara Editora,

Lemos com grande interesse o estudo conduzido por Adiyeke et al.11 Adıyeke E, Ozgultekin A, Turan G, et al. Non-invasive mechanical ventilation after the successful weaning: a comparison with the venturi mask. Braz J Anesthesiol. 2016;66:572-6. Nesse trabalho prospectivo, os autores descrevem uma redução muito importante da insuficiência respiratória pós-extubação e uma grande melhoria no tempo de internação em unidade de terapia intensiva proporcionada pela profilaxia sistemática com ventilação não invasiva (VNI) após a extubação.

Porém, algumas falhas metodológicas que, de alguma forma, limitam as conclusões, devem ser sublinhadas. Primeiro, os autores não descreveram precisamente a população. Logo, o número de pacientes com alto risco de insucesso na extubação não aparece no artigo. No entanto, como afirmam os autores, dados recentes sugerem que a VNI profilática é útil apenas nesse subgrupo de pacientes. Portanto, parece que o princípio de equilíbrio de distribuição não foi respeitado, o que significa que a necessidade previsível da intervenção testada pode não ter sido levada em consideração e que alguns pacientes com indicação clara para a intervenção testada podem ter sido randomizados no grupo que não a forneceu. Essa questão é reforçada pela taxa inesperadamente alta de insuficiência respiratória no grupo designado para máscara Venturi. De fato, pode-se sugerir que uma incidência tão alta (isto é, 56%) de insuficiência respiratória pós-extubação é pouco provável em um grupo de pacientes com baixo risco de falha na extubação. Segundo, na maioria dos estudos recentes nessa área a incidência de falha na extubação varia entre 10% e 20%. Devemos salientar que a pequena coorte descrita no estudo era muito improvável de representar poder suficiente para descrever um efeito significativo da intervenção descrita, pelo menos em uma população geral de UTI. Isso pode sugerir que a população incluída ou tinha características específicas, embora não descritas, ou resultaram como efeito do acaso. Terceiro, a despeito da avaliação entusiástica dos autores sobre o uso de VNI como tratamento de primeira linha na falha pós-extubação, devemos ter em mente que estudos bem desenhados apresentaram conclusões diferentes. De fato, em seu estudo prospectivo e randômico, Esteban et al. evidenciaram uma taxa maior de óbito em UTI no subgrupo de pacientes tratados sistematicamente com apoio via VNI que precisaram de intubação subsequente após o insucesso na extubação.22 Esteban A, Frutos-Vivar F, Ferguson ND, et al. Noninvasive positive-pressure ventilation for respiratory failure after extubation. N Engl J Med. 2004;350:2452-60. Embora a VNI na falha pós-extubação possa ser benéfica em alguns contextos específicos (doença pulmonar obstrutiva crônica, por exemplo), a etiologia estimada da insuficiência respiratória pós-extubação não foi fornecida no artigo. Portanto, acreditamos que a aplicação de VNI a todos os pacientes que apresentam falha pós-extubação permanece uma questão de debate. Em geral, embora a VNI continue a ser um dos principais destaques no sucesso da extubação, acreditamos que as evidências atuais ainda precisam ser acompanhadas com a triagem dos pacientes que podem ser beneficiados por essa ferramenta aplicada antes da extubação para a VNI profilática e a VNI "de resgate" em caso de falha pós-extubação com base em análise caso a caso.

References

  • 1
    Adıyeke E, Ozgultekin A, Turan G, et al. Non-invasive mechanical ventilation after the successful weaning: a comparison with the venturi mask. Braz J Anesthesiol. 2016;66:572-6.
  • 2
    Esteban A, Frutos-Vivar F, Ferguson ND, et al. Noninvasive positive-pressure ventilation for respiratory failure after extubation. N Engl J Med. 2004;350:2452-60.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2018
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