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Performance do Valor

Resumo:

O texto apresenta as noções de performance e valor como categorias que se consolidaram no imaginário social contemporâneo e que subordinam a maioria das relações humanas, sejam elas artísticas, mercantis, de amizades, éticas ou amorosas. Questiona-se como o processo de valorização se manifesta através da noção de performance ao mesmo tempo que a performance se tornou uma categoria e uma ferramenta de medida do valor. Assim, o artigo questiona as crises cíclicas do capitalismo neoliberal sob os efeitos da sua desmedida, a hubris grega, e também questiona a substância e a forma do valor que são, ao mesmo tempo, subordinadas às referências econômicas e aos comportamentos sociais apoiados nos paradigmas do direito. Finalmente, o texto pergunta se é possível, para além da forma - afformance ou paraformance - desarmar os mecanismos da performance do valor.

Palavras-chave:
Teoria do Valor; Performance; Crítica Artística; Economia da Arte; Dispositivos Performativos

Résumé:

Le texte présente les notions de performance et de valeur comme des catégories qui se sont consolidées dans l’imaginaire social contemporain et qui asservissent la plupart des rapports humains, qu’ils soient artistiques, marchands, amicaux, éthiques ou amoureux. Il questionne comment le processus de valorisation se manifeste à travers la notion de performance en même temps que la performance est devenue une catégorie et un outil de mesure de la valeur. Ainsi, l’article questionne les crises cycliques du capitalisme néolibéral sous les effets de sa démesure, l’hubris grecque, ainsi que la substance et la forme de la valeur qui sont à la fois subordonnées aux références économiques et aux comportements sociaux appuyés par les paradigmes du droit. Finalement le texte se demande si allant au-delà de la forme - afformance ou paraformance - il est possible de déjouer les mécanismes de performance de la valeur.

Mots-clés:
Théorie de la Valeur; Performance; Critique Artistique; Économie de l’Art; Dispositifs Performatifs

Abstract:

The text presents the notions of performance and value as categories which have consolidated themselves in the contemporary social imagination and which subjugate most human relationships, whether artistic, merchant, friendly, ethical or loving. It questions how the valuation process manifests itself through the notion of performance at the same time that performance has become a category and a tool for measuring value. Thus, the article questions the cyclical crises of neo-liberal capitalism under the effects of its excess, Greek hubris, as well as on the substance and form of value that are both subordinated to economic references and social behaviors supported by the paradigms of law. Finally the text explores whether going beyond the form - afformance or paraformance - it is possible to thwart the mechanisms of performance of the value.

Keywords:
Theory of Value; Performance; Artistic Criticism; Economics of Art; Performing Apparatus

Introdução

Por um lado, os indivíduos alienam suas relações sociais sob a forma de objeto. Pela formação de um equivalente geral, a troca das atividades dos produtos e a relação mútua dos indivíduos se apresentam à eles como uma coisa (Goux, 2000GOUX, Jean-Joseph. Frivolité de la Valeur: essai sur l’imaginaire du capitalisme. Paris: Blusson, 2000., p. 305)20 20 Nota do tradutor: na versão em francês “D’une part les individus aliènent leurs relations sociales sous forme d’objet. Par la formation d’un équivalent général, l’échange des activités des produits et le rapport mutuel des individus se présentent à eux comme une chose”. .

Sob o prisma crítico de Marx, pode-se dizer que o valor é uma espécie de alma do capitalismo. As relações sociais estariam sujeitas e dependentes desse princípio. Todas as nossas ações, nossas produções e nossas relações contêm uma dupla relação de dependência com as diferentes formas de valor. Tudo o que é produzido a partir de interação humana pode assumir uma forma de valor, portanto, pode ser expresso em forma monetária ou como capital. O trabalho (tempo e força), o dinheiro (circulação e meios) e a mercadoria (conteúdo e matéria) são as principais formas de valor. Ele é a expressão do capital, uma linguagem pela qual nos comunicamos. Esta linguagem ou esta expressão do capital aparece através de um mercado virtual, estético ou linguístico, um lugar onde nos perguntamos sobre nossas próprias subjetividades. Mas, nesse mesmo mercado, nossas subjetividades são ordenadas sob o princípio de equivalência geral. O que o ouro era para a moeda, a subjetividade era para a arte. Existe um movimento de valorização na completude do desejo e da utilidade. Assim, toda atividade humana, de uma forma simbolicamente frívola ou seriamente consequente, converge para sua expressão monetária. Mas por quê? Como? Marx explica-nos que a força e a preeminência do trabalho abstrato estão acima de toda intenção social comumente e livremente desejada. Trabalhar por dinheiro, transformando qualquer coisa em mercadoria e calcular o tempo trabalhado ao custo de uma taxa de produtividade, tudo isso requer comparações, cálculos, medições, etc. Hoje, a performance do valor é um sistema de legitimação do processo de valorização através da dominação do campo e da forma da ação. Ações formadas nos campos estéticos, econômicos ou esportivos. O valor é regido por um princípio de relação e a performance por um movimento de atravessar formas com uma intensidade, per-formance21 21 Per-, par-: do latin por [per-], através, de um lado para o outro, por meio de. Note-se que este prefixo pode ter muitos outros significados e, em particular, o de superlativo, ou seja, que ele reforça o sentido do que se segue (Mazurier, 2008). Você também pode consultar per- na página WEB do CNRTL - Centro Nacional de Recursos Textuais e Lexicais (2012a, online). . Mas a mercadoria não é parte de uma suprarrealidade, ela é o resultado de um movimento de ação formal, uma realidade performativa do valor. A proeza, a eficiência e a formação do valor, denotam a performance, então, como analisá-la dialeticamente?

Crítica da Performance

Para demonstrar os padrões do valor, não podemos apenas criticar seu modo de aparição, mas também seu movimento, isto é, sua performance. O valor, ou a forma-valor, está intrinsecamente ligado à lógica da performance. Nas economias contemporâneas, é a performance que impulsiona os movimentos do valor. A performance, em muitos aspectos, é a condição sine qua non da valorização do valor no presente sistema social capitalista. Os aspectos estéticos, econômicos, esportivos e políticos da performance fazem parte dessa configuração do movimento do valor. Trata-se de um processo de informação e de formação, é uma maneira de percorrer e de cruzar a forma. Portanto, a crítica radical do valor também é uma crítica da performance.

Vamos nos concentrar na performance do valor e não no valor da performance. Há, evidentemente, um movimento duplo que se reflete nas formas atuais, especialmente no campo artístico. Mas, veremos como a crítica do valor em geral significa a crítica da crise em particular.

Arte, Mercadoria, Dinheiro e Trabalho

Arte, mercadoria, dinheiro e trabalho são configurações da performance do valor. Eles são os mensageiros do apocalipse, cavalgando entre duas épocas, o iluminismo e o capitalismo da era digital. Essas quatro configurações desenvolveram-se e tornaram-se elementos necessários para o capitalismo nascente dos séculos XVII e XVIII. O aspecto quantitativo do valor é limitado pelo tempo e pela exaustão física do trabalhador, isto é, pela sua sobrevivência e pelo gasto de seus músculos, nervos e cérebro22 22 N. do T.: na versão em francês “Em primeiro lugar, de fato, tão variados quanto possam ser os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são, acima de tudo, funções do organismo humano, e que qualquer função desse tipo, seja qual for o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente um gasto do cérebro, nervos, músculos, órgãos, sentidos, etc., do homem” (Karl Marx, 2017, O Capital; Livro 1: O Desenvolvimento da Produção Capitalista; 1ª seção: mercadoria e dinheiro; Capítulo I: A Mercadoria; IV: O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo). . Os limites da performance estão intrinsecamente ligados à uma força abstrata que serve de medida e de referência. A arte introduz o morador da cidade aos desafios da abstração e o subjetivismo é parte disso. Assim, o morador da cidade torna-se capaz de compreender as novas funções do dinheiro, a irrupção dos bancos e os processos de mercantilização dos bens, entre outros. Podemos ver as relações entre arte e dinheiro no século XIX nos estudos de Jean-Joseph Goux (2000GOUX, Jean-Joseph. Frivolité de la Valeur: essai sur l’imaginaire du capitalisme. Paris: Blusson, 2000.; 2011GOUX, Jean-Joseph. L’Art et l’Argent: la rupture moderniste. 1860-1920. Paris: Blusson , 2011.).

As guerras e as crises tornam-se mecanismos das performances do capitalismo mundial. Tudo se fundindo em um dispositivo de valorização constante que se traduz por crises e guerras cíclicas.

A crítica radical do valor nos lembra que a forma-valor requer um movimento de intermediação social, desempenhando um papel de ligação, de intervenção-mediação na maioria das relações humanas. As relações de troca são percebidas, então, como verdadeiras relações sociais. Cada ação se torna uma negociação: estética, econômica, jurídica e mesmo sentimental. Os diversos valores interagem: valor estético, valor preço (prêmio), valor social, valor moral, etc. O espetáculo faz parte do mundo da mercadoria, compartilhando e legitimando esse universo. Mas, ao invés de discorrer sobre o espetáculo do valor ou o espetáculo da mercadoria, é mais fácil estudar o capitalismo de hoje através da performance do valor. Assim, os contratos de trabalho, de casamento... os prêmios concedidos aos melhores do ano, as certificações, as normas de qualidade, tudo isso são dispositivos performativos relacionados ao funcionamento do capital. Os agenciamentos entre capital e performance são cada vez mais visíveis e a crítica radical do valor23 23 A crítica radical da forma-valor, também chamada de Wertkritik, deve-se principalmente à Anselm Jappe (1995) e Robert Kurz (2014) do grupo Krisis. Ela retoma, neste caso, as teses sobre o fetichismo da mercadoria de Karl Marx (você pode consultar o site: http://www.palim-psao.fr/). nos dá as chaves de acesso.

Os bens possuem um valor de uso, mas quando há trabalho, dinheiro e mercado, eles se tornam mercadorias. Estes bens, transformados então em produto, pertencem ao mundo da mercadoria, eles trazem uma etiqueta, possuindo assim uma forma de valor. A mercadoria é o resultado de um custo, de uma despesa, de uma demanda, ou seja, de cálculos de coisas dispostas em performance. É o mercado que define o seu valor de troca. Trata-se principalmente de um cálculo de tempo, mas um tempo abstrato, compartilhado, então, por todas as outras formas de mercadoria. Para que tudo isso pudesse ser posto em prática, era necessária a transformação de ars (artesanato) em arte, de praxis em poiesis, dos bens em produtos, da moeda em dinheiro (capital), da atividade (labor) em trabalho (assalariado).

O valor é uma característica, uma propriedade, uma condição social da mercadoria. É um poder adquirido - à mercadoria - através do mercado. É um tipo de linguagem e expressão da mercadoria. Linguagem dos cálculos de tempo (salário), de quantidades monetárias (preço), de gastos da força de trabalho (mais-valia), etc. Como resultado de um agenciamento de relações sociais, o valor se expressa por meio de comparações e medições. O valor fornece uma gramática para as desigualdades do sistema social arquitetado em torno da mercadoria e suas formas. Assim, as contradições entre concreto e abstrato permanecem presentes, numa assíntota24 24 Nota do tradutor: em francês “assymptote” significa de modo figurativo algo pelo qual nos esforçamos sem alcançá-lo. crítica. Um trabalho concreto, uma ocupação de espaços e tempo por corpos, por exemplo, existe em cena somente através de sua aparição sensível. Sua existência social é a de sua encenação. É trabalhado com antecedência apenas com o objetivo de tornar-se sensível e, portanto, comparável em seus vários aspectos - seu valor artístico, por exemplo. O valor é uma armadilha construída graças ao nosso talento de abstração. Fazer um artefato pertence ao sentido concreto das coisas, ao seu uso; mas para produzir uma mercadoria, requer-se o senso de abstração, requer dinheiro, mercado, trabalho assalariado, proprietários de meios de produção, etc. Produzir bombas, brinquedos ou performances artísticas é trabalho. Há um mercado para isso e as pessoas são pagas para fazê-los, é trabalho abstrato. Trata-se de um cálculo de tempo, mas também um cálculo da performance do trabalhador. Esse cálculo vem da medição de uma relação abstrata entre as coisas, é o valor de troca, que abrange todas as outras formas: a arte, o dinheiro, a mercadoria e o trabalho. É através da hegemonia das trocas que o mercado monopoliza o nosso cotidiano, tanto do tempo de trabalho quanto do tempo de lazer e de consumo.

O Valor em Performance

A performance é o dispositivo posto em prática para desencadear a hegemonia do valor, garantindo assim sua mediação entre as relações sociais. Calcular o valor de um ser humano ou de uma floresta é uma tarefa um pouco difícil, portanto, para medir o (valor) inestimável, a economia atual utiliza a performance, ela compara as possibilidades de ação, os limites em uma ou outra circunstância, ela estabelece relações ou usa protocolos e tarefas para provocar reatividades ou para capturar reações. Desse modo, o performativo é uma ordem que garante a manutenção do valor, coberto por um jogo de referências que quer ser sempre neutro. Estas duas palavras, valor e performance, assumem todas as suas potências quando se juntam.

O valor é fruto das relações sociais gerais organizadas sob a economia política de mercado. Para destacar as contradições entre as lutas que visam transformar o modo capitalista de organização social, faz-se necessário situá-las em relação à crítica radical do valor. E, finalmente, questionamos se somos todos participantes da performance do valor, isto é, artistas performers do valor.

Metodicamente Desmedida

A desmedida era um conceito-chave para a compreensão da civilização grega. Paixão, vingança e orgulho faziam eco a húbris25 25 O despropósito, a desmedida, o fora dos limites, o excesso, a indignação... levando à catástrofe, ao desastre. , esse confronto consigo mesmo e os limites do destino. Hoje, enfrentamos uma crise de valores que também significa uma crise civilizacional. Lembremo-nos de Fourier e sua aversão crítica à noção de civilização26 26 “É necessário aplicar dúvidas à civilização, duvidar da sua necessidade, da sua excelência, e da sua permanência. Estes são problemas que os filósofos não se atrevem a propor, porque, ao suspeitar da civilização, levariam a suspeita de nulidade em suas teorias que se relacionam todas com a civilização, e que cairiam com ela no momento em que encontraríamos uma ordem social melhor para substituí-la” (Charles Fourier na Teoria dos Quatro Movimentos, Dijon, Les Presses du Réel, p. 121 apud Louis Ucciani, 2015). “O que sua mente polêmica nomeia ironicamente ‘civilização’, ou seja, a sociedade do seu tempo, vai à ‘contramarcha’, de acordo com sua expressão, tornando o trabalho repugnante, ‘produzindo a miséria na abundância’ [...]” (Guillaume, 2013, p. 12). A citação de Fourier acima “É necessário aplicar dúvidas à civilização” também é encontrada em Guillaume (2013, p. 59). .

A performance, em seus aspectos mais diversos, é tanto a força motriz como o resultado (as inclinações e as consequências)27 27 N. do T.: na versão em Francês “les versants et les aboutissants” também pode-se traduzir por “os diversos aspectos e as finalidades”. das atuais formas do valor. Então, quais são as relações entre húbris e performance? A húbris do passado dá lugar ao valor. Todas as relações humanas entram em uma fórmula de cálculo. Não só a quantidade, mas também a qualidade deve ser medida e identificada.

As guerras se organizam através de atentados, a manutenção do caos, o controle das mídias pelas grandes corporações, a influência das agências de notação, a lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, as manipulações das taxas de câmbio do petróleo, do ouro, das matérias-primas, das moedas internacionais, das dívidas soberanas, etc.28 28 As agências de segurança nacional e os serviços secretos desempenham um papel essencial nessas guerras, e também o mundo das finanças. Estudo e questões abordadas pela geopolítica, entre outros. . As crises são os suportes e as causas da guerra, tanto refletindo como causando o surgimento de extremismos. É a irrupção dos nacionalismos, dos liberalismos, a oportunidade de praticar a desvalorização da moeda, a exaltação da insegurança, etc.

Frente ao Espelho: forma e substância

O espetáculo é uma espécie de performance do valor e performance é, à sua maneira, o espetáculo do valor. Pode-se dizer que a performance é uma técnica usada para a encenação do valor. A mercadoria é a forma-valor por excelência, tanto quanto o dinheiro e o trabalho. Sob o sistema social capitalista, todas as suas formas se tornam intercambiáveis ​​e complementares. Dinheiro e trabalho são mercadorias, dinheiro e mercadoria são trabalho e assim por diante. O valor é uma abstração que coloca todas essas formas em paralelo, submete-os a um tipo de medida, a um protótipo virtual de medição.

Marx estudou a forma, a substância e a grandeza do valor. A substância do valor é o trabalho. Traduzimos a substância da performance como um valor. Quanto à sua forma, performance já é um tipo de movimentos de formas, então, performance é praticamente sinônimo de ação.

A substância do valor é o trabalho.

A forma do valor é o valor de troca.

A substância da performance é o valor.

A forma da performance é movimentos de formas (e também formas em ação).

No entanto, o valor como substância da performance pode ser definido por sua própria substância como ações, ou melhor, uma ação de sua forma. E sua forma é a troca. Então, troca e ação são forma e substância do valor, que é a substância da performance. Colocamos ação e troca em movimento e teremos a performance.

A grandeza da performance, seu aspecto quantitativo, é medida pela força do deslocamento de tempo e troca. Sua grandeza é medida pela reversão do que é acordado como tempo e troca. Sua grandeza está, de fato, relacionada à sua qualidade.

É importante revelar as conexões entre forma, substância e magnitude da performance, ou seja, de se poder constatar como a performance surge da forma-valor. Além do mais, mostrar como a performance se manifesta ou aparece tal qual uma ferramenta do valor. Assim, a performance torna-se um instrumento do valor. É um artifício que combina necessidade e contingência em relação ao valor. Em outras palavras, a performance é uma estratégia do valor que manobra necessidade e contingência.

Foi de importância decisiva descobrir a conexão interna necessária entre forma, substância e grandeza do valor, isto é, expresso de maneira ideal, de provar que a forma do valor nasce do conceito de valor (Marx Das Kapital, Bd I, ed. de 1867, p. 34 apud Roubine, 2009ROUBINE, Isaac. Essais sur la Théorie de la Valeur de Marx. Paris: Éditions Syllepse, 2009., p. 413)29 29 N. do T.: na versão em Francês “Il était d’une importance décisive de découvrir la connexion interne nécessaire entre forme, substance et grandeur de la valeur, c’est-à-dire, exprimé de façon idéelle, de prouver que la forme de la valeur naît du concept de valeur” (Marx Das Kapital, Bd I, éd. de 1867, p. 34 apud Roubine, 2009, p. 413). .

No século XXI, é importante e decisivo compreender como performance e valor se refletem em injunções que oscilam entre necessidade e contingência que contemplam suas formas e sua essência. Para se fazer uma crítica da performance, é evidente que precisamos desenvolver um questionamento filosófico do conceito de forma, em relação à sua dependência frente ao conceito de valor. A problemática de sua substância ressurge. Desenvolver esses conceitos filosoficamente pode nos ajudar a fazer uma verdadeira crítica da economia política das artes, não é uma tarefa fácil, mas você está convidado. A metodologia utilizada por Marx, através de Roubine, auxilia na compreensão de como o trabalho e a ação, tomados em conjunto, refletem-se no interior da produtividade e da performatividade.

Neutralidade Referencial

Quanto vale uma hora de fabricação, mais uma hora de exposição à loja, mais uma hora de publicidade do produto e ainda uma hora de negociação de ações na bolsa de valores?

Isso é um cálculo aparentemente irracional, no entanto, bastante viável e até indispensável nesta fase do capitalismo neoliberal. Todos esses elementos são parte de um cálculo de produtividade. O valor requer uma referência face à noção de produção e isso deve tornar-se natural: produzir e trabalhar se tornam sinônimos. A produção é algo visível, um nome, mas a produtividade é um cálculo, resultado de comparações, isto é, uma técnica, um protocolo e uma ferramenta do sistema de produção.

A performance na arte é o coração da produção sem objetivo, ação desinteressada. A performatividade é um protocolo, um dispositivo dessa performance desinteressada. A noção de performance está intrinsecamente relacionada à da produtividade, seja concreta ou abstrata. O valor de uso é praticamente inútil tanto para a performance quanto para o cálculo da produtividade.

A performance industrial é o coração da produção abstrata, não importa o que se produz, o importante é garantir sua performance e, com isso, sua produção de valor. Se você está fora do mercado, você não está produzindo valor e você está fora da vida econômica da arte. Repetimos, o valor do uso ou a utilidade imediata das coisas é praticamente inútil para a performance artística, industrial ou esportiva. O mercado permite a produção de valores, valores artísticos, industriais e esportivos. Para o trabalhador, essa produção é abstrata, ele deve agir, fazer, fabricar e assim participar da performance da empresa. Em sua ação ele deve ser performante, desse modo, ele é valorizado e explorado de acordo com sua performance. O cálculo de sua performance é individualizado, mas, na verdade, o que é calculado não é ele (o trabalhador), mas seu posto de trabalho. Ele é apenas um peão de uma performatividade calculada de acordo com uma produtividade média proveniente do mercado das performances industriais. Ele é feito para acreditar que ele é o senhor da sua função, mas ele é seu servo. Sua performance participa e pertence à lógica do mercado. Assim, a performance do valor está estreitamente relacionada à performatividade, os atos ganham valor quando são performativos. “Este elemento de análise [...] enfatiza primeiramente o aspecto definitivamente determinado de qualquer ação performativa. Nenhuma situação de enunciação pode ser considerada como performativa em si mesma. A performatividade se apresenta sempre num mundo específico o qual ela ajuda a estabelecer ou à manter” (Denis, 2006DENIS, Jérôme. Préface: les nouveaux visages de la performativité. Études de Communication, Lille, n. 29, 2006. Disponible sur: <Disponible sur: http://edc.revues.org/index344.html > Consulté le: 31 mars 2017.
http://edc.revues.org/index344.html...
, p. 8)30 30 N. do T.: na versão em Francês “Cet élément d’analyse [...] souligne d’abord l’aspect définitivement situé de toute action performative. Aucune situation d’énonciation ne peut être considérée comme performative en soi. La performativité va toujours avec un monde spécifique qu’elle participe à instaurer ou à maintenir” (Denis, 2006, p. 8). . É na troca que o valor se implementa. Ele estabelece a cena. Ele performa.

O valor e suas formas (as formas a partir das quais ele aparece, ele se torna visível), podem escapar de olhares críticos graças ao seu dispositivo performativo. Há um desvio crítico em relação à contestação do capitalismo, não criticamos o valor por aquilo que ele é ou o que ele causa, mas por suas aparências: o espetáculo da mercadoria, a exploração do trabalho, a desigualdade monetária. Todos estes são dispositivos performativos a serviço do valor. Eles existem para e em função do valor. Eles sustentam as necessidades do crescimento (PIB). Às ferramentas do valor se misturam as causas e as consequências da valorização do valor, da acumulação dos capitais. Para uma crítica da economia política contemporânea é necessário entender quais são os meios que configuram o valor, quais são seus dispositivos. A performatividade é a lógica por trás desses dispositivos (performativos). O neoliberalismo foi um grande atelier de experimentações de dispositivos performativos. É claro que esses dispositivos pertencem a uma lógica de mundo. O conjunto desses dispositivos forma o que se chama performance. A lógica da performance contribui para a manutenção do sistema social com base no valor. O importante é o processo, mas não o que fazemos ou o que produzimos. A performance na arte pode ser levada a fazer uma crítica da produtividade. Mas a produtividade e a eficiência são paradigmas da performance. Assim, trata-se de uma crítica obrigada a se referir a esses paradigmas, ou mesmo a reverenciá-los (involuntariamente por sua própria vontade)31 31 N. do T.: na versão em Francês “à l’insu de son plein gré”. Expressão cômica utilizada na França. . Ser, ou não ser performante, eis a questão? Dessa forma, podemos dizer que a performance se retroalimenta - do valor - através da crítica da produtividade. Portanto, trata-se principalmente de uma pseudocrítica, porque a performance só pode existir quando está relacionada ao valor. Este raciocínio faz parte de uma necessidade de revisar os processos de autocrítica dos artistas da performance, não deve ser tomado como um raciocínio simplista ou conservador. A questão está aberta: existe uma performatividade que pode causar um curto-circuito à sua própria força motriz e, assim, à forma-valor? Será que o progresso foi, para o capitalismo do século XIX, o que a performance é para o capitalismo no século XX? Progresso e performance foram motor e ferramenta (da valorização do) valor?

Sobrevivência e Direito

Nosso sistema social baseia-se em interesses cruzados entre ética, ciência e direito sob uma tradição ilusória de racionalidade e universalidade de formas do valor: arte, dinheiro, trabalho, mercadoria. Eles são também formas de mercadoria e essas formas participam de uma lógica de acumulação de capital, é o processo de valorização. A performance do valor é o atuante e o resultante de todos os processos de valorização. Processos que exigem um transpassar as formas mais diversas (trabalho, dinheiro, máquinas), a per-formance32 32 Per-formance: atravessar formas com intensidade (ou atravessar a formação de formas) , garantindo assim a sobrevivência do valor como forma constitutiva do nosso sistema social (econômico, artístico, jurídico, científico, político, etc.).

As relações sociais são realizadas por meio de apropriações, trata-se de algo que temos, e essa coisa33 33 Por exemplo: um objeto, um saber, uma ideia. detém valor. Por exemplo, minha criatividade deve deixar-se apropriar pela noção de valor para existir socialmente. Caso contrário, não será reconhecida como tal. É criativa apenas se presta serviço, se produz coisas, se não, torna-se gratuita. A economia criativa é um bom exemplo dessas tentativas de reinventar dispositivos de valor.

Tal valor só pode ser expresso pela sua concorrência, por uma estruturação comparativa com outros valores. O preço de mercado determinará se o meu dispositivo é suficientemente criativo. Sua criatividade deve ser performante em relação ao valor, de modo que a criatividade dos dispositivos performativos siga um sistema de colaboração competitiva. As relações sociais, a forma com a qual as pessoas praticam suas trocas, são partes integrantes desses dispositivos. Essa performance do valor corresponde à maneira como nos correlacionamos. Aqui constatamos o paradigma do valor e sua ambiguidade ontológica. Porque, o valor não é uma propriedade dos objetos, ele não é concebido em relações sociais específicas. No entanto, quando trocamos, fazemos continuamente referências - e reverências - ao valor, em uma adesão voluntária e praticamente não consciente. O valor é fruto das relações sociais gerais organizadas em uma economia política de mercado. A questão não está mais no que produzimos, mas como nossos meios de produção e seus produtos nos moldaram à sua imagem e comportamento. As vontades do mercado34 34 As oscilações na bolsa de valores, as exigências do mercado quando lhe atribuímos adjetivos: nervoso, agitado... mostram-nos claramente como esse sujeito autômato pode engendrar, conceber e submeter as relações humanas.

Os intercâmbios entre as coisas, dos quais participam as pessoas físicas, e sobretudo as pessoas morais (as empresas), são tidos pelo direito como relações entre sujeitos livres. A troca é regida por contratos. O casamento (e o amor) serve como um exemplo de um contrato social que prevê regular a relação de propriedades e de valores (direitos dos filhos, impostos e herança). Toda ação social é regida por uma normatividade social, a lei. O direito35 35 Nota-se certamente no contrato social, contrato civil, direitos dos homens e dos cidadãos, constituições republicanas... garante assim uma legitimidade para as performances de valor.

Afformance

A performance é um dispositivo lógico do movimento de valorização no período neoliberal. Ela corrobora um mundo a manter ou a se reinstaurar. Ela serve como metodologia e práxis ao valor, sendo uma expressão dos valores dominantes e nos quais ela impregna sua contestação. A performance tornou-se a reificação36 36 [Em Marx, Lukács] Transformação da atividade humana em mercadoria que resulta na economia capitalista como uma verdadeira fetichização do objeto enquanto valor de troca dominando completamente o valor de uso (CNTRL, 2012b, online). das criações, em uma espécie de consumo artístico da produção e da fetichização das formas. Ela incorpora o princípio de produção estando sempre submetida à valorização, tornando-se a arte de encantamento do modo gerencial, da operacionalidade do valor e sua ferramenta. O valor provoca o encantamento da performance ao mesmo tempo que a performance encanta o valor.

É uma arte reacional, ou melhor, que (re)age em sua atitude e ações. Reações vigorosas ocorrem durante determinadas performances, podendo provocar respostas reativas e virulentas37 37 Reacional (em francês réactionnel) “que se relaciona à uma reação orgânica; que constitui uma reação contra uma situação insuportável, uma pulsão reprimida” (CNTRL, 2012c, online). do público. Tanto na indiferença como na reação, a arte da performance retrata bem as formas-valor, e também a agitação dos valores morais que se opõem ao capital. Liminal38 38 N. do T.: (no limite) relativo a fronteiras, extremidades, bordas. em seu discurso, todo ato performativo é, no entanto, resistência, na medida em que existe uma condição autorizada e necessária de transgressão cultural. Em um jogo com seus limites, ele só pode estar engajado em uma resistência que não escapa à lógica do sistema de valor. Portanto, como uma resistência em um motor, atuando na intensidade da corrente entre formas e valores, estando, esta corrente, controlada e adaptada por esse ato performativo.

O estado, a nação, o contrato social, o código civil caracterizam o direito e ordenam o mundo ocidental. Nos Direitos do Homem e do Cidadão, vemos o fundamento da defesa e da proteção do valor, do mercado e da mercadoria. Progresso e mercado seguem a sequência lógica de uma maneira de conceber a história, são ideais de uma lógica de continuação, do ir em frente pela valorização, acumulação e crescimento. É o movimento que permite o equilíbrio, estamos sempre engajados, em permanente mobilização (consulte Peter Sloterdjik (2000SLOTERDJIK, Peter. La Mobilisation Infinie: vers une critique de la cinétique politique. Paris: Christian Bourgois Éditeur 2000.), a mobilização infinita).

Como se estabelecer em outra lógica?

Desvalorizar a performance significa anular sua potência de agir, colocando-a de lado em um além da forma - afformance ou paraformance. Hamacher se serve da palavra afformativo39 39 Não através da forma (performance), mas afformativo - ad-formance (afformance): não se trata do prefixo “a” de negação ou ausência, mas o prefixo (ad) que em francês nas palavras que começam com ‘f’ devemos adicionar mais um ‘f’, resultando no prefixo (af) + formance: Afformance. Ad - prefixo latino que indica um movimento para, em direção de. AD - [A, AC, AF, AG, AL, AN, AP, AR, AS, AT] - tendência, direção - ideia de reconciliação. Ex.: as palavras em francês céder et ficher se transforman em accéder, afficher (que significam em português acessar, exibir). a partir de um estudo sobre a greve e a violência baseado em Walter Benjamin e também certamente nas teorias dos atos de fala40 40 Os atos de fala: atos locutórios (que possuem uma significação), ilocutórios (que possuem uma força) e perlocutórios (que possuem efeitos). John L. Austin desenvolveu esses conceitos de filosofia linguística em 1955 na Universidade de Harvard em sua conferência ‘Como fazer coisas com palavras’. (Quando dizer é fazer). de Austin e Searle. Aqui, outra lógica seria ficar fora ou ao lado dessa doxa da forma sob ingerência. A anti, violência pura41 41 N. do T.: violência pura, mítica e estado de exceção, termos utilizados por Benjamin. de uma greve geral, em que ela não visa nada e se recusa a tomar posição, é o exemplo de uma recusa total de ação, uma desmobilização da forma. Assim, isso significa (des)empreender uma ação, retroceder ao seu valor nulo42 42 “Nós idealizamos produzir coisas com valor cultural zero, para produzir inércia estética”. Portanto, um dos objetivos dos irmãos Chapman é alcançar um valor artístico nulo, é produzir uma inércia estética. Disponível em: <http://www.artseensoho.com/Art/GAGOSIAN/chapman97/chapman3.html>. Acesso em: 31 de março de 2017. N. do T.: em inglês e em francês “We fantasize about producing things with zero cultural value, to produce aesthetic inertia”; “Nous fantasmons une production des choses avec une valeur culturelle nulle, produire une inertie esthétique”. Donc, un des objectifs des frères Chapman est d’atteindre une valeur artistique nulle, de produire une inertie esthétique. , em uma resistência nula e, assim, escapar da influência do perfeito e do aperfeiçoamento. A afformance quer romper o ciclo da efetivação das formas através de um desengajamento, uma desmobilização do movimento de valorização para se esquivar43 43 N. do T.: “déjouer” em francês significa também: desativar, desarticular, frustrar, impedir, entravar, desmontar. , dessa maneira, do valor como forma. Parar as máquinas, as trocas de dinheiro, a circulação de mercadorias, não causa necessariamente uma pane geral ou uma perturbação maior nas relações entre as pessoas, como mostram os meios de comunicação. Nessas situações, pode até surgir uma espécie de realização44 44 N. do T.: “épanouissement” num sentido de florescimento, plenitude. , um alívio através de um silêncio afformativo. Isso é violento para o sistema produtivista, mas não necessariamente para os seres humanos, essa violência zero significa a rejeição da ação, da comparação, da medição, da performance e, consequentemente, do valor. Então, em contraste com a ação performativa, a noção de afformativo45 45 Sobre Walter Benjamin e a análise de Hamacher em relação à greve afformativa (Afformative Strike) veja as páginas 178 a 190 da tese de Carlos Perez Lopez (2012). significa uma deposição, uma (des)instauração de um movimento dirigido a algo... uma contraviolência46 46 Violência aparente ou pura. [...] Suspender sua concretização (Hamacher, 1994a, online). . É uma não-apresentação, não-formação, abstenção mesmo de ir para ou contra uma ação47 47 “O evento de formação que não se abre em nenhuma forma” (Hamacher, 1994b, p. 346). N. do T.: em alemão e francês “das Ereignis der Formierung, das in keiner Form aufgeht”; “L’événement de la formation qui ne s’ouvre en aucune forme”. . Trata-se de se colocar ao lado da forma, além do valor, evitando e contornando a valorização do capital.

Os fenômenos afformativos surgem em contraste com os dados e os atos performativos, eles não provocam efeitos através das formas, mas surgem como eventos sob uma outra óptica, de um mundo sem retenção48 48 N. do T.: em francês “emprise”: dependência, dominação, opressão. em que os atos se tornam fluxos sem ação, nem reação, mas ligações ativas que se respondem, estimulam. A afformance abre caminho para uma outra frequência de percepção. Assim, ela ativa outras dimensões, abrindo-se para outras circunstâncias, para outras maneiras não-habituais de perceber, sem aspirar mudanças, mas dando-lhe a possibilidade de se atualizar.

É possível que a noção de (des)instauração do valor possa definir melhor a rejeição da valorização. Recusar-se a aceitar o sequestro da sociedade para apoiar o crescimento e recusar-se a aceitar o desenvolvimento sustentável como um tributo ecológico. Existe assim um potencial de desconexão ou desativação do modo produtivo e uma abertura a um pensamento-ação não-hegemônico, que não participa de uma estimulação das formas e não se desdobra ao valor.

A afformance busca a não-conformação, vai contra os paradigmas do que é pensado e construído através do par forma-valor. Com a noção de ação passiva, definida por Benjamin, é possível ir além do primado da forma e do fenômeno performativo, desconstruir a estética, seus sentidos e suas formas. Não é uma resistência às formas, mas um (des)posicionamento ou descondicionamento (de seus) sentidos, uma forma de superar a psiquê das formas. A afformance não performa, é um meio sem fim, situada além da interação entre forma e valor, ela causa um curto circuito nessa lógica do fetichismo da performance sob a marca49 49 N. do T.: em francês “empreinte”: cunho, estampa, chancela, pegada. do produtivismo. Em uma perspectiva fora do status quo, ela é atenta ao que não se pode mensurar, à interrupção (da lei) das formas padronizadas, modo de suspeição da forma.

Références

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    » https://philosophique.revues.org/899
  • 20
    Nota do tradutor: na versão em francês “D’une part les individus aliènent leurs relations sociales sous forme d’objet. Par la formation d’un équivalent général, l’échange des activités des produits et le rapport mutuel des individus se présentent à eux comme une chose”.
  • 21
    Per-, par-: do latin por [per-], através, de um lado para o outro, por meio de. Note-se que este prefixo pode ter muitos outros significados e, em particular, o de superlativo, ou seja, que ele reforça o sentido do que se segue (Mazurier, 2008MAZURIER, Stéphan. Petit Lexique Étymologique. Reims: Lycée Libergier, 2008.). Você também pode consultar per- na página WEB do CNRTL - Centro Nacional de Recursos Textuais e Lexicais (2012aCNRTL - Centre National des Ressources Textuelles et Lexicales. -per. France, 2012a. Disponible sur: <Disponible sur: http://www.cnrtl.fr/definition/per- >. Consulté le: 30 mars 2017.
    http://www.cnrtl.fr/definition/per-...
    , online).
  • 22
    N. do T.: na versão em francês “Em primeiro lugar, de fato, tão variados quanto possam ser os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são, acima de tudo, funções do organismo humano, e que qualquer função desse tipo, seja qual for o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente um gasto do cérebro, nervos, músculos, órgãos, sentidos, etc., do homem” (Karl Marx, 2017MARX, Karl. Le Capital. Version électronique du Capital (1867) avec la traduction de Joseph Roy (première traduction française - révisée par Marx). 2017. Disponible sur: <Disponible sur: http://le.capital.free.fr/index.html > Consulté le: 27 octobre 2017.
    http://le.capital.free.fr/index.html...
    , O Capital; Livro 1: O Desenvolvimento da Produção Capitalista; 1ª seção: mercadoria e dinheiro; Capítulo I: A Mercadoria; IV: O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo).
  • 23
    A crítica radical da forma-valor, também chamada de Wertkritik, deve-se principalmente à Anselm Jappe (1995JAPPE, Anselm. Guy Débord. Marseille: Via Valeriano, 1995. ) e Robert Kurz (2014KURZ, Robert. Dinheiro sem Valor. Lisboa: Antigona, 2014.) do grupo Krisis. Ela retoma, neste caso, as teses sobre o fetichismo da mercadoria de Karl Marx (você pode consultar o site: http://www.palim-psao.fr/).
  • 24
    Nota do tradutor: em francês “assymptote” significa de modo figurativo algo pelo qual nos esforçamos sem alcançá-lo.
  • 25
    O despropósito, a desmedida, o fora dos limites, o excesso, a indignação... levando à catástrofe, ao desastre.
  • 26
    “É necessário aplicar dúvidas à civilização, duvidar da sua necessidade, da sua excelência, e da sua permanência. Estes são problemas que os filósofos não se atrevem a propor, porque, ao suspeitar da civilização, levariam a suspeita de nulidade em suas teorias que se relacionam todas com a civilização, e que cairiam com ela no momento em que encontraríamos uma ordem social melhor para substituí-la” (Charles Fourier na Teoria dos Quatro Movimentos, Dijon, Les Presses du Réel, p. 121 apud Louis Ucciani, 2015UCCIANI, Louis. La Civilisation comme représentation. Revue Philosophique, Paris, n. 18, 2015. Disponible sur: <Disponible sur: https://philosophique.revues.org/899 >. Consulté le: 31 mars 2017.
    https://philosophique.revues.org/899...
    ). “O que sua mente polêmica nomeia ironicamente ‘civilização’, ou seja, a sociedade do seu tempo, vai à ‘contramarcha’, de acordo com sua expressão, tornando o trabalho repugnante, ‘produzindo a miséria na abundância’ [...]” (Guillaume, 2013GUILLAUME, Chantal. Charles Fourier ou la Pensée en Contre-marche. Neuvy-en-Champagne: le passager clandestin, 2013., p. 12). A citação de Fourier acima “É necessário aplicar dúvidas à civilização” também é encontrada em Guillaume (2013, p. 59).
  • 27
    N. do T.: na versão em Francês “les versants et les aboutissants” também pode-se traduzir por “os diversos aspectos e as finalidades”.
  • 28
    As agências de segurança nacional e os serviços secretos desempenham um papel essencial nessas guerras, e também o mundo das finanças. Estudo e questões abordadas pela geopolítica, entre outros.
  • 29
    N. do T.: na versão em Francês “Il était d’une importance décisive de découvrir la connexion interne nécessaire entre forme, substance et grandeur de la valeur, c’est-à-dire, exprimé de façon idéelle, de prouver que la forme de la valeur naît du concept de valeur” (Marx Das Kapital, Bd I, éd. de 1867, p. 34 apud Roubine, 2009, p. 413).
  • 30
    N. do T.: na versão em Francês “Cet élément d’analyse [...] souligne d’abord l’aspect définitivement situé de toute action performative. Aucune situation d’énonciation ne peut être considérée comme performative en soi. La performativité va toujours avec un monde spécifique qu’elle participe à instaurer ou à maintenir” (Denis, 2006, p. 8).
  • 31
    N. do T.: na versão em Francês “à l’insu de son plein gré”. Expressão cômica utilizada na França.
  • 32
    Per-formance: atravessar formas com intensidade (ou atravessar a formação de formas)
  • 33
    Por exemplo: um objeto, um saber, uma ideia.
  • 34
    As oscilações na bolsa de valores, as exigências do mercado quando lhe atribuímos adjetivos: nervoso, agitado...
  • 35
    Nota-se certamente no contrato social, contrato civil, direitos dos homens e dos cidadãos, constituições republicanas...
  • 36
    [Em Marx, Lukács] Transformação da atividade humana em mercadoria que resulta na economia capitalista como uma verdadeira fetichização do objeto enquanto valor de troca dominando completamente o valor de uso (CNTRL, 2012bCNRTL - Centre National des Ressources Textuelles et Lexicales. réification. France, 2012b. Disponible sur: <Disponible sur: http://www.cnrtl.fr/definition/r%C3%A9ification >. Consulté le: 30 sept. 2017.
    http://www.cnrtl.fr/definition/r%C3%A9if...
    , online).
  • 37
    Reacional (em francês réactionnel) “que se relaciona à uma reação orgânica; que constitui uma reação contra uma situação insuportável, uma pulsão reprimida” (CNTRL, 2012cCNRTL - Centre National des Ressources Textuelles et Lexicales. réactionnel. France, 2012c. Disponible sur: <Disponible sur: http://www.cnrtl.fr/definition/r%C3%A9actionnel >. Consulté le: 30 sept. 2017.
    http://www.cnrtl.fr/definition/r%C3%A9ac...
    , online).
  • 38
    N. do T.: (no limite) relativo a fronteiras, extremidades, bordas.
  • 39
    Não através da forma (performance), mas afformativo - ad-formance (afformance): não se trata do prefixo “a” de negação ou ausência, mas o prefixo (ad) que em francês nas palavras que começam com ‘f’ devemos adicionar mais um ‘f’, resultando no prefixo (af) + formance: Afformance. Ad - prefixo latino que indica um movimento para, em direção de. AD - [A, AC, AF, AG, AL, AN, AP, AR, AS, AT] - tendência, direção - ideia de reconciliação. Ex.: as palavras em francês céder et ficher se transforman em accéder, afficher (que significam em português acessar, exibir).
  • 40
    Os atos de fala: atos locutórios (que possuem uma significação), ilocutórios (que possuem uma força) e perlocutórios (que possuem efeitos). John L. Austin desenvolveu esses conceitos de filosofia linguística em 1955 na Universidade de Harvard em sua conferência ‘Como fazer coisas com palavras’. (Quando dizer é fazer).
  • 41
    N. do T.: violência pura, mítica e estado de exceção, termos utilizados por Benjamin.
  • 42
    “Nós idealizamos produzir coisas com valor cultural zero, para produzir inércia estética”. Portanto, um dos objetivos dos irmãos Chapman é alcançar um valor artístico nulo, é produzir uma inércia estética. Disponível em: <http://www.artseensoho.com/Art/GAGOSIAN/chapman97/chapman3.html>. Acesso em: 31 de março de 2017. N. do T.: em inglês e em francês “We fantasize about producing things with zero cultural value, to produce aesthetic inertia”; “Nous fantasmons une production des choses avec une valeur culturelle nulle, produire une inertie esthétique”. Donc, un des objectifs des frères Chapman est d’atteindre une valeur artistique nulle, de produire une inertie esthétique.
  • 43
    N. do T.: “déjouer” em francês significa também: desativar, desarticular, frustrar, impedir, entravar, desmontar.
  • 44
    N. do T.: “épanouissement” num sentido de florescimento, plenitude.
  • 45
    Sobre Walter Benjamin e a análise de Hamacher em relação à greve afformativa (Afformative Strike) veja as páginas 178 a 190 da tese de Carlos Perez Lopez (2012LOPEZ, Carlos Perez. La Grève Générale comme Problème Philosophique: Walter Benjamin et Georges Sorel. 2012. Thèse (Philosophie) - Université Paris 8, Paris, 2012. Disponible sur: <Disponible sur: http://1.static.e-corpus.org/download/notice_file/2524942/PEREZ%20LOPEZ.pdf >. Consulté le: 30 mars 2017.
    http://1.static.e-corpus.org/download/no...
    ).
  • 46
    Violência aparente ou pura. [...] Suspender sua concretização (Hamacher, 1994aHAMACHER, Werner. Afformative, Strike: Benjamin’s ‘Critique of Violence In: BENJAMIN, Andrew E.; OSBORNE, Peter (Ed.). Walter Benjamin’s Philosophy: destruction and experience. Abingdon-on-Thames: Routledge, 1994a. Disponible sur: <Disponible sur: https://excerpter.wordpress.com/2008/01/28/afformative-strike/ >. Consulté le: 30 mars 2017.
    https://excerpter.wordpress.com/2008/01/...
    , online).
  • 47
    “O evento de formação que não se abre em nenhuma forma” (Hamacher, 1994bHAMACHER, Werner. Afformativ, Streik. In: NIBBRIG, Christiaan L. Hart (Ed.). Was heisst “Darstellung”? Frankfurt an Main: Suhrkamp, 1994b., p. 346). N. do T.: em alemão e francês “das Ereignis der Formierung, das in keiner Form aufgeht”; “L’événement de la formation qui ne s’ouvre en aucune forme”.
  • 48
    N. do T.: em francês “emprise”: dependência, dominação, opressão.
  • 49
    N. do T.: em francês “empreinte”: cunho, estampa, chancela, pegada.
  • 53
    Este texto inédito, traduzido pelo próprio autor, também se encontra publicado em francês neste número do periódico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    31 Mar 2017
  • Aceito
    27 Set 2017
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