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Heparina

CORRELAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA

Heparina

Santos, 14 de julho de 2008

Prezado Editor

Gostaria de cumprimentar o Dr. Eduardo Melo e seus colaboradores pelo importante estudo: "Controle da qualidade das preparações de heparina disponíveis no Brasil: implicações na cirurgia cardiovascular" (RBCCV.2008;23(2):169-174). Recentemente, apresentamos em Congresso Nacional, tema em que relatávamos baixa incidência de revisões de hemostasia decorrentes de sangramento pós-operatório (X Congresso SCICVESPNov/2007). Entretanto, com a supressão da heparina Roche (Liquemine) e da aprotinina (Bayer), à semelhança de inúmeros Serviços de Cirurgia Cardíaca do Brasil e de todo o mundo, passamos a observar um aumento excessivo no sangramento pós-operatório e maior necessidade de reintervenção por essa complicação. Mesmo a substituição da nova heparina pela fabricada por outro Laboratório, não nos atenuou dessas ocorrências.

Esta comunicação visa relatar uma observação realizada por nossos perfusionistas, Srs. Everaldo de Miranda e Denis Augusto de Miranda. Nos últimos nove pacientes operados com circulação extracorpórea, empregamos dose inicial de 5mg/kg de heparina, além de 100mg da mesma no perfusato. Apesar disso, em todos os pacientes o Tempo de Coagulação Ativado (TCA), registrado em dois aparelhos automatizados da mesma marca (A), não superou os 500 segundos (apesar de doses adicionais de heparina). Segundo seu fabricante, a lâmina aquecida e utilizada para o exame contém sílica, caulim e fosfolipídeo. Entretanto, o resultado do TCA obtido nas mesmas amostras pelo antigo método manual de avaliação (que emprega 12 mg de celite como ativador), no qual o perfusionista movimenta o tubo de ensaio até que uma peça metálica de seu interior não mais se mobilize, esses valores foram, na maioria das vezes, mais do que o dobro das primeiras dosagens (realizadas pelo método A). A partir do quarto paciente, passamos também a realizar o TCA com um diferente modelo de aparelho automatizado (que também utiliza celite em seus tubos)- método B, cujos resultados foram semelhantes ao método manual (vide Tabela 1 abaixo).

Tabela 1
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Dessa maneira, a quantidade de heparina suplementada durante a perfusão foi diminuída e não observamos mais sangramentos desproporcionais ao esperado. Levamos em conta que essa variação nos tempos de TCA para a mesma amostra deve estar relacionada aos diferentes agentes ativadores da coagulação. Some-se a isso a possibilidade de detecção mais precoce de fibrina pelo método eletrônico A, do que no manual.

Entretanto, chamou-nos a atenção o fato de que, pelo método A, mesmo com adição progressiva de heparina, o TCA mal atingia os 400 segundos, nunca chegando aos 500 segundos. Isso nos levou a basear a reposição da heparina durante a CEC pelo método manual ou pelo eletrônico B (no qual nosso limite de tolerância mínima do TCA para administrarmos mais anti-coagulante é de 600 segundos).

Dr. Melo e seus colaboradores observaram, com muita propriedade, que a reduzida atividade anticoagulante das novas heparinas pode ser responsável pela coagulopatia de consumo durante a utilização da CEC, especialmente porque sua fração de menor peso molecular não responde ao teste de coagulação. Com isso, essa heparina não fracionada não seria neutralizada pela protamina, persistindo em circulação, favorecendo o sangramento per e pós-operatório.

Acreditamos que, somado ao já considerado pelos Autores, a sub-avaliação da medida do TCA (através do aparelho A), muito inferior ao obtido por método manual ou por aparelhos eletrônicos com igual ativador, induz à administração indesejável de novas doses de heparina, o que pode também estar contribuindo para um maior sangramento desses pacientes.

Atenciosamente,

Luís Alberto O. Dallan, Fernando Platania, Adriano M. Milanez - Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital Ana Costa - Santos/SP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2009
  • Data do Fascículo
    Set 2008
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