Adaptação Transcultural e Validação das Propriedades Psicométricas do Instrumento Nutrition in Patient Care Survey (Nips) no Brasil

Sleumer, Juliana Peres; Campos, Ângelo Ponte de Freitas; Machado, Felipe Anastácio da Silva; Moura, Eliane Perlatto

doi:10.1590/1981-52712015v43n4RB20180224

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Revista Brasileira de Educação Médica

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. bras. educ. med. 43 (4) • Oct-Dec 2019 • https://doi.org/10.1590/1981-52712015v43n4RB20180224 copiar

Adaptação Transcultural e Validação das Propriedades Psicométricas do Instrumento Nutrition in Patient Care Survey (Nips) no Brasil

Cross Cultural Adaptation and Validation of Psychometric Properties of the Instrument Nutrition in Patient Care Survey (Nips) in Brazil

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Introdução

O hábito nutricional inadequado é considerado importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). O médico tem importante papel na modificação e melhoria do comportamento nutricional de seus pacientes e consequente melhoria da saúde. Neste contexto, é necessário mensurar, mediante instrumentos confiáveis, a atitude de estudantes e médicos sobre nutrição no atendimento a pacientes, para subsidiar intervenções educacionais que impactarão a prática clínica.

Objetivo

Traduzir, adaptar culturalmente e validar o instrumento Nutrition in Patient Care Survey (Nips), que avalia atitudes no cuidado nutricional na prática clínica, para ser utilizado na população de língua portuguesa falada no Brasil.

Metodologia

A versão original Nips em inglês inicialmente foi traduzida para a língua portuguesa e submetida a uma adaptação transcultural do vocabulário e da construção linguística. Esta versão foi retraduzida para o inglês. O questionário foi então aplicado para pré-teste em 30 estudantes de Medicina, com o intuito de eliminar dúvidas quanto à compreensão das perguntas. A versão final do instrumento adaptado foi aplicada a 400 estudantes de Medicina. Foi realizada a análise de confiabilidade e de validade, utilizando-se análise fatorial exploratória pelo método de extração de componentes principais e rotação Varimax

Resultado

Quatrocentos estudantes responderam a todas as perguntas do Nips e foram incluídos na análise. Após análise fatorial, foi definida a estrutura final da escala, que passou a ter 37 itens, em formato Likert de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), divididos em dez fatores, diferentemente do observado na escala original, que apresenta cinco fatores. A consistência interna (alfa de Cronbach) para os dez fatores estudados foi superior a 0,60 na maioria deles, e o alfa de Cronbach geral foi superior a 0,50. Na análise de validade do construto, a maioria dos coeficientes de correlação se mostrou significativa (valores p < 0,005). Com essa estrutura, a escala proposta apresentou consistência interna entendida como favorável, explicando 58,93% das atitudes dos alunos em relação ao cuidado nutricional na assistência ao paciente.

Conclusão

A versão em português do instrumento Nips, após o processo de adaptação, mostrou-se útil e adequada para levantar informações relativas à atitude dos estudantes de Medicina no cuidado nutricional do paciente.

Questionário; Ciências da Nutrição; Atitudes e Prática em Saúde; Educação Médica

Parâmetros de adequacidade	Valores ideais	Valores observados no estudo
KMO (MSA total)	≥ 0,60	0,854
Teste de esfericidade de Bartlett (p)	< 0,05	< 0,0001
MSA (questões individuais)	≥ 0,50	0,601 a 0,941
Comunalidade	≥ 0,50	0,482 a 0,789
Alfa de Cronbach – fatores	≥ 0,50	0,24 a 0,78
Autovalores dos fatores	> 1,00	1,39 a 10,41
Total da variância explicada – oito fatores (%)	≥ 50%	58,93%
Carga fatorial das questões	> 0,35	0,453 a 0,873

Questões/fatores	Cargas fatoriais										h2	MSA	Média (dp)

	F1	F2	F3	F4	F5	F6	F7	F8	F9	F10
1. Cuidado preventivo de saúde é chato. (INV)										0,71	0,631	0,795	1,9 (1,1)
2. Aconselhamento nutricional deve ser parte do atendimento de rotina de qualquer médico, independentemente da especialidade.			0,78								0,631	0,761	3,8 (1,0)
3. Avaliação nutricional e aconselhamento deveriam ser incluídos em qualquer consulta, assim como diagnóstico e tratamento.			0,79								0,663	0,781	3,5 (1,0)
4. Eu farei uso efetivo do meu tempo profissional com aconselhamento nutricional.			0,64								0,513	0,870	3,5 (0,9)
5. O médico isoladamente tem pouco impacto na capacidade do paciente para perder peso. (INV)										0,55	0,542	0,645	2,4 (1,2)
6. Eu tenho a obrigação de melhorar a saúde dos meus pacientes, inclusive discutindo nutrição com eles.									0,76		0,679	0,811	4,1 (0,7)
7. Todos os médicos, independentemente da especialidade, devem aconselhar pacientes de alto risco sobre mudanças alimentares.									0,74		0,624	0,841	4,4 (0,8)
8. Não vale a pena gastar tempo com aconselhamento nutricional se os pacientes têm padrão precário de nutrição. (INV)							0,68				0,589	0,833	1,4 (0,7)
10. É importante que eu fale da importância da dieta toda vez que eu cuidar de um paciente.			0,69								0,539	0,832	3,8 (0,9)
13. É importante que eu avalie o peso de cada paciente de acordo com as diretrizes de identificação, avaliação e tratamento do sobrepeso e obesidade em adultos, da OMS.		0,69									0,625	0,911	4,2 (0,7)
14. É importante que eu avalie a ingestão de vitaminas, minerais e suplementos dietéticos de cada paciente.		0,75									0,691	0,893	3,9 (0,9)
15. É importante que eu aconselhe pacientes em relação ao uso de suplementos e que chame a atenção quando são contraindicados.		0,56									0,529	0,922	4,0 (0,8)
16. É importante que eu encaminhe pacientes com problemas relacionados à dieta a nutricionistas ou outros profissionais qualificados	0,65										0,561	0,831	4,5 (0,6)
17. É importante que eu, sempre que possível, recomende mudanças na alimentação antes de iniciar tratamentos farmacológicos.							0,48				0,565	0,898	4,1 (0,8)
18. É importante que eu avalie a ingestão de gordura, fibra, fruta e vegetais de cada paciente, como estratégia preventiva.		0,66									0,668	0,902	4,1 (0,8)
19. É importante que eu solicite que os pacientes tragam um inventário alimentar ou que eu faça uma nova avaliação alimentar toda vez que o paciente vier para uma consulta de rotina.		0,46									0,530	0,835	2,8 (0,9)
20. É importante que eu encoraje pacientes a perguntar sobre suas dúvidas relacionadas à sua alimentação e encaminhá-los para assistência adicional quando possível.	0,52										0,496	0,906	4,2 (0,7)
21. É importante que eu avalie a ingestão alcoólica dos pacientes como parte de sua avaliação nutricional global.							0,49				0,509	0,940	4,3 (0,7)
22. É importante que eu avalie a intenção de mudança de cada paciente antes de iniciar intervenção nutricional.							0,55				0,529	0,901	4,2 (0,7)
23. É importante que eu avalie a ingestão de sódio, potássio e cálcio na dieta, especialmente em pacientes com risco de hipertensão, osteoporose ou derrame.	0,46	0,48									0,561	0,900	4,4 (0,6)
24. É importante que eu encaminhe pacientes diabéticos para aconselhamento nutricional específico.	0,62										0,520	0,840	4,5 (0,7)
25. É importante que eu defenda o equilíbrio entre nutrição e exercícios para promover controle de peso	0,55										0,552	0,918	4,5 (0,6)
28. É importante que eu avalie a capacidade do meu paciente de entender a tabela nutricional presente na etiqueta dos alimentos.	0,54										0,509	0,917	4,3 (0,7)
29. A motivação do paciente é essencial para obter mudanças alimentares.	0,64										0,571	0,877	4,6 (0,6)
30. A maioria dos pacientes obesos quer perder peso, mas eles se sentem frustrados e confusos em relação a como fazê-lo.								0,76			0,667	0,749	4,0 (0,9)
31. Pacientes precisam de alternativas saborosas para conseguir mudar seu padrão alimentar.								0,68			0,574	0,739	3,5 (1,1)
32. Uma mudança visando a um estilo de vida mais saudável é importante em qualquer fase da vida.	0,61										0,555	0,941	4,5 (0,6)
34. Pacientes precisam de instruções específicas de como mudar seus hábitos alimentares.						0,75					0,653	0,876	4,1 (0,8)
35. Aconselhamento específico sobre como fazer mudanças na alimentação pode ajudar alguns pacientes a melhorar seus hábitos alimentares.	0,50					0,45					0,567	0,902	4,4 (0,6)
36. Pacientes precisam de um aconselhamento contínuo após as instruções iniciais para que eles mantenham as mudanças de comportamento consistentes com uma dieta mais saudável.						0,73					0,669	0,836	4,0 (0,8)
37. Pacientes não são motivados a mudar a não ser que estejam doentes.					0,78						0,634	0,693	2,7 (1,1)
38. Pacientes só mudarão seus hábitos alimentares se estiverem enfrentando um grave problema de saúde, como, por exemplo um infarto.					0,87						0,789	0,601	2,5 (1,1)
39. Pacientes raramente mudarão seu comportamento se não têm sintomas de alguma doença.					0,81						0,672	0,643	2,9 (1,1)
40. A maioria dos pacientes mudaria seu estilo de vida caso fosse aconselhada por profissionais da saúde.				0,59							0,482	0,740	3,3 (0,9)
43. Após receber aconselhamento nutricional, pacientes com maus hábitos alimentares farão uma mudança significativa no seu comportamento alimentar.				0,74							0,575	0,714	3,0 (0,9)
44. Os meus esforços na educação dos meus pacientes serão efetivos em aumentar a adesão dos mesmos às recomendações nutricionais.				0,61							0,503	0,867	3,8 (0,7)
45. Após receber aconselhamento nutricional, pacientes com maus hábitos alimentares farão alguma mudança nos seus hábitos alimentares.				0,77							0,642	0,724	3,6 (0,8)
Alfa de Cronbach	0,78	0,78	0,72	0,66	0,78	0,71	0,62	0,51	0,55	0,24
% variância explicada	10,41	7,66	6,60	6,12	5,96	5,16	4,74	4,28	4,18	3,76
Autovalor	3,86	2,84	2,44	2,27	2,21	1,91	1,76	1,58	1,55	1,40
Total variância explicada	58,93%

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[1] ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA. Eliane Perlatto Moura, Rua Tomé de Souza 1322 apto 1201 Funcionários – Belo Horizonte – MG – CEP: 30140130 E-mail: elianeperlatto@gmail.com

Cuidado nutricional preventivo	1	2	3	4	5
1. É importante que eu encaminhe pacientes com problemas relacionados à dieta a nutricionistas ou outro profissional qualificado.	□	□	□	□	□
2. É importante que eu encoraje pacientes a perguntar sobre suas dúvidas relacionadas à sua alimentação e encaminhá-los para assistência adicional quando possível.	□	□	□	□	□
3. É importante que eu encaminhe pacientes diabéticos para aconselhamento nutricional específico.	□	□	□	□	□
4. É importante que eu defenda o equilíbrio entre nutrição e exercícios para promover controle de peso.	□	□	□	□	□
5. É importante que eu auxilie pacientes pediátricos a estabelecer hábitos alimentares saudáveis precocemente para prevenir o risco de doenças crônicas.	□	□	□	□	□
6. A motivação do paciente é essencial para obter mudanças alimentares.	□	□	□	□	□
7. Uma mudança visando a um estilo de vida mais saudável é importante em qualquer fase da vida.	□	□	□	□	□
Cuidado nutricional investigativo	1	2	3	4	5
8. É importante que eu avalie o peso de cada paciente de acordo com as diretrizes de identificação, avaliação e tratamento do sobrepeso e obesidade em adultos, da OMS.	□	□	□	□	□
9. É importante que eu avalie a ingestão de vitaminas, minerais e suplementos dietéticos de cada paciente.	□	□	□	□	□
10. É importante que eu aconselhe pacientes em relação ao uso de suplementos e que chame a atenção quando são contraindicados.	□	□	□	□	□
11. É importante que eu avalie a ingestão de gordura, fibra, fruta e vegetais de cada paciente, como estratégia preventiva.	□	□	□	□	□
12. É importante que eu solicite que os pacientes tragam um inventário alimentar ou que eu faça uma nova avaliação alimentar toda vez que o paciente vier para uma consulta de rotina.	□	□	□	□	□
13. É importante que eu avalie a ingestão de sódio, potássio e cálcio na dieta, especialmente em pacientes com risco de hipertensão, osteoporose ou derrame.	□	□	□	□	□
Aconselhamento nutricional na prática clínica	1	2	3	4	5
14. Aconselhamento nutricional deve ser parte do atendimento de rotina de qualquer médico, independentemente da especialidade.	□	□	□	□	□
15. Avaliação nutricional e aconselhamento deveriam ser incluídos em qualquer consulta, assim como diagnóstico e tratamento.	□	□	□	□	□
16. Eu farei uso efetivo do meu tempo profissional com aconselhamento nutricional.	□	□	□	□	□
17. É importante que eu fale da importância da dieta toda vez que eu cuidar de um paciente.	□	□	□	□	□
Comportamento do paciente	1	2	3	4	5
18. A maioria dos pacientes mudaria seu estilo de vida caso fosse aconselhada por profissionais da saúde.	□	□	□	□	□
19. Após receber aconselhamento nutricional, pacientes com maus hábitos alimentares farão uma mudança significativa no seu comportamento alimentar.	□	□	□	□	□
20. Os meus esforços na educação dos meus pacientes serão efetivos em aumentar a adesão dos mesmos às recomendações nutricionais.	□	□	□	□	□
21. Após receber aconselhamento nutricional, pacientes com maus hábitos alimentares farão alguma mudança nos seus hábitos alimentares.	□	□	□	□	□
Motivação do paciente	1	2	3	4	5
22. Pacientes não são motivados a mudar a não ser que estejam doentes.	□	□	□	□	□
23. Pacientes só mudarão seus hábitos alimentares se estiverem enfrentando um grave problema de saúde, como, por exemplo, um infarto.	□	□	□	□	□
24. Pacientes raramente mudarão seu comportamento se não têm sintomas de alguma doença.	□	□	□	□	□
Aconselhamento específico	1	2	3	4	5
25. Pacientes precisam de instruções específicas de como mudar seus hábitos alimentares.	□	□	□	□	□
26. Aconselhamento específico sobre como fazer mudanças na alimentação pode ajudar alguns pacientes a melhorar seus hábitos alimentares.	□	□	□	□	□
27. Pacientes precisam de um aconselhamento contínuo após as instruções iniciais para que eles mantenham as mudanças de comportamento consistentes com uma dieta mais saudável.	□	□	□	□	□
Relação médico-paciente	1	2	3	4	5
28. Não vale a pena gastar tempo com aconselhamento nutricional se os pacientes têm padrão precário de nutrição.	□	□	□	□	□
29. É importante que eu, sempre que possível, recomende mudanças na alimentação antes de iniciar tratamentos farmacológicos.	□	□	□	□	□
30. É importante que eu avalie a ingestão alcoólica dos pacientes como parte de sua avaliação nutricional global.	□	□	□	□	□
31. É importante que eu avalie a intenção de mudança de cada paciente antes de iniciar intervenção nutricional.	□	□	□	□	□
Adesão do paciente	1	2	3	4	5
32. A maioria dos pacientes obesos quer perder peso, mas eles se sentem frustrados e confusos em relação a como fazê-lo.	□	□	□	□	□
33. Pacientes precisam de alternativas saborosas para conseguir mudar seu padrão alimentar.	□	□	□	□	□
Conduta médica	1	2	3	4	5
34. Eu tenho a obrigação de melhorar a saúde dos meus pacientes, inclusive discutindo nutrição com eles.	□	□	□	□	□
35. Todos os médicos, independentemente da especialidade, devem aconselhar pacientes de alto risco sobre mudanças alimentares.	□	□	□	□	□
Dificuldades no cuidado nutricional	1	2	3	4	5
36. Cuidado preventivo de saúde é chato.	□	□	□	□	□
37. O médico isoladamente tem pouco impacto na capacidade do paciente para perder peso.	□	□	□	□	□