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Comunicação alternativa e ampliada para educandos com autismo: considerações metodológicas

Augmentative and alternative communication for individuals with autism: methodological considerations

Resumos

Foram analisadas as características metodológicas de 56 artigos científicos focados no tema Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), para educandos com espectro do autismo. Esses artigos foram produzidos no período 1980-2007; 18 versaram sobre o uso de sistemas manuais e língua de sinais; 26 empregaram sistemas pictográficos de comunicação; 9 utilizaram sistemas assistidos com acionadores de voz e 3 utilizaram sistemas híbridos, contendo mais de uma modalidade de CAA. Com base nos resultados desta análise preliminar, a proposta foi direcionada para a identificação das melhores práticas adotadas pelos programas de intervenção para esta população. Os resultados da análise das características metodológicas dos artigos revisados sustenta a predominância de delineamentos experimentais e quase-experimentais do tipo intrassujeitos, o que corrobora a escassez de pesquisas de grupo em população de autistas. Os estudos envolveram, predominantemente, número reduzido de participantes, selecionados de forma incidental. Metade das pesquisas revisadas descreve, claramente, medidas de generalização de comportamentos, para ambientes naturais ou sustentabilidade de respostas após a intervenção. Foram escassos os estudos avaliativos do grau de satisfação dos participantes no que se refere aos efeitos produzidos pela intervenção. Nesta revisão foram identificadas as melhores práticas no atendimento da população autista, tendo como fundamento a validade interna, a validade externa e a validade social das intervenções. Indicações de diretrizes válidas e confiáveis foram apontadas no sentido de favorecerem o desenvolvimento de projetos científicos sobre o tema.

educação especial; autismo; comunicação alternativa e ampliada; metodologia científica; revisão de literatura


The methodological characteristics of fifty-six studies published between 1980 and 2007 involving the use of augmentative and alternative communication (AAC) by individuals with autism spectrum disorder (ASD) were analyzed. Eighteen investigations implemented sign language or manual signs, twenty-six used picture-based systems, nine employed voice output devices and three worked with hybrid systems, combining two or more AAC modalities. This review focused on identifying the best practices implemented by intervention programs for individuals with ASD, considering measures of internal, external and social validity. A predominance of experimental and quasi-experimental single subject research designs were identified, whereas a limited number of studies employed group designs. Most worked with a reduced number of participants, which were mainly selected in incidental manners. Half of the investigations clearly revealed generalization measures to other behaviors and environments, as well as the sustainability of the results post intervention. A limited number of investigations evaluated participant satisfaction rates with program outcomes. A framework for developing intervention studies with reliable results was further discussed.

Autism; Augmentative and Alternative Communication; Research Methodology; Literature Review


REVISÃO DA LITERATURA

Comunicação alternativa e ampliada para educandos com autismo: considerações metodológicas

Augmentative and alternative communication for individuals with autism: methodological considerations

Débora Regina de Paula NunesI; Francisco de Paula Nunes SobrinhoII

IPh.D. em Educação Especial pela Florida State University, Professora Adjunta do Departamento de Educação/Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –deboranunes@ufrnet.br

IIPh.D. em Educação Especial pela Vanderbilt University, Professor Titular do Departamento de Estudos da Educação Inclusiva e Continuada/Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro –fnunessobrinho@yahoo.com.br

RESUMO

Foram analisadas as características metodológicas de 56 artigos científicos focados no tema Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), para educandos com espectro do autismo. Esses artigos foram produzidos no período 1980-2007; 18 versaram sobre o uso de sistemas manuais e língua de sinais; 26 empregaram sistemas pictográficos de comunicação; 9 utilizaram sistemas assistidos com acionadores de voz e 3 utilizaram sistemas híbridos, contendo mais de uma modalidade de CAA. Com base nos resultados desta análise preliminar, a proposta foi direcionada para a identificação das melhores práticas adotadas pelos programas de intervenção para esta população. Os resultados da análise das características metodológicas dos artigos revisados sustenta a predominância de delineamentos experimentais e quase-experimentais do tipo intrassujeitos, o que corrobora a escassez de pesquisas de grupo em população de autistas. Os estudos envolveram, predominantemente, número reduzido de participantes, selecionados de forma incidental. Metade das pesquisas revisadas descreve, claramente, medidas de generalização de comportamentos, para ambientes naturais ou sustentabilidade de respostas após a intervenção. Foram escassos os estudos avaliativos do grau de satisfação dos participantes no que se refere aos efeitos produzidos pela intervenção. Nesta revisão foram identificadas as melhores práticas no atendimento da população autista, tendo como fundamento a validade interna, a validade externa e a validade social das intervenções. Indicações de diretrizes válidas e confiáveis foram apontadas no sentido de favorecerem o desenvolvimento de projetos científicos sobre o tema.

Palavras-chave: educação especial, autismo, comunicação alternativa e ampliada, metodologia científica, revisão de literatura.

ABSTRACT

The methodological characteristics of fifty-six studies published between 1980 and 2007 involving the use of augmentative and alternative communication (AAC) by individuals with autism spectrum disorder (ASD) were analyzed. Eighteen investigations implemented sign language or manual signs, twenty-six used picture-based systems, nine employed voice output devices and three worked with hybrid systems, combining two or more AAC modalities. This review focused on identifying the best practices implemented by intervention programs for individuals with ASD, considering measures of internal, external and social validity. A predominance of experimental and quasi-experimental single subject research designs were identified, whereas a limited number of studies employed group designs. Most worked with a reduced number of participants, which were mainly selected in incidental manners. Half of the investigations clearly revealed generalization measures to other behaviors and environments, as well as the sustainability of the results post intervention. A limited number of investigations evaluated participant satisfaction rates with program outcomes. A framework for developing intervention studies with reliable results was further discussed.

Keywords: Autism, Augmentative and Alternative Communication, Research Methodology, Literature Review.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo do presente artigo é analisar as características metodológicas do acervo constituído de 56 trabalhos científicos focados na Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), para educandos com autismo, que foram produzidos no período 1980-20071 1 Os dados apresentados no presente artigo são derivados do estudo: NUNES, D. AAC Interventions for autism: A research summary. International Journal of Special Education. v.23, p.17 - 26, 2008. . Com base nos resultados desta análise preliminar, a proposta foi direcionada para a identificação das melhores práticas adotadas pelos programas de intervenção para esta população. No dizer de Spaulding (2009) as melhores práticas, em Educação Especial, se constituem em modalidades de intervenções mais eficazes e eficientes e que asseguram um desempenho ótimo do aluno. Como complemento do presente artigo, são traçadas diretrizes que favoreçam o desenvolvimento de projetos de pesquisas cientificamente válidos sobre o assunto.

Inicialmente, vale assinalar que Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) está sendo conceituada neste artigo como uma ampla variedade de métodos e técnicas que complementam ou substituem a linguagem oral comprometida ou ausente. Em uma avaliação de programas de intervenção direcionados para indivíduos com autismo, o uso da CAA é categorizado como prática promissora (SIMPSON, 2005). Ou seja, os resultados das pesquisas conduzidas sob este enfoque evidenciam a eficácia da CAA para esta população, embora sejam necessários estudos que evidenciem maior rigor metodológico, a fim de que a CAA seja conceituada como prática cientificamente válida2 2 Práticas cientificamente válidas são definidas como métodos e técnicas que tenham satisfeito padrões científicos rigorosos determinados por múltiplos revisores e que, quando replicados de forma consistente, válida e fidedigna, produzido resultados positivos. (SIMPSON, 2005).

Os resultados de uma pesquisa podem contribuir, significativamente, para a produção, discussão e disseminação do conhecimento científico desde que sejam experimentalmente válidos. Embora a validade experimental que se busca em termos de validade interna e validade externa seja um ideal pretendido pelo pesquisador, é quase improvável que isso ocorra. A validade interna é muito difícil de ser obtida em ambientes externos ao laboratório de experimentos comportamentais nos quais se observa outras variáveis estranhas que se tenta controlar (BEST; KAHN, 2006). Para estes autores, quando os controles experimentais são muito rígidos, no sentido de se alcançar a validade interna, mais artificial e menos realística é a situação que pode prevalecer, reduzindo assim a validade externa ou possibilidade de generalização do experimento. Neste contexto, é instituída a concepção de demanda de produção de pesquisas que garantam adequados níveis de validade interna, validade externa e validade social (National Research Council, NRC, 2001).

Para que um experimento seja considerado internamente válido é preciso que apresente resultados com pouca ambiguidade ou nenhuma chance de dupla interpretação (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001). De acordo com o NRC (2001), os estudos que evidenciam maior validade interna são os que comparam os efeitos de diferentes programas de intervenção ou que confrontam os resultados do tratamento com procedimentos placebo. Em seguida são consideradas as investigações que fazem uso dos delineamentos de pesquisa experimentais intrassujeitos, também denominadas experimentos de caso-único (KENNEDY, 2005). Trata-se de modalidades de arranjos especiais de pesquisa que permitem demonstrar os efeitos de uma série de manipulações experimentais em um único indivíduo. Neste tipo de delineamento de pesquisa os aspectos individuais são valorizados em detrimento da comparação dos níveis de desempenho entre indivíduos pertencentes a um mesmo grupo investigado (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001).

Dentre os delineamentos de pesquisa experimentais intrassujeitos que permitem maior controle da variável independente destacam-se os delineamentos do tipo linha de base múltipla , os do tipo reversivo (A-B-A-B) e do tipo alternado (A-B-C) (NRC, 2001). No primeiro caso a variável independente (programa de treinamento) é introduzida em ocasiões diferentes para os diversos participantes/contextos com o objetivo de modificar seus respectivos comportamentos (variável dependente) para demonstrar de forma mais clara seus efeitos (NUNES et al., 1998). No segundo caso, a intervenção é aplicada de modo sequencial e retirada para testagem dos efeitos do tratamento sobre o comportamento-alvo (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001). No delineamento de pesquisa intrassujeitos do tipo alternado, os efeitos de duas ou mais condições de tratamento (B e C) sobre um único comportamento são examinadas (KENNEDY, 2005).

De acordo com o NRC (2001) os delineamentos de pesquisa de grupo constituídos de pré e de pós-teste com avaliações independentes são igualmente robustos, permitindo inferir com maior segurança, que a intervenção (variável independente) foi a única responsável pelas mudanças ocorridas nas respostas produzidas (variável dependente). Em terceiro lugar, o NRC (2001) cita os estudos quase-experimentais que comportam, por exemplo, delineamentos do tipo A-B. No caso, a variável dependente é mensurada repetidamente sob controle da linha de base (A) e da intervenção (B) (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001). Neste tipo de delineamento de pesquisa o controle experimental é inferior aos delineamentos do tipo linha de base múltipla ou do tipo reversivo (KENNEDY, 2005). Por fim, em uma categoria denominada "outros", estariam agrupados os estudos descritivos que não objetivam o controle experimental, mas a descrição aprofundada e exaustiva de um ou poucos objetos (GIL, 2007).

O conceito de validade externa refere-se ao fato de que as relações entre variáveis (relações de causa e efeito) podem ser generalizadas para outros ambientes ou locais, para outras variáveis tratamento, para outras medidas de variáveis e para outras populações ou participantes da pesquisa. Quando se trata de validade externa, pelo menos dois aspectos devem ser considerados. O primeiro diz respeito à eficácia da intervenção ou tratamento. Na medida em que uma intervenção específica produz efeito no comportamento dos participantes, será que produzirá também o mesmo efeito com outros participantes, em outros ambientes, quando conduzida por outro pesquisador e quando ocorrerem modificações discretas nos procedimentos originais da pesquisa?

Há validade externa quando a pesquisa de avaliação demonstra algo que é verdadeiro para além dos estreitos limites do seu estudo. Se os resultados forem verdadeiros não apenas para o momento, lugar e pessoas de um certo estudo, mas também o forem para outros momentos lugares e pessoas, o estudo possuirá validade externa. Esta pode ser obtida pela replicação da pesquisa, testando-se a coerência entre os achados do estudo e os resultados de outras investigações semelhantes (MORAIS, 2007, p.72).

De acordo com o NRC (2001), grupos randomicamente selecionados com tamanhos amostrais adequados propiciam os melhores níveis de validade externa. Apesar de a randomização favorecer o controle de variáveis estranhas (COZBY, 2003) é importante ressaltar que, em muitos casos, a seleção estocástica de amostras envolvendo participantes com autismo é infactível (NRC, 2001). Este fato se justifica pela diversidade de características dos indivíduos diagnosticados com a síndrome, a heterogeneidade dos programas de intervenção, e a necessidade de se ajustar o delineamento de pesquisa às questões propostas pelo estudo (NRC, 2001; SIMPSON, 2005).

Assim, o NRC (2001) assume que os grupos não randomizados, mas com amostras que evidenciam claros critérios de inclusão/exclusão podem propiciar bons níveis de validade externa. Nesta categoria estão também presentes os delineamentos de pesquisa do tipo sujeito-único que tenham sido replicados por, ao menos, três vezes consecutivas. Por fim encontram-se pesquisas envolvendo três ou mais participantes incidentalmente selecionados em delineamentos experimentais e quase-experimentais intrassujeitos (NRC, 2001).

A validade social implica na generalização de resultados de ambientes artificiais para ambientes naturais (NRC, 2001), na sustentabilidade dos efeitos de uma intervenção, como também no grau de significância social das mudanças produzidas na perspectiva do consumidor - ou seja, os indivíduos afetados pelos resultados da pesquisa - (KENNEDY, 2005). O que se pretende é verificar o grau de funcionalidade dos resultados da investigação científica quando aplicados no contexto social. Inicialmente proposto por (WOLF, 1978), o conceito de validade social emerge por conta das necessidades práticas dos analistas de comportamento em tomar conhecimento das implicações e da relevância dos resultados das suas próprias pesquisas para os membros de uma sociedade. Neste contexto, sustentabilidade ou manutenção de respostas é compreendida como o prosseguimento na emissão de um comportamento ou habilidade desenvolvida durante um tratamento, após a finalização de um programa de intervenção (NRC, 2001; KENNEDY, 2005).

Ao referir-se à natureza aplicada da pesquisa educacional, Kennedy (2005) sustenta a necessidade de se avaliar também o grau de satisfação das pessoas - os consumidores da pesquisa - com relação aos efeitos produzidos em uma ampla variedade de segmentos da sociedade. Esta atividade analítica adicional atribuída ao pesquisador implica na coleta de informações junto a esses consumidores ou pessoas afetadas pelos resultados da investigação. À guisa de exemplo, (KENNEDY, 2005) relata uma pesquisa cujo objetivo original é compreender/verificar o impacto dos resultados da intervenção em uma sala de aula. No caso, adicionalmente, devem ser formuladas perguntas do tipo O professor considerou a intervenção fácil ou difícil de ser implementada? Como reagiram os alunos frente ao novo procedimento? O professor continuou se utilizando dos procedimentos de intervenção, mesmo depois de concluída a pesquisa?

2 DESENVOLVIMENTO

A seguir serão descritos aspectos e características metodológicas contidas em 56 estudos produzidos no período 1980-2007 e que registram a utilização da CAA em populações com autismo, conforme resumo apresentado no Quadro 1, considerando-se as modalidades de sistemas CAA empregados, os tipos de delineamentos de pesquisa, o número de participantes envolvidos, variáveis independentes e variáveis dependentes, medidas de generalização, manutenção e de validade social, conforme abaixo.


Desses 56 estudos, 18 versaram sobre o uso de sistemas manuais e língua de sinais em populações com autismo; 26 empregaram sistemas pictográficos de comunicação; 9 utilizaram sistemas assistidos com acionadores de voz e 3 utilizaram sistemas híbridos, contendo mais de uma modalidade de CAA. O tipo de sistema de CAA utilizado está representado na Figura 1.


Ao abordar os tipos de delineamento de pesquisa, quatro trabalhos investigativos foram classificados como estudos de caso descritivos, dois tiveram como objetivo avaliar os efeitos da intervenção fazendo uso de pré e de pós-testes e seis trabalharam com grupos comparativos. Os demais 44 estudos analisados fizeram uso de algum tipo de delineamento experimental ou pré-experimental do tipo sujeito-único, especialmente o delineamento do tipo linha de base múltipla, presente em 20 pesquisas. Dezesseis trabalhos empregaram delineamento reversivo ou tratamento alternado e três utilizaram delineamento do tipo A-B. Cinco estudos compararam os efeitos de diferentes procedimentos utilizando delineamento intrassujeito. O tipo de delineamento utilizado nos 56 estudos analisados está representado na Figura 2.


Estudos que utilizam grupos de indivíduos randomicamente selecionados são raramente encontrados em pesquisas envolvendo populações com autismo (SIMPSON, 2005). Esta mesma tendência foi observada nos trabalhos revisados, onde apenas cinco investigações utilizaram grupos compostos de 34 a 60 participantes. Em três destes trabalhos revisados os grupos foram randomicamente selecionados (LAYTON, 1988; YODER; LAYTON, 1988; YODER; STONE, 2006). As pesquisas restantes que foram analisadas envolveram, essencialmente, um único sujeito (N=1) ou grupos pequenos de participantes (N<16), selecionados de forma incidental, sendo que os pesquisadores fizeram comparações intrassujeitos ao invés de comparações entre grupos de participantes. O número de participantes por estudo está representado na Figura 3.


A validade externa de pesquisas que empregam delineamentos de caso-único é viabilizada através da replicação de experimentos (KENNEDY, 2005). Apenas um trabalho de pesquisa analisado na presente revisão (REMINGTON; CLARKE, 1983), no entanto, implementou procedimentos experimentais idênticos aos utilizados em outra pesquisa (BARRERA; LOBATO-BARERA; SULZER-AZAROFF, 1980). Pelo menos treze pesquisas analisadas tiveram como objetivo avaliar os efeitos de um mesmo programa de intervenção (PICTURE EXCHANGE COMMUNICATIO SYSTEM – PECS), no desempenho comunicativo de indivíduos com autismo.

Em termos de validade social, metade das pesquisas revisadas (n=28) descreve medidas claras de generalização de comportamentos para ambientes naturais ou sustentabilidade de respostas após a intervenção. Onze dessas investigações registraram mudanças em, pelo menos, um contexto natural. Nove estudos tiveram como objetivo avaliar o grau de satisfação dos participantes no que se refere aos efeitos produzidos pela intervenção. A frequência de estudos que evidenciam generalização ou manutenção de respostas em ambientes naturais e que, ao mesmo tempo avaliam o grau de satisfação dos participantes com os efeitos produzidos pela intervenção encontra-se disposta na Figura 4.


3 CONCLUSÃO

A análise apurada das características metodológicas identificadas nos 56 artigos revisados sustenta a predominância de delineamentos experimentais e quase-experimentais do tipo intrassujeitos, o que corrobora a escassez de pesquisas de grupo em população de autistas. As causas apontadas, na literatura, para a ocorrência deste viés esbarram na ética da pesquisa com Seres Humanos e também nas rotinas operacionais dos experimentos científicos. A exemplo disto, a alternativa metodológica de utilização de grupo controle e de grupo experimental para se pesquisar sobre autismo é assunto de natureza ética, quando constatados progressos para os participantes do grupo experimental, em contraste com a falta de ganhos para os participantes do grupo controle.

Neste cenário investigativo, as barreiras operacionais observadas nas pesquisas científicas sobre Autismo ocorrem quando se tenta reunir, por exemplo, um número expressivo de participantes para comporem amostras homogêneas e representativas do universo pesquisado, conforme preconiza o modelo estatístico e isso nem sempre é viável. Paradoxalmente, na perspectiva dos delineamentos de caso único, a homogeneização da amostra não é tão necessária, considerando-se que os erros de medida assumem outro significado nas pesquisas deste tipo, quando se pretende monitorar, por exemplo, a variabilidade de respostas da pessoa com autismo.

Os resultados das análises dos artigos revelaram também que a validade social das pesquisas sobre Autismo é evidenciada pela sustentabilidade de respostas após a fase de intervenção, considerando-se também a possibilidade de generalização e manutenção desses efeitos, em ambiente natural. Como complemento da validade social dessas pesquisas é possível determinar o grau de satisfação observado nos participantes que foram impactados pelos procedimentos de intervenção a que estiveram submetidos, ou seja a atitude favorável dos consumidores da pesquisa frente aos resultados obtidos.

Finalmente, ao serem traçadas diretrizes que favoreçam o desenvolvimento de projetos válidos e socialmente relevantes para o trabalho com autistas, caberá aos especialistas se apropriarem das melhores práticas, ou seja, dos modos de intervenção, em Educação Especial, mais eficazes e eficientes que assegurem um desempenho ótimo do aluno, conforme sustentado por Spaulding (2009). Acrescente-se a estas diretrizes os projetos de avaliação permanente nos moldes dos que se conhece na literatura como accountability. Neste sentido, já são conhecidos os parâmetros que tornam possivel identificar o que funciona e o que deixa de funcionar, no atendimento da pessoa com autismo, podendo-se assim decidir por modalidades de intervenção cujos resultados finais sejam notoriamente confiáveis inclusive para subsidiar as ações das políticas públicas de educação (CAMPOS, 2009).

Recebido em: 06/10/2009

Reformulado em: 06/03/2010

Aprovado em: 08/05/2010

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  • 1
    Os dados apresentados no presente artigo são derivados do estudo: NUNES, D. AAC Interventions for autism: A research summary. International Journal of Special Education. v.23, p.17 - 26, 2008.
  • 2
    Práticas cientificamente válidas são definidas como métodos e técnicas que tenham satisfeito padrões científicos rigorosos determinados por múltiplos revisores e que, quando replicados de forma consistente, válida e fidedigna, produzido resultados positivos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 2010

    Histórico

    • Aceito
      08 Maio 2010
    • Revisado
      06 Mar 2010
    • Recebido
      06 Out 2009
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