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Gramsci e as ciências sociais

Gramsci e as ciências sociais

Desde algum tempo, cada Encontro Anual da Anpocs tem dedicado sessão especial a uma grande (isto é, de padrão internacional) edição brasileira de clássicos das ciências sociais. A primeira foi sobre o belo trabalho que Antonio Flávio Pierrucci fez, cotejando as versões de 1904-1905 e 1920 e agregando um forte aparato crítico à A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber (traduzido por José Marcos Mariani de Macedo e publicado em 2004 pela Companhia das Letras). A segunda foi sobre a nova edição de os Cadernos do cárcere, de Antonio Gramsci, preparada por Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira, inovadora no plano mundial, pois se trata de uma combinação bem-sucedida da edição Togliatti com a Gerratana (em seis volumes, complementados por dois dos Escritos políticos e dois das Cartas do cárcere, publicados entre 1999 e 2005 pela Civilização Brasileira). Em 2006 será a vez de Marcel Mauss, cujos Sociologia e antropologia (com textos de Claude Lévi-Strauss, Georges Gurvitch e Henry Lévy-Bruhl) e Sobre o sacrificio (junto com Henri Hubert) foram cuidadosamente traduzidos por Paulo Neves e editados em 2003 e 2005, respectivamente, pela CosacNaify.

O presente dossiê deriva da sessão especial "Cadernos do Cárcere: Gramsci e as Ciências Sociais", do Encontro de 2005. Ela foi coordenada por Gabriel Cohn e contou com a participação de Carlos Nelson Coutinho, Renato Ortiz e Oliveiros. A intervenção de Oliveiros foi uma heterodoxa consideração do autor italiano como sociólogo – heterodoxa porque a leitura foge às interpretações canônicas da fragmentada obra do italiano e porque o próprio Gramsci rejeitava literalmente a sociologia como ciência. A de Carlos Nelson Coutinho partia da constatação de que Gramsci foi provavelmente o único marxista a usar em sentido positivo o termo "ciência política" ou "ciência da política", e fazia uma inédita aproximação entre dois usos do conceito de "catarse", essa negação, superação e elevação da particularidade à universalidade – o do filósofo Georg Lukács, que o utiliza para pensar a ética e a estética, e o de Gramsci, que o emprega para pensar a relação entre economia e política, ou entre o "momento econômico-corporativo" e o "momento ético-político" no processo de constituição dos sujeitos sociais. A de Renato Ortiz fazia, à luz de sua própria experiência como pesquisador e do tipo de relação que Gramsci estabeleceu com o universo das ciências sociais, um balanço crítico de "o que está vivo e o que está morto" no pensamento do sardo. Além deles, Alex Fiúza de Melo, que não pôde comparecer ao encontro, enviou sua intervenção. Nela, ele confronta a reflexão de Gramsci – comumente lido como um teórico da "questão nacional" – com os novos problemas gerados pelas profundas transformações da sociedade contemporânea e ressalta sua originalidade para pensar o processo de globalização, a dinâmica civilizatória do capitalismo e a disputa pela hegemonia no plano da política internacional.

Juntas, elas fazem todo sentido – complementam-se e contradizem-se. Por isso, a comissão editorial decidiu pela sua publicação, que traz os textos de Oliveiros, Renato e Alex. A participação de Carlos Nelson baseou-se em seu artigo "O conceito de político nos Cadernos do cárcere" anteriormente publicado na coletânea Ler Gramsci, entender a realidade, organizada por ele e Andréa Paula Teixeira e publicada em 2003 pela Civilização Brasileira. Não se tratando de texto inédito, a RBCS, com a concordância do autor, resolveu não agregá-lo.

O editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Abr 2007
  • Data do Fascículo
    Out 2006
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