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Discursos sobre o Papel do Tradutor-Intérprete Educacional de Libras/Português

Discourses about the Role of the Educational Translater-Interpreter of Libras/Portuguese

RESUMO:

O tradutor-intérprete educacional de Língua Brasileira de Sinais (Libras)/Português é fundamental em um espaço educacional que busca ser inclusivo a surdos, porém sua função vem sendo debatida frente à pluralidade existente quanto às disciplinas e aos contextos nos quais esses profissionais atuam. Diante disso, este trabalho promove uma discussão a fim de somar a um constructo que, aos poucos, tece uma perspectiva mais clara acerca dos aspectos que caracterizam a prática de um intérprete educacional. Para isso, analisaram-se respostas de 53 intérpretes de diferentes regiões do Brasil, obtidas por meio de um questionário enviado via Google Forms, que indagava sobre qual seria a sua função no âmbito educacional. A partir disso, aplicando o método de análise de conteúdo, identificaram-se quatro categorias que apontavam o intérprete educacional como: colaborador no processo de inclusão, mediador cultural, coformador do discente surdo e mediador linguístico. Compreende-se que, em sua complexidade, a função do intérprete educacional possui alguns desdobramentos que não podem ser ignorados, atribuindo a esses profissionais um lugar de indiferença ou assistencialismo excessivo nos processos de ensino e de aprendizagem. Ao contrário, eles devem participar ativamente, compreendendo o que caracteriza sua função, também a partir do diálogo com a instituição, discente surdo e comunidade surda.

PALAVRAS-CHAVE:
Intérprete educacional; Libras; Educação Inclusiva; Surdos

ABSTRACT:

The educational translator-interpreter of Brazilian Sign Language (LIBRAS)/Portuguese is essential in an educational space that seeks to be inclusive for the deaf, however his/her role has been debated in view of the existing plurality regarding the disciplines and contexts in which these professionals work. Due to that, this work promotes a discussion in order to add to a construct that gradually makes a clearer perspective about the aspects that characterize the practice of an educational interpreter. For this, answers from 53 interpreters from different regions of Brazil, obtained through a questionnaire sent via Google Forms, which asked what their role in the educational field would be, were analyzed. From this, applying the method of content analysis, four categories were identified that pointed to the educational interpreter as: collaborator in the inclusion process, cultural mediator, co-trainer of the deaf student and linguistic mediator. It is understood that, in its complexity, the role of the educational interpreter has some ramifications that cannot be ignored, attributing to these professionals a place of indifference or excessive assistance in the teaching and learning processes. On the contrary, they must actively participate, understanding what characterizes their role, also based on dialogue with the institution, deaf students and the deaf community.

KEYWORDS:
Educational interpreter; LIBRAS; Inclusive Education; Deaf

1 Introdução

Instituir a educação como um direito de todos implica remodelar um sistema que não se principiou assente em tal amplitude. Em consequência, vislumbram-se distintas reparações que, felizmente, decorrem com o intuito de promover um ensino inclusivo. Como exemplo, a mobilização de pesquisas e projetos de diferentes naturezas que tencionam investigar a educação de Surdos se somam a outras ações e correspondem a um movimento mais amplo de inclusão educacional no Brasil.

Acerca disso, aos surdos destinam-se frequentemente ações com vistas à acessibilidade apenas oportunizando o ingresso deles aos ambientes educacionais, porém não necessariamente contemplando seu desenvolvimento pedagógico. Em contraponto, é fundamental que as instituições de ensino, concomitante à matrícula, assegurem “a oferta do serviço de atendimento educacional especializado, dentre eles: ensino de Libras, português como língua adicional e a presença do(a) tradutor(a) e intérprete de Libras” (Costa & Albres, 2019, p. 28Costa, M. P. P. , & Albres, N. A. (2019). A atuação do (a) intérprete educacional: subjetividade e singularidade em questão. In W. H. C. Moura, & F. Christmann (Orgs.), A Tradução como Espelho: gestos, línguas e sentidos refletidos no fazer tradutório (1ª ed., pp. 28-42). DLLE/PGET/UFSC.).

No contexto educacional do Brasil, grande parte das escolas nas quais os estudantes surdos se matriculam se caracterizam como “escolas inclusivas” e não bilíngues. Assim sendo, são estabelecidas condições que demandam a presença do tradutor-intérprete educacional de Língua Brasileira de Sinais (Libras)/Português. Esse profissional atua em contextos inclusivos a surdos em ambientes educacionais. Com sua atividade regulamentada pela Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm
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, é fundamental na promoção da acessibilidade linguística de discentes surdos (Albres & Rodrigues, 2018;Albres, N. de A., & Rodrigues, C. H. (2018). As funções do intérprete educacional: entre práticas sociais e políticas educacionais. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, 13(3), 16-41. https://doi.org/10.1590/2176-457335335
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Souza & Pereira, 2018Souza, V. C. de A., & Pereira, K. L. (2018). Acessibilidade Linguística para um Estudante Surdo na Disciplina de Química Fundamental do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Viçosa. Revista de Ciências Humanas, 18(2), 1-21.), porém seu papel não se resume apenas a versar de uma língua para outra (Albres & Santiago, 2012Albres, N. A., & Santiago, V. A. A. (2012). Atuação do intérprete educacional: reflexão e discussão sobre as duas modalidades de interpretação-simultânea e consecutiva. Revista Espaço, 38, 50-59. http://dx.doi.org/10.20395/re.v0i38.193
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).

Destacamos que o tradutor-intérprete de Libras/Português pode atuar em contextos distintos (por exemplo: político, midiático, artístico, médico, jurídico, educacional), sendo, então, uma profissão caracterizada por variadas possibilidades (Dorziat & Araújo, 2012Dorziat, A., & Araújo, J. R. de. (2012). O intérprete de língua de sinais no contexto da educação inclusiva: o pronunciado e o executado. Revista Brasileira e Educação Especial, 18(3), 391-410. https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000300004
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). Dentre as áreas exemplificadas, o contexto educacional se difere pela demanda pedagógica e diversidade de ambientes educacionais. Albres e Rodrigues (2018)Albres, N. de A., & Rodrigues, C. H. (2018). As funções do intérprete educacional: entre práticas sociais e políticas educacionais. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, 13(3), 16-41. https://doi.org/10.1590/2176-457335335
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afirmam que “todas as atividades vinculadas aos IE [intérprete educacional] são singulares e dependentes do contexto da sala de aula, da necessidade de cada aluno, das características de cada disciplina e, até mesmo, da empatia e articulação com cada professor regente” (p. 34).

Desse modo, diante dessa pluralidade de contextos e sentidos, a complexidade vinculada ao trabalho do tradutor-intérprete educacional de Libras/Português e, por vezes, uma polissemia quanto à concepção dessa profissão e a indefinição dos seus limites de ação no ambiente escolar, este artigo se dispõe a dialogar sobre o contexto educacional em detrimento dos outros citados anteriormente, com o objetivo de somar a um agregado de pesquisas engendradas, a fim de desvelar aspectos que compõem a profissão referida.

Com o intuito de cumprir o objetivo proposto, apresentamos uma investigação, baseada em um questionário respondido por 53 intérpretes educacionais sobre a função desse profissional no contexto da Educação Inclusiva a surdos. Ressaltamos que, de modo algum, ambicionamos, neste trabalho, estabelecer um padrão de ações para esse profissional, mas, sim, destacar e discutir a respeito de características centrais que emergem a partir da fala dos próprios sujeitos. Não tencionamos apenas levantar críticas ao escopo de leis que orientam o uso da Libras, a educação de surdos e o trabalho dos tradutores-intérpretes de Libras/Português como é visto em diversos documentos, mas suscitar um espaço de diálogo e reflexão, para, assim, com base em discursos pautados na realidade de atuação, desconstruir certas verdades que circulam nos ambientes formativos sobre o tema em questão.

2 Percurso metodológico

A fim de compreendermos o objetivo proposto, aplicamos um questionário4 4 Todas as ações desenvolvidas nesta pesquisa foram aprovadas pelo Parecer Consubstanciado nº 3.482.432 do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). composto de seis perguntas que objetivavam conhecer os respondentes – sua formação e histórico de atuação profissional –, distribuindo-o via Google Forms para diferentes indivíduos, núcleos de inclusão e intérpretes de universidades e escolas federais de distintas regiões do Brasil – Região Sudeste (31), Sul (10), Norte (5), Nordeste (5) e Centro-Oeste (2). Os respondentes apresentavam formações distintas, incluindo curso superior, técnico ou até mesmo a aprendizagem da Libras de forma autônoma, obtendo certificação pela fluência. Com base na data em que o questionário foi respondido, afirmamos que grande parte dos participantes estavam vinculados a uma instituição federal de Educação Básica ou Educação Superior; entretanto, não questionamos a eles qual o nível de sua atuação.

Neste artigo, deter-nos-emos a discutir acerca de uma pergunta central do questionário, a qual indagava os participantes sobre qual seria a função de um IE. Por tratar-se de uma pergunta ampla, sem especificação do nível ou da modalidade de ensino, iremos dialogar com base nos pontos que emergem da fala dos profissionais, com uma perspectiva, de igual modo, ampla e sem necessariamente estabelecer relações com um nível de ensino específico.

As respostas foram estudadas conforme os preceitos da análise de conteúdo de Bardin (2011)Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70, Martins Fontes.. Desse modo, principiamos com uma leitura flutuante, ou seja, uma pré-análise das respostas, pontuando definições e características principais que emergiram delas. Em consequência disso, elaboramos indicadores que extraíam a essência da mensagem apresentada no texto que, em seguida, foi organizado em unidades comparáveis (subcategorias), a fim de, posteriormente, definirmos as categorias emergentes. Após a pré-análise, realizamos a exploração do material cujos indicadores foram estudados detalhadamente, relacionando-os aos nossos referenciais teóricos. Dessa forma, foi possível definirmos quais as categorias emergentes mais adequadas para representar as unidades de registro presentes nas respostas dos intérpretes.

Assim, na próxima seção, iremos discutir cada categoria lançando mão da organização e clareza disposta pela análise de conteúdo (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70, Martins Fontes.), viabilizando um diálogo entre as respostas dos intérpretes e algumas bases teóricas que versam sobre a temática. Ainda, com o intuito de trazer clareza para a análise, os respondentes foram nomeados de I1 até I53, correspondendo então a todos os participantes. Por fim, ressaltamos que todas as categorias dizem respeito à função do IE.

3 Resultados e discussão

A partir de uma análise criteriosa das respostas do questionário, definimos quatro categorias emergentes que estão representadas na Tabela 15 5 Em certos momentos, o mesmo respondente – pelas informações em sua resposta – foi contabilizado em mais de uma categoria; desse modo, o número de indivíduos participantes e o somatório das frequências de respostas nas categorias não é o mesmo. e serão mais bem discutidas nas subseções a seguir.

Tabela 1
Categorias criadas a partir das respostas do questionário

3.1 O intérprete educacional como colaborador no processo de inclusão

A profissão do IE, segundo a lei de acessibilidade – Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm
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–, tem origem legal na necessidade de incluir estudantes surdos no sistema de ensino público do Brasil. Dentre as quatro categorias desenvolvidas, podemos considerar essa como a mais ampla, no sentido de ser uma informação atualmente bem difundida e discutida na literatura.6 6 Alguns aspectos da acessibilidade e inclusão por meio do intérprete educacional são discutidos em estudos como os de Fernandes e Freitas-Reis (2019), Oliveira e Benite (2015) e Souza e Pereira (2018). Por esse motivo7 7 Concordamos que, por ser algo “óbvio”, muitos intérpretes optaram por não citar em sua resposta, pois a ação de cooperar com a inclusão e a acessibilidade de um discente surdo está relacionada a todas as outras funções atribuídas ao intérprete educacional que discutiremos neste trabalho. , tal aspecto se mostrou presente nas respostas dos intérpretes educacionais: I5, I12, I19, I28, I30, I44, I48, I49 – algumas estão expostas no Quadro 1.

Quadro 1
Respostas sobre o IE e a inclusão de surdos

A responsabilidade de promover inclusão no âmbito escolar não está unicamente vinculada ao IE (Albres & Rodrigues, 2018Albres, N. de A., & Rodrigues, C. H. (2018). As funções do intérprete educacional: entre práticas sociais e políticas educacionais. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, 13(3), 16-41. https://doi.org/10.1590/2176-457335335
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), mas, sim, a todos os atores do contexto educacional. Desse modo, diante de um processo amplo e complexo, faz-se necessário declinar uma visão salvacionista que frequentemente é imputada sobre o trabalho do IE. No entanto, entendemos que esse profissional possui um papel fulcral na inclusão de um educando surdo, pois será o principal articulador na comunicação entre o discente e todo o corpo docente, discente, pedagógico e administrativo (Albres & Rodrigues, 2018Albres, N. de A., & Rodrigues, C. H. (2018). As funções do intérprete educacional: entre práticas sociais e políticas educacionais. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, 13(3), 16-41. https://doi.org/10.1590/2176-457335335
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).

A mediação na comunicação é um fator importante no trabalho de um IE, porém reiteramos que sua atuação não se resume a verter uma língua para outra (Albres & Santiago, 2012Albres, N. A., & Santiago, V. A. A. (2012). Atuação do intérprete educacional: reflexão e discussão sobre as duas modalidades de interpretação-simultânea e consecutiva. Revista Espaço, 38, 50-59. http://dx.doi.org/10.20395/re.v0i38.193
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). Por intermédio das respostas presentes no Quadro 1, podemos verifica na atuação do IE outros meios para também viabilizar um ambiente inclusivo. A título de exemplo, a inclusão de um estudante surdo pode ocorrer (i) por meio da acessibilidade linguística, dada sua importância, como visto em Souza e Pereira (2018)Souza, V. C. de A., & Pereira, K. L. (2018). Acessibilidade Linguística para um Estudante Surdo na Disciplina de Química Fundamental do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Viçosa. Revista de Ciências Humanas, 18(2), 1-21., e presente nas respostas de I12, I19 e I49; (ii) no suporte ao professor para adaptação de materiais didáticos que auxiliem a aprendizagem do estudante surdo e demais estudantes, estimulando outros sentidos (principalmente o visual), corroborando com Pereira et al. (2011)Pereira, L. L. S., Benite, C. R. M., & Benite, A. M. C. (2011). Aula de Química e surdez: sobre interações pedagógicas mediadas pela visão. Química Nova na Escola, 33(1), 47-56. e a resposta de I45; por fim, (iii) em sua atuação como um representante da comunidade surda no espaço educacional, visto que “a escola, assim como a aula de química, precisa dialogar com a cultura surda” (p. 51). Como observado na resposta de I49, o IE é um “multiplicador da inclusão” – isso diz sobre se posicionar frente às necessidades de um surdo e a importância de incluí-lo no ambiente escolar.

Ademais, o trabalho de um IE como colaborador na inclusão de educandos surdos é importante, porém reiteramos que se deve ter clareza sobre os limites de sua atuação, pois, pela falta deles ao longo da história da educação de surdos, o IE assumiu funções assistencialistas que não lhe cabiam, pois eram, na verdade, incumbências, por exemplo, do professor, da equipe pedagógica, da família etc. (Albres, 2019Albres, N. A. (2019). Afetividade e subjetividade na interpretação educacional. Ayvu.).

3.2 O intérprete educacional como mediador cultural

Entende-se que a escola e as salas de aula são espaços multiculturais (Sá, 2002Sá, N. R. L. (2002). Cultura, poder e educação de surdos. Editora da Universidade Federal do Amazonas.); desse modo, nesses locais, existem vários pontos de expressões culturais, sejam em representações artísticas, no uso de uma língua (por exemplo: Português, Libras, Inglês) e linguagem específica (por exemplo: química, científica, matemática), assim como na individualidade humana.

O uso da Libras figura como uma forte expressão do “ser surdo”, de sua cultura, visto que está imbricada de um histórico marcado por lutas sociais que requisitaram o seu reconhecimento legal e inclusão nos processos educacionais. Assim sendo, compreendemos que o IE, ao exercer o papel de versar a informação do Português para a Libras, está promovendo um diálogo entre diferentes culturas e formas de compreender o mundo (Lopes & Veiga-Neto, 2006Lopes, M. C., & Veiga Neto, A. (2006). Marcadores culturais surdos: quando eles se constituem no espaço escolar. Perspectiva, 24(3), 81-100. https://doi.org/10.5007/%x
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).

Em nosso questionário, ao perguntarmos a respeito da função de um IE, 11 dentre os 53 intérpretes participantes (I2, I3, I4, I23, I29, I32, I35, I48, I51, I52, I53) responderam explicitando, de algum modo, uma mediação cultural realizada por esse profissional (Quadro 2). Reforçamos que a “mediação cultural” está ligada a ser o representante da cultura ouvinte (ao estudante surdo) e da cultura surda (aos ouvintes).

Quadro 2
Respostas sobre o IE e a mediação cultural

Nas quatro respostas presentes no Quadro 2, verificamos algumas indicações, por exemplo de I4 e I52, que sugerem o diálogo com professores e educandos a respeito da cultura surda, assim como I32 propõe que o “intérprete educacional precisa interagir com professores, explicando especificidades da Surdez e da cultura Surda”. Já o I29 acaba por ampliar a visão e, não apenas com os docentes e alunos, atribui ao IE a ação de “esclarecer ao grupo escolar sobre a língua e cultura surda”.

Portanto, sugerimos que a mediação cultural ocorra não apenas no ato de interpretar os conteúdos em sala de aula, mas também no ato de estabelecer um diálogo com a equipe pedagógica e administrativa da instituição educacional, para que participem ativamente do processo de inclusão escolar. Em concordância com essa ideia, I2 afirma que o IE é um “articulador entre línguas e culturas no ambiente educacional”; assim como I25, ao dizer que esse profissional atua “intermediando as relações linguístico-culturais dos atores do espaço educacional”.

Essa sugestão de atuação para o IE evidencia o quão recente são as ações que buscam formar professores capacitados para a Educação Inclusiva. Grande parte dos docentes atuantes não tiveram uma formação que correspondesse às necessidades atuais, dada a recenticidade da inclusão da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura por meio do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm
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. Assim sendo, carecem de uma intervenção por parte do IE. Sobretudo, espera-se que “o professor esteja preparado para lidar com as diferentes necessidades de aprendizagem de cada aluno, inclusive os deficientes, e o locus inicial em que ele deve adquirir esses fundamentos é a formação inicial, ou seja, seu curso de graduação” (Vilela-Ribeiro & Benite, 2010,Vilela-Ribeiro, E. B., & Benite, A. M. C. (2010). A educação inclusiva na percepção dos professores de Química. Ciência & Educação, 16(3), 585-594. https://doi.org/10.1590/S1516-73132010000300006
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p. 587). Contudo, em alguns contextos, isso ainda não é uma realidade, baseado nas demandas expressas nas respostas dos intérpretes (Quadro 2).

3.3 O intérprete educacional como coformador

O papel do IE muitas vezes é confundido com o trabalho do professor (Quadros, 2004Quadros, R. M. (2004). O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa [Manual Textual]. Secretaria de Educação Especial. MEC, SEESP.), porém questionamos se isso se dá pela omissão do docente ao não assumir que o discente surdo é também sua responsabilidade, ou por uma necessidade identificada pelo próprio intérprete ao atuar sobre o discurso do professor.

Para Rodrigues e Silvério (2011)Rodrigues, C. H., & Silvério, C. C. P. (2011). Interpretando na educação: quais conhecimentos e habilidades o intérprete educacional deve possuir? Revista Espaço, 35, 42-50. https://dx.doi.org/10.20395/re.v0i35.244
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, “a ideia de um intérprete neutro tem sido desmistificada em prol da conscientização e construção de papéis específicos vinculados a um trabalho cooperativo com o professor” (p. 46). A necessidade de uma ação conjunta entre um IE e o professor é destacada por Souza e Pereira (2018)Souza, V. C. de A., & Pereira, K. L. (2018). Acessibilidade Linguística para um Estudante Surdo na Disciplina de Química Fundamental do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Viçosa. Revista de Ciências Humanas, 18(2), 1-21., porém, para além da troca de informações, conhecimentos e de um planejamento cooperativo, discute-se sobre a posição do IE também estar vinculada a um caráter educativo (Carvalho & Martins, 2014Carvalho, A. F. , & Martins, V. R. de O. (2014). Posição-Mestre e Função-Educador: relações ativas no ato da interpretação da língua brasileira de sinais em contexto de ensino. Políticas Educativas, 7(2), 51-70.).

Para Lacerda e Poletti (2004)Lacerda, C. B. F. de, & Poletti, J. E. (2004). A escola inclusiva para surdos: a situação singular do intérprete de língua de sinais. 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa em Educação, Caxambu, Minas Gerais, Brasil. https://www.anped.org.br/biblioteca/item/escola-inclusiva-parasurdos-situacao-singular-do-interprete-de-lingua-de-sinais
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, “o interpretar e o aprender estão indissoluvelmente unidos, e o IE assume, inerentemente ao seu papel, a função de também educar o aluno” (p. 15). Ainda, Rodrigues e Silvério (2011)Rodrigues, C. H., & Silvério, C. C. P. (2011). Interpretando na educação: quais conhecimentos e habilidades o intérprete educacional deve possuir? Revista Espaço, 35, 42-50. https://dx.doi.org/10.20395/re.v0i35.244
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corroboram a ideia afirmando que:

Essa atividade interpretativo-educacional possui especificidades únicas, exigindo dos IE, além da competência em tradução, certa (sub) competência interpretativa educacional composta por um conjunto de saberes pedagógicos próprios ao fenômeno educativo e ao processo de escolarização, objetos de estudo da Pedagogia. (p. 48)

Começamos a pensar então o IE com uma função coformadora no espaço educacional. Entretanto, esse caráter não deve ser associado a assumir o trabalho do professor, ou até mesmo o aspecto pedagógico de sua profissão, com atitudes de proteção e assistencialismo ao discente surdo, que, em contrapartida, pode resultar em um distanciamento do docente (Carvalho & Martins, 2014Carvalho, A. F. , & Martins, V. R. de O. (2014). Posição-Mestre e Função-Educador: relações ativas no ato da interpretação da língua brasileira de sinais em contexto de ensino. Políticas Educativas, 7(2), 51-70.). Um pensamento adequado sobre a atuação coformadora do IE se origina na compreensão de que as escolhas tradutórias e interpretativas podem influenciar na aprendizagem de um estudante surdo. A princípio, conforme o Art. 4º da Lei nº 12.319/2010Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm
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:

A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:

I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou;

II - cursos de extensão universitária; e

III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

Assim sendo, um IE não necessariamente será um licenciado e, portanto, não terá tido contato com disciplinas pedagógicas, por exemplo. De diferente modo, o docente, independentemente do nível em que atua, deverá ter tido em sua formação contato com as teorias de ensino e aprendizagem. Isso o habilita, em certa medida, como agente responsável pelas ações pedagógicas nos ambientes educacionais inclusivos. Entretanto, quando utilizamos o termo “coformador” para nos referirmos ao IE, não garantimos ou afirmamos que ele possui uma formação que corresponda a tal demanda, mas, sim, fomentamos um lócus de discussão que traz luz a essa realidade, apoiada principalmente na influência das escolhas tradutório/interpretativas dos intérpretes educacionais no ensino e na aprendizagem de um(a) discente surdo(a), e que pode ser base para sugestionar futuras discussões sobre a formação desse profissional para atuar na Educação Inclusiva.

Martins (2013)Martins, V. R. de O. (2013). Posição-mestre: desdobramentos foucaultianos sobre a relação de ensino do intérprete de língua de sinais educacional [Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas]. Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/185118
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afirma que esse profissional “interpreta signos e traz outras significações no percurso construído com o aluno surdo, visando uma relação visual afirmada pela surdez na perspectiva cultural” (p. 198). A particularidade presente na organização do discurso interpretativo se assemelha às escolhas discursivas feitas pelo professor. Ainda que o docente seja a fonte primária do que está sendo dito, o trabalho do intérprete também permite ações criativas que, em consonância com os aspectos culturais do estudante, podem potencializar a aprendizagem de uma determinada temática ou conceito. Em seu artigo, Costa e Albres (2019)Costa, M. P. P. , & Albres, N. A. (2019). A atuação do (a) intérprete educacional: subjetividade e singularidade em questão. In W. H. C. Moura, & F. Christmann (Orgs.), A Tradução como Espelho: gestos, línguas e sentidos refletidos no fazer tradutório (1ª ed., pp. 28-42). DLLE/PGET/UFSC. reforçam que

as ações desempenhadas pelo intérprete educacional durante a interpretação repercutirão no favorecimento (ou não) da aprendizagem do conteúdo pelo(a) aluno(a) surdo(a), bem como na ampliação do vocabulário dele(a), seja em Libras ou Língua portuguesa, visto que muitos(as) surdos(as) em idade escolar estão em constante aquisição de língua (de sinais e portuguesa). (p. 37)

Em concordância com as ideias de Costa e Albres (2019)Costa, M. P. P. , & Albres, N. A. (2019). A atuação do (a) intérprete educacional: subjetividade e singularidade em questão. In W. H. C. Moura, & F. Christmann (Orgs.), A Tradução como Espelho: gestos, línguas e sentidos refletidos no fazer tradutório (1ª ed., pp. 28-42). DLLE/PGET/UFSC., defendemos que o trabalho humano envolve criatividade, portanto o IE não é apenas um espelho do professor, ele o representa, porém imprimindo traços próprios em sua ação. Desse modo, “reafirma-se a postura criativa-imagética do TILSE8 8 A autora chama de TILSE o Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais Educacional , que faz do seu corpo palco para a cena escolar. Diria que, em certa medida, transgride para criar com o aluno surdo um ensino na diferença” (Martins, 2013, p. 206Martins, V. R. de O. (2013). Posição-mestre: desdobramentos foucaultianos sobre a relação de ensino do intérprete de língua de sinais educacional [Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas]. Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/185118
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).

Em nossa pesquisa com os intérpretes educacionais, foi possível identificar a presença da indicação de uma função coformadora em 16 respostas (Quadros 3 e 4). Observando o número total de respondentes (53), obtivemos indícios de que a ideia não é uma regra entre os profissionais intérpretes. Ainda, averiguamos algumas respostas que, em algum nível, citam esse aspecto coformador; no entanto, em outras partes do discurso, subjugam essas ações remetendo a uma visão mais “neutra” da atuação de um IE. Como pode ser observado no Quadro 4, destacamos partes que expressam uma insegurança da visão de um intérprete que atua ativamente na educação dos estudantes surdos.

Quadro 3
Exemplos de respostas sobre o IE como coformador
Quadro 4
Respostas sobre o IE

De modo mais amplo, em nosso questionário, alguns intérpretes destacaram tal aspecto coformador; contudo, podemos dividi-lo em três subcategorias: ação coformadora (i) nas escolhas linguísticas [I32, I34, I50, I52]; (ii) em uma atuação conjunta às ações do professor [I2, I8, I10, I22, I31, I34, I36, I37, I42, I44]; e (iii) em ações que convergem com as de um tutor [I6, I8, I28, I29, I31, I32].

Em se tratando de uma contribuição do IE na aprendizagem dos discentes surdos, destacamos, na fala de I34, a afirmação de que o IE deve atuar “contribuindo para o desenvolvimento do aluno”, indicando o reconhecimento da importância de sua ação para favorecer a aprendizagem. Também, I32 coloca que “o Intérprete Educacional não ensina, quem faz isso é o professor. Mas dar dicas, apoio e saber lidar com questões pedagógicas são funções importantes para esse profissional (...)”, porém, sendo o IE parte do processo de ensino e aprendizagem e, baseado na resposta de I50, “um facilitador da comunicação/aprendizado do sujeito surdo”, facilitar não seria fazer escolhas que tornam um discurso mais adequado ao estudante surdo e sua cultura? Também não seria isso ensinar atuando em uma perspectiva de coformação? Para Costa e Albres (2019)Costa, M. P. P. , & Albres, N. A. (2019). A atuação do (a) intérprete educacional: subjetividade e singularidade em questão. In W. H. C. Moura, & F. Christmann (Orgs.), A Tradução como Espelho: gestos, línguas e sentidos refletidos no fazer tradutório (1ª ed., pp. 28-42). DLLE/PGET/UFSC.:

Observa-se que as atribuições contemplam não somente ações que dizem respeito à mediação linguística entre falantes de português e sinalizantes de Libras, constando também componentes que perpassam a aprendizagem do(a) aluno(a) surdo(a) e as relações entre alunos(as), surdos(as) e ouvintes, e professores(as). (p. 35)

Desse modo, concordamos com I31 ao dizer que o IE é também um “mediador de aprendizagem e faz parte desse processo”. Entendemos a importância das escolhas interpretativas quando há a compreensão de que interpretar é uma ação cognitiva-linguística, na qual o intérprete faz a mediação entre pessoas que possuem línguas diferentes e intenções comunicativas específicas; assim sendo, está envolvido em uma interação dialógica em que a informação apenas será bem compreendida caso faça escolhas interpretativas adequadas a quem a mensagem será transmitida (Belém, 2012Belém, L. J. M. (2012). A Atuação do Intérprete Educacional de Língua Brasileira de Sinais no Ensino Médio. Espaço, 37,48-59. http://dx.doi.org/10.20395/re.v0i37.208
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). Dessarte, a ação coformadora do IE perpassa pela consciência das escolhas linguísticas no ato interpretativo e/ou tradutório no espaço educacional, como afirma I52 relacionado à construção do conhecimento por parte do surdo (subcategoria i).

Dadas as três subcategorias de mediação apresentadas, também verificamos situações nas quais os intérpretes citam funções que estão relacionadas a um trabalho conjunto ao professor (subcategoria ii). Entendemos que é nessa subcategoria em que o aspecto coformador de um IE alcança sua maior potencialidade, pois se estabelece, por meio de um trabalho em parceria com o docente, que possui em primeira instância a função de realizar a mediação pedagógica no espaço educacional. Nessa situação, o intérprete coopera para que as escolhas didáticas do professor também contemplem o estudante surdo.

Os intérpretes I8 e I10 descrevem atitudes como: identificar as necessidades do aluno e verificar a eficiência ou não de estratégias de ensino; ambos dizem sobre diagnosticar o desenvolvimento do estudante – uma ação característica de um formador.

Não apenas conjecturando sobre a aprendizagem do surdo, mas, segundo I22, I42 e I44, sugere-se a importância da participação do IE na elaboração e na adaptação de recursos didáticos (modelos representacionais, jogos, dentre outros), assim como cooperar com o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas para os educandos de uma escola inclusiva. Uma relação efetiva entre professores e intérpretes é importante para a aprendizagem do surdo (Marcon, 2012Marcon, A. M. (2012). O papel do tradutor/intérprete de Libras na compreensão de conceitos pelo surdo. Revista Virtual de Estudos da Linguagem-ReVEL, 10(19), 233-249.), pois ambos colaboram, baseados em suas respectivas formações, para que as ações pedagógicas sejam assertivas para promover um ambiente inclusivo de aprendizagem (Oliveira & Benite, 2015Oliveira, W. D. de, & Benite, A. M. C. (2015). Estudos sobre a relação entre o intérprete de LIBRAS e o professor: implicações para o ensino de ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 15(3), 597-626.).

Ainda sobre a subcategoria (ii), nas respostas de I2, I10, I31, I34, I36 e I37, fica evidente a compreensão geral de que o IE também faz parte dos processos de ensino e de aprendizagem, atuando em conjunto com o professor como um coformador. Essa participação é compreendida, segundo as respostas, quando se tem consciência dos processos educacionais e ações pedagógicas que ocorrem em uma sala de aula, assim como da importância de sua atuação para auxiliar na aprendizagem do surdo.

Por fim, acerca da terceira subcategoria (ações que convergem com as de um tutor), I6 cita a necessidade de utilizar métodos pedagógicos, os quais na perspectiva do ensino entendemos como modelos9 9 Alguns exemplos: Escola Construtivista; Escola Freiriana; Escola Montessoriana; Escola Waldorf. que orientam e fundamentam a criação dos currículos educacionais, assim como a elaboração de planos de aula. A princípio, a ação supracitada é atribuída como uma responsabilidade do professor, estando envolvido em uma escola que já segue uma dessas linhas pedagógicas ou determinando por si próprio sua estratégia de ação no espaço educacional.

Além disso, percebe-se nas falas de I8 e I28 uma postura de tutoria com o estudante surdo, se responsabilizando por responder dúvidas apresentadas pelo discente. Segundo Quadros (2004)Quadros, R. M. (2004). O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa [Manual Textual]. Secretaria de Educação Especial. MEC, SEESP., o IE deve dirigir as dúvidas do educando ao professor, sendo ele o representante do conhecimento específico disciplinar naquele espaço (Pereira et al., 2011Pereira, L. L. S., Benite, C. R. M., & Benite, A. M. C. (2011). Aula de Química e surdez: sobre interações pedagógicas mediadas pela visão. Química Nova na Escola, 33(1), 47-56.). Todavia, em determinados momentos, como expresso na fala de I29, as dúvidas estão relacionadas a Libras. Nesse caso, o intérprete é o representante no uso da Libras na sala de aula, configurando então uma outra perspectiva. Não é recomendado que o IE assuma o papel do instrutor de Libras10 10 O instrutor de Libras é o profissional responsável por ensinar aos estudantes surdos a língua de sinais. (Quadros, 2004Quadros, R. M. (2004). O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa [Manual Textual]. Secretaria de Educação Especial. MEC, SEESP.), no entanto, em alguns contextos, por certa necessidade, acaba incumbindo-se também dessa responsabilidade.

Baseado nos diálogos anteriores, verificamos que o IE precisa ter domínio de conhecimentos pedagógicos, tradutórios/interpretativos e linguísticos, pois, dadas as especificidades de sua atuação e a influência de suas escolhas interpretativas, não defendemos uma ideia de neutralidade para o IE. Desse modo, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) do Estado de Minas Gerais, por meio da Nota Técnica nº 4/SEE/DMTE-CEEINota Técnica nº 4/SEE/DMTE-CEEI/2019. Processo nº 1260.01.0081920/2019-39. Assunto: Elucidações sobre cargo/função na Educação Especial. Governo do Estado de Minas Gerais. https://drive.google.com/file/d/1mzdW40Bm_n3TJGjKfM4D2ZQwVfXdnXOS/view
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11/2019 11 DMTE – Diretoria de Modalidades de Ensino e Temáticas Especiais; CEEI – Coordenação de Educação Especial Inclusiva. , trouxe algumas elucidações acerca do cargo de Tradutor Intérprete de Português/Libras, nomeando a categoria não apenas como “Intérprete”, mas como “Professor Intérprete de Libras”, deixando claro que o primeiro critério para classificação seria o curso de Licenciatura em Letras Libras com Habilitação em Língua Brasileira de Sinais. Segundo a Nota Técnica nº 4,

o profissional Licenciado em Letras Libras apresenta conhecimento da área de linguística da língua de sinais, literatura surda, e formação pedagógica indispensáveis para a atuação de professor Intérprete de Libras, tendo em vista que a prática deste abrange o trabalho de apoio ao professor regente sobre o processo de ensino-aprendizagem decorrente de sua intermediação interpretativa, apresentando as particularidades dos surdos, e reconsiderando em conjunto com o professor regente, sempre que necessário, a adequação didática [ênfases adicionadas] a tais especificidades, possibilitando a qualidade do acesso dos surdos aos conteúdos. (p. 2)

As atribuições dadas ao cargo de professor intérprete de Libras para as escolas estaduais contemplam de forma satisfatória as necessidades identificadas pelas respostas ao questionário desta pesquisa. Se assumirmos que o intérprete deve ter conhecimento das ações pedagógicas que ocorrem na sala de aula, assim como dos processos de ensino e de aprendizagem, pressupõe-se a necessidade de que ele tenha uma formação específica para tal.

Dentre os aspectos que caracterizam um trabalho coformador por parte de um intérprete educacional, entendemos que suas escolhas interpretativas, baseadas em seus conhecimentos linguísticos, serão o cerne de sua atuação. Essa mediação linguística será discutida no próximo tópico.

3.4 O intérprete educacional como mediador linguístico

Ao nos referirmos ao IE como um coformador do estudante surdo, intentamos ressaltar, sobretudo, suas escolhas lexicais no momento em que interpreta o discurso do professor e como elas contribuem ou não para a definição dos conceitos apresentados na sala de aula. Nesse lócus, o intérprete educacional precisa desenvolver e empregar estratégias tradutórias e interpretativas constantemente (Albres, 2015Albres, N. A. (2015). Intérprete Educacional: políticas e práticas em sala de aula inclusiva. Harmonia.), isso porque, segundo Martins (2016)Martins, V. R. de O. (2016). Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais Educacional: Desafios da Formação. Belas Infiéis, 5(1), 147-163. https://doi.org/10.26512/belasinfieis.v5.n1.2016.11374
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, “o trabalho do intérprete envolve escolhas rápidas, pois a interpretação ocorre ‘ao vivo’, não havendo tempo para refacção do enunciado posto, espera-se uma agilidade deste profissional para as escolhas lexicais durante a atividade” (p. 150).

A profissão de um IE exige habilidades específicas que são fulcrais para um bom resultado na mediação do discurso. Lacerda (2000)Lacerda, C. B. F. de. (2000). A prática pedagógica mediada (também) pela língua de sinais: trabalhando com sujeitos surdos. Cadernos CEDES, 20(50), 70-83. https://doi.org/10.1590/S0101-32622000000100006
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traz um panorama geral sobre essa atuação:

o tradutor-intérprete atua na fronteira entre os sentidos da língua de origem e da língua alvo, com os processos de interpretação relacionando-se com o contexto no qual o signo é formado. O sentido do enunciado é construído na interação verbal, e é atualizado no contato com outros sentidos, na relação estabelecida entre interlocutores. A interpretação é um processo ativo, que procede de sentidos que se encontram, existindo, apenas, na relação entre sentidos, como um elo numa cadeia de sentidos. Pode-se dizer assim que a interpretação se revela na multiplicidade de sentidos existentes. (p. 6)

O intérprete detém várias possibilidades de significação e, por isso, seu trabalho exige um conhecimento técnico sobre a construção do discurso e como ele pode assumir um aspecto claro e objetivo, não perdendo a fidelidade da fala inicial, mas recebendo novos moldes apoiados na cultura surda. Assim como Lacerda (2000)Lacerda, C. B. F. de. (2000). A prática pedagógica mediada (também) pela língua de sinais: trabalhando com sujeitos surdos. Cadernos CEDES, 20(50), 70-83. https://doi.org/10.1590/S0101-32622000000100006
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, Belém (2012)Belém, L. J. M. (2012). A Atuação do Intérprete Educacional de Língua Brasileira de Sinais no Ensino Médio. Espaço, 37,48-59. http://dx.doi.org/10.20395/re.v0i37.208
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também destaca que “o intérprete de Libras deve considerar as tantas significações e contextos possíveis resultantes dos/nos enunciados como um determinante para um bom desempenho” (p. 49). As escolhas apresentadas pelas autoras certamente caracterizam a mediação linguística de um IE.

Dentre as respostas obtidas por meio do questionário aplicado neste trabalho, 34 dos 53 participantes citaram a mediação linguística como parte da função do IE, indicando que essa informação é bem consolidada entre essa comunidade, assim como em documentos oficiais do nosso país. Dentre as 34 respostas, a maioria abordou apenas de uma forma direta o tema, expressando que o “intérprete é responsável pela mediação linguística na sala de aula”. Contudo, algumas respostas do questionário revelaram características inerentes a essa mediação linguística realizada pelo IE. Na Figura 1 exibimos algumas que tratam acerca de posturas necessárias para o profissional intérprete, segundo os respondentes.

Figura 1
Subcategorias sobre a mediação linguística do IE

Em um primeiro momento, destacamos a ação de “fazer escolhas linguísticas” como principal característica na atuação de um IE. Essas escolhas estão relacionadas à demanda apresentada pelo contexto no qual ele atua, como exposto por I10 ao afirmar que “se o intérprete educacional de Libras não compreender as estratégias pedagógicas do professor, ele tenderá a tomar decisões tradutórias que não contribuem ou não atingirão o/os aluno/a/s”. Para I35, o IE precisa buscar “transferir da forma mais clara possível o conteúdo oral em sala de aula”, indicando que é necessário estar atento a como interpretar da melhor maneira, ou seja, lançar mão das escolhas lexicais mais adequadas em determinado momento. Desse modo, concordamos com Marcon (2012)Marcon, A. M. (2012). O papel do tradutor/intérprete de Libras na compreensão de conceitos pelo surdo. Revista Virtual de Estudos da Linguagem-ReVEL, 10(19), 233-249. ao destacar “a importância de o intérprete ter um eixo paradigmático amplo, pois, numa interpretação, estará fazendo escolhas e substituições lexicais constantemente, para proporcionar ao surdo um entendimento igualitário em relação aos ouvintes sobre o discurso do professor” (p. 239).

Segundo a autora, ter um eixo paradigmático amplo é relativo a ter possibilidades de esco lha, ou seja, um amplo conhecimento sobre o léxico das especificidades das disciplinas escolares, bem como estar preparado para lançar mão de recursos gramaticais, como, por exemplo, os classificadores.

Entendemos que, para essa mediação, como indicado por I8, “todo intérprete precisa conhecer o vocabulário da comunidade surda local”, bem como “se qualificar e procurar estudar os vocabulários educacionais”, conforme aponta I13. Essa postura está relacionada a um processo de adaptação ao contexto no qual o profissional atua, assim como ao investimento em formação continuada para trabalhar como IE.

Ainda, segundo I3, “atrelado a essa mediação, existem estratégias e competências interpretativas e tradutórias necessárias a se levar em conta, considerando o público-alvo”, dialogando com I32 ao apontar que “o intérprete educacional precisa nivelar a interpretação com o nível de escolaridade que o aluno Surdo está”. Também, I53 afirma que o IE trabalha “trazendo a produção da Libras durante o processo tradutório ao nível do aluno surdo”.

Constatamos também algumas respostas que indicavam parâmetros base do processo de tradução e/ou interpretação. I25 diz ser necessário que o IE domine as duas línguas com as quais ele trabalha e, ao atuar na sala de aula, baseado nas respostas de I8 e I34, deve ser fiel em sua interpretação, correspondendo ao discurso do professor. Igualmente, para potencializar o trabalho do IE, I8 caracteriza ser “necessário tomar conhecimento antecipado do planejamento do professor regente”, corroborando Marcon (2012)Marcon, A. M. (2012). O papel do tradutor/intérprete de Libras na compreensão de conceitos pelo surdo. Revista Virtual de Estudos da Linguagem-ReVEL, 10(19), 233-249., Oliveira e Benite (2015)Oliveira, W. D. de, & Benite, A. M. C. (2015). Estudos sobre a relação entre o intérprete de LIBRAS e o professor: implicações para o ensino de ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 15(3), 597-626. e Souza e Silveira (2011)Souza, S. F., & Silveira, H. E. (2011). Terminologias químicas em Libras: a utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química Nova na Escola, 33(1), 37-46., que apontam a necessidade desse profissional ter uma interação de cooperação com o professor.

Ainda, acerca da mediação linguística de um IE, certa perspectiva presente em uma resposta nos chamou atenção. I8 afirma que o IE “é um ser neutro e deve sempre intermediar os conhecimentos dos professores por meio da língua de sinais para o surdo, e vice-versa”. Segundo Vygotsky (1988)Vygotsky, L. S. (1988). A formação social da mente brasileira. Martins., somos influenciados pelo nosso contexto e nossa construção cognitiva está associada a ele. Por conseguinte, um ouvinte ao aprender Libras estará envolto por um contexto específico que irá definir a sua formação e aprendizagem da língua, influenciando os sinais que ele utiliza, suas escolhas lexicais para construção de sentenças, dentre outros (Corrêa, 2019Corrêa, F. S. (2019). A Metáfora Cotidiana da Língua Brasileira de Sinais. Appris.).

Dessa forma, podemos afirmar que o modo como construímos nosso pensamento e o expressamos está relacionado às experiências que possuímos com a língua. Visto isso, um IE ao interpretar estará constantemente realizando, em algum nível, escolhas lexicais que dizem sobre um modo de pensar individual e próprio.

A mediação linguística realizada pelo IE é de extrema importância para a aprendizagem de um estudante surdo. Sua função está ligada a versar discursos – majoritariamente em português oral – que possuem uma estrutura e um léxico específicos para outra língua – Libras –, que, semelhantemente, possui suas especificidades. Essa mediação entre línguas, e em alguns casos entre culturas, será influenciada pela forma na qual o pensamento do intérprete se fundamenta nas duas línguas.

Assim sendo, compreendemos que o IE não precisa, nem poderia ser “um ser neutro”, antes deve compreender que, no espaço educacional, pela realização de escolhas lexicais adequadas, pode cooperar com a construção do conhecimento por parte do discente surdo.

4 Conclusões

O trabalho de um IE é fundamental para viabilizar a inclusão de um estudante surdo. A função desse profissional está delimitada em alguns documentos, porém identificamos que suas ações relacionadas à vivência no espaço educacional se expandem frente ao que é determinado pelos textos oficiais. Desse modo, há alguns campos conflituosos quando se discute sobre as atribuições de um IE, bem como certa polissemia na conceituação de suas funções no espaço formativo.

Nesta investigação, por meio da análise dos questionários, em diálogo com a literatura, foi possível traçar alguns aspectos acerca da atuação do profissional intérprete no contexto da educação. Em nosso estudo, emergiram quatro categorias principais sobre a atuação do IE.

A primeira (colaborador no processo de inclusão) está relacionada à importância da presença do IE como ponto de partida para propiciar a inclusão de discentes surdos. Sua atuação é fulcral para que esses estudantes disponham, antes de qualquer outra coisa, de uma acessibilidade linguística, o que é fundamental, pois o ensino nos ambientes inclusivos se dá majoritariamente com o auxílio da comunicação oral, necessitando da tradução e interpretação para a língua de sinais.

A segunda categoria (mediador cultural) se refere ao IE como representante da cultura surda no ambiente escolar. Ele é capaz de fazer a mediação entre o discente surdo e o corpo pedagógico da instituição de ensino (professor, supervisores, professores de apoio, dentre outros). Levando em conta que, nos dias atuais, uma grande parcela dos profissionais atuantes nas escolas públicas não teve em sua formação discussões voltadas à Educação Inclusiva, o IE, conhecedor das especificidades desses educandos, pode atuar como uma ponte entre as culturas, cooperando para que o professor, principalmente, consiga promover um ensino que também busque atender as necessidades dos surdos.

A terceira categoria (coformador do estudante surdo) envolve alguns tópicos citados nas duas anteriores, pois está ligada ao IE assumindo um papel de coformação do discente surdo. Verificamos, por meio do questionário, que, em níveis diferentes, todos os intérpretes educacionais atuam como coformadores. Nas respostas, foi possível identificar intérpretes que não consideravam essa função, mas citavam ações que poderiam ser incluídas nessa categoria, por ter a capacidade de influenciar na educação de estudantes surdos.

De modo geral, o ponto central dessa função está nas escolhas linguísticas e dialoga com a quarta categoria (mediador linguístico) que, em tese, é a informação mais bem difundida sobre o trabalho desse profissional. Nesse tópico, os respondentes destacaram a importância do domínio de ambas as línguas com as quais o IE irá trabalhar, de conhecer o léxico da comunidade local onde atua; adaptar-se ao nível de conhecimento da Libras do estudante e utilizar bem os recursos que a língua dispõe.

Em suma, compreendemos que uma perspectiva de atuação do tradutor intérprete educacional de Libras/Português sempre estará atrelada a uma concepção de educação que dialoga com os princípios da instituição educacional e o nível educacional em que atua, e com as demandas socioculturais de uma comunidade, estado ou nação. Dessarte, afirmamos que sempre haverá espaço para mudanças no desenho das funções do IE, as quais devem ser estudadas e discutidas pelos próprios profissionais e pelas comunidades: surda, científico/acadêmica e escolar.

  • 4
    Todas as ações desenvolvidas nesta pesquisa foram aprovadas pelo Parecer Consubstanciado nº 3.482.432 do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
  • 5
    Em certos momentos, o mesmo respondente – pelas informações em sua resposta – foi contabilizado em mais de uma categoria; desse modo, o número de indivíduos participantes e o somatório das frequências de respostas nas categorias não é o mesmo.
  • 6
    Alguns aspectos da acessibilidade e inclusão por meio do intérprete educacional são discutidos em estudos como os de Fernandes e Freitas-Reis (2019)Fernandes, J. M., & Freitas-Reis, I. (2019). A opinião de intérpretes educacionais de Libras sobre a realidade da inclusão escolar e o que apontam como possíveis soluções para o ensino de Ciências da Natureza. Revista se Ciências Humanas, 18(2), 1-23., Oliveira e Benite (2015)Oliveira, W. D. de, & Benite, A. M. C. (2015). Estudos sobre a relação entre o intérprete de LIBRAS e o professor: implicações para o ensino de ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 15(3), 597-626. e Souza e Pereira (2018)Souza, V. C. de A., & Pereira, K. L. (2018). Acessibilidade Linguística para um Estudante Surdo na Disciplina de Química Fundamental do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Viçosa. Revista de Ciências Humanas, 18(2), 1-21..
  • 7
    Concordamos que, por ser algo “óbvio”, muitos intérpretes optaram por não citar em sua resposta, pois a ação de cooperar com a inclusão e a acessibilidade de um discente surdo está relacionada a todas as outras funções atribuídas ao intérprete educacional que discutiremos neste trabalho.
  • 8
    A autora chama de TILSE o Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais Educacional
  • 9
    Alguns exemplos: Escola Construtivista; Escola Freiriana; Escola Montessoriana; Escola Waldorf.
  • 10
    O instrutor de Libras é o profissional responsável por ensinar aos estudantes surdos a língua de sinais.
  • 11
    DMTE – Diretoria de Modalidades de Ensino e Temáticas Especiais; CEEI – Coordenação de Educação Especial Inclusiva.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    28 Out 2022
  • Revisado
    26 Fev 2023
  • Aceito
    21 Mar 2023
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