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A percepção dos coordenadores de licenciaturas da UEL sobre altas habilidades/superdotação

The perception of coordinators of undergraduate teacher certification courses at UEL (State University of Londrina) on high abilities/giftedness

Resumos

O presente relato de pesquisa procura mostrar como a temática de altas habilidades/superdotação (AH/SD) foi vislumbrada por docentes do ensino superior, buscando conhecer, mais especificamente, qual percepção tinham os coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Londrina (UEL) acerca desse tema. Objetivou-se identificar a percepção dos coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da UEL a respeito de AH/SD. A pesquisa descritiva, de análise quali-quantitativa, teve como participantes 14 docentes, coordenadores dos colegiados das licenciaturas. A entrevista semiestruturada foi utilizada para a coleta de dados. Após a transcrição, as falas foram submetidas à análise de conteúdo. Os resultados indicaram que a percepção dos docentes sobre a temática AH/SD era ainda elementar, utilizaram do senso comum ao tratar da superdotação, não reconheciam seus estudantes com potencial de AH/SD; entretanto, apontavam diversos indicadores em alunos, dos cursos nos quais atuavam, condizentes com os elencados na literatura da área. Notou-se, portanto, que é preciso que pesquisas nesta área continuem sendo realizadas e que sejam ofertadas formações para que os docentes do ensino superior possam desvencilhar-se de ideias próprias do senso comum e dos mitos que envolvem a temática AH/SD.

Educação Especial; Altas habilidades/superdotação; Ensino superior; Curso de licenciatura


This research report aimed at investigating how the issue of high abilities/giftedness (HA) has been envisioned by college professors, seeking to learn more specifically about the perception of this topic among the college deans of undergraduate courses at the State University of Londrina (UEL). The following goal was established: to identify the perception about HA among the collegiate coordinators of undergraduate courses at UEL. This descriptive, qualitative and quantitative analysis was done with 14 professors who are college deans of undergraduate courses. An interview with semi-structured guidelines was used for data collection. The data was subjected to content analysis after its transcription. The results indicated that the professors' perception about HA is still elementary. They use common sense when dealing with giftedness and do not recognize their students with HA potential. However they point out several indicators in their students which are consistent with those listed in the literature. It is therefore observed that there is a need for continuing research in this area and that courses need to be offered about the subject, so that college professors can break away from common sense ideas and myths surrounding the subject.

Special Education; High Abilities/Giftedness; Higher Education; Teacher certification Course


RELATO DE PESQUISA

A percepção dos coordenadores de licenciaturas da UEL sobre altas habilidades/superdotação

The perception of coordinators of undergraduate teacher certification courses at UEL (State University of Londrina) on high abilities/giftedness

Fabiane Silva Chueire CiancaI; Maria Cristina MarquezineII

IMestre em Educação Pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina, NAAH/S,Londrina, PR, Brasil. fabianechueire@gmail.com

IIDoutora em Educação, Departamento de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina,Londrina, PR, Brasil. crisedes@uel.br

RESUMO

O presente relato de pesquisa procura mostrar como a temática de altas habilidades/superdotação (AH/SD) foi vislumbrada por docentes do ensino superior, buscando conhecer, mais especificamente, qual percepção tinham os coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Londrina (UEL) acerca desse tema. Objetivou-se identificar a percepção dos coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da UEL a respeito de AH/SD. A pesquisa descritiva, de análise quali-quantitativa, teve como participantes 14 docentes, coordenadores dos colegiados das licenciaturas. A entrevista semiestruturada foi utilizada para a coleta de dados. Após a transcrição, as falas foram submetidas à análise de conteúdo. Os resultados indicaram que a percepção dos docentes sobre a temática AH/SD era ainda elementar, utilizaram do senso comum ao tratar da superdotação, não reconheciam seus estudantes com potencial de AH/SD; entretanto, apontavam diversos indicadores em alunos, dos cursos nos quais atuavam, condizentes com os elencados na literatura da área. Notou-se, portanto, que é preciso que pesquisas nesta área continuem sendo realizadas e que sejam ofertadas formações para que os docentes do ensino superior possam desvencilhar-se de ideias próprias do senso comum e dos mitos que envolvem a temática AH/SD.

Palavras-Chave: Educação Especial. Altas habilidades/superdotação. Ensino superior. Curso de licenciatura.

ABSTRACT

This research report aimed at investigating how the issue of high abilities/giftedness (HA) has been envisioned by college professors, seeking to learn more specifically about the perception of this topic among the college deans of undergraduate courses at the State University of Londrina (UEL). The following goal was established: to identify the perception about HA among the collegiate coordinators of undergraduate courses at UEL. This descriptive, qualitative and quantitative analysis was done with 14 professors who are college deans of undergraduate courses. An interview with semi-structured guidelines was used for data collection. The data was subjected to content analysis after its transcription. The results indicated that the professors' perception about HA is still elementary. They use common sense when dealing with giftedness and do not recognize their students with HA potential. However they point out several indicators in their students which are consistent with those listed in the literature. It is therefore observed that there is a need for continuing research in this area and that courses need to be offered about the subject, so that college professors can break away from common sense ideas and myths surrounding the subject.

Keywords: Special Education. High Abilities/Giftedness. Higher Education. Teacher certification Course.

1 INTRODUÇÃO

Altas habilidades/superdotação (AH/SD), genialidade, talento, inteligência, entre outros, são termos que despertam a curiosidade das pessoas, exercendo fascínio no mundo todo e ao longo dos tempos (ALENCAR; FLEITH, 2001; GAMA, 2006; GUENTHER, 2006a;WINNER, 1998). No entanto, percebe-se que faltam ainda pesquisas, discussões e divulgação na área dasAH/SD. Sabe-se que existe uma demanda de alunos com indicadores de AH/SD, presente nas escolas, que não tem sido nem identificada nem atendida em suas necessidades especiais, em vista das poucas informações que chegam até aos professores.

Anjos (2011), Barreto e Mettrau (2011) e Guenther (2006b) estão entre os pesquisadores nacionais que indicam que aproximadamente 3% a 5% da populaçãoapresentam capacidade notavelmente acima da média, nas diversas áreas do conhecimento, incluindo-se aquelas mais valorizadas pela sociedade nas diferentes épocas e culturas.O propósito deste relatoé o de apresentar a percepção que tinham os docentes da Universidade Estadual de Londrina, sobre as AH/SD e, para isso tomou-se por basea estimativa citada por esses autores. Das 1.050 vagas ofertadas nos cursos de licenciatura, para ingresso em 2012 (LONDRINA, 2011a), provavelmente, entre 31 e 52 destes estudantes teriam características de AH/SD. Em outras palavras, haveria ao menos dois estudantes com AH/SD em cada um dos cursos de licenciatura ofertados pela UEL.

No que se refere à definição de AH/SD, há teorias variadas e divergentes. Neste trabalho, a opção escolhida foi tomar como referência a proposta do Ministério da Educação (MEC), contida na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a Teoria dos Três Anéis (RENZULLI, 2004) e, ainda, os princípios definidos por Gardner (1995, 2007) sobre Inteligências Múltiplas.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) contempla o desempenho elevado em cinco áreas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, podendo ocorrer de forma isolada ou combinada.

Já Renzulli (2004) propõe, na Teoria dos Três Anéis, que o indicativo de superdotação está na intersecção de três aspectos: habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade.

Outro princípio adotado neste trabalho é a conceituação qualitativa de inteligência defendida por Gardner (1995,2007). Esta foi apresentada nos estudos relativos às Inteligências Múltiplas e contempla um "conceito multidimensional que propõe a existência de oito inteligências (lógico-matemática, linguística, espacial, musical, corporal-cinestésica, naturalista, intrapessoal e interpessoal) não hierarquizadas" (BARRERA PÉREZ, 2009, p.302).

A leitura e o estudo da temática das AH/SD, apresentada por Renzulli, e sobre as inteligências, discutidas por Gardner, sugeriram à pesquisadora, naquele momento, alguns questionamentos: quem são esses sujeitos superdotados na fase adulta? Como são reconhecidos na universidade? Diferem esses, dos colegas universitários? Os professores dispensam-lhes tratamento diferenciado?

Responder a essas inquietações requeria que se adentrasse o espaço universitário; neste caso, o escolhido foi o da UEL, com enfoque nos cursos de licenciatura. Esse recorte – licenciaturas – deve-se ao fato de serem estes os cursos formadores dos futuros professores. Acreditava-se que o modo com o qual os docentes entendiam as altas habilidades poderia refletir na sua metodologia e,em havendo essa influência, certamente se imprimiria nos alunos um olhar mais atento sobre a área em questão.

Para Vitaliano (2007, p.404) "as universidades ainda não se preocuparam, efetivamente, em propiciar uma formação adequada aos futuros professores para a inclusão dos alunos com NEE". Ainda que isso estivesseocorrendo, corria-se o risco de que, ao se tratar de 'inclusão', não se contemplasse as pessoas com AH/SD. Na prática, o que geralmente ocorre com os profissionais da educação, sejam eles da educação básica, sejam da universitária, é a utilização de conceitos carregados de mitos (BARRERA PÉREZ, 2003; WINNER, 1998) o que interfere negativamente no tratamento de tais pessoas.

O conhecimento, por parte dos profissionais do ensino superior, acerca da temática inclusão, tão divulgada nacontemporaneidade, parece ser insuficiente, em especial no que tange à inserção do estudante com AH/SD. Consequentemente, o reconhecimento desses estudantes nos cursos de nível superior é uma realidade ainda distante.

Entendendo que, entre outras funções, as universidades contemplam a pesquisa, o ensino e a extensão, é possível dizer que há variadas maneiras do docente perceber um diferencial quanto à capacidade em um determinado aluno. Por outro lado, o próprio estudante tem mais chances de mostrar melhor desempenho em uma das vertentes citadas, o que evidenciaria suas habilidades acima da média.

A UEL, por meio do Núcleo de Acessibilidade (NAC), antigo Programa de Acompanhamento a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (PROENE), empreende esforços e ações para a remoção das barreiras, tanto metodológicas como atitudinais, ofertando a possibilidade do apoio educacional especializado aos estudantes com NEE, entre eles os que apresentam "[...]altas habilidades, [...], matriculados nos cursos de graduação e pós-graduação da UEL" (LONDRINA, 2010).

Teoricamente existe algo a ser feito para os alunos com AH/SD e acredita-se ser importante mostrar qual a percepção que os docentes apresentavam sobre esta temática para se saber se é necessária ou não mais ações em favor destes docentes.

1.1 CONTEXTUALIZANDO ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

Historicamente, a humanidade registra que diferentes culturas construíram concepções sobre a potencialidade humana, propondo ações e estratégias que aproveitassem ao máximo o talento e potencial dessa população com AH/SD.

A própria sociedade vem determinando quais talentos podem, ou não, ser valorados e, ao mesmo tempo, vem modificando tais valores ao longo do tempo, conforme a necessidade da cultura da época (BARRETO; METTRAU, 2011; GAMA, 2006; VIRGOLIM, 2007a).

Os registros de interesse por alunos superdotados, em solo brasileiro, tiveram seu início na década de 30 com a publicação do livro "A Educação dos Supernormais", por Leoni Kasef (DELOU, 2001; RANGNI; COSTA, 2011). Ainda nessa década, em 1938, Helena Antipoff falava de sua preocupação em relação aos alunos 'bem-dotados' e os inclui no Relatório Geral da Sociedade Pestalozzi de Belo Horizonte (GAMA, 2006, p.21).

São sujeitos com talentos e habilidades, que transpõem a média, em determinado quesito ou especificidade. Trata-se de pessoas com AH/SD, destacadas desde tempos remotos, porém 'marcadas' por mitos e ideias equivocadas, a iniciar pelo conceito que associa AH/SD à inteligência, isso quando esta é entendida, principalmente, como um constructo mensurável por testes convencionais (WINNER, 1998). A avaliação psicométrica, por exemplo, era vista, no início do século XX, como uma das principais formas de determinar a superdotação e, ainda hoje, encontra adeptos, no ideário do senso comum.

Atualmente são os estudos de Alencar e Fleith (2001), Freitas e Barrera Pérez (2010), Gama (2006), Gardner (2007), Guenther (2006a, 2006b), Pocinho (2009), Renzulli (2004), Virgolim (2007a, 2007b, 2009), entre outros, que têm sido fontes essenciais para as visões múltiplas sobre inteligência e AH/SD.

Teóricos como Gardner (2007) e Renzulli (2004), citados por Barrera Pérez (2008, p. 33), consideram "[...] a inteligência sob uma visão multidimensional, como um potencial que pode e deve ser desenvolvido, de origem parcialmente genética, mas extremamente subordinada a fatores ambientais, sociais e afetivos."

No que diz respeito à identificação e atendimento da pessoa com altas habilidades/superdotação, encontram-se, na literatura, estudos que abrangem crianças e adolescentes, mesmo que de modo escasso, porém, em relação às pessoas adultas é quase nula ou rara a pesquisa disseminada. Freitas e Barrera Pérez (2010)confirmam esses dados ao afirmarem que, de forma geral, a literatura especializada analisa as características de crianças e adolescentes e raramente aborda os adultos.

Acreditar que por serem adultos já não precisam de direcionamento é um equívoco. O ambiente universitário, ainda que sugira a ideia de encaminhamento dos alunos para projetos e estudos mais específicos, que supostamente atenderia às necessidades dos alunos superdotados, ainda não conseguem solucionar algumas questões.

O estudante universitário com AH/SD, que não foi identificado nos anos anteriores, deveria, nesse momento, ter a oportunidade de vivenciar e experienciar diferentes propostas que pudessem desvelar e aprimorar suas habilidades, para que não permanecesse na invisibilidade (BARRERA PÉREZ, 2003), satisfizesse as suas próprias expectativas e, quiçá, viesse a se realizar como pessoa. Mas, a pergunta era: será que isso tem ocorrido?

Barrera Pérez (2008, p. 17-18) afirma que essa contribuição acadêmica constitui avanço importante na compreensão da pessoa com AH/SD "seus comportamentos e a forma de identificá-la, elas também revelam um panorama de escassez de pesquisas científicas na área, não muito diferente em nível internacional, que é ainda mais precário no que se refere à educação de adultos".

2 OBJETIVO

Este estudo procurou compreender a percepção dos coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Londrina a respeito de AH/SD. Em se tratando de um recorte de uma pesquisa mais ampla, procurou-se especificamente, para este artigo, mostrar como os docentes, coordenadores dos colegiados percebiam a área de AH/SD, visto que, naquele momento tinham uma função de representatividade dos alunos perante o próprio curso.

3 MÉTODO DE PESQUISA

A presente investigação apropriou-se dos pressupostos da pesquisa descritiva, objetivando escrever as características de um objeto de estudo, preocupando-se em apresentar as características do fenômeno e não o seu porquê (GONSALVES, 2005).

3.1 DESCRIÇÃO DOS PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa os 14 coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Londrina, ofertadas no ano de 2011, que serão tratados por P – participante, neste artigo.

A pesquisa teve seu parecer de Aprovação nº 029/2011 emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina CEP/UEL – Registro CONEP 268.

3.2 INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS

Elaborou-se umroteiro de entrevistaquefoi submetido à análise de dois juízes, com experiência em análise de entrevista e que sugeriram alterações, as quais foram acatadas. Manzini (2003) ressalta a necessidade da adequação do roteiro, sugerindo a prévia utilização de dois procedimentos: a) a apreciação por juízes e b) a entrevista-piloto. Ambos os procedimentos foram realizados, obtendo-se um instrumento definitivo, com 14 questões.

Para a coleta dos dados, entrou-se em contato com os departamentos e respectivos coordenadores dos colegiados de curso, para agendamento das entrevistas. Os contatos foram realizados por telefone, e-mail, visita ao departamento nos diversos horários, no intuito de atender a demanda dos docentes participantes da pesquisa.

3.3 TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados da entrevista foram transcritos e analisados sob a perspectiva de análise de conteúdo (BARDIN, 1977; MARQUEZINE, 2006).

O trabalho de análise dos dados iniciou a partir da transcrição integral dos conteúdos procurando-se manter a fidedignidade das informações coletadas e conservar a linguagem dos entrevistados.

As transcrições das entrevistas foram tratadas com o aporte do programa QDA Miner, que é um "software para análise qualitativa de dados de fácil utilização" (SANTOS, 2007, p. 51) e que serve, entre outros, para "codificar os dados de textos, anotações, revisões e correção de documentos".O uso do programa QDA Miner proporcionou a visitação constante aos dados, bem como suas tabulações e estatísticas.

Pretendendo-se alcançar maior rigor no tratamento dos dados coletados, a categorização realizada pela pesquisadora foi submetida a uma apreciação por outras duas pessoas – profissionais que efetuaram a análise da divisão realizada – tratadas aqui como juízes. Conforme a análise dos juízes na categorização das entrevistas o índice de concordância ficou em IC= 93,98.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As respostas dadas pelos participantes forneceram materiais para a constituição da Tabela 1, na qual se inserem 10 subclasses. A análise destas é que nos permitiu saber qual a percepção que os docentes da UEL tinham sobre as AH/SD. Elas foram anteriormente definidas e distribuídas em itens como frequência – número de vezes que o participante mencionou o assunto tratado na subclasse – número de participantes – quantifica os sujeitos – e percentual de participantes (%P) – evidencia, em percentual, o número de participantes.

Enquadra-se no tipo acadêmicode superdotação, o que está exposto na subclasse "O superdotado é criativo, articulador, com maior habilidade em raciocínio lógico matemático ou capacidade em resolver problemas". Seis participantes (42,9%), por dez vezes, fizeram menção a este item, como se vê nos seguintes recortes:

P2 Acho que é uma pessoa que teria capacidade de explorar diferente, no seu ambiente ou no seu conhecimento, seria, não necessariamente mais rápida, mas ela iria mais longe nessa exploração.

P10 [...] uma pessoa que consegue se entrosar com aquilo que faz, tira conclusões mesmo em um trabalho em andamento, tem facilidade pra resolver questões, não é? Consegue na primeira leitura já retirar muitas coisas uma essência.

Por meio dessas explanações,podia-se inferir que os participantes continuavam mencionando características pertinentes ao que é exposto na literatura e nas pesquisas científicas sobre AH/SD, entretanto essas especificidades apareciam fragmentadas nos diferentes discursos.

A criatividade e o pensar criativo, a rapidez de associação e de correlação com outras temáticas, a flexibilidade em tratar de assuntos distintos e de forma diversificada, citados por participantes diferentes, são indicadores de AH/SD. No entanto, quando questionados sobre a incidência de alunos com tais características em seus cursos, os docentes, em sua grande maioria, afirmavam que eram poucos os superdotados, até inexistentes, como mostra a subclasse nove.

Na subclasse que considera "O estudante superdotado como aquele aluno que aprende sozinho, é esforçado", observou-se que cinco dos 14 sujeitos (35,7% dos participantes) citaram por seis vezes tais características para se referirem aos alunos mais capazes.

A literatura identifica estas propriedades – aprender sozinho, ser esforçado – como envolvimento com a tarefa, um dos elementos dos três anéis propostos por Renzulli (2004). Para ele, esse envolvimento compreende certa energia direcionada para uma área específica, particular, um investimento, entusiasmo e interesse em determinada área, com alto padrão de excelência (BRASIL, 2006; BARRERA PÉREZ, 2008; RENZULLI, 2004; VIRGOLIM, 2007a).

As próximas colocações dos participantes expressaram a representação que os mesmos traziam consigo a respeito do aluno mais habilidoso, e foi possível estabelecer relação estreita entre estas e o que descreve Renzulli (2004) como envolvimento com a tarefa:

P4 [...] Em minha opinião, acho que é a pessoa que tem habilidade para desenvolver algum conhecimento sozinha, é o que eu entendo de hiperdotação, superdotação, que ela tem alguma habilidade, em uma área específica que ela consiga desenvolver o aprendizado sozinha.

P12 Esse eu considero como superdotado, mas não que ele fosse um gênio... é o esforço individual é que fez com que ele se destacasse [...]

Os participantes manifestaram, em seus discursos, que era possível, por meio do esforço, do empenho e da repetição, alcançar excelência. Isso ficou mais evidente na colocação do P12, quando afirmou que considerava ser superdotado aquele que apresentava um esforço individual.

Concordando com as proposições de Renzulli (2004), acredita-se que o estudante superdotado demonstra um grande empenho na área de seu interesse e, ao desenvolver atividades sobre este assunto, seu comprometimento pode chegar a um nível de profundidade que, por vezes, o faz deixar de cumprir outras tarefas.

Além do fator comprometimento, que está relacionado ao estímulo do ambiente, existe também a questão da capacidade inata do sujeito, aquilo que ele tem e traz de herança genética (WINNER, 1998). Não considerar a questão biológica, isto é, acreditar que a superdotação está associada somente ao meio, leva a conceitos equivocados.

De acordo com a definição de AH/SD assumida neste trabalho, em consonância com os documentos do MEC (BRASIL, 2008), para se considerar uma pessoa superdotada, necessita-se, entre outros, que ela apresente uma capacidade superior à média em uma área específica. Na subclasse "O superdotado é aquele que tem habilidade em área específica", houve uma frequência de 12 citações nos discursos de oito participantes, o que corresponde a 57,1% do total deles, entre elas:

P3 Porque se um aluno assim, ele for trabalhado, burilado na sua habilidade, aqui como eu já disse, que se concentra geralmente em uma área, não quer dizer que ele tenha todas as outras habilidades.

P14 Eu creio que é uma pessoa assim que tem muita facilidade em alguma área. Não precisa ser exatamente, nos estudos, eu acho que uma pessoa assim, como o Airton Senna, o Pelé, agora Neymar.

Essa subclasse encontra respaldo na teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1995), que considera as diversas habilidades como uma "abordagem multidimensional, ampla e pragmática da inteligência" (POCINHO, 2009), constituída por múltiplas habilidades, diferentes entre si, independentes, porém interativas.

Os participantes, na tentativa de designar a pessoa com AH/SD, referiam-se a esta ideia, relativamente pouco compreendida, afirmando que não era necessário ter destaque em todas as áreas para ser identificado como superdotado. Considerando-se, ainda, a teoria das Inteligências Múltiplas pode-se desvincular a ideia de AH/SD a de QI acima da média, ou seja, ter uma habilidade superior em uma área não requer necessariamente um escore alto em testes formais de inteligência.

Quando o P14 citou os desportistas, ele estava descrevendo um exemplo clássico de habilidade específica, denominado por Gardner (1995) de Inteligência Corporal-cinestésica, que diz respeito à capacidade de utilização do corpo, no esporte, nas artes, entre outros, com excelência. Esse participante, ainda que trouxesse o conceito parcial de altas habilidades nas suas declarações afirmou, por outro lado, não saber se o que apresentou corresponde com a definição oficial.

Pensando na questão dos mitos que envolvem a superdotação, a subclasse "Superdotação como sinônimo de sucesso acadêmico e profissional" é um bom exemplo. Winner (1998), ao tratar desse mito, explica que o engano está em considerar que pessoas superdotadas se tornam adultos eminentes, com trajetórias e papéis desenvolvidos na sociedade, necessariamente com sucesso.

Quatro participantes (28,6%) fizeram dez referências a esta ideia. Citam-se duas:

P8 porque têm alunos que se destacam, aquela coisa assim, a nota aparece, hora ou outra podem até ter um desempenho ruim, mas a gente vê que eles mantêm uma média alta no encaminhamento do curso.

P11 Consiga vencer na vida, é ser alguém que..., um profissional de qualidade assim né, na área que ele escolheu.

Há que se considerar, ainda, que esta ideia equivocada, que vincula o desempenho do superdotado ao seu sucesso acadêmico e profissional, tem seu respaldo no que Barrera Pérez (2003, 2004) agrupou como mito sobre desempenho – aquele que se destaca em todas as áreas do desenvolvimento humano, tem que ter notas boas, é o aluno nota 10 em tudo – e mito sobre consequência – as pessoas com AH/SD serão adultos bem sucedidos.

Continuando as análises das subclasses produzidas a partir das respostas dos participantes acerca da superdotação, chegamos à "Superdotação como consequência da influência do meio social". Esta foi referida quatro vezes por dois participantes (14,3%), sendo duas transcritas abaixo:

P11 se uma pessoa às vezes já nasce com uma, vamos dizer assim, menos disposição pra uma atividade, mas, acredito que se for estimulado desde a infância de uma forma contínua e direcionada ele vai conseguir, talvez, não chegue a ser um Mozart.

P12 superdotação mesmo é muito difícil a gente encontrar. Porque do meu ponto de vista todos são capazes, basta que eles recebam treinamento desde a primeira idade.

Essas ponderações do P11 e do P12 trataram das vertentes vinculadas ao ambiente, seja por estimulação externa, seja pelo investimento pessoal, desconsiderando fatores genéticos.

Estudiosos, como Landau (2002), Winner (1998) e outros, ponderam sobre a importante discussão que acontece entre os teóricos da psicologia sobre a origem da superdotação, se é inata ou adquirida, e apontam que a carga genética, assim como a necessidade de um bom ambiente que dê conta do desenvolvimento desse potencial, são igualmente importantes.

Se valorizar o meio em detrimento do aspecto biológico é uma falha na compreensão da superdotação, outra, que aparece com certa frequência, é aquela que vincula a superdotação ao aspecto socioeconômico. A subclasse "Nível sócio econômico baixo não impede a presença de pessoas com AH/SD" só foi citada por dois participantes (14,3%), por quatro vezes.

Considerar a condição socioeconômica privilegiada como fator desencadeador da superdotação implica negar a possibilidade de que pessoas com AH/SD possam ser provenientes das camadas populares, por terem acesso limitado a determinados 'estímulos'. Estudantes de origem humilde, na concepção do P12 e do P13, estariam fadados a um desempenho acadêmico mediano, como se observa:

P12 Eu tive um caso que ele entrou há três anos e quando ele assinou minha primeira prova, ele não fez a prova, não conseguiu, por quê? Foi um menino abandonado pela mãe, criou-se na rua, e aí vendia tapete porque a avó fazia e cuidava dele e dos irmãos em uma cidade pequena e de repente ele, em função das suas notas, caiu no curso; foi muito interessante, porque [este] é um curso que exige habilidade dos alunos, que são essas habilidades de abstração principalmente. Então, ele assinou a primeira prova e não conseguiu fazer, ele fez um pedaço de uma questão e eu considerei meio ponto.

P13 Quando a gente fala do aluno superdotado a gente tem que levar em consideração, vem de um nível cultural que ele não tem costume de estar estudando, é diferente de um aluno de medicina, eu vejo que nós temos essas condições sócio econômicas diferenciadas, então nosso aluno é trabalhador, ele lê os textos para aula, ele não consegue se empenhar mais, talvez se ele tivesse mais tempo, nós teríamos um aluno nessa condição.

O ambiente apresenta uma influência importante e significativa. Ambientes ricos em estimulação podem favorecer um melhor desenvolvimento das habilidades do sujeito, da mesma forma pessoas medianas, em ambiente estimulador, porém sem interesse ou foco, não mostrarão seu talento.

Os estudos de Barrera Pérez (2003, 2004) tratam como mito de distribuição considerar, entre outros, que as pessoas com AH/SD provêm de classes socioeconômicas privilegiadas. A história da humanidade traz relatos de pessoas de nível socioeconômico baixo e que tiveram grandes conquistas. Aqui no Brasil, podem-se citar, entre outros, Daiane dos Santos (ginástica olímpica), Pelé (futebol), o próprio Fernandinho Beira-Mar (criminoso) que se destaca negativamente pela capacidade de liderança, entre outros.

Relacionar, portanto AH/SD somente a um nível socioeconômico elevado demonstra desconhecimento das teorias que envolvem esta área. Sendo assim, convém discutir, neste momento, a subclasse"Falta de conhecimento sobre AH/SD",a qualfoi referida por sete participantes (50%), somando 18 citações. Entre elas destacam-se duas:

P1 é um conhecimento muito intuitivo, nunca estudei, nunca recebi nem um tipo de orientação específica sobre como identificar uma pessoa superdotada.

P7 Olha, na verdade eu diria assim: o pouquíssimo que ouço falar, na verdade eu conheço de senso comum, de qualquer cidadão que já ouviu falar alguma coisa, [...] o conhecimento que tenho é muito pouco, o tratamento também com essas pessoas é muito pouco, eu diria que eu literalmente desconheço, literalmente.

Conforme Anjos (2011), as pesquisas científicas na área têm sido crescente; as ações políticas governamentais têm sido alteradas e repensadas; as iniciativas do conselho representativo da área de AH/SD (ConBraSD) têm proporcionado espaços para discussão; e o aumento de eventos em todo o país tem refletido sobre as necessidades da área. Entretanto, mesmo com esse investimento, ainda não se conseguiu atingir as instâncias do ensino superior,entre elas a UEL, investigada nesta pesquisa.

Os próprios docentes reconheceram sua falta de informação nessa área, pois, do ponto de vista da pesquisadora, o primeiro passo, para o efetivo atendimento do estudante com AH/SD, parte dessa consideração, porquanto se os participantes admitem não terem conhecimento suficiente sobre as AH/SD, supõe-se que buscarão formas de suprir tal lacuna e, mesmo que isso não ocorra, acredita-se que pelo menos os entrevistados, quando se depararem com alunos mais habilidosos, estarão mais atentos para identificá-los, orientá-los, encaminhá-los, por exemplo, ao NAC – Núcleo de Acessibilidade.

O pouco conhecimento sobre a área foi revelado, também, por meio das respostas que formaram a subclasse"Baixa incidência/há poucas pessoas com AH/SD". 13 participantes (92,9%) referiram por 35 vezes ser baixa a presença de pessoas com AH/SD.

Esses dados, apontados pelos participantes, explicitaram o que provavelmente permeia o entendimento da maioria das pessoas quando se pensa em quantidade de pessoas com AH/SD. Conforme apontado pelo P13, no fragmento abaixo, o ideário, o imaginário cultivado pelo senso comum é de que, além de serem poucos os superdotados, quando aparecem estão, por exemplo, no programa "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, longe da sua realidade.

P13 e a gente infelizmente não tem encontrado superdotado, a não ser nas entrevistas do Fantástico.

A literatura aponta, conforme os estudos apresentados por Anjos (2011), Barreto e Mettrau (2011), Delou (2001), Freitas e Barrera Pérez (2009) e Guenther (2006b), que, conforme os registros da OMS, 3% a 5% da população apresentam características de AH/SD, e, conforme registrado no início deste trabalho, a título de exemplificação, em cada ano dos cursos de licenciaturas deveria haver, no mínimo, dois estudantes com AH/SD. Valendo-se dos dados estatísticos, esses estudantes estavam presentes na universidade, entretanto, por diversos motivos, não estavam sendo detectados e, consequentemente, nem atendidos em suas necessidades, como se percebe pelas ponderações dos entrevistados:

P5 Se existem não fazem parte do nosso conhecimento, provavelmente, talvez tenha um ou outro, mas não, não, nós não conseguimos identificá-los ou não tenhamos mecanismos ainda.

P10 Ai, é tão difícil essa pergunta. Porque hoje a clientela é mediana, nós não temos superdotados.

Algumas expressões presentes nas declarações dos participantes foram recorrentes, por exemplo, associar a superdotação à facilidade de aprendizagem; a questão da "raridade", são poucos os superdotados e estão longe, ou se tem conhecimento de um ou dois, e mesmo estes estão associados ao "bom aluno"; a universidade, como instituição, parece estar sendo omissa em reconhecer, identificar e atender essa clientela. Estas foram considerações importantes e que denunciaram a fragilidade da área de AH/SD, especialmente nas universidades, o que é ainda mais preocupante, nos cursos de licenciaturas, formadores de novos professores.

Talvez seja a ideia de genialidade que permeie o imaginário dos participantes a responsável por uma visão tão pessimista quanto ao número de alunos com AH/SD e, possivelmente, essa mesma ideia também seja responsável por crenças que geraram a subclasse "Graus de superdotação".

Essa concepção foi encontrada no discurso de três participantes (21,4%), com quatro menções.Entre elas:

P6 Porque teriam vários graus assim né... Se pensar que a média é 100 e esse estaria 150, mas tem quem está, por exemplo, 125.

P7 eu diria que essa superdotação, ela vai vindo de vários graus por assim dizer e talvez quando eu diga que não tive contato com nenhum talvez eu tive contato com muitos, mas que nem tão superdotados assim.

Barrera Pérez (2004, p. 75) entende ser um mito sobre níveis e graus de inteligência considerar, por exemplo, que a pessoa com AH/SD é apenas aquela que tem um QI excepcional. Ela aponta: "os escores nos testes padronizados de QI não são indicadores absolutos de AH/SD pela parcialidade na gama de habilidades avaliadas por esses testes e pelo modelo de homem para o qual foram idealizados".

Acredita-se que haja diferenças singulares e perceptíveis entre as diversas manifestações das habilidades, como também do potencial intelectual, aspecto este que, ainda que muito criticado, é passível de mensuração. Entretanto, há que se considerar que, se fosse levado em conta apenas a graduação pelos testes convencionais de inteligência, provavelmente o potencial para artes, música e liderança ficaria de fora (VIRGOLIM, 2007a, 2007b), o que seria uma grande perda.

Como observado nas subclassesanalisadas, inúmeros são os equívocos e superficiais são as concepções que os participantes apresentaram sobre a temática das AH/SD.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se, com a análise das subclasses formadas a partir das respostas dos docentes da Universidade Estadual de Londrina, que existe muito a ser estudado e divulgado sobre a área das AH/SD, visto que existem várias dissonâncias nas concepções dos docentes investigados.

No que se refere ao objetivo específico de investigar como os docentes percebiam a área de AH/SD, notou-se que a maioria dos participantes (57%) acreditava que os superdotados eram aqueles que possuíam habilidade acima da média em alguma área. Nesse aspecto, a percepção deles condiz com o conceito tomado pelo MEC e adotado neste trabalho. Por outro lado, acreditavam que só podiam ser consideradas pessoas com AH/SD aquelas que apresentavam QI acima da média (42,9%) e eram criativas, articuladoras e com grande habilidade de raciocínio lógico matemático (42,9%).

Por volta de 35% dos participantes afirmaram que o estudante superdotado era aquele que aprendia sozinho, era esforçado. Nesse sentido, vale considerar que, embora haja o comprometimento com a tarefa, que é um indicador sugerido por Renzulli, assegurar que o superdotado aprende sozinho ou com esforços próprios, é negligenciar as características individuais do aluno. Sabe-se que há algumas pessoas com AH/SD que conseguem encontrar meios de sanar suas dúvidas, buscar conhecimentos de modo mais independente, outras, contudo, precisam ser orientadas, desafiadas e acompanhadas nessa busca.

Percebe-se, a partir desses dados numéricos, que os participantes possuíam um conhecimento aquém daquilo que era o esperado. Eles próprios afirmaram que lhes faltava conhecimento sobre as AH/SD (50%). Talvez, em decorrência dessa constatação é que 92,9% dos participantes acreditavam haver uma baixa incidência de pessoas com AH/SD,inclusive,na UEL.

Entende-se que a universidade, por ser um espaço de ensino, pesquisa e extensão, tem possibilidades de levar o estudante com AH/SD ao seu pleno desenvolvimento. E esse estudante, que apresenta necessidade educacional especial deveria usufruir disso de forma consistente.

Notou-se também que prevalece a ideia de que o aluno superdotado teria de ser bom em todas as áreas de conhecimento e que teria capacidade superior somente aquele que possuísse QI excepcional. Como se sabe, esses mitos são irreais e precisam ser superados, pois atrapalham a identificação dos alunos com AH/SD, além de reforçar estereótipos que levam a atitudes preconceituosas contra eles.

Pode-se afirmar, assim, que a percepção dos docentes da UEL, investigados nesta pesquisa, estava diretamente ligada ao conhecimento trazido pelo senso comum e não condizia com o conhecimento científico da área. A ideia do superdotado ser alguém muito diferente, ou somente presente nas histórias de ficção, o deixa muito distante do real, e pelo fato de serem os participantes, docentes dos cursos de licenciaturas, os que formam novos professores, entende-se que eles contribuem para a manutenção desses mitos.

Espera-se que esta pesquisa tenha gerado, nos coordenadores de colegiados dos cursos de licenciaturas, o desejo de olhar de maneira mais atenta para os alunos e, assim, iniciarem um processo de ampliação e divulgação da área de AH/SD, bem como incentivem estudos sobre ela.

Importante lembrar que grande parte das teorias aplicadas neste trabalho é originária de estudos e pesquisas realizadas com crianças e, portanto, há carência de novos fomentos voltados para o adulto com AH/SD.

Compreende-se que este trabalho é uma pequena centelha diante da abrangência do tema e, em hipótese alguma, pode encerrar as discussões aqui apresentadas. Por outro lado, acredita-se ser um passo a mais na conquista de uma educação mais justa para os estudantes com altas habilidades/superdotação que chegam ao ensino superior.

Mediante a carência de estudos na área de AH/SD, supõe-se que seja válido sugerir algumas temáticas para futuras investigações discussões, entre elas: estudos sobre o adulto superdotado; criação de programas de identificação e acompanhamento de estudantes com AH/SD na UEL; a contribuição do ConBRaSD na garantia de que o tema das AH/SD seja abordado nos cursos de licenciaturas; abertura de cursos de licenciatura em Educação Especial, em que o tema de AH/SD pudesse ser tratado em disciplina específica; pesquisas sobre quais os conteúdos de AH/SD poderiam ser tratados nesses cursos de licenciatura, a partir de investigações junto aos estudiosos da área; desenvolvimento de projetos de pesquisas em AH/SD, nas universidades; reaplicabilidade desta pesquisa em outras universidades, tanto no estado do Paraná quanto em outros.

Recebido em: 09/04/2014

Reformulado em: 02/12/2014

Aprovado em: 04/12/2014

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jan 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    09 Abr 2014
  • Aceito
    04 Dez 2014
  • Revisado
    02 Dez 2014
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