A formação médica adequada atualmente é um componente estratégico da Reforma Sanitária brasileira. O aprimoramento do modelo assistencial em direção a uma prática assistencial em saúde humanizada e competente, em grande medida, irá depender da plena implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação em Medicina. A Revista Brasileira de Educação Médica, neste número, vem mais uma vez oferecer sua contribuição à reflexão sobre premissas e projetos voltados para o aperfeiçoamento da Educação Médica.
Mas os assuntos não interessam apenas à formação em medicina. É interessante notar como, no contexto de criação do Fórum Nacional de Educação das Profissões da Saúde (FNEPAS), que congrega várias associações de ensino em saúde, a temática selecionada pela REBEM inclui e ao mesmo tempo extrapola a problemática das escolas de medicina, abrangendo assuntos de interesse potencial para atores sociais envolvidos com outros cursos. Os temas que compõem o presente número incluem Integralidade, Produção Científica, Estresse e Depressão dos Estudantes, Sensibilidade Ética e Necessidades Sociais de Saúde. Esses temas estão também na agenda do FNEPAS, onde a ABEM tem assento na Secretaria Executiva.
O desafio do trabalho em equipe aproxima os componentes do aparelho formador, tuna vez que, como nos lembra Vergara22. Vergara SC. Gestão de pessoas. 2a ed., São Paulo: Atlas, 2000., "um conjunto de pessoas trabalhando juntas é apenas um conjunto de pessoas. Para que se tome uma equipe, é preciso que haja um elemento de identidade, elemento de natureza simbólica, que una as pessoas".
Na literatura, a abordagem "estritamente técnica" da equipe multiprofissional a trata como "dada", como se, para sua existência, bastasse a presença de diferentes carreiras atuando no mesmo serviço. Em estudo qualitativo em quatro tipos de serviços de saúde, Peduzzi11. Peduzzi M. Equipe multiprofissional em saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública, 2001; 35(1): 103-9. analisou os diversos tipos de equipe, na perspectiva dos envolvidos. Com a premissa de que a divisão técnica do tralho supõe um grau de complementaridade e interdependência, entende que o trabalho implica uma dimensão instrumental e uma dimensão estratégica, não podendo se reduzir à primeira, numa visão dialética da relação entre estrutura organizacional e sujeitos. Empiricamente, Peduzzi observou duas perspectivas sobre o trabalhoe em equipe:
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Equipe agrupamento: caracteriza-se pela justaposição de ações dos agentes;
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Equipe integração: os agentes identificam e correlacionam as conexões entre as deferentes intervenções executadas.
A atuação da equipe do tipo integração "requer a articulação das ações, a interação comunicativa dos agentes e a superação do isolamento dos saberes". A flexibilização da divisão técnica e social do trabalho não exclui a especificidade de cada trabalho especializado, mas significa a "coexistência das ações privativas das respectivas áreas profissionais e ações que são executadas indistintamente por agentes e diferentes campos de atuação", como, por exemplo, as ações de identificação das necessidades locais de saúde, recepção, acolhimento e grupos educativos, que articulam saberes provenientes de distintos campos.
A atual complexificação do debate sobre recursos humanos e trabalho em equipe de saúde apresenta à REBEM o desafio de prover permanentemente elementos para a reflexão e, ao mesmo tempo, permite uma seleção cada vez mais qualificada dos trabalhos, submetidos cm número crescente. Quando aproveita para oferecer elementos úteis ao campo da saúde, a REee1demonstra sua sensibilidade para o debate e exercício da tolerância com a diferença, num momento político onde, cada vez mais, o trabalho em equipe é o pilar da boa atenção à saúde de individuos e coletividade.
REFERÊNCIAS
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1Peduzzi M. Equipe multiprofissional em saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública, 2001; 35(1): 103-9.
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2Vergara SC. Gestão de pessoas. 2a ed., São Paulo: Atlas, 2000.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Abr 2020 -
Data do Fascículo
May-Aug 2005