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O trabalho e a saúde do educador físico em academias: uma contradição no cerne da profissão

Work and health of the physical educator in gym: a contradiction at the heart of the profession

Resumos

O esporte e a atividade física no Brasil estão expandindo em número de participantes e em diversificação de atividades. Nesta expansão se inclui o ramo de academias, no qual o Brasil está em quarto lugar no mercado mundial. Embora o Educador Físico (EF) pudesse ser beneficiado por esta expansão, isto não ocorre. E mesmo sendo destacado como agente promotor de saúde e qualidade de vida, são raras as pesquisas acerca de como a saúde e a qualidade de vida do EF são afetadas pela sua atuação profissional e condições de trabalho. O objetivo desta pesquisa foi trazer à evidência científica aspectos da atuação profissional e condições de trabalho do EF atuante em academias de Brasília (DF), sendo utilizada pesquisa descritiva com questionário semiaberto (n = 53). Verificou-se que o vertiginoso crescimento do ramo de academias, inclusive como lócus de trabalho preferencial dos recém-formados, não corresponde a melhores condições de trabalho para os EFs, haja vista a presença de informalidade, precarização, intensificação e flexibilização do trabalho, conduzindo o EF a trabalhar em diversos empregos [EFs possuem em média dois empregos (54,7%), havendo EFs com quatro empregos (9,4%)], gerando desgastes à sua saúde, caracterizando um contrassenso à essência da profissão. Denota-se condições de trabalho nem sempre favoráveis, mas mascaradas pela realização pessoal advinda da escolha vocacional da profissão. Foi verificada baixa conscientização, mobilização e criticidade dos EFs perante esta realidade, embora alguns tenham indicado o desejo de abandono da profissão. É necessário o estabelecimento de uma nova contratualidade.

Educação física; Atuação profissional; Condições de trabalho; Mercado de trabalho; Qualidade de vida no trabalho; Academia de ginástica


Sport and physical activity in Brazil are expanding in number of participants and diversification of activities. This expansion includes the branch of fitness facility, in which Brazil is fourth in the world market. Although the Physical Educator (PE) could be benefited by this expansion, this does not occur. And even being highlighted as a promoter of health and quality of life, there are little research on how the health and quality of life of PE are affected by their professional acting and working conditions. The objective of this research was to bring for scientific evidence some aspects of professional acting and working conditions of PE that work in fitness facility of Brasília (DF), being used descriptive research with semi-open questionnaire (n = 53). It was found that the rapid growth of fitness facility, including these places as the preferred locus to work of newly formed, does not correspond to better working conditions for PEs, due the presence of informality, precariousness, intensification and flexibilization of work, leading PE to work at various jobs [PEs have an average of two jobs (54.7%), and others PEs have 4 jobs (9.4%)], causing wear to your health, a contradiction to the essence of the profession. We denote the working conditions are not always favorable, but masked by the personal fulfillment of the vocational choice of profession. Low awareness, mobilization and criticality of PEs face this reality was verified, although some have indicated a desire to abandon the profession. The establishing a new contractuality is required.

Physical education; Professional acting; Working conditions; Labor market; Quality of the working life; Fitness facility


Introdução

A expansão da área de Educação Física é materializada nas pesquisas de ALVES1Alves JAB. Cenário de tendências gerais dos esportes e atividades físicas no Brasil. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.35-6. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/173.pdf.
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, BOSCHI2Boschi RF. Cenário de tendências de emprego na área de esportes e atividades físicas. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.21-37. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/166.pdf.
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, CAPINUSSÚ3Capinussú JM. Academias de ginástica e condicionamento físico: origens. DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.6.1-6.2. [citado 23 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/145.pdf.
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e DACOSTA4DaCosta LP. Cenário de tendências gerais dos esportes e atividades físicas no Brasil. DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.21.3-21.16. [citado 23 mar 2014]. Disponível em: http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/4013539.pdf.
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, cujos gráficos evidenciam dados surpreendentes sobre aspectos correspondentes a esse crescimento, como o aumento do número de praticantes de esportes e atividades físicas, do número de academias de atividades físicas e de cursos superiores em Educação Física no Brasil. Esse expressivo desenvolvimento reverbera nos locais de atuação profissional do Educador Físicoa a . A denominação “Educador Físico”, embora não seja apropriada, haja vista, a carga semântica que restringe o que realmente é a área de atuação em Educação Física, é utilizada aqui apenas com a finalidade de abarcar os sujeitos atuantes nos locais que compõem o mercado de trabalho da área de Educação Física. A problematização do termo e sua definição são detalhadas no tópico “Definição de Termos Utilizados” e no Capítulo 3 da dissertação de MENDES39. ,5Nascimento JV. Realidade e perspectivas do mercado de trabalho em educação física para o Século XXI. Cad Educ Fis MC Rondon. 2000;2:117-36., como evidencia BERTEVELLO6Bertevello G. Academias de ginástica e condicionamento físico-desenvolvimento. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.6.3-6.4. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://scholar.google.com/scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Academias+de+ginastica+e+condicionamento+fisico+?+Desenvolvimento#1.
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ao destacar que 60 a 70% dos recém-formados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo encontram seu primeiro emprego em academias.

A despeito de tais dados e das numerosas pesquisas e discursos que conclamam o alto valor da prática de atividade física em termos sociais e de saúde, há raros estudos na literatura científicab b . Na revisão bibliográfica feita previamente para este estudo, encontramos 11 estudos sobre o trabalho do EF em academias de atividades físicas. Dos quais: seis16-19, 21,23,25 abordam, especificamente, a relação entre o trabalho do EF e as reverberações deste em sua saúde, e apenas um aborda as condições de trabalho do EF em academias de atividades físicas7. que abordam aspectos concernentes à atuação profissional, às condições de trabalho, e suas respectivas repercussões na saúde do “promotor” desta saúde através da atividade física, o Educador Físico (EF).

Este estudo vem, portanto, com demarcada originalidade, e relevância, ampliar e aprofundar as questões acerca deste tema, infelizmente pouco presente na literatura. A originalidade deste estudo se deve pelo amplo leque de informações possibilitado pelo desenho de pesquisac c . Para mais informações do desenho de pesquisa ver MENDES39. , bem como por ser o primeiro estudo na cidade de Brasília/DF, e o segundo no Brasil a investigar aspectos concernentes a atuação profissional e condições de trabalho até a data de sua conclusão em 2010d d . Este estudo é parte da Dissertação de Mestrado “Atuação profissional e condições de trabalho do educador físico em academias de atividades físicas”39 defendida em 2010 no Programa de Pós Graduação em Educação Física da Faculdade de Educação Física da UnB, tendo a autora sido premiada com Diploma de Honra pela Fédération Internationale D’Education Physique (FIEP) em 2011 e pelo IV Prêmio de Literatura Científica do Colégio Brasileiro de Ciências de Esporte (CBCE) em 2013. - o primeiro estudo publicado foi o de NOGUEIRA7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. em 2006.

A ocupação profissional, de modo geral, tem se instituído de uma contradição entre o sofrimento e o prazer7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006.-8Mendes AM, Morrone CF. Vivências do prazer-sofrimento e saúde psíquica no trabalho: trajetória conceitual e empírica. In: Medes AM, Borges LO, Ferreira MC, editores. Trabalho em transição, saúde em risco. Brasília: UnB; 2002. p.25-42.. É o que se observa ao analisar o quadro do mercado de trabalho na área de academias de atividades físicas, no atinente ao discurso dos Educadores Físicos (EFs), onde identificamos sua satisfação pessoal com o trabalho simultaneamente a queixas referentes às suas condições de trabalho, e o recorrente uso da expressão “correria” em referência ao volume de trabalho a que se submetem, trabalhando em vários locais, nem sempre com o devido contrato trabalhista legal, devido à desvalorização a que são submetidos.

Sua atuação profissional, pulverizada em diferentes empregos, parece deixá-los cansados e assoberbados de afazeres (ministrar e preparar aulas; deslocamentos em direção aos diferentes empregos; desgaste físico; etc.) gerando déficit de tempo para capacitar-se, para o lazer, autocuidado com a saúde, convívio em família, dedicação a projetos pessoais, entre outros, conduzindo-os assim a comprometer sua qualidade de vida bem como a qualidade de seu trabalho, o que por si só, produz uma contradição quanto à sua profissão, visto que degradam sua saúde em seu trabalho de zelar pela saúde de outros. Deduz-se desta conjuntura que este mercado de trabalho para o EF, embora em crescimento, poderia ser considerado não promissor, o que leva muitas vezes ao abandono da profissão. Este desgaste, proveniente do excesso de horas e da intensificação do esforço físico e mental no trabalho, pode gerar a ocorrência de agravos à saúde.

Portanto, o presente estudo, buscou trazer à evidência científica, dados acerca das condições de trabalho e de atuação profissional dos EFs atuantes em academias de atividades físicas de Brasília (DF).

Esta pesquisa se institui importante principalmente em tempos em que se argumenta sobre o trabalho decente9Dejours C. A banalização da injustiça social. 7a ed. Monardim LA, tradutor. Rio de Janeiro: FGV; 2008. e a qualidade de vida no trabalho1010 CEPAL. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Organização Internacional do Trabalho (OIT). Emprego, desenvolvimento humano e trabalho decente: a experiência brasileira recente [Internet]. Brasília: CEPAL/PNUD/OIT; 2008. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://scholar.google.com/scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Emprego,+Desenvolvimento+Humano+e+Trabalho+Decente:+A+Experiencia+Brasileira+Recente#0.
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. Tendo em vista a expansão deste setor e a reestruturação produtiva do mundo do trabalho, tal questionamento é primordial àqueles que têm a Educação Física como profissão. Ao contrário de todo o glamour que cerca a profissão, que remete a ideias de juventude, diversão e vigor físico, há a realidade cotidiana de um trabalhador, passível de estudo e análise. Assim, esta pesquisa surge em meio a mudanças no mundo do trabalho como um questionamento acerca da valoração e do futuro da profissão do EF.

Método

Este estudo é classificado como uma pesquisa do tipo descritiva, cujo objetivo é a descrição das características de determinada população ou fenômeno, as quais são obtidas utilizando-se técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistêmica1111 Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4a ed. São Paulo: Makron Books; 1996.

12 Thomas JR, Nelson JK. Métodos de pesquisa em atividade física. 3a ed. Petersen R, et al., tradutores. Porto Alegre: Artmed; 2002.

13 Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas; 2002.
-1414 Günther H. Como elaborar um questionário. In: Pasquali L, editor. Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. Brasília: LabPAM/IBAPP; 1999..

Para substanciar este trabalho, foi realizada pesquisa bibliográfica no Portal de Periódicos e no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, no acervo da Biblioteca Central da Universidade de Brasília e nos sítios eletrônicos de revistas da área de Educação Física. Na pesquisa feita em diversas bases de dados, não foi delimitado período de publicação e foram utilizados os seguintes termos-chave: Educação Física; Professor de Educação Física; Profissional de Educação Física; Educador Físico; academia; atividade física; academias de atividades físicas; mercado; trabalho; mercado de trabalho; relações trabalhistas; contrato de trabalho; condições de trabalho; atuação; atuação profissional.

A pesquisa realizada não forneceu muitos resultados, embora tenha sido criado um padrão de busca tido como abrangente. Observou-se que não há unicidade nos termos-chave utilizados nas pesquisas. Os resultados foram analisados, restando como pertinente a este estudo um total de 11 pesquisas publicadas. Das quais somente setee e . São eles: NOGUEIRA7; PALMA16; PALMA e ASSIS17; PALMA et al.18-19,23,25; MILANO et al.21. eram pertinentes ao escopo deste estudo, por abordarem aspectos concernentes a condições de trabalho e atuação profissional do educador físico em academias de atividade física.

A partir do problema e do referencial encontrado, determinou-se o método utilizado neste estudo, o qual exigiu a construção de um questionário para coleta de dados de EFs atuantes em academias de atividades físicas da cidade de Brasília/DF. O questionário totalizou 59 questões, as quais eram em sua quase totalidade objetivas. Algumas das informações solicitadas no questionário foram: perfil do EF (sexo, idade, formação profissional e complementar, motivos de escolha da profissão, experiência profissional, quantidade de empregos, entre outros), aspectos concernentes a condições de trabalho (tipo de contrato de trabalho, carga horária de trabalho, remuneração, entre outras) e atuação profissional (funções desempenhadas na academia, trabalho aos finais de semana, horário de descanso, entre outras), prática de atividade física, percepção de reconhecimento e valoração de sua profissão por outros, conhecimento da legislação trabalhista, filiação ao conselho profissional e ao sindicato, satisfação e pretensões profissionais. Os questionários aplicados foram analisados no “software” Sphinx Plus2, versão 5.1.0.2, sendo utilizada estatística descritiva com cálculos de média (M) e desvio-padrão (DP).

Do universo de 432 academias registradas no Conselho Regional de Educação Física (CREF - 7ª Região), foram delimitadas quatro, por sua grande representatividade social em Brasília/DF e por serem representantes da época em que foram fundadas, distribuindo-se nas décadas de 70 a 2000 - classificadas como Média Empresa e Grande Empresa conforme BERTEVELLO1515 Bertevello G. Academias de ginástica e condicionamento físico: sindicatos & associações. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.6.5-6.6. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/146.pdf.
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. As academias foram contatadas com cartas de apresentação da universidade e do conselho profissional, o que facilitou a entrada em campo. Foram convidados a participar da pesquisa todos os Educadores Físicos atuantes nas áreas de ginástica, musculação e natação em cada academia. A amostra foi composta de 52 Educadores Físicos, e não houve recusa na participação. A coleta de dados foi realizada entre 2 de dezembro de 2009 e 5 de janeiro de 2010.

Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (CEP/FS/UnB), sendo aprovada sob o Registro Nº 128/2009. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, ficando com cópia do mesmo, o qual continha os dados da autora da pesquisa e do CEP/FS/UnB.

No tópico Resultados e Discussão, apresentamos os principais resultados da revisão de literatura, seguido dos dados da pesquisa de campo, de modo a estabelecer um diálogo entre ambos, haja vista a pertinente relação, finalizando com uma análise específica do tema central, ou seja, a contradição encontrada no cerne da profissão.

Resultados e discussão

A pesquisa bibliográfica permitiu encontrar estudos sobre o EF em academias com foco em aspectos como formação, inserção no mercado de trabalho, atuação profissional, condições de trabalho, e saúde. Os estudos encontrados e seus resultados são apresentados a seguir, e se tornaram referenciais para o delineamento da pesquisa executada neste estudo.

PALMA1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9. tendo o EF como profissional de saúde e exemplo de “boa saúde” no imaginário social, promoveu uma investigação sobre os hábitos relacionados ao trabalho de EFs para verificar se sua condição condiz com tal imaginário. Dentre os dados, é digno de destaque: a) 29,73% são sedentários; b) a média de horas de trabalho semanal foi de 48,6 h; c) o valor médio de esforço físico no trabalho pela Escala de Borg foi de 14,02; d) 51,35% reportaram dor relacionada à ocupação; e) 16,02% apresentaram transtornos psíquicos; f) 16,22% levavam até 1 h para almoçar; g) 18,92% fizeram uso de aceleradores metabólicos e suplementos alimentares para diminuir a fadiga, dar aporte ao gasto calórico e fins estéticos.

PALMA e ASSIS1717 Palma A, Assis M. Uso de esteróides anabólico-androgênicos e aceleradores metabólicos entre professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Cienc Esporte. 2005;27:75-92. Disponível em: http://rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/135.
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identificaram o quantitativo de EFs, atuantes em academias, usuários de esteróides anabólico-androgênicos (EAA) e aceleradores metabólicos (AM), bem como, as razões que os conduzem a fazer uso de tais substâncias. Investigaram 305 EFs, e o levantamento permitiu observar que: a) 38,69% já fez uso de AM na vida; b) 25,57% de EAA; c) 17,38% das duas drogas; d) enquanto, 53,44% nunca fez uso dessas drogas na vida. Embora não se tenha uma base comparativa, pode-se perceber que os valores parecem elevados. Entre as justificativas havia: angariar um corpo necessário à atividade profissional, seja enquanto cartão de visita e comprovante de competência profissional, seja para aumentar o desempenho e reduzir o desgaste físico necessários à atuação em suas aulas.

PALMA et al.1818 Palma A, Abreu RA, Cunha CA. Comportamentos de risco e vulnerabilidade entre estudantes de educação física. Rev Bras Epidemiol. 2007;10:117-26. verificaram entre 448 estudantes de Educação Física, que: a) 19,2% fazem ou já fizeram uso de EAA, e do total de estudantes que já trabalhavam na área; b) 39,4% relataram dores associadas à ocupação profissional.

PALMA et al.1919 Palma A, Azevedo APG, Ribeiro SSM, Santos TF, Nogueira LNSF. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com atividades aquáticas. Arq Mov. 2006;2:81-100., com o intuito de identificar a relação entre o processo de trabalho e a saúde de EFs que atuam em academia com atividades aquáticas, aplicaram questionário a 184 EFs. Destacaram que estes profissionais estão mais expostos às agressões provenientes deste ambiente (rinites alérgicas, candidíase, câncer de pele, etc.). Dentre os que atuam em atividades aquáticas: a) 41,30% trabalham acima de 45,1 horas por semana; e b) 52,7% apresentaram queixa de dores, a qual foi explicada por fatores biomecânicos envolvidos nas tarefas profissionais - elevada permanência na posição de pé, postura inadequada, repetitividade da tarefa, constante utilização de esforço físicoh h . Para mais informações ver SANDMARK A, WIKTORIN C, HOGSTEDT C, et al. Physical work load in physical education teachers. Appl Ergon. 1999;30:435-42 e SANDMARK A. Musculoskeletal dysfunction in physical education teachers. Occup Environ Med. 2000;10:673-77, citados por PALMA et al.19. . Contudo, os autores ressaltam que o EF frequentemente trabalha em mais de um local, por este motivo as características encontradas podem não refletir as condições de um só posto de trabalho1919 Palma A, Azevedo APG, Ribeiro SSM, Santos TF, Nogueira LNSF. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com atividades aquáticas. Arq Mov. 2006;2:81-100..

ESPIRITO-SANTO e MOURÃO2020 Espírito-Santo G, Mourão L. A auto-representação da saúde dos professores de educação física. Rev Bras Cienc Esporte. 2006;27:39-55. identificaram que os EFs trabalharam em média 50,7 horas por semana. A maior parte do salário era vinculada ao serviço prestado de “personal trainer”, relação de trabalho na qual o EF fica à margem dos benefícios sociais assegurados pela legislação trabalhista. “As mega-academias justificam o baixo valor de hora/aula com o argumento de que ao entrar na academia o profissional terá possibilidade de conseguir muitos alunos como personal trainer2020 Espírito-Santo G, Mourão L. A auto-representação da saúde dos professores de educação física. Rev Bras Cienc Esporte. 2006;27:39-55.. Na realidade os EFs acabam se sujeitando a trabalhar um elevado número de horas para conseguir um salário digno, o que interfere em sua saúde e em seu estilo de vida. As autoras concluem que a saúde dos EFs está a serviço do trabalho, o que por si só é uma contradição para um profissional que atua na promoção da saúde de outros.

NOGUEIRA7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. objetivou, em sua tese, examinar a qualidade de vida no trabalho (QVT) de 103 EFs atuantes em nove academias localizadas em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) classificadas como médias, grandes e mega empresas1515 Bertevello G. Academias de ginástica e condicionamento físico: sindicatos & associações. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.6.5-6.6. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/146.pdf.
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, características semelhantes as estabelecidas como critérios para seleção das academias pesquisadas neste estudo. É importante ressaltar que NOGUEIRA pesquisou academias dirigidas por profissionais de Educação Física, e o autor era, à época do estudo, gestor e docente no segmento de academias há mais de duas décadas7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.167). Como resultado geral 87,37% dos professores entrevistados classificaram suas academias como bons e até mesmo excelentes lugares para se trabalhar. É preciso olhar este resultado com moderação, pois esta visão de conjunto distorce e simula o contexto real. Analisando separadamente cada categoria identifica-se: 1) diferenças de sexismo; 2) ocorrência de modelos de gestão por produção, os quais geram estresse e instabilidade entre os profissionais; 3) 60% dos professores não possuíam outro vínculo empregatício, contudo, apenas 33% tinham sua CTPS assinada sobre o total de vencimentos, 47,6% tinham a CTPS assinada sobre parte do valor total de vencimentos e 19,4% relataram trabalhar sem assinatura da CTPS; 4) foram encontradas diferentes formas de pagamento, por hora-aula, por número de aulas ministradas no mês, por número de alunos, ou pelo regime de quatro semanas e meiai i . Estabelecido na CLT artigo nº 320, cabível aos professores e não aos instrutores. Diferenciação esta que é feita no SESC por exemplo, entre Educadores Físicos que atuam nas escolas SESC e nos clubes SESC. ; 5) ausência de pagamento sobre o repouso semanal; entre outros. O autor menciona que os EFs chegam à condição de quase diaristas da indústria inglesa os “journeymen”7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.189). Portanto, a despeito do resultado geral positivo, são retratados aspectos negativos em relação a: perspectiva sobre a carreira profissional7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.201); estabilidade no emprego7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.202); confiança nos dirigentes da academia7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.202); condições de trabalho7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.205); estímulo e investimento para capacitação profissional7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.210); reconhecimento social por parte de alunos, dirigentes e colegas7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.212); intervalo entre as aulas7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.215); abertura para diálogo com os dirigentes da academia7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006. (p.216).

MILANO et al.2121 Milano FM, Palma A, Assis M. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com ciclismo indoor. Lect Educ Fis Deportes. 2007;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e-trabalho-dos-professores-de-educacao-fisica-que-atuam-com-ciclismo-indoor.htm.
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investigaram a relação entre o trabalho e a saúde dos EFs que atuam com aulas de ciclismo “indoor” em academias do Rio de Janeiro. A média de horas semanais trabalhadas foi de 35,76 h, sendo encontrados valores de até 83 horas semanais. A percepção do desgaste revelou queixa de dores (n = 35; 48,61%) com um valor médio de 13,99 para escala de Borg. Verificou-se que uma grande parte dos trabalhadores tinha até 6 h de sono por noite. De MILANO et al.2121 Milano FM, Palma A, Assis M. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com ciclismo indoor. Lect Educ Fis Deportes. 2007;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e-trabalho-dos-professores-de-educacao-fisica-que-atuam-com-ciclismo-indoor.htm.
http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e...
, a restrição de horas de sono para uma duração média diária de 4,5 horas, acumulada ao longo da semana, pode provocar prejuízos ao desempenho, fadiga, confusão e aumento na probabilidade de ocorrência de acidentes de trabalho. Do total de EFs investigados, a grande maioria eram jovens2121 Milano FM, Palma A, Assis M. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com ciclismo indoor. Lect Educ Fis Deportes. 2007;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e-trabalho-dos-professores-de-educacao-fisica-que-atuam-com-ciclismo-indoor.htm.
http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e...
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BENEDETTI e OURIQUES2222 Benedetti TB, Ouriques R. Análise ergonômica do trabalho de professores de ginástica em academias. Lect Educ Fis Deportes. 2007;11. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd106/analise-ergonomica-do-trabalho-de-professores-de-ginastica-em-academias.htm.
http://www.efdeportes.com/efd106/analise...
pesquisaram EFs atuantes em aulas de ginástica em academia, os quais apresentam problemas relativos à saúde, como “perda de voz”, distúrbios emocionais, entre outros. Através de uma entrevista informal, observação direta da situação de trabalho, e medidas dos níveis de pressão sonora do ambiente, observaram que apenas 14% das academias trabalhava dentro dos limites de sons e ruídos estabelecidos pelas normas do Ministério do Trabalho. Os EFs ministram em média 42 aulas por semana, com escala de rodízio aos sábados. A academia adota o sistema BTSk k . Sistema de aulas padronizadas com utilização de música e coreografia específicas, divulgadas pela empresa Les Mills. , e os autores ressaltam que este tem a particularidade de ser desgastante, e afirmam que na Europa e na América do Norte são ministradas em média três aulas de BTS por dia. Constataram que os EFs sentem cansaço físico e mental, desgaste vocal, irritação e agressividade. Apesar disto, a maioria dos EFs foi enfática em dizer-se feliz profissionalmente, embora descontente com o salário. Os EFs relataram que a academia não fornece roupas, calçados e cursos de reciclagem. Os autores concluíram que a falta de adequação no ambiente de trabalho e a questão econômica podem dificultar o desempenho dos EFs.

PALMA et al.2323 Palma A, Jardim S, Luiz RR, Silva Filho JF. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cad IPUB UFRJ. 2007;13:11-30. investigaram um fato que circunda o EF no imaginário social, sua imagem como um indivíduo imune aos problemas de saúde, disposto a exercícios físicos, representando o ideal de corpo saudável. As academias de ginástica, espaços marcados pela mercantilização do corpo atlético são o palco principal dessa representação e, assim, a inserção e a manutenção do EF neste mercado de trabalho vêm atravessadas pela exigência desse padrão, o qual paradoxalmente repercute de forma prejudicial sobre a saúde desses profissionais. Dentre o total de EFs investigados a maioria era de jovens do sexo masculino e mais da metade destes possuía mais de um emprego, além de ter elevada quantidade de horas trabalhadas - em média 42 h semanais, sendo que 34,2% ultrapassaram 50 horas semanais, havendo valores de até 78 h semanais. Quanto a escolaridade, mais da metade dos EFs possui especialização. O tempo destinado ao almoço foi considerado precário pelos autores, sendo de 31 min a 1h30min para 82% dos entrevistados. O hábito de realizar exercícios físicos, contudo, não esteve ameaçado, havendo elevada taxa de adesão. O valor médio para o esforço físico percebido no trabalho é “pouco intenso”, o que pode representar uma intensidade entre 40 a 60% ou o limiar anaeróbio em indivíduos não treinados. Essas exigências provêm da necessidade de realizar as aulas junto aos alunos, transportar pesos (caneleiras, halteres, anilhas, barras, etc.) para os alunos ou mesmo para arrumar a sala, além da necessidade de realizar, nos alunos, exercícios de alongamentos, fontes mais referidas para as queixas de dor. Dentre as variáveis independentes que apresentaram forte associação com o adoecimento, figurando possíveis fatores de risco temos: o ciclismo indoor, associado ao relato de doenças em 37,5% dos professores; a realização de horas extras, onde aqueles que fazem horas extras mostram-se mais propensos à ocorrência de doenças; e poucas horas de sono. Foi verificado que, ao menos uma vez, 32,2% dos professores usaram drogas com base em efedrina com o objetivo de suportar o esforço físico e para emagrecer, 20,1% relataram uso de EAA para aumentar a massa muscular2323 Palma A, Jardim S, Luiz RR, Silva Filho JF. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cad IPUB UFRJ. 2007;13:11-30..

KRUG et al.2424 Krug RR, Damásio W, Conceição VJS, Krug HN. Perfil dos profissionais de educação física que atuam em academias de musculação na região central da cidade de Criciúma-SC. Bol Educ Fis. 2009. Disponível em: www.boletimef.org/biblioteca/2175/artigo/boletimef.org_perfil-dos-profissionais-de-educacao-fisica-em-academias-de-musculacao.pdf.
www.boletimef.org/biblioteca/2175/artigo...
tencionaram conhecer o perfil do profissional de Educação Física que atua na área de musculação em 10 grandes academias da região central da cidade de Criciúma/SC. Dentre os que reportaram insatisfação profissional, 55,5% alegaram a baixa remuneração como motivo de desistência da profissão, e 33,3% apontaram a desvalorização profissional como motivo de desistência.

PALMA et al.2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51., investigaram a associação entre o nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física durante as aulas de ciclismo “indoor”. Observou-se que o tempo médio de trabalho foi de 30,5 horas/semana, sendo o tempo médio de trabalho com ciclismo “indoor” de 10,7 horas/semana e com atividades que requeriam a utilização de música foram 23,3 horas/semana. Quanto aos valores de pressão sonora, em qualquer situação os valores médios encontraram-se distribuídos em maior número em faixas consideradas insalubres. Houve poucas diferenças entre os níveis de ruído e o porte das academias. Os problemas relacionados à garganta (53,3%) e à audição (26,7%) ou no ouvido estiveram entre os mais reportados. Em relação à organização e ao processo de trabalho dos professores, apenas três (20,0%) utilizavam o microfone para proteção das cordas vocais e nenhum deles utilizava protetores auriculares. Os profissionais relataram que nunca foram fornecidos aparelhos pela academia. As salas eram construídas de materiais não adequados para absorção do som. Os profissionais trabalhavam, em suas aulas, com valores médios próximos de 90 dB(A), considerando o fato de que o profissional pode atuar em mais de uma aula por dia, concluem que o EF está atuando em um ambiente insalubre, e apontam outras investigações1Alves JAB. Cenário de tendências gerais dos esportes e atividades físicas no Brasil. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.35-6. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/173.pdf.
http://www.atlasesportebrasil.org.br/tex...
semelhantes2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51.. PALMA et al.2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51. alertam que a pressão sonora tem sido associada ao risco de desenvolver hipertensão arterial2323 Palma A, Jardim S, Luiz RR, Silva Filho JF. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cad IPUB UFRJ. 2007;13:11-30., além de influenciar negativamente o sono, provocar alterações gástricas e repercutir sobre a visão e a concentração.

Após análise dos estudos encontrados, focamos este estudo nas categorias Trabalho e Saúde de modo a agrupar aspectos atinentes à práxis do Educador Físico na(s) academia(s) de atividades físicas, relacionados à sua atuação profissional e condições de trabalho, e as reverberações destes em sua saúde. Destarte, procedemos à coleta de dados junto aos EFs atuantes em academias de atividades física na cidade de Brasília/DF. A pesquisa empírica executada neste estudo, cujos resultados são apresentados a seguir, será simultaneamente dialogada com os dados encontrados na pesquisa bibliográfica.

O questionário elaborado exclusivamente para esta pesquisa buscavam m . A pesquisa empírica aqui relatada foi parte de um amplo estudo, fruto da dissertação de mestrado de MENDES39. abranger aspectos que descrevessem basicamente: 1) a carga total de trabalho do EF - quantos empregos possui, quantas horas trabalha por semana, que funções executa, quanto tempo leva para se deslocar entre os empregos; 2) e seu investimento em autocuidado com a saúde, prática de atividade física e qualidade de vida; 3) sua percepção quanto a valoraçãon n . Valoração é o ato ou efeito de valorar, de determinar a qualidade ou o valor de algo; é o juízo crítico avaliativo expresso por alguém sobre algo. de sua profissão e suas pretensões profissionais.

A amostra foi composta de 52 Educadores Físicos graduados no curso superior de Educação Física - a maioria em instituição privada - e um Educador Físico provisionado, com predominância do sexo masculino em todas as academias (ver TABELA 8), sendo 36 homens e 17 mulheres com idade média e desvio-padrão de 31 anos ± 7,48 anos. A maior parte da amostra se concentrou na faixa etária de 26 a 30 anos.

TABELA 8
Mapeamento das academias pesquisadas: tipo de contrato de trabalho; % de EFs por sexo; tempo médio de contrato de trabalho.

É interessante observar, que, como esperado, a escolha da profissão se dá, em geral por gosto pessoal, escolha, realização pessoal (ver TABELA 1). O que possivelmente justifica a satisfação deste profissional a despeito de suas condições de trabalho, não só em academias como também em escolas2626 Soriano JB, Winterstein PJ. Satisfação no trabalho do professor de Educação Física. Rev Paul Educ Física. 1998;12:145-59..

TABELA 1
Motivos que determinaram a escolha pela profissão, apresentados em ordem decrescente de marcação.

Outro dado relevante de caracterização da amostra é que muitos começaram a atuar profissionalmente mesmo antes de concluir sua formação (TABELA 2). Quando se compara o ano de início da atuação ao ano de formação, parece haver uma entrada no mercado de trabalho anterior à formação, visto que foi pedido ao EF que considerasse sua entrada no mercado de trabalho na área, ainda que em forma de estágio. Tal fato é positivo quando se pensa na aquisição de experiência por parte do EF. Entretanto, muitas vezes, encontram-se EFs em formação atuando como profissionais e não como estagiários.

TABELA 2
Ano em que começou a atuar na área de Educação Física e ano em que se formou (n = 52) ou ano em que obteve a chancela de provisionado (n = 1) pelo conselho profissional.

Em relação ao número de empregos por EF nossos dados corroboram o encontrado nas pesquisas de DELGADO2727 Delgado MA. Ocupação do mercado de trabalho em educação física na cidade de Campinas, devido a formação profissional [dissertação]. Campinas(SP): Universidade Estadual de Campinas; 1999. p.81. e PALMA et al.2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51., ao evidenciar que a maioria dos EF possui mais de um emprego. Nos resultados desta pesquisa a maioria possui dois empregos (81,1%), e alguns (9,4%) chegam a ter até a ter quatro empregos (ver TABELA 3). Ao verificar os motivos referentes à quantidade de empregos foi possível observar, que as justificativas em sua maioria se resumem a fatores de renda (ver TABELA 4).

TABELA 3
Quantidade de empregos do EF.

TABELA 4
Motivos apontados para explicar a quantidade de empregos do EF.

A média da carga horária na academia pesquisada (Emprego 1) foi de 20 h semanais, sendo a mínima de 5 h semanais e máxima de mais de 40 h semanais (ver TABELA 5). A carga horária, quando observada isoladamente por cada emprego, parece baixa, entretanto, quando se somam as cargas horárias de todos os empregos esses profissionais perfazem uma elevada carga horária.

TABELA 5
Carga horária respectiva a quantidade de empregos do EF.

Em relação aos deslocamentos entre os empregos, houve baixa taxa de resposta, com tempo variando entre 20 a 40 minutos.

Quando solicitado ao EF que apontasse quais funções exercia na academia, isto é, que atribuições possuía, e, consequentemente, o que o empregador lhe requeria em relação à sua atuação profissional, notou-se pelas respostas que eles estão sujeitos aos instrumentos de intensificação e flexibilização do trabalho estudados por DAL ROSSO2828 Dal Rosso S. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo; 2006., quais sejam “Polivalência, Versatilidade e Flexibilidade”, “Ritmo e Velocidade”, “Acúmulo de atividades”, e “Gestão por resultados”. Embora tenha ocorrido um número pequeno de marcações, nota-se pela não abstenção dos itens, que os EFs se identificam com múltiplas funções na academia (ver TABELA 6). Ainda, ao serem indagados se eram remunerados por comparecerem a reuniões de trabalho, 92,5% reportaram que não (ver TABELA 7).

TABELA 6
Funções exercidas pelo EF na academia.

TABELA 7
Hora-extra, trabalho nos fins de semana, folga semanal, e remuneração em reuniões de trabalho do EF.

Analisando por academia, pode-se notar que não há uma uniformidade contratual (ver TABELA 8 e 9). Uma explicação possível é o fato de que algumas modalidades, principalmente as da categoria ginástica, além de serem ofertadas esporadicamente na academia, exigem um profissional que domine sua técnica específica, com isto, as academias realizam um contrato de tempo parcial, cuja carga horária é inferior à 25 h semanais. Surpreendentemente, observa-se a predominância de Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada sobre o valor total pago, sendo o maior valor percentual o encontrado na academia representante da/e fundada na década de 2000. Contudo, pelo tempo de contrato de trabalho denota-se rotatividade.

TABELA 9
Remuneração do EF.

O Salário Médio referente ao Emprego 2 se mostrou elevado em relação aos demais, neste sentido, é importante lembrar, que para maioria dos EFs a atuação como personal trainer ocupa invariavelmente o segundo lugar, sendo em geral, sua ocupação em seu Emprego 2.

Apesar dos aspectos relacionados ao seu trabalho, o EF avalia que possui uma boa qualidade de vida e um bom investimento em autocuidado com a saúde, sendo ativo fisicamente (ver TABELA 10).

TABELA 10
Opinião do EF.

Os dados da pesquisa evidenciam que o EF demonstra gostar de sua profissão (TABELA 1), mas se sente desvalorizado e insatisfeito ao mesmo tempo com o reconhecimento dado a si (TABELA 12), e quanto a valoração de sua profissão (vide TABELA 11 e 12), tanto que 18,9% pretendem abandonar a profissão (TABELA 13). Em relação às suas pretensões profissionais, foi admirável encontrar respostas dos EFs que demonstraram que não se preocupam com este aspecto (22,6%), este índice revela ou uma baixa conscientização, mobilização e criticidade dos Educadores Físicos perante esta realidade, ou uma indiferença, ligada ao fato de haver muitos EFs em início de carreira como já verificado. Tal questão é aprofundada adiante, após as tabelas.

TABELA 12
Nível de satisfação do EF.

TABELA 11
Opinião do EF.

TABELA 13
Pretensões profissionais do EF.

As pesquisas sobre as condições de trabalho do Educador Físico possuem um fator que mascara os resultados de algumas pesquisas, a realização pessoal advinda da escolha da profissão1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9.,2929 Santos GE, Silvestrini J, Silva VR. Comparação entre o perfil do profissional de academia de musculação e o perfil do profissional da Educação Física escolar. Lect Educ Fis Deportes. 2008;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd116/perfil-do-profissional-da-educacao-fisica.htm.
http://www.efdeportes.com/efd116/perfil-...
. Os resultados de NOGUEIRA7Nogueira LNSF. Qualidade de vida no trabalho do professor de educação [tese]. Rio de Janeiro(RJ): Universidade Gama Filho; 2006., única pesquisa semelhante a está em análise e magnitude, quando visto sob seu aspecto macro, mostram que o Educador Físico possui boas condições de trabalho e está satisfeito com elas, entretanto, quando se analisa cada categoria investigada o resultado não corresponde ao resultado macro encontrado. Exatamente como encontramos (ver TABELAS 11,12 e 13). Tais constatações nos colocam diante de um interessante caso de investigação no campo da saúde do trabalhador, pois, de um lado, pode-se encontrar um profissional que experimenta o prazer na realização de suas atividades laborativas, que tem satisfação no que faz, e, por outro, é possível encontrar uma série de queixas relacionadas à saúde1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9.

17 Palma A, Assis M. Uso de esteróides anabólico-androgênicos e aceleradores metabólicos entre professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Cienc Esporte. 2005;27:75-92. Disponível em: http://rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/135.
http://rbceonline.org.br/revista/index.p...

18 Palma A, Abreu RA, Cunha CA. Comportamentos de risco e vulnerabilidade entre estudantes de educação física. Rev Bras Epidemiol. 2007;10:117-26.
-1919 Palma A, Azevedo APG, Ribeiro SSM, Santos TF, Nogueira LNSF. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com atividades aquáticas. Arq Mov. 2006;2:81-100.,2121 Milano FM, Palma A, Assis M. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com ciclismo indoor. Lect Educ Fis Deportes. 2007;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e-trabalho-dos-professores-de-educacao-fisica-que-atuam-com-ciclismo-indoor.htm.
http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e...
,2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51. e aspectos de realização e satisfação profissional1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9.

17 Palma A, Assis M. Uso de esteróides anabólico-androgênicos e aceleradores metabólicos entre professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Cienc Esporte. 2005;27:75-92. Disponível em: http://rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/135.
http://rbceonline.org.br/revista/index.p...

18 Palma A, Abreu RA, Cunha CA. Comportamentos de risco e vulnerabilidade entre estudantes de educação física. Rev Bras Epidemiol. 2007;10:117-26.

19 Palma A, Azevedo APG, Ribeiro SSM, Santos TF, Nogueira LNSF. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com atividades aquáticas. Arq Mov. 2006;2:81-100.
-2020 Espírito-Santo G, Mourão L. A auto-representação da saúde dos professores de educação física. Rev Bras Cienc Esporte. 2006;27:39-55.,2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51., mesmo em estudantes de Educação Física2323 Palma A, Jardim S, Luiz RR, Silva Filho JF. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cad IPUB UFRJ. 2007;13:11-30..

O que se vê em realidade são Educadores Físicos “em vulnerabilidade”1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9., à mercê de condições de trabalho que os colocam no cerne de uma contradição materializada na pessoa do próprio Educador Físico, instaurando um paradoxo em que ao cuidar da “saúde e qualidade de vida” de outrem submete a sua “saúde e qualidade de vida” a condições insalubres constituídas por condicionantes de seu trabalho precarizado. Faltam informação e integração da categoria profissional para que se mobilizem quanto a sua formação e colocação no mercado de trabalho, não só no atinente a atender às demandas de mercado, mas também para que tenham condições de propor uma troca justa pela sua mão-de-obra. Que lutem por uma regulação e por uma regulamentação devida do trabalho do Educador Físico.

Os EFs agem como se estivessem à parte de toda situação no mercado de trabalho, quando não estão, como evidencia ALVES e TAVARES3030 Alves MA, Tavares MA. A dupla face da informalidade do trabalho: “autonomia” ou precarização? In: Antunes R, editor. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo; 2006. p.425-44.:

[...], o trabalhador está subordinado às determinações do capital, mesmo que disso não tenha consciência. [...] O mercado é o ponto para o qual todos convergem e no qual todas as pseudo-autonomias se dissolvem. Por mais independente que o indivíduo imagine ser, o produto do seu trabalho terá, em algum momento, de se confrontar com outros, no mercado, onde cada troca imprime a presença da mais-valia, expressando, portanto, a oposição do capital à capacidade viva de trabalho (p.441).

É necessária mudança quanto à postura dos EFs. Notamos nos EFs uma atitude que HOBSBAWM3131 Hobsbawm E. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras; 1995. v.2. caracteriza como “presentificação”, onde os jovens “crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem” (p.13), e a partir desta perspectiva não têm consciência suficiente do passado que os possibilite construir o futuro, já que é nítido o fato de que o EF atuante em academias - um ramo em extenso crescimento e aporte econômico - tem prazo de validade no mercado de academias, e parece não pensar em fazer algo para mudar esta realidade. Ao invés de assumir posição de refém de leis associadas à economia e aos seus imperativos de crescimento3131 Hobsbawm E. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras; 1995. v.2., que defendem as formas de exploração falaciosamente como oportunidades de crescimento econômico e de uma nova sociabilidade3030 Alves MA, Tavares MA. A dupla face da informalidade do trabalho: “autonomia” ou precarização? In: Antunes R, editor. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo; 2006. p.425-44., o EF tem de se posicionar como sujeito de sua realidade.

Embora seja constantemente referenciado como importante agente promotor de saúde e qualidade de vida, o Educador Físico em função de sua atuação profissional e condições de trabalho em academias de atividades físicas tem sua saúde prejudicada. O que se caracteriza como uma contradição no cerne de sua profissão, visto que é um profissional da área de saúde que degrada sua saúde, por meio de suas condições de trabalho e atuação profissional, ao zelar pela saúde de outrem.

As pesquisas evidenciam aspectos indicadores de precarização, flexibilização e intensificação do trabalho2828 Dal Rosso S. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo; 2006.,3030 Alves MA, Tavares MA. A dupla face da informalidade do trabalho: “autonomia” ou precarização? In: Antunes R, editor. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo; 2006. p.425-44.,3232 Telles VS. Pobreza e cidadania: precariedade e condições de vida. In: Martins HHTS, Ramalho Junior, editores. Terceirização: diversidade e negociação no mundo do trabalho. São Paulo: Hucitec CEDI/NETS; 1994.

33 Antunes R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo; 1999.

34 Galeazzi I. Precarização do trabalho. In: Cattani AD, Holzmann L, editores. Dicionário de trabalho e tecnologia. 2a ed. Porto Alegre: UFRGS; 2006. p.203-7.

35 Verenguer RCG. Mercado de trabalho em educação fisica: significado da intervenção profissional à luz das relações de trabalho e da construção da carreira [dissertação]. Campinas(SP): Universidade Estadual de Campinas; 2003.

36 Holzmann L, Piccinini V. Flexibilização do trabalho. In: Cattani AD, Holzmann L, editores. Dicionário de trabalho e tecnologia. 2a ed. Porto Alegre: UFRGS; 2006. p.131-3.

37 Tosta TLD. Antigas e novas formas de precarização do trabalho : o avanço da flexibilização entre profissionais de alta escolaridade [dissertação]. Brasília(DF): Universidade de Brasília; 2008.
-3838 Kallenberg AL. O crescimento do trabalho precário: um desafio global. Rev Bras Ci Soc. 2009 [citado 21 ago 2013];24:21-30. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v24n69/02.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v24n69/0...
.

Na revisão bibliográfica, identificamos pesquisas que relacionam o adoecimento e a atuação profissional do EF em academias1616 Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade? II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física, Esporte e Lazer; 2003; Rio de Janeiro, BR. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho; 2003. p.21-9.

17 Palma A, Assis M. Uso de esteróides anabólico-androgênicos e aceleradores metabólicos entre professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Cienc Esporte. 2005;27:75-92. Disponível em: http://rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/135.
http://rbceonline.org.br/revista/index.p...

18 Palma A, Abreu RA, Cunha CA. Comportamentos de risco e vulnerabilidade entre estudantes de educação física. Rev Bras Epidemiol. 2007;10:117-26.
-1919 Palma A, Azevedo APG, Ribeiro SSM, Santos TF, Nogueira LNSF. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com atividades aquáticas. Arq Mov. 2006;2:81-100.,2121 Milano FM, Palma A, Assis M. Saúde e trabalho dos professores de educação física que atuam com ciclismo indoor. Lect Educ Fis Deportes. 2007;12. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e-trabalho-dos-professores-de-educacao-fisica-que-atuam-com-ciclismo-indoor.htm.
http://www.efdeportes.com/efd109/saude-e...
,2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51., trazendo a necessidade de uma maior conscientização dos profissionais acerca dos aspectos patológicos associados ao seu trabalho em academias, com a finalidade de contribuir para a promoção da saúde e prevenção do adoecimento dos EFs, além de ressaltar “a responsabilidade dos empregadores pela adoção de medidas de proteção à saúde dos trabalhadores”2323 Palma A, Jardim S, Luiz RR, Silva Filho JF. Trabalho e saúde: o caso dos professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Cad IPUB UFRJ. 2007;13:11-30..

No atinente a relação de trabalho estabelecida entre Educadores Físicos e academias, ela precisa ser rediscutida e re-significada, para tanto é preciso união dos profissionais para constituição de um sindicato que resguarde a valoração de sua profissão e lhes proteja e das insalubres condições de trabalho, de modo que possam se libertar do ciclo vicioso, tal como tratado por PALMA et al.2525 Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev Saude Publica. 2009;43:345-51.- “o professor parece estar preso à uma situação que a própria cultura do ‘fitness’ criou e deixou se solidificar” (p.350) - o qual traça exigências sobre-humanas sobre o profissional.

A quantidade de estudos leva a crer que as pesquisas sobre mercado de trabalho em Educação Física não têm dado foco específico aos locais de atuação profissional em expansão e às questões que emergem destes, urgindo, portanto, a necessidade de se formular tais questões de forma científica3333 Antunes R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo; 1999.. Infelizmente esta realidade não é prerrogativa do EF, é uma reverberação de mudanças no mundo do trabalho3434 Galeazzi I. Precarização do trabalho. In: Cattani AD, Holzmann L, editores. Dicionário de trabalho e tecnologia. 2a ed. Porto Alegre: UFRGS; 2006. p.203-7., na qual uma boa qualificação profissional não é garantia de um trabalho decente, haja vista as alterações na legislação trabalhista permitidas pelo poder público brasileiro.

Referências

  • 1
    Alves JAB. Cenário de tendências gerais dos esportes e atividades físicas no Brasil. In: DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.35-6. [citado 21 ago 2013]. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/173.pdf.
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  • 2
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    DaCosta LP. Cenário de tendências gerais dos esportes e atividades físicas no Brasil. DaCosta LP, editor. Atlas do esporte no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. p.21.3-21.16. [citado 23 mar 2014]. Disponível em: http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/4013539.pdf.
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    Mendes AD. Atuação profissional e condições de trabalho do educador físico em academias de atividades físicas [dissertação]. Brasília(DF): Universidade de Brasilia; 2010.
  • CDD. 20.ed. 306.361 796
  • a
    . A denominação “Educador Físico”, embora não seja apropriada, haja vista, a carga semântica que restringe o que realmente é a área de atuação em Educação Física, é utilizada aqui apenas com a finalidade de abarcar os sujeitos atuantes nos locais que compõem o mercado de trabalho da área de Educação Física. A problematização do termo e sua definição são detalhadas no tópico “Definição de Termos Utilizados” e no Capítulo 3 da dissertação de MENDES39.
  • b
    . Na revisão bibliográfica feita previamente para este estudo, encontramos 11 estudos sobre o trabalho do EF em academias de atividades físicas. Dos quais: seis16-19, 21,23,25 abordam, especificamente, a relação entre o trabalho do EF e as reverberações deste em sua saúde, e apenas um aborda as condições de trabalho do EF em academias de atividades físicas7.
  • c
    . Para mais informações do desenho de pesquisa ver MENDES39.
  • d
    . Este estudo é parte da Dissertação de Mestrado “Atuação profissional e condições de trabalho do educador físico em academias de atividades físicas”39 defendida em 2010 no Programa de Pós Graduação em Educação Física da Faculdade de Educação Física da UnB, tendo a autora sido premiada com Diploma de Honra pela Fédération Internationale D’Education Physique (FIEP) em 2011 e pelo IV Prêmio de Literatura Científica do Colégio Brasileiro de Ciências de Esporte (CBCE) em 2013.
  • e
    . São eles: NOGUEIRA7; PALMA16; PALMA e ASSIS17; PALMA et al.18-19,23,25; MILANO et al.21.
  • f
    . Este estudo é parte da dissertação de MENDES39, no qual o questionário utilizado pode ser visto na íntegra.
  • g
    . Como em PALMA et al.18,23.
  • h
    . Para mais informações ver SANDMARK A, WIKTORIN C, HOGSTEDT C, et al. Physical work load in physical education teachers. Appl Ergon. 1999;30:435-42 e SANDMARK A. Musculoskeletal dysfunction in physical education teachers. Occup Environ Med. 2000;10:673-77, citados por PALMA et al.19.
  • i
    . Estabelecido na CLT artigo nº 320, cabível aos professores e não aos instrutores. Diferenciação esta que é feita no SESC por exemplo, entre Educadores Físicos que atuam nas escolas SESC e nos clubes SESC.
  • j
    . Na obra de NOGUEIRA7, este termo refere-se mais à condições de infraestrutura do local de trabalho.
  • k
    . Sistema de aulas padronizadas com utilização de música e coreografia específicas, divulgadas pela empresa Les Mills.
  • l
    . Ver LACERDA et al., 2001; MIRBOD et al., 1994; DEUS e DUARTE, 1997 citados por PALMA et al.25.
  • m
    . A pesquisa empírica aqui relatada foi parte de um amplo estudo, fruto da dissertação de mestrado de MENDES39.
  • n
    . Valoração é o ato ou efeito de valorar, de determinar a qualidade ou o valor de algo; é o juízo crítico avaliativo expresso por alguém sobre algo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2013
  • Revisado
    31 Ago 2013
  • Revisado
    23 Mar 2014
  • Revisado
    16 Jun 2014
  • Aceito
    02 Jul 2014
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