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Simpósios, periódicos especializados, cursos de formação contínua...: qual o espaço adequado para a transferência dos resultados de pesquisa em ensino de física para o professor em exercício?

CARTAS AO EDITOR

Simpósios, periódicos especializados, cursos de formação contínua... qual o espaço adequado para a transferência dos resultados de pesquisa em ensino de física para o professor em exercício?

Não há dúvida de que a valorização do docente e de seu trabalho passa, necessariamente, por uma política governamental mais justa e eficiente para o setor da educação, e que apesar de todas as dificuldades um grande esforço tem sido desenvolvido, em física, em nível nacional, para minimizar os problemas que afetam o ensino desta ciência, afirmam Peduzzi et al. [1]. Neste sentido, de acordo com os mencionados autores, os simpósios e reuniões científicas, em âmbito regional e nacional, têm se constituído em importantes fóruns de debate e de trocas de experiências entre professores e pesquisadores. Outros exemplos que atestam a dinâmica das ações na busca de soluções para os problemas da área, que ocorrem com maior ou menor intensidade em vários estados do país, são os cursos de treinamento e aperfeiçoamento de docentes, os Centros de Ciencias, as Feiras de Ciências e projetos que objetivam, entre outras coisas, a produção de materiais instrucionais, a implementação de atividades de laboratório nas escolas e o desenvolvimento de pesquisa, tanto a nível básico como em sala de aula (Ref. [lj).

O espaço adequado, segundo Moreira [2], em nível de pós-graduação stricto senso, para superar os obstáculos na relação pesquisa-prática, e para as transformações necessárias na formação do professor em exercício, não é o mestrado acadêmico, e sim o mestrado profissional. Ele diz que a proposta original do mestrado em ensino (mestrado profissional, mestrado para professores ou mestrado em docência), no Brasil, data de 2001. O mesmo autor esclarece que as terminologias mestrado profissional e mestrado acadêmico são fundamentalmente diferentes, e que em nenhum momento se pretende qualificar os mestrados acadêmicos de não profissionais, pois em ambos os casos, tratam-se de formação profissional e de produção de conhecimento por meio de pesquisa.

Maldaner et al. [3] assinalam que os recursos da comunicação, principalmente aqueles ligados à informática e à mídia televisiva, já permitem que os professores de escola e da própria universidade entrem em contato com as produções realizadas e tenham excelente apoio para a sua formação inicial e continuada. Isso, no entanto, de acordo com os mesmos autores, não acontece de forma satisfatória se levarmos em conta a possível melhora que a pesquisa educacional na área das Ciências da Natureza e suas Tecnologias poderia ter produzido nas salas de aula do Ensino Básico e nas próprias licenciaturas.

Tal dificuldade também parece acontecer com os eventos da área (simpósios, reuniões científicas, congressos, encontros...), periódicos especializados, cursos de formação continuada (extensão, atualização, aperfeiçoamento, especialização, mestrado acadêmico, etc), centros de ciências, feiras de ciências...

Parece que esses "espaços" ainda não tiveram o tempo suficiente para incorporar as informações respaldadas por resultados de pesquisa em ensino de física na prática concreta de sala de aula. A exemplo dos resultados referentes à necessidade e viabilidade da abordagem histórico-filosófica e da inserção de tópicos de física moderna e contemporânea no ensino médio; à importância das concepções espontâneas dos estudantes na reestruturação conceitual; ao melhor rendimento dos estudantes quando têm aulas de laboratório, ou fazem uso das tecnologias de informação e comunicação, em comparação com o seu desempenho com a abordagem tradicional ou quando um dado recurso não é utilizado, etc.

Talvez, com o mestrado em ensino, que visa a aplicação direta de seus resultados no contexto escolar (Ref. [2]), deva ocorrer uma maior atenção para tais resultados de pesquisa e, por consequência, a apropriação desses resultados pelo professor (Ref. [4]).

Não obstante, cabe, mais a frente, investigar a eficácia do mestrado em ensino quanto a relação pesquisa-prática e analisar se esta experiência deverá ser limitada ou generalizada para o ensino de ciências.

Fábio Luís Alves Pena

CEFET-BA, Unidade de Ensino Simões Filho E-mail: fabiopena@ifba.edu.br

  • [1] L.O.Q. Peduzzi, S.S. Peduzzi, B.C.S. Grandi e M.P. Hofmann, Cad. Cat. Ens. Fís. 7, 2 (1990).
  • [2] M.A. Moreira, Rev. Bras. Pós-Grad. 1, 131 (2004).
  • [3] O.A. Maldaner, L.B. Zanon e M.A. Auth, in A pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil e suas metodologias, organizado por F.M.T Santos e I.M. Greca (Editora Unijuí, Ijuí, 2006).
  • [4] F.L.A. Pena e A. Ribeiro Filho, Cad. Bras. Ens. Fís. 25, 3 (2008).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2009
  • Data do Fascículo
    Jun 2009
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