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Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira e Proposta de um Modelo Orientador

Discussions on Business Networks Research Methodology Present in a Sample of Brazilian Scientific Production and Proposal for a Guiding Model

Discusiones sobre la Metodología de Pesquisa sobre Redes de Negocios Presente en una Muestra de Producción Científica Brasileña y Propuesta de un Modelo Orientador

RESUMO

O objetivo do artigo é discutir as metodologias de pesquisas sobre redes de negócios que são utilizadas por autores brasileiros, a partir de uma amostra da produção científica do Congresso EnAnpad. A proposição orientadora, criada a partir de reflexões prévias, é que os pesquisadores brasileiros utilizam predominantemente metodologias clássicas de disjunção e redução do fenômeno, buscando relações causais estritas, com objetos de estudo que são os atores e que tal abordagem é um dos motivos de existirem poucos avanços teóricos nesse campo. Para atingir o objetivo, foi necessário buscar na literatura internacional sobre redes as convergências de afirmativas, que servem de base para as discussões. Entre elas destacam-se os fluxos como objeto de estudo e a dinâmica constante das redes, o que dificulta estabelecerem-se relações causais estritas. As convergências revelaram dois paradigmas; o paradigma racional econômico, com teorias sobre os custos de transação e estratégias de redes, e o paradigma social, com teorias sobre a sociedade em rede e as relações sociais determinando os processos e controles das relações técnicas da rede. Aceitando e tendo como base as premissas desses paradigmas, analisaram-se os artigos publicados no Congresso EnAnpad nos últimos dez anos e concluiu-se que a afirmativa se sustenta. Há dominância do paradigma racional econômico, com o uso de métodos clássicos de coleta e análise, com questionários e entrevistas sobre atitudes e percepções, buscando relações causais estritas e não se encontram benefícios, ou avanços teóricos. Entendemos que é possível trilhar outro caminho metodológico, que consideramos mais competente para captar o fenômeno de redes, a partir da teoria da sociedade em rede; dos princípios epistemológicos da teoria da complexidade, principalmente o princípio da não-disjunção, e com o uso dos métodos e técnicas decorrentes da abordagem da teoria dos sistemas, principalmente a afirmativa da retroalimentação. Com esses princípios, construiu-se uma proposta de desenho de pesquisa que integra o subsistema das relações sociais com o subsistema das relações de produção, que é um principio fundamental da abordagem social de redes, colocando-se o fluxo entre os atores como a unidade de investigação. Nesse sistema valoriza-se a historicidade, o fluxo, a mobilidade e a incerteza, que são as características mais evidentes do fenômeno de redes.

Palavras-chave:
Redes; Metodologia; Pesquisa

ABSTRACT

The aim of this article is to discuss the business network research methodologies used by Brazilian authors based on a sample of the scientific production of the EnAnpad Congress. Our main hypothesis, which results from previous reflections, states that Brazilian researchers predominantly use classic methodologies of disjunction and reduction of the phenomenon, in search of strict causal relations that include study objects as actors. That approach explains the poor theoretical progress in that field. To reach our goal, we researched the international literature on networks focusing on the convergences of affirmatives, which are the base for the discussions. Among those, the flows as study object and the constant dynamics of networks stand out, which makes it difficult to establish strict causal relations. The convergences revealed two paradigms: on one hand, the rational economic paradigm that includes theories on transaction costs and network strategies and on the other hand, the social paradigm that includes theories on the network society and social relations defining the processes and controls of the technical relations of the network. We accepted and took the premises of those paradigms as a base to analyze the articles published by the EnAnpad Congress in last the ten years and concluded that our hypothesis is valid. The economic rational paradigm shows to be predominant, with its classical collection and analysis methods, as well as its questionnaires and interviews on attitudes and perceptions used to research strict causal relations and not yielding any theoretical benefits or progress. We understand that a different methodological approach may be applied, which we consider more appropriate to cover network features and which is based on the network society theory, taking into account the epistemological principles of the theory of complexity, mainly the nondisjunction principle and the use of the methods and techniques that result from the theory of the systems, especially the feedback theory. Based on those principles, we made up a research design project that integrates the subsystem of social relations with the subsystem of production relations, which is a fundamental principle of the social network approach, defining the flow between the actors as the study unit. In this system, historicity, flow, mobility and uncertainty are highlighted, which are the most outstanding features of the network phenomenon.

Key words:
Networks; Methodology; Research

RESUMEN

El artículo tiene el objetivo de discutir las metodologías de investigación en redes de negocios que los autores brasileños utilizan, a partir de una muestra de la producción científica del Congreso EnAnpad. La proposición orientadora, creada a partir de reflexiones previas, es que los investigadores brasileños utilizan predominantemente metodologías clásicas de disyunción y reducción del fenómeno, buscando relaciones causales estrictas, con objetos de estudio que son los actores, y que este enfoque es uno de los motivos de que haya pocos avances teóricos en ese campo. Para alcanzar el objetivo fue necesario buscar en la literatura internacional sobre redes las convergencias de afirmaciones, que sirven de base para las discusiones. Entre ellas se destacan los flujos como objeto de estudio y la dinámica constante en las redes, lo que dificulta que se establezcan relaciones causales estrictas. Las convergencias revelaron dos paradigmas; el paradigma racional económico, con teorías sobre los costos de transacción y estrategias de redes, y el paradigma social, con teorías sobre la sociedad en red y las relaciones sociales determinando los procesos y controles de las relaciones técnicas de la red. Aceptando y teniendo como base las premisas de estos paradigmas se analizaron los artículos publicados en el Congreso EnAnpad en los últimos diez años y se concluyó que la afirmación se sustenta. Hay dominancia del paradigma racional económico, con el uso de métodos clásicos de recolección y análisis, con cuestionarios y entrevistas sobre actitudes y percepciones, buscando relaciones causales estrictas y no se encuentran beneficios, o avances teóricos. Entendemos que es posible seguir otro camino metodológico, que consideramos más competente para captar el fenómeno de redes, a partir de la teoría de la sociedad en red; de los principios epistemológicos de la teoría de la complejidad, principalmente el principio de la no-disyunción, y con el uso de los métodos y técnicas derivadas del enfoque de la teoría de los sistemas, principalmente la afirmativa de la retroalimentación. Con estos principios se construyó una propuesta de diseño de investigación que integra el subsistema de las relaciones sociales con el subsistema de las relaciones de producción, que es un principio fundamental del enfoque social de redes, colocándose el flujo entre los actores como la unidad de investigación. En ese sistema se valoriza la historicidad, el flujo, y la movilidad y la incertidumbre, que son las características más evidentes del fenómeno de redes.

Palabras clave:
Redes; Metodología; Investigación

1 INTRODUÇÃO

O objetivo do artigo é discutir a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios que são utilizados por autores brasileiros, a partir de uma amostra da produção científica do Congresso EnAnpad e apresentar um desenho de pesquisa que possa auxiliar no desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema. Reflexões prévias dos autores, a partir de vários trabalhos e pesquisas, levaram à construção da proposição orientadora, afirmando que os pesquisadores brasileiros utilizam predominantemente metodologias clássicas de disjunção e redução do fenômeno, buscando relações causais estritas, com objetos de estudo que são os atores e que esta abordagem é um dos motivos de existirem poucos avanços teóricos nesse campo.

O trabalho se justifica pela importância que o tema de redes vem adquirindo nas últimas três décadas, com um fluxo crescente de artigos científicos nacionais e internacionais, os quais utilizam um leque de teorias e métodos de pesquisas, conforme mostraram Andrigui, Hoffman e Andrade (2011ANDRIGUI, F.; HOFFMAN, V.; ANDRADE, M. Análise da produção científica no campo de estudo das redes em periódicos nacionais e internacionais. Revista de Administração e Inovação: RAI, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29-54, abr./jun. 2011.). No entanto, na literatura brasileira são raros os trabalhos de análise crítica das metodologias de pesquisa desse campo. Entre os artigos relevantes pode-se citar Balestrin, Vershoore e Reys (2010BALESTRIN, A.; VERSHOORE, J.; REYS, E. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea: RAC, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 458-477, 2010.), que realizaram trabalho com foco na presença de teorias, encontrando quatro teorias dominantes e comentando sobre a presença marcante de metodologias qualitativas. Também se observou, nas leituras de artigos sobre redes dos últimos anos, uma quase ausência da discussão dos limites das metodologias utilizadas nas pesquisas, o que seria esperado para um campo que ainda está construindo suas teorias. Esta raridade chama a atenção, pois a importância de refletir sobre os métodos nas pesquisas já havia sido colocada por Tichy, Tushman e Fombrun (1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.) há algumas décadas, afirmando que as teorias de redes partem de princípios sistêmicos e os métodos de pesquisas utilizam raciocínios de disjunção e redução, na busca de relações causais estritas. Desta forma, conforme Serva, Dias e Alperstedt (2009SERVA, M.; DIAS, T.; ALPERSTEDT, G. O paradigma da complexidade e a teoria das organizações: uma reflexão epistemológica. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 33., 2009, São Paulo. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2009. 1 CD-ROM.), cria-se uma lacuna entre os princípios teóricos e os métodos de pesquisa. Burt e Minor (1983BURT, R.; MINOR, M. Applied network analysis. London: Sage, 1983.), por exemplo, afirmam que a unidade de estudo das redes deve ser o fluxo, isto é, o conteúdo das trocas entre os atores, mas verificaram que vários trabalhos valorizavam as características dos sujeitos. Como se conclui, existe um campo de discussão sobre as metodologias utilizadas em pesquisas de redes que se encontra incipiente, o que ensejou o referido trabalho.

Defendemos que a possível dominância de princípios racionais nos métodos pode não ser adequada para a compreensão do fenômeno das redes, que se caracteriza por ser complexo e instável, conforme detalhado adiante. Como alternativa, afirmamos que as redes podem ser mais bem compreendidas e pesquisadas a partir dos princípios da abordagem denominada imersão social e econômica na rede e dos pressupostos metodológicos da teoria dos sistemas, colocando a rede como composta de um subsistema de relações sociais inextricavelmente ligado ao subsistema das trocas de negócios. A abordagem de imersão social e econômica como caminho de interligação entre abordagens aparentemente conflitantes já havia sido destacada por Balestrin, Vershoore e Reys (2010BALESTRIN, A.; VERSHOORE, J.; REYS, E. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea: RAC, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 458-477, 2010.), Grandori e Soda (1995GRANDORI, A.; SODA, G. Inter-firm networks: antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, Berlin, v. 16, n. 2, p. 183-214, 1995.), Granovetter (1985GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, Chicago, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.) e Jones, Hesterly, Borgatti (1997JONES, C.; HESTERLY, W.; BORGATTI, S. A general theory of network governance: Exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 22, n. 4, p. 911-945, 1997.).

O trabalho inicia com a explicitação do que se entende por metodologia de pesquisa e suas interfaces com as características do fenômeno a ser investigado e com a teoria de apoio escolhida pelo pesquisador. Em seguida explicitamos as convergências das características do fenômeno de redes; a diversidade de teorias que tratam do tema e a aglutinação dessas abordagens em três paradigmas, o social, o racional-econômico e o social-econômico. A tarefa é necessária para estabelecermos os constructos, ou variáveis relevantes que guiam a escolha da metodologia de pesquisa, que é o nosso objeto de estudo. As convergências das características do fenômeno, tais como a complexidade, irredutibilidade e imprevisibilidade são importantes na análise da capacidade da metodologia em investigar as redes. Em seguida apresentam-se os dados da pesquisa sobre as metodologias utilizadas numa amostra da produção acadêmica. Os dados são utilizados para a discussão e apresentação de algumas diretrizes de metodologia que seriam mais capazes de abarcar o fenômeno de redes.

2 A METODOLOGIA DE PESQUISA E SUAS INTERFACES COM A TEORIA E O FENÔMENO

Metodologia de pesquisa significa o conjunto das escolhas que o pesquisador faz para poder realizar sua pesquisa. São as decisões sobre as estratégias, os métodos e técnicas de coleta, a organização, a análise e interpretação dos dados no trato com a realidade empírica. Essas decisões são, em parte, independentes das escolhas teóricas e do problema de pesquisa. Um questionário, por exemplo, tem uma estrutura básica a ser seguida. O conteúdo do questionário, porém, suas pretensões do que medir, ou qualificar; e as formas de análises dos dados dependem das premissas teóricas, da formulação do problema e das características do fenômeno a ser investigado. Nosso trabalho se insere nessa situação de relação entre a metodologia de pesquisa, as premissas teóricas e as características do fenômeno.

Não é tarefa fácil e, na verdade, nem é nosso objetivo, recuperar a literatura sobre Metodologia de Pesquisa. Existem muitas divisões, diferentes manifestações para o mesmo conteúdo, de maneira que buscamos nos autores clássicos as expressões e seus conteúdos mais correntes (CERVO; BERVIAN, 1989CERVO, A.; BERVIAN, P. Metodologia científica. São Paulo: McGraw-Hill, 1989.; GIL, 1991GIL, A. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.; MARCONI; LAKATOS, 1999MARCONI, M.; LAKATOS, E. Técnicas de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999.; SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1987SELLTIZ, C.; WRIGHTSMAN, L.; COOK, S. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária, 1987.). O resumo dessas leituras é que a metodologia de pesquisa é constituída da estratégia, dos instrumentos de coleta e dos instrumentos de análise. A estratégia de pesquisa abarca os níveis de pesquisa, por exemplo, se é descritiva, explicativa, ou experimental; o tipo de pesquisa, por exemplo, se é um estudo de caso, ou pesquisa documental; o escopo, por exemplo, o local e o perfil do sujeito; a caracterização das variáveis, por exemplo, determinando se o trabalho será qualitativo, quantitativo, ou os dois mesclados e a definição dos temas que orientam a construção dos instrumentos, por exemplo, se predominam questões de opiniões, ou de reconstrução histórica.

Conforme será detalhado no item do plano de pesquisa, as divisões apresentadas são apenas ilustrativas, pois na nossa análise utilizaremos as categorias definidas pelos próprios autores. O que importa é o conceito sobre as decisões que devem ser tomadas antes de se iniciar a coleta de dados.

Os instrumentos e as técnicas de coleta constituem o conjunto de ferramentas que permitem acessar os sujeitos e recolher os dados necessários para a resposta do problema. Um exemplo tradicional de instrumento é o questionário e de uma forma de coleta é a entrevista individual.

Os instrumentos e as técnicas de análise dos dados constituem o conjunto de ferramentas que permitem organizar, analisar e discutir os dados, conforme sua presença e dimensão dentro das categorias eleitas na parte de estratégia de pesquisa.

Esses três elementos - a estratégia de pesquisa, as técnicas de coleta e as técnicas de análise constituem nossa matriz da metodologia de pesquisa para analisarmos os artigos sobre redes de negócios.

Outro comentário importante é sobre a interface entre metodologia de pesquisa e a teoria de base escolhida pelo pesquisador. Um plano de pesquisa, por exemplo, que pretenda investigar o ganho de vantagem competitiva de uma empresa que participa de uma rede, utilizando variáveis econômicas e comparando esta empresa com outras, poderá se apoiar numa teoria da racionalidade competitiva, que isola e compara os atores, pois essa abordagem tem premissas capazes de responder ao problema da pesquisa. Assim, ao se analisar um artigo, é possível comentar sobre a lógica, ou não, da relação estabelecida pelo autor entre a teoria de base que ele escolheu e a metodologia de pesquisa utilizada. Aceitando-se essa interface, na análise dos artigos foi criada a categoria teoria de base escolhida.

Explicitado o que se entende por Metodologia de Pesquisa no referido trabalho, é necessário discutir sobre o fenômeno de redes e as teorias que buscam explicá-lo.

3 AS CONVERGÊNCIAS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO DE REDES E A DIVERSIDADE DAS TEORIAS

Para investigar as metodologias de pesquisa utilizadas em artigos sobre redes é necessário criar um quadro de referência sobre as variáveis que influenciam as escolhas metodológicas, incluindo os conceitos da teoria de base escolhida. Para o estabelecimento dos conceitos de redes, considerando o leque de teorias, entendemos que o caminho válido seria construir esse quadro a partir das convergências de literatura básica, ou seja, de artigos mais frequentemente referenciados (BARDIN, 1977BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.; GOULDING, 2005GOULDING, C. Grounded theory, ethnography and phenomenology: a comparative analysis of three qualitative strategies for marketing research. European Journal of Marketing, Bradford, v. 39, n. 3/4; p. 294-308, 2005.).

O fenômeno da rede, com sua característica de conexão e interdependência de várias empresas que cooperam e se organizam num conjunto, tem originado cada vez mais estudos, alguns com alta frequencia de citações, como o de Oliver e Ebers (1998OLIVER, A.; EBERS, M. Networking network studies: an analysis of conceptual configurations in the study of inter-organizational relationships. Organization Studies, Berlin, v. 19, n. 4, p. 549-583, 1998.). Conforme Nohria e Ecles (1992NOHRIA, N.; ECLES, R. Networks and organizations: structure, form, and action. Boston: Harvard Business School, 1992.) o fenômeno de rede tem sido explicado a partir das várias teorias organizacionais. Existem explicações a partir de teorias racionais econômicas, com temas tais como vantagens de custos obtidos por se estar na rede; a partir de teorias sociais, com temas tais como confiança, comprometimento e governança nas relações; a partir de teorias institucionalistas, com temas tais como legitimação das parcerias e processos de aprendizagem na rede; a partir de teorias dos jogos, com temas tais como reciprocidade nas relações. Por trás da diversidade teórica, no entanto, alguns autores buscaram os pontos de convergência. Para Tichy, Tushman e Fombrun (1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.) os estudos se concentram em princípios econômicos e sociais. Para Latour (2005LATOUR, B. Reassembling the social. Oxford: Oxford Press, 2005.) os artigos sobre redes podem ser classificados nas temáticas de comunicação, dos fluxos de poder e governança e das formas de organização. Revisões internacionais (BRASS et al., 2004BRASS, D. et al. Taking stock of networks and organizations: a multilevel perspective. Academy of Management Journal, New York, v. 47, n. 6, p. 795-817, Dec. 2004.; PARKHE, WASSERMAN, RALSTON, 2006PARKHE, A.; WASSERMAN, S.; RALSTON, D. New frontiers in network theory development. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 31, n. 3, p. 560-568, 2006.; ZAHEER, GOZUBUYUK, MILANOV, 2010ZAHEER, A.; GOZUBUYUK, R.; MILANOV, H. It´s the connections: the network perspective in interorganizational research. Academy of Management Perspectives, Biarcliff Manor, v. 24, n. 1, p. 62-77, Feb. 2010) buscaram os pontos convergentes nos conceitos de redes e, a partir deles, propuseram modelos de pesquisa. Zaheer, Gozubuyuk e Milanov (2010ZAHEER, A.; GOZUBUYUK, R.; MILANOV, H. It´s the connections: the network perspective in interorganizational research. Academy of Management Perspectives, Biarcliff Manor, v. 24, n. 1, p. 62-77, Feb. 2010) afirmam que o uso de teorias tradicionais da Administração pode levar a níveis de análise pouco produtivos nas pesquisas sobre redes, que são, conforme convergência dos autores, fenômenos com múltiplos níveis.

A mesma convergência de princípios racionais e sociais foi encontrada por autores brasileiros que revisaram os conceitos de redes (ANDRIGUI; HOFFMAN; ANDRADE, 2011ANDRIGUI, F.; HOFFMAN, V.; ANDRADE, M. Análise da produção científica no campo de estudo das redes em periódicos nacionais e internacionais. Revista de Administração e Inovação: RAI, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29-54, abr./jun. 2011.; BALESTRIN; VERSHOORE; REYS, 2010BALESTRIN, A.; VERSHOORE, J.; REYS, E. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea: RAC, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 458-477, 2010.; GIGLIO; KAWSNICKA; SANTOS, 2006GIGLIO, E.; KAWSNICKA, E.; SANTOS, S. Proposta de integração do consumidor na teoria e prática de redes. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.).

O paradigma social de redes, encontrado em autores mais frequentemente referenciados como Castells (1999CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.) e Capra (1996CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996.) afirma que a sociedade atual está organizada em redes, tendo como recursos principais as novas tecnologias de comunicação, numa nova forma de construção de significados e de cultura. Nessa perspectiva, todos estão conectados com outros atores, numa rede infinita e cabe ao pesquisador limitar o horizonte do seu escopo de trabalho. Pode-se, por exemplo, num local turístico, considerar somente as 10 pequenas empresas da região, que trabalham em conjunto e com proximidade física, ou pode-se considerar as empresas fornecedoras, elevando o número para 100, ou a cadeia mais ampla incluindo os bancos, clientes, empresas de apoio, universidades, setores do governo, que seriam 1000, e assim por diante. O desdobramento infinito da rede advindo da ideia de espiral cria um problema em pesquisas, pois é necessário delimitar o campo e atores importantes podem ser excluídos. Temas como poder, controle, confiança e centralidade são frequentes nas pesquisas que seguem esse caminho.

No paradigma racional econômico a ideia central é que as redes são respostas competitivas das empresas, buscando melhores posições no mercado. Há uma decisão racional do empresário em entrar, ou não, numa rede de empresas, conforme sua análise dos custos e recursos envolvidos e das possíveis vantagens a serem obtidas. Os artigos dessa linha, como os de Ebers e Jarillo (1998EBERS, M.; JARILLO, C.. The construction, forms and consequents of industry network. International Studies of Management & Organizations, Armonk, v. 27, n. 4, p. 3-21, 1997-1998.) não negam o paradigma social das redes, mas estão mais voltados aos indicadores de competitividade no mercado para construírem suas conclusões. Um dos problemas de pesquisa nessa linha racional econômica está nos conceitos de competição, que afirmam a necessidade de se analisar e comparar empresas isoladas entre si. As relações entre as partes, neste caso, são colocadas como ações possíveis e não como característica básica, o que cria questionamentos sobre a capacidade do paradigma racional e econômico captar o fenômeno de redes, já que existem evidencias de que alguns recursos e vantagens competitivas nascem do coletivo, tal como se encontra em artigos que utilizam a expressão capital social (DASGUPTA; SERAGELDIN, 1999DASGUPTA, P.; SERAGELDIN, I. Social capital: a multifaceted perspective. Washington: International Bank, 1999.). Temas como custos, resultados de mercado, conhecimento adquirido e governança são frequentes nas pesquisas que seguem o paradigma racional econômico.

Uma terceira via cria posições relacionais que unem os dois paradigmas, tais como se encontram em Granovetter (1985GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, Chicago, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.), Grandori e Soda (1995GRANDORI, A.; SODA, G. Inter-firm networks: antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, Berlin, v. 16, n. 2, p. 183-214, 1995.), Jones, Hersterly e Borgatti (1997JONES, C.; HESTERLY, W.; BORGATTI, S. A general theory of network governance: Exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 22, n. 4, p. 911-945, 1997.). Nessa abordagem as empresas da rede estão imersas em relações sociais e econômicas, inextricavelmente imbricadas e igualmente valorizadas. Quanto mais uma empresa está imersa na rede, mais protegida ela fica das incertezas do meio ambiente, porém sua liberdade é comprometida. Existe, aqui, uma tensão dinâmica constante nos movimentos dos atores em aumentar, ou diminuir sua imersão na rede. Um problema metodológico da referida abordagem é que uma pesquisa pode captar um momento de organização da rede num tempo x determinado, que pode não ser o mesmo num momento y subsequente. Temas tais como comprometimento, conteúdo dos fluxos, fatores de desenvolvimento das redes, decisões dos atores são freqüentes nas pesquisas que seguem este caminho.

Apesar do leque de teorias racionais, sociais e sociais-técnicas, que evidencia um campo pré-paradigmático (KUHN, 1996KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1996.), os artigos mostram convergência quanto às características do fenômeno das redes, aceitando-se que são formações complexas, com elementos indissociáveis, relações instáveis e imprevisíveis, sendo difícil estabelecerem-se padrões de estruturas e processos fixos e previsíveis. Essas características do fenômeno indicam que metodologias racionais, que buscam relações causais estritas, talvez não sejam adequadas para investigar o fenômeno. As características apontam para a adequação do uso de metodologias que abarquem a complexidade e a imprevisibilidade, tais como as abordagens da complexidade encontradas em Morin (1991MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.) e as abordagens do sistemismo encontradas em Bertalanffy (1968BERTALANFFY, L. General system theory: foundations and development. New York: George Braziller, 1968.) e em Luhmann (1995LUHMANN, N. Social systems. California: Stanford University, 1995.). Estas abordagens aceitam relações causais bi direcionais; irredutibilidade do todo e dinâmica de instabilidade entre forças de coesão e forças de expansão. Esse tema será ampliado nas discussões e apresentação de uma proposta.

A bibliografia também converge sobre o objeto de estudo. Pesquisar redes é investigar as ligações entre os atores. Essa ligação, que recebe alguns nomes ( nas teorias sociais de redes, laço na abordagem econômica da teoria dos grafos, díade nas abordagens sociais de mercado) está constituída dos fluxos e das atividades. Os fluxos referem-se ao que é transacionado entre os atores, tais como objetos, dinheiro, informações técnicas, sinais de afeto e de poder. As atividades referem-se às decisões sobre a transformação que cada ator executa sobre o fluxo que recebeu e encaminhou.

Existem discussões sobre o conteúdo e importância das ligações. Uma corrente, por exemplo, afirma que a estrutura determina o conteúdo e dinâmica dos fluxos, enquanto outra corrente advoga o contrário, ou seja, os fluxos determinam a estrutura da rede. Uma corrente aceita que a uniformidade, simetria e confiança são as características definidoras de uma rede eficiente e outra corrente afirma o contrário, isto é, que a característica de uma rede é o fluxo dos diferentes interesses, criando assimetrias, as quais são as responsáveis pela aprendizagem e inovação. Apesar das discussões, a relação (ou , ou translação, ou laço, ou díade; que são os diversos nomes das ligações entre os participantes, conforme nuances em orientações teóricas, que não cabe discutir neste momento) é aceita como a unidade de estudo nas pesquisas. Pesquisadores que seguem a abordagem racional estariam mais interessados nos fluxos comerciais, como a troca de conhecimentos de processos. Pesquisadores que seguem a abordagem social estariam mais interessados nos fluxos sociais, como os conflitos de interesses entre os atores. Pesquisadores que seguem a abordagem da imersão social e econômica estariam mais interessados nos fluxos conjuntos, como a influencia da confiança nos controles comerciais.

O trabalho de estabelecer convergências sobre um determinado fenômeno é importante, porque indica que vários observadores chegaram ao mesmo ponto, embora partindo de premissas distintas e que, por indução, as convergências mostrariam o que é essencial no fenômeno. Assim, a discussão anterior mostrou que as convergências sobre redes de negócios indicam que elas são formatos organizacionais complexos; com imprevisibilidade; que criam interdependência entre os participantes; com a ligação constituindo sua unidade definidora e de estudo, independentemente de qual teoria se utiliza; que a ligação contém os fluxos (o conteúdo das trocas) e as atividades (as decisões dos atores sobre os fluxos recebidos e encaminhados). Ficou evidente, também, o predomínio de dois paradigmas, o racional e o social, como guias para a construção dos raciocínios de pesquisa e escolha da metodologia. Quanto às teorias, não há convergência sobre suas competências e validade, inclusive se questiona se é possível existir uma teoria especifica sobre redes de negócios (MARTELETO, 2001MARTELETO, R. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 1-81, jan./abr. 2001.), ou seja, se o fenômeno é suficientemente distinto para ensejar construções teóricas.

Chegamos, então, aos pontos básicos para a investigação dos artigos brasileiros. Definimos as três categorias da Metodologia de Pesquisa, verificamos que há um conjunto de características consideradas essenciais no fenômeno de rede e que a literatura indica a dominância de dois paradigmas, o racional e o social, e uma terceira via que busca a construção de uma integração, os quais se manifestam em um amplo leque de teorias.

A partir dessa base, investiga-se a produção acadêmica nacional tendo como proposição orientadora a afirmativa de que a tendência dos pesquisadores brasileiros é utilizar metodologias de pesquisa originadas do paradigma racional-econômico. Afirma-se que essa dominância, como consequência, restringe a compreensão das redes, pois são pouco adequadas para abarcar as características essenciais do fenômeno. Conforme já explicitado, as proposições nasceram de experiências prévias dos autores, tanto de leituras, quanto de práticas de pesquisas.

Estabelecidos os parâmetros que guiam a análise da pesquisa é possível explicitar o planejamento e execução da mesma.

4 PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PESQUISA

O problema da nossa pesquisa é levantar, organizar e discutir as metodologias presentes numa amostra da produção científica brasileira em artigos sobre redes de negócios, visando a sustentar, ou não, uma proposição orientadora. Conforme explicitado nos itens anteriores; as categorias que guiam a organização e a discussão dos dados são de três ordens. A primeira refere-se às características essenciais das redes: São formatos organizacionais complexos; com imprevisibilidade; que criam interdependência entre os participantes; com a ligação constituindo sua unidade definidora e de estudo, independente de qual teoria se utiliza; que a ligação contém os fluxos e as decisões.

A segunda ordem refere-se aos princípios dos paradigmas dominantes da literatura. O paradigma social afirma que a sociedade está organizada em redes e que as redes de negócios são manifestações dessa estrutura dominante. No paradigma racional econômico a ideia central é que as redes são respostas competitivas das empresas, buscando melhores posições no mercado. A rede é uma construção racional e pode ser controlada. Uma terceira via, que une o social e o racional afirma que as empresas da rede estão imersas em relações sociais e econômicas, inextricavelmente imbricadas e inter-influentes. A rede se caracteriza por uma tensão dinâmica, com forças de coesão e forças de expansão.

A terceira ordem é a caracterização do que se entende por metodologia. Aceitamos a afirmativa de que a metodologia de pesquisa é o conjunto de estratégias, técnicas de coleta, organização, análise e interpretação dos dados no trato com a realidade empírica. Como existem muitas classificações e nomes distintos para expressar as estratégias e as técnicas, os autores se colocaram na tarefa de ler o conteúdo dos textos, não se restringindo à presença, ou ausência da expressão.

O Quadro 1(ch1) resume as categorias e variáveis importantes para a discussão dos artigos.

Quadro 1:
As categorias e variáveis sobre redes de negócios que servem de guia para a análise da produção nacional.

Conforme já explicitamos, nos três paradigmas existem muitas teorias utilizadas para explicar as redes, com influencia sobre a metodologia escolhida. Dessa forma, torna-se interessante conhecer qual foi a teoria de base utilizada pelos pesquisadores. Também seria interessante conhecer os comentários críticos de cada autor sobre a metodologia utilizada.

Considerando esse amplo leque de variáveis e teorias e nosso interesse nos argumentos sobre a metodologia, decidiu-se investigar os trabalhos do Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Administração - EnAnpad, uma vez que esse evento reúne o pensamento de vanguarda dos pesquisadores brasileiros nos programas de Pós-graduação em Administração e que a liturgia de aprovação do artigo para o Encontro exige a explicitação da base teórica, da metodologia e dos limites do trabalho. Além disso, o Encontro é um evento que mostra pensamentos ainda em evolução, modelos sendo testados e outras formas de laboratório acadêmico. Como a área de redes ainda é um campo aberto, torna-se interessante verificar quais ideias estão sendo lançadas e experimentadas.

O tempo de 10 anos é considerado adequado para estudos de tendências conforme atestam estudos anteriores com o mesmo objetivo de análise do acervo de um tema especifico (DEMUNER; LORDES, 2006DEMUNER, J.; LORDES, V. Coordenação e controle nos EnAnpads 1998 a 2005: em busca da pesquisa positiva. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.; LUNARDI; RIOS; MAÇADA, 2005LUNARDI, G.; RIOS, L.; MAÇADA, A. Pesquisa em sistemas de informação: uma análise a partir dos artigos publicados no EnAnpad e nas principais revistas nacionais de Administração. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Brasília. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.; PEGINO, 2005PEGINO, P. As bases filosóficas das publicações na área de estratégia das organizações nos encontros nacionais da Anpad. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Brasília. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.). Num primeiro filtro foram lidos todos os títulos dos artigos no período considerado, avaliando-se a proximidade da temática com o propósito da pesquisa e valorizando a presença de algumas palavras chave, tais como rede, cadeia, alianças, arranjos produtivos locais (apls), clusters, consórcios, cooperação, cooperativas, networks; uma vez que estas palavras são recorrentes nos artigos sobre redes. Esta leitura dos títulos um a um permite incluir textos que não apresentam as palavras-chave, mas referem-se ao assunto e excluir textos que contém alguma das palavras chave, mas se referem a outros sentidos, tais como estratégias de uma rede supermercadista, ou o uso de redes neurais para medir satisfação do consumidor. Como resultado deste primeiro filtro foram selecionados 327 artigos. Em seguida, realizou-se a leitura dos resumos para eliminar os artigos que explicitam outro tema não evidente no título e nas palavras chave, tais como redes de informática e alianças de negociações entre patrões e empregados. Nesta segunda ação restaram 210 artigos. Estes dois filtros já mostraram que algumas palavras recorrentes em pesquisas sobre redes de negócios aparecem também em outros contextos, o que significa que elas não são discriminantes, ou seja, não têm um significado claro e preciso. Finalmente, realizou-se a análise propriamente dita, conforme matriz de análise detalhada a seguir, o que determinou a aceitação final de 156 artigos, excluindo-se os trabalhos que eram ensaios teóricos (portanto não continham metodologia de pesquisa de campo), os referentes a redes sociais de ajuda e os de formação de grupos na Internet, que não caracterizavam as redes de negócios.

4.1 A matriz de análise

Considerando as conclusões dos itens anteriores, resumidas no Quadro 1, foram eleitas as seguintes categorias de análise dos artigos:

  1. teoria de base utilizada: procurou-se identificar no artigo qual a opção de teoria de base escolhida pelo autor, desde que claramente explicitada. Esse dado permite realizar uma análise da relação entre a teoria escolhida e a metodologia. A escolha da teoria de base, conforme já exposto, pode sinalizar as metodologias que lhe são mais confluentes. Quando o autor não informava claramente a opção, apresentando, por exemplo, resumos de mais de uma teoria, utilizamos a classificação indefinido, para evitar deduções de nossa parte. Esta mesma situação ocorreu nas outras categorias, ou seja, nas estratégias de pesquisa, nas técnicas de coleta e nas técnicas de análises. Quando não havia nenhuma menção, a classificação era inexistente. A classificação seguiu o critério de escrever a expressão utilizada pelo autor, por isso, na apresentação dos dados podem aparecer categorias que seriam próximas, ou semelhantes, mas mantivemos a expressão do autor. Sobre a Metodologia de Pesquisa, dividimos em três grandes categorias, seguindo a divisão colocada no Quadro 1: A estratégia de pesquisa, as formas de coleta e as formas de análise. A estratégia de pesquisa, conforme já explicitado, constitui o conjunto de características e categorias nas quais o trabalho se coloca. Como existe labilidade no uso das expressões, torna-se necessário ler o conteúdo do texto, para concluir sobre a classificação.

  2. a estratégia de pesquisa: buscou-se a informação sobre qual a estratégia de pesquisa explicitada pelo autor, aceitando-se as divisões existentes. Tal como na categoria anterior, escreveu-se a classificação conforme a expressão utilizada pelo autor. Com esta informação é possível discutir as confluências entre as teorias escolhidas e as estratégias de pesquisa utilizadas;

  3. as técnicas de coleta. Seguindo o mesmo padrão dos critérios anteriores, buscou-se a informação sobre os instrumentos e técnicas utilizados para a coleta, entre as várias classificações, tais como entrevistas em profundidade, aplicação de questionários e acompanhamento;

  4. as técnicas de análises. Na mesma linha de classificação, listaram-se as técnicas de análises explicitadas nos artigos, tais como estatística descritiva e análise de conteúdo.

Definida a matriz de análise, e o quadro referencial para as discussões, que está resumido no Quadro 1, passou-se à análise dos artigos. Essa análise seguiu os preceitos de Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.), na modalidade análise temática. Nesta modalidade, em cada texto leu-se o resumo, a parte especifica sobre a metodologia e os parágrafos do texto todo que continham as expressões que foram utilizadas nos dois primeiros filtros, já explicitados. Essa leitura dirigida propicia recolher os dados necessários.

Vamos dar um exemplo para ilustrar.

O artigo de Drouvot e Fensterseifer (2002DROUVOT, H.; FENSTERSEIFER, J. O papel das redes de cooperação nas políticas de inovação tecnológica das pequenas e médias empresas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 26., 2002, Salvador, Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2002. 1 CD-ROM.) apresenta no título a palavra Redes, passando no primeiro filtro. O resumo trata das condições de mercado que obrigam as pequenas empresas a atuarem em conjunto e compara conceitos de redes de cooperação com as conclusões de pesquisa com 16 empresas. Passou pelo segundo filtro.

Buscamos o item específico de metodologia e não encontramos. Na introdução os autores detalham as condições de mercado e de tecnologia que propiciam e obrigam a formação de redes. Destaca-se uma frase importante em que se afirma que o conceito de rede que será utilizado deriva de teorias de estratégia. Aqui há uma indicação, ainda a ser comprovada, de que o paradigma é o racional-econômico. Essa confirmação aparece no item 2.2, onde os autores afirmam que o artigo se funda nas contribuições da teoria de dependência de recursos; na teoria comportamental, com o papel da confiança; na teoria dos contratos e na teoria relacional, para controle de oportunismos. Como os autores não discutem que parte de cada uma delas que será utilizada e não fazem um esforço de integração, entendemos que se trata de um misto de teorias não complementares (econômicas e sociais), classificando o artigo como teoria de base indefinida. O ponto convergente, que aparece em vários parágrafos com a repetição da palavra controle, é que as empresas devem controlar sua posição na rede, o que nos leva a concluir sobre a dominância do paradigma racional-econômico, mesmo existindo teoria social (mas que está presente também para definir controles). Tal conclusão se sustenta na leitura dos parágrafos posteriores, em que a noção de controle e o objetivo de obter ganhos por estar na rede são repetidos.

Esse leque de teorias escolhidas indica provável dificuldade para a construção dos instrumentos, que deveriam conter todas as teorias. Os autores, no entanto, não realizam nenhuma apresentação da metodologia da pesquisa, abrindo diretamente um item 3, de apresentação dos resultados. A estratégia de pesquisa, portanto, é classificada como inexistente. Os parágrafos e tabelas subseqüentes mostram que as variáveis escolhidas para caracterização da amostra são natureza do capital da empresa, faturamento, número de empregados, percentual do faturamento investido em P&D, grau de inovação, valor das exportações. São variáveis quantitativas e econômicas em sua maioria. Na sequência os autores investigam as fontes de competências tecnológicas (feiras, congressos etc); grau de importância dos atores cooperados para propiciar inovações; grau de utilização de atores públicos. A forma de apresentação em escalas nos permite concluir que o instrumento de coleta foi um questionário, sendo assim classificado. A apresentação dos dados indica que as técnicas de análises são de estatística descritiva. Toda esta parte permitiria concluir que a estratégia de pesquisa é de multi casos, quantitativa, descritiva; mas, pelas regras que elegemos neste trabalho, se o autor não explicitou as categorias, então elas não aparecem nos resultados.

Este exemplo mostra o caminho realizado para se chegar às classificações, a partir dos vários níveis de leitura (titulo, resumo, parte de metodologia, parágrafos com as palavras chave). Analisando o artigo na perspectiva do nosso problema, verifica-se uma ausência de qualquer informação, ou comentário sobre a metodologia de pesquisa. Caberia até a pergunta se esse artigo é sobre redes de negócios, já que o foco está nos resultados das empresas.

Utilizando a matriz de análise exposta e fiando-se nos cuidados de outros artigos que analisaram a literatura de redes (GIGLIO; KWASNICKA, 2005GIGLIO, E.; KAWSNICKA, E. O lugar do consumidor nos textos sobre redes. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Brasília. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.; MILES; SNOW, 1992MILES, R.; SNOW, C. Causes of failure in network organizations. California Management Review, Berkeley, v. 34, n. 4, p. 53-72, 1992.; TICHY; TUSHMAN, FOMBRUN, 1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.; VIZEU, 2003VIZEU, F. Pesquisas sobre redes interorganizacionais: uma proposta de distinção paradigmática. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 27., 2003, Atibaia. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2003. 1 CD-ROM.) passamos à apresentação dos resultados.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Tabela 1 mostra o número de artigos que foram selecionados nas fases de filtro e os que restaram na análise final. De um filtro inicial que selecionou 327 artigos no período de 2000 a 2009 do EnAnpad, chegou-se ao número de 156 peças analisadas. A eliminação dos artigos ocorreu principalmente por não tratarem do fenômeno de redes de negócios.

Tabela 1:
Resultados da aplicação dos filtros para selecionar os artigos sobre redes do Congresso EnAnpad no período de 2000 a 2009

Alguns dados merecem destaque. Os anos de 2001 e 2002 apresentaram poucos trabalhos de pesquisas de campo, mas apareceram vários ensaios sobre redes, mostrando um interesse em discutir o tema. Em 2003, Vizeu (2003VIZEU, F. Pesquisas sobre redes interorganizacionais: uma proposta de distinção paradigmática. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 27., 2003, Atibaia. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2003. 1 CD-ROM.) analisou os paradigmas de estudos sobre redes, comentando a dominância das abordagens racionais e econômicas, tanto no uso de teorias, quanto no planejamento e operação das pesquisas. Em 2004 o número de pesquisas sobre redes cresceu bastante comparado aos anos anteriores, em parte porque algumas regiões do Brasil, como o sul e o nordeste, receberam incentivos dos governos locais. Oliva, Sobral e Teixeira (2006OLIVA, F.; SOBRAL, M.; TEIXEIRA, H. Sistematização do processo de análise das relações interorganizacionais para o desenvolvimento sustentado. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.) sugeriram um modelo de pesquisa em redes baseado na teoria dos sistemas e Regis, Dias e Bastos (2006REGIS, H.; DIAS, S.; BASTOS, A. Articulando cognição, redes e capital social: um estudo entre empresários participantes de incubadoras de empresas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.) propuseram um desenho de pesquisa para uso de múltiplas técnicas. Vê-se que o tema de rede despertava interesse tanto teórico, conforme a dominância de ensaios em 2001 e 2002, como já apresentava esforços para analisar e definir uma metodologia de pesquisa na área. O artigo de Bauer e Bucco (2007BAUER, M.; BUCCO, L. Trocando a lente: racionalidade econômica e relações sociais em uma rede de pequenos varejos familiares. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 31., 2007, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. 1 CD-ROM.) critica as teorias de redes que deixam o movimento (as mudanças) de fora, perdendo-se a unidade de estudos que são os fluxos. Nos últimos três anos considerados a quantidade de trabalhos com metodologia e técnicas sobre redes estabilizou-se na casa de 20 artigos.

A Tabela 2 mostra os resultados somados de todos os anos em relação às categorias e subdivisões que as compõem, lembrando que os termos são aqueles utilizados pelos pesquisadores. Sobre os dados ressalta-se inicialmente que dezenove por cento dos trabalhos não explicitam uma teoria de base. Um segundo ponto é a leitura horizontal das primeiras colocações, mostrando a dominância das estratégias de pesquisas qualitativas e descritivas, com o uso da técnica de entrevista para coleta e análise de conteúdo para análise dos dados. Esses cruzamentos serão comentados adiante. A próxima tarefa consiste em analisar cada categoria.

Tabela 2:
Os resultados da análise da metodologia de pesquisa de 156 artigos do Congresso EnAnpad, a partir de quatro categorias

5.1 Sobre teoria de base

As duas grandes dominâncias são rede social e indefinida. A categoria indefinida agrupa os trabalhos que apresentaram frases de várias teorias, mas o autor não esclarece sua opção. São essencialmente resumos das várias abordagens, que ilustram as leituras do autor. Esse dado indica que um número expressivo de pesquisadores não compreende, ou entende não ser necessária a escolha de uma teoria de base para a análise da pesquisa. Quando ocorreu a escolha, a maioria decidiu pela teoria social, com muitas variações de conceitos.

Na sequência aparece a teoria resource based view-rbv, a teoria institucional, a teoria econômica, a teoria da aprendizagem e a teoria da dependência de recursos. É um leque que mostra tanto a presença de abordagens que privilegiam uma empresa isolada como objeto de estudo, quanto de abordagens que privilegiam as interfaces entre organizações e atores. Uma questão que surge sobre esses dados é: Será que as abordagens que privilegiam análises de unidade podem explicar o fenômeno de rede, com sua característica de conectividade, em que o recurso competitivo pode estar no conjunto e não pode ser captado na disjunção? A comparação com uma orquestra aqui pode auxiliar. Ouvindo-se apenas um instrumento de percussão de uma orquestra, é possível captar a essência da música e a qualidade da orquestra?

Chama atenção a divisão inexistente, que mostra a ausência de qualquer informação sobre o item. Neste caso, apareceram cinco artigos que não apresentaram nenhuma teoria de base.

5.2 Sobre estratégia de pesquisa

Aqui há uma dominância de pesquisas descritivas, qualitativas e estudos de casos. Em termos de desenvolvimento científico, essas estratégias são mais adequadas e dominantes quando a ciência está num estágio inicial de investigação de um fenômeno, o que não parece ser o caso do tema de redes, que tem bibliografia científica há pelo menos três décadas.

As análises dos parágrafos sobre os conceitos de pesquisas qualitativas e estudos de casos mostram uma labilidade no uso dos termos, principalmente deste segundo. Um exemplo sem nenhuma especificidade é colocado como um caso e exemplos díspares e assimétricos são agrupados como casos múltiplos de uma mesma manifestação, quando configuram apenas um painel. Conforme Yin (2005YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.) a ideia primordial de um estudo de caso é a sua especificidade, unicidade, sua validade por ser contrário à teoria, ou por ser a primeira ocorrência de uma nova categoria; revitalizando as discussões das afirmativas e generalizações existentes até então. Um conjunto de entrevistas com gerentes, buscando captar suas opiniões sobre redes, não pode ser classificado como um estudo de caso. Sobre pesquisas qualitativas sabe-se que elas utilizam teorias já estabelecidas para descrever, analisar e interpretar. Este último nível, o da interpretação, é necessário para se construir hipóteses que guiarão novas pesquisas. No entanto, o cruzamento dos 71 artigos classificados como qualitativos mostra que a maioria é descritiva (83 no total, pois se somam com outras divisões), 7 são explicativos e apenas 3 apresentam interpretações. Quer dizer, menos de 5% chegaram ao nível exigido e necessário num trabalho qualitativo, que é a interpretação e construção de hipóteses. Esse é um resultado crítico, pois sem a presença de hipóteses a construção e evolução do conhecimento ficam prejudicadas. Por outro lado, o dado é confluente com os altos índices de indefinição de teoria de base, pois sem uma teoria não é possível construir interpretações.

A leitura dos objetivos expressos nos artigos classificados nas quatro primeiras estratégias (descritiva, qualitativa, estudo de caso e exploratória) mostra um esforço dos autores em buscar relações entre variáveis que expliquem o nascimento das redes, os seus processos e os seus resultados. Tal procura é coerente e defensável, desde que se chegue até a interpretação, o que não foi o caso dessa amostra.

5.3 Sobre as técnicas de coleta de dados

A grande convergência de técnicas de coleta é a entrevista, seguida de dados secundários (na verdade seria coleta de dados bibliográficos e documentos das empresas) e questionários. Como foram raros os artigos que detalharam o conteúdo dos roteiros de entrevistas, pode-se apenas comentar sobre a técnica em si. A entrevista é usualmente utilizada para coletar impressões, atitudes, crenças, análises técnicas. A questão crítica da entrevista, que deve ser pelo menos apontada pelo pesquisador, mas não está presente nos artigos, é sobre a equivalência entre o discurso do sujeito e as evidências, ou realidade do fenômeno. Tal questão é relevante, uma vez que a origem da coleta da entrevista está intrinsecamente atrelada aos objetivos de pesquisar as percepções mais profundas das pessoas (por isso existe a expressão entrevista em profundidade). Será que essa forma de coleta tem capacidade de captar o fenômeno das relações nas redes? Sobre esta questão Marsden (1990MARSDEN, P. Network data and measurement. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 16, p. 435-463, 1990.) cunhou a expressão rede cognitiva para indicar que os dados de entrevistas mostram a visão que o sujeito tem da rede, o que é diferente da dinâmica da rede de fato. Aceitando-se tal afirmativa, conclui-se que um número expressivo de pesquisas gerou conhecimentos sobre os processos cognitivos de apreensão do fenômeno da rede e não sobre as redes propriamente ditas.

A forma de coleta por observação e acompanhamento apareceu 29 vezes. Tal como nas divisões anteriores, não há detalhes do que exatamente estava sendo observado, ou acompanhado. Quando o pesquisador informa que participou de uma reunião de uma rede de empresas, não é suficiente para definir o objeto da observação. Autores como Latour (2005LATOUR, B. Reassembling the social. Oxford: Oxford Press, 2005.) e Tichy, Tushman, Fombrun (1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.) afirmam que o acompanhamento é uma técnica válida para se coletar as relações na rede, desde que a unidade de estudo seja o fluxo. Adicionaremos que ainda é possível detalhar qual fluxo se está mais interessado, se técnico, ou social, por exemplo.

5.4 Sobre as técnicas de análise dos dados

Nessa categoria apareceram duas formas dominantes: a análise de conteúdo e a estatística descritiva. Aqui se encontra uma coerência com as estratégias de pesquisa dominantes (descritiva e qualitativa). Para a análise de conteúdo, no entanto, vale o comentário já apresentado sobre a necessidade de evoluir a análise até a interpretação e desenvolvimento de hipóteses, para guiar novas pesquisas. Bardin (1977BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.), que é considerado um dos autores básicos sobre análise de conteúdo, foi claro nos seus escritos sobre a necessidade de se construírem interpretações sobre os dados. As outras divisões menos votadas são semelhantes às análises métricas, como a sociometria, ou com as análises de conteúdo, como a análise qualitativa.

Na leitura das conclusões verificamos se havia discussão sobre a metodologia, já que há uma norma de se discutir os limites dos trabalhos. Em 133 casos de um total de 156, equivalente a oitenta e quatro por cento, os autores não realizam nenhuma discussão sobre a validade e capacidade da metodologia que eles utilizaram para investigar o fenômeno. Não se valoriza a discussão da validade do caminho percorrido na pesquisa, ou se a estratégia era adequada ao fenômeno, conforme as categorias de análise eleitas, ou se os instrumentos eram capazes de coletar dados relevantes para responder às questões do estudo. A pergunta que fica é: Se há uma norma de se discutir os limites de um trabalho acadêmico, por que para o caso da metodologia nos artigos sobre redes ela pouco se aplica? Como o leque de teorias e métodos é amplo, seria importante realizar essa reflexão. Nos 23 casos em que houve alguma reflexão, a tendência dos autores foi afirmar que os resultados são limitados e que é necessário analisar mais casos. Nenhum discutiu e criticou os limites da metodologia utilizada.

Sobre a terminologia, a análise revelou uma profusão e até mesmo confusão entre metodologia de pesquisa, estratégia de pesquisa, métodos, instrumentos de coleta e análise; e a capacidade das formas de coleta e análise em desenvolverem e incrementarem teorias e métodos na parte de conclusões. Uma confusão, por exemplo, foi definir a metodologia da pesquisa como sendo a técnica de coleta utilizada. Na definição da teoria de base confundem-se termos técnicos com teorias da administração (por exemplo, teoria da lucratividade); misturam-se abordagens com princípios não paralelos, como resource based view e institucionalismo, e se utilizam tipologias de redes como suporte teórico (por exemplo, teoria das redes verticais). Sobre metodologia de pesquisa encontra-se uma difusão do uso da palavra metodologia, em tentativas de expressar a metodologia científica, como na frase “a metodologia do trabalho é o método dialético”; o uso de abordagens de coleta cuja união de dados necessita de um esforço adicional não explicado, como focus groups e questionários com escalas; e formas de análises que não são confluentes, como análise de conteúdo, que deve culminar com interpretações e estatística descritiva, que deve culminar com correlações e testes de hipóteses.

Vamos dar um exemplo. Um artigo de 2007 (referencia omitida) coloca que o objetivo é analisar as vantagens que uma empresa obtém ao entrar numa rede de supermercados que já tem uma marca. O autor apresenta conceitos sociais de redes, sem ligação com vantagens de uso de marca; apresenta afirmativas sobre logística que não tem ligação com o tema; ao final da parte teórica indica outro objetivo, que é analisar a atuação de um broker na rede (o detentor inicial da marca); afirma que irá utilizar o método fenomenológico porque esse considera o contexto, mas não comenta que este caminho é inadequado para investigar vantagens econômicas comparativas; explicita sua estratégia como sendo estudo de caso, mas nada esclarece sobre a especificidade de algum caso, analisando a posição de várias empresas na rede; indica ser um trabalho exploratório, mas não apresenta uma proposição orientadora; na coleta utiliza instrumentos de observação e questionários com escalas, sem explicar como esses dados que são qualitativamente diferentes podem ser organizados em conjunto e na análise realiza estatística descritiva; buscando as relações entre variáveis. Esse não é um exemplo isolado. Outros artigos apresentam as mesmas confusões.

Os dados, portanto, indicam dominância do paradigma racional- econômico, mas também uma forte presença das abordagens sociais. Há um amplo leque de teorias de base para explicar as redes e um número expressivo de artigos sem escolha de teoria. Na metodologia predominam estratégias qualitativas e descritivas, com foco em casos específicos, com os dados coletados basicamente por entrevistas e analisados por técnicas de análise de discurso e estatística descritiva.

Considerando as convergências sobre as características das redes e sobre as características dos paradigmas dominantes concluímos que esse quadro de dominância na metodologia de pesquisa cria restrições à compreensão, interpretação e teorização do fenômeno. Ocorre que as estratégias dominantes-descritiva, qualitativa, estudo de caso e exploratória- são mais adequadas para fenômenos novos, com poucos estudos, que necessitam do estabelecimento de alguns parâmetros que possam nortear as primeiras hipóteses e conjuntos de afirmativas, que aos poucos vão formando o corpo das teorias. Não é esse o caso do fenômeno de redes. Ele não é novo, conta com um corpo de teorias que se aglutinam em três paradigmas e existe uma boa literatura de análise da bibliografia sobre o assunto (GIGLIO; KWASNICKA, 2005GIGLIO, E.; KAWSNICKA, E. O lugar do consumidor nos textos sobre redes. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Brasília. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.; NOHRIA; ECLES, 1992NOHRIA, N.; ECLES, R. Networks and organizations: structure, form, and action. Boston: Harvard Business School, 1992.; TICHY; TUSHMAN; FOMBRUN, 1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.; ZAHEER; GOZUBUYUK; MILANOV, 2010ZAHEER, A.; GOZUBUYUK, R.; MILANOV, H. It´s the connections: the network perspective in interorganizational research. Academy of Management Perspectives, Biarcliff Manor, v. 24, n. 1, p. 62-77, Feb. 2010). O momento científico de estudo de redes parece já exigir uma análise crítica do conhecimento existente e um avanço das teorias. Como afirmava Popper (1992POPPER, K. A lógica da pesquisa cientifica. São Paulo: Cultrix, 1992. ), é o momento de testar hipóteses e reformular as que não se sustentam. Essa dominância, segundo nosso entendimento, é a responsável pela inexistência de construções de hipóteses, afirmativas, ou modelos brasileiros sobre redes.

No próximo item vamos apresentar uma alternativa de caminho metodológico que possa ser mais capaz de gerar conhecimentos.

6 PROPOSTA DE METODOLOGIA DE PESQUISA

Os comentários anteriores indicam a necessidade de mudança da lente metodológica. O que se propõe como solução alternativa? Nossa primeira sugestão é que a metodologia de pesquisa do fenômeno de redes pode minimizar a importância do pensamento causal, já que o contexto social e cultural cria um campo organizacional indissociável das ações dos atores, o que as análises causais não alcançam. Bauer e Bucco (2007BAUER, M.; BUCCO, L. Trocando a lente: racionalidade econômica e relações sociais em uma rede de pequenos varejos familiares. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 31., 2007, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. 1 CD-ROM.) e Granovetter (1985GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, Chicago, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.) sustentam a afirmativa da característica de constante movimento das redes, o que limita o alcance das análises racionais e estruturais. O argumento é que o paradigma de um mundo racional e organizado não é adequado para fenômenos caracterizados pela interdependência, complexidade e imprevisibilidade. Este argumento foi defendido por Ramos (1989RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações: uma reconstrução da riqueza das nações. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.), que propôs um modelo multidimensional para se entender os fenômenos da Administração, considerando a sociedade como um conjunto de sistemas, em que o mercado é um deles e relativizando o pensamento racional econômico. A ideia de uma dinâmica em constante mudança nas redes também é afirmada por Castells (1999CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.), Latour (2005LATOUR, B. Reassembling the social. Oxford: Oxford Press, 2005.) e Maturana e Varela (1987MATURANA, H.; VARELA, F. The tree of knowledge. Boston: Shambhala, 1987.).

O paradigma que foi aqui denominado de imersão social e econômica, conforme detalhado no Quadro 1, é o que mais considera e valoriza as relações interdependentes e o imbricamento de distintas naturezas de relações, quando comparado com os outros dois, que adotam posições mais extremadas. O dinamismo que esse paradigma aceita inclui variações de equilíbrio, de tamanho, do conteúdo dos fluxos, dos controles, entre algumas variáveis que são mais valorizadas nas pesquisas. Conforme Parente (2004PARENTE, A. Tramas da rede. Porto Alegre: Sulina, 2004.), a rede pode assumir formas variadas ao mesmo tempo, entre o sólido e o fluido, isto é, do organizado, ao instável. Da tradição dos estudos da rede (aqui englobando as noções de redes biológicas, redes dos fluxos da engenharia, redes de computadores), afirma Parente que se desenvolveram ferramentas de análise que conseguem captar todo tipo de passagem, ou transição. O objeto de estudo dessas ferramentas é a circulação, que aqui denominamos de fluxo.

Esta informação é relevante já que indica existirem metodologias de pesquisa em outros campos, como Medicina e Engenharia, capazes de seguir os fluxos e as transições de um fenômeno. Esses raciocínios aceitam a complexidade dos fenômenos e se apóiam no Sistemismo.

Seriam a complexidade e o sistemismo metodologias capazes de guiar estratégias e instrumentos de pesquisa sobre o campo de redes? Conforme Bartunek, Bobko e Venkatraman (1993BARTUNEK, J.; BOBKO, P.; VENKATRAMAN, N. Toward innovation and diversity in management research methods. Academy of Management Journal, New York, v. 36, n. 6, p. 1362-1373, 1993.) a defesa de uma metodologia deve mostrar seu valor e competência quando comparada às outras existentes e deve ser confluente e coerente com as teorias com a quais se vincula. Nos próximos parágrafos defendemos que os princípios da complexidade e do sistemismo são capazes de incluir o dinamismo e a instabilidade das redes, o que é muito difícil nos paradigmas racionais e sociais.

6.1 Sobre a complexidade e o sistemismo como suporte metodológico para o estudo das redes

A complexidade advoga três princípios. O primeiro refere-se à incerteza e imprevisibilidade, afirmando que os fenômenos humanos não seguem leis causais estritas. O segundo princípio é que há um diálogo infinito entre ordem-desordem nas relações humanas, o que implica que um momento de certa ordem e equilíbrio logo é substituído por uma desordem. O terceiro princípio, próximo da idéia de retroalimentação do sistemismo, é a recursão organizacional, em que cada momento é simultaneamente produzido e produtor, o que permite certa independência dos esquemas causais (MORIN, 1991MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.). A consequência para o planejamento e execução de pesquisas é que os fenômenos são vistos como mutáveis, não redutíveis à lógica causal clássica, o que é coerente com a visão de dinâmica de rede, principalmente no paradigma da imersão social e econômica. Conforme discutiram Wollin e Perry (2004WOLLIN, D.; PERRY, C. Marketing management in a complex adaptive system: an initial framework. European Journal of Marketing, Bradford, v. 38, n. 5/6, p. 556-572, 2005.) e Rebelo et al. (2005REBELO, L. et al. Avaliação do processo de formação de estratégias de gestão em universidades à luz dos pressupostos da teoria da complexidade: um estudo de caso dos planos de gestão de uma universidade federal. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.), no entanto, são raras as pesquisas sobre redes que utilizam a complexidade devido à dificuldade operacional. Referente à amostra utilizada, encontramos um único artigo que trata de redes e defende a complexidade (BOEIRA; FERREIRA; CAMPOS, 2006BOEIRA, S.; FERREIRA, E.; CAMPOS, L. Redes de catadores recicladores de resíduos em contextos nacional e local: do gerencialismo instrumental à gestão da complexidade. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 4., 2006, Porto Alegre. Anais…Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.), mas os autores não ofereceram explicações sobre a metodologia utilizada.

O sistemismo afirma a interconectividade e as relações recíprocas entre os elementos. Esses se organizam de forma a criar sistemas e subsistemas orientados para um fim, o objetivo a ser alcançado. O sistema é um modelo de comunicação e cibernética, com entradas, processos e saídas, afirmando que as relações podem ser bidirecionais, diferente da causalidade restrita das teorias positivistas. A teoria dos sistemas nasceu dos esforços de Bertalanffy e seus seguidores em criar uma metodologia integradora para os temas científicos. Refinamentos posteriores criaram categorias de sistemas e a noção de sistema aberto, que possibilita a passagem de um nível de análise (biológico, por exemplo) para outro (social, por exemplo).

Aplicado aos fenômenos sociais, como as redes de negócios, significa que as relações entre as partes podem ser compreendidas a partir do objetivo que se pretende alcançar e que os processos de produção, de transmissão de conhecimentos, de comunicação de sinais sociais, entre outros, adquirem sentido e ordem a partir dessas respostas de saída. Utilizando esse raciocínio na investigação do desenvolvimento das redes da Vila de Paranapiacaba, em São Paulo, Carvalho e Giglio (2011CARVALHO, M.; GIGLIO, E. A dinâmica da rede sob a perspectiva social: o caso da Vila de Paranapiacaba. Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, El Sauzal, v. 9, n. 2, p. 327-340, 2011.) verificaram que quando o objetivo era o comércio do café havia um sistema característico de processos e relacionamentos, sob um sistema de valores sociais e culturais e quando o objetivo mudou para o turismo, os mesmos atores do sistema anterior (os moradores e empresários da cidade) mudaram seus processos e relacionamentos.

Metodologias de pesquisa que utilizam princípios do sistemismo são raras no campo de redes. Cabe ressaltar as afirmativas teóricas e metodológicas de Maturana e Varela (1987MATURANA, H.; VARELA, F. The tree of knowledge. Boston: Shambhala, 1987.), aplicadas ao turismo, saúde e educação (ROSSETI-FERREIRA et al., 2008ROSSETI-FERREIRA, M. et.al. Desafios metodológicos na perspectiva da rede de significações. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 133, p. 147-170, jan/abr. 2008.). Na amostra de artigos, encontramos o trabalho de Dufloth (2004DUFLOTH, S. Organizações sistêmicas do terceiro setor: estudo das configurações das organizações do terceiro setor baseado em sistemas auto-organizados e auto-regulados. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 3., 2004, Atibaia. Anais…Rio de Janeiro: ANPAD, 2004. 1 CD-ROM.). A autora se propõe a estudar as redes de políticas publicas e terceiro setor a partir da abordagem evolutiva do pensamento sistêmico, isto é, que com evolução da complexidade dos arranjos organizacionais foi possível e necessário utilizar os referenciais da teoria dos sistemas. Para o presente trabalho importa ressaltar que a autora aproximou os princípios do sistemismo e da complexidade, entendendo que eles têm capacidade de explicar os arranjos organizacionais atuais, principalmente quando se trata das interfaces entre o público e o privado. Num outro trabalho, Stadnick e colaboradores (2008STADNICK, K. et al. Organizações sob a ótica dos sistemas complexos: estudo do modelo de adaptação evolucionária da vantagem da complexidade. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 32., 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008. 1 CD-ROM.) colocam que metodologias que separam as partes de uma organização ignoram a complexidade do todo e propõem o uso de um modelo apresentado por Kelly e Allison (1998KELLY, S.; ALLISON, M. The complexity advantage: how the science of complexity can help your business achieve peak performance. New York: MacGrow Hill, 1998.). O que importa é a crítica dos autores sobre as metodologias tradicionais de pesquisa e a afirmativa da necessidade de se desenvolverem novos modelos de análise.

Embora raros, os artigos convergem na busca de metodologias alternativas de pesquisa, nas suas estratégias e instrumentos, tais como a técnica de acompanhamento, os diagramas de fluxos e o gráfico sociotécnico; entendendo que as metodologias racionais, com princípios positivistas não estão conseguindo abarcar os complexos fenômenos sociais atuais. Na análise da amostra também encontramos artigos que, embora não defendam explicitamente a complexidade e o sistemismo, comentam que métodos tradicionais de pesquisa, como questionários, são limitados quando se trata de investigar relações humanas (SANTOS, 2006SANTOS, H. Coleta e análise de dados em pesquisas no campo de sistemas de informação que adotam a perspectiva da teoria ator-rede. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006, Salvador. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.).

Assim, existem afirmativas e práticas na busca de metodologias de pesquisa que possam superar os limites dos esquemas racionais e positivistas, quando aplicados a fenômenos complexos, mas, segundo Cabral (1998CABRAL, A. Reflexões sobre a pesquisa nos estudos organizacionais: em busca da superação da supremacia dos enfoques positivistas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 22., 1998, Foz do Iguaçu. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 1998. 1 CD-ROM.), os esforços nesse sentido ainda são limitados.

Nos próximos parágrafos objetivamos contribuir com esses esforços apresentando um modelo de desenho de pesquisa que é capaz de incluir as características do fenômeno das redes; utilizando alguns dos princípios da complexidade e do sistemismo e colocando o fluxo como a unidade de estudo. Conforme Morin (1991MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.), a teoria dos sistemas é muito próxima da complexidade, nessa ideia de sistemas que se interconectam em níveis diferentes. Assim, o sistemismo permite criar desenhos de pesquisas que são diferentes do padrão tradicional do triângulo das variáveis antecedentes, consequentes e intervenientes, de relações causais unidirecionais.

O conjunto proposto é coerente com a afirmativa de que uma rede é um sistema integrado de subsistemas sociais e econômicos, interdependentes, orientados para objetivos. A afirmativa é oriunda das convergências dos textos de Castells (1999CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.), Granovetter (1985GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, Chicago, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.), Nohria e Ecles (1992NOHRIA, N.; ECLES, R. Networks and organizations: structure, form, and action. Boston: Harvard Business School, 1992.).

O paradigma da imersão social e econômica afirma que os conteúdos sociais e econômicos fluem inextricavelmente juntos nas relações entre os atores, mas, seguindo um principio da complexidade, podem ser distinguidos. Estão unidos, mas são distinguíveis, o que permite reconhecê-los e investigá-los numa pesquisa. Sinais sociais de confiança, poder e comprometimento associam-se e criam interdependências com os sinais de processos produtivos, especificações técnicas, relatórios de qualidade e planilhas de custos. Esse subsistema dos fluxos está contido num subsistema dos valores sociais e culturais do grupo de atores. Os objetivos do sistema, isto é, as respostas de saída, são de duas ordens, as quais realimentam o sistema. Por um lado, as respostas do negócio; tais como vendas, lucros, fatia de mercado, domínio de processos, entre outros. Por outro lado, as respostas de estrutura e dinâmica da rede, tais como entrada e saída de atores, mudanças de posições dos atores na rede e incremento/diminuição das variáveis sociais como confiança e comprometimento.

A visão da rede como um sistema que apresenta movimentos de entropia e de expansão já havia sido defendida por Gulati e Gargiulo (1999GULATI, R.; GARGIULO, M. Where do interorganizational networks come from? American Journal of Sociology, Chicago, v. 104, n. 5, p. 1439-1493, 1999.) e, conforme o paradigma social, segue a lei da auto-eco-organização, defendida por Morin (1991MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.). No paradigma de imersão coloca-se a possibilidade de algum controle, que defendemos nesta proposta.

A união das premissas apresentadas pode ser vista no desenho da Figura 1, mostrando a díade, que é a ligação entre dois atores, como a unidade estrutural; o fluxo como objeto de investigação; os conteúdos sociais e comerciais dos fluxos; um sistema social e cultural que envolve os subsistemas anteriores e as respostas de saída.

Considerando as características do fenômeno e o conjunto de premissas da Figura 1, que pode funcionar como um quadro referencial para a metodologia de pesquisa; a estratégia de pesquisa que decorre logicamente é a abordagem qualitativa, necessariamente interpretativa, já que as categorias em análise, ou seja, o conteúdo dos fluxos, as decisões dos atores, o contexto e as respostas de saída; são essencialmente definidas a partir de variáveis qualitativas; tais como confiança, poder, ou qualidade das informações. É claro que não se excluem as variáveis métricas, tais como número de organizações, quantidade de fluxos, posição dos atores, evolução de vendas, que podem auxiliar na construção das interpretações.

Figura 1:
A proposta de uma rede como um sistema, com dois subsistemas interligados e duas respostas de saída.

Considerando os comentários sobre pesquisas de fluxos em outras Ciências, propomos que o método de coleta mais capaz é o acompanhamento, que permite sucessivas observações do fenômeno, buscando os momentos de ordem/equilíbrio e os de desordem/desequilíbrio. Estudos seccionais de redes e uso de questionários já haviam sido criticados por Zaheer, Gozubuyuk e Milanov (2010ZAHEER, A.; GOZUBUYUK, R.; MILANOV, H. It´s the connections: the network perspective in interorganizational research. Academy of Management Perspectives, Biarcliff Manor, v. 24, n. 1, p. 62-77, Feb. 2010).

A pergunta que surge é: Acompanhar o que? A resposta é acompanhar o que se colocou como o objeto definidor das redes, ou seja, o fluxo entre os atores, nos seus conteúdos sociais e comerciais. Experiências ainda não publicadas dos autores mostram que o acompanhamento de algumas reuniões do mesmo grupo de trabalho (no caso são redes de políticas ambientais) consegue coletar dados que não apareceriam nas técnicas de entrevistas, tais como o fluxo de assimetria de interesses nos discursos dos atores. O método se mostra operacional e eficaz, pois coleta informações sobre os conteúdos dos fluxos da rede; sobre as decisões dos atores sobre esses fluxos; possibilita interpretações sobre aquela rede específica e construções teóricas, por exemplo, sobre a essência e as diferentes manifestações de confiança nas redes; mesmo que o objetivo de pesquisa esteja voltado para respostas de saída, como os resultados.

A proposta de dominância de estratégias qualitativas e interpretativas, com registro dos conteúdos e decisões dos atores aponta para o método de análise denominado Análise de Conteúdo, conforme os preceitos de Bardin (1977BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.). A técnica aceita a diversidade de fontes de coleta; propõe que o pesquisador utilize poucas categorias a priori para fenômenos que ainda não tem um paradigma dominante e, o mais importante, coloca que a parte principal da análise é a construção de interpretações dos dados, a partir da teoria de base escolhida, sem o que todo o esforço descritivo e analítico seria inútil. A interpretação é o passo necessário para a construção e evolução do conhecimento e a análise de conteúdo coloca esta ação como necessária na pesquisa.

Esse arcabouço de metodologia de pesquisa para a análise de redes pode oferecer um caminho de desenvolvimento teórico, o que é muito difícil no quadro dominante, como já se discutiu. Na verdade, uma boa parte dos artigos aqui analisados são descrições de sujeitos isolados, empresas e pessoas, cujas conclusões não trazem contribuição para uma teoria de redes. Na configuração proposta o pesquisador não precisa abandonar seu objeto de investigação. Ele ainda pode ser um tema tradicional como os resultados de negócios de uma rede, desde que o plano de pesquisa considere a interface desse resultado com o subsistema dos fluxos e se utilizem os princípios sistêmicos e da complexidade, ou seja, investigar interdependências e padrões de ordem-desordem.

Concluindo, resumindo e defendendo a proposta, a qual está sendo aplicada em um projeto acadêmico, mostrando capacidade operacional, afirma-se que, a partir das características das redes - complexidade, incerteza, imprevisibilidade, interdependência, unicidade; e a convergência de conceitos, principalmente o imbricamento das relações sociais e comerciais, como manifestações de uma sociedade em rede e o fluxo como unidade de estudo; propõe-se que os pesquisadores da área possam utilizar a proposta desenhada na Figura 1 como suporte para um plano de pesquisa mais competente na compreensão do fenômeno e na capacidade de geração de hipóteses.

Acreditamos que o paradigma da imersão social tem uma interface de conjunção com os princípios da complexidade e do sistemismo, aceitando imprevisibilidade e desequilíbrios nas relações de negócios.

Estruturar o fenômeno de rede como um sistema tem algumas vantagens sobre os desenhos tradicionais de causa e efeito, tais como a possibilidade de investigar inter relações, o que é interessante e apropriado na dinâmica de redes. Com uma técnica de acompanhamento pode-se verificar, por exemplo, numa reunião semanal de um grupo, a evolução das posições, dos conteúdos que circulam, as trocas de informações, a formação de subgrupos de interesses, entre outras possibilidades.

A técnica de análise de conteúdo permite esclarecer as especificidades das redes analisadas, em conformidade com as características do fenômeno, mas também possibilita e, na verdade, até exige, a formação de hipóteses sobre os preditores, ou eixos básicos sobre os quais convergem as várias redes analisadas.

Essa proposta de metodologia de pesquisa, que valoriza alguns caminhos em detrimento de outros, justifica-se a partir da análise dos artigos, na qual ficou evidente que a dominância dos modelos de estratégias de pesquisa, coleta e análise dos dados não contribuíram para o desenvolvimento teórico e metodológico da área.

Sobre a teoria de base a diversidade existente não permite defender uma escolha em particular. O que se pode comentar é que caberia ao pesquisador escolher teorias mais coerentes com as características do fenômeno e com as convergências de conceitos básicos da literatura. A interdependência, a imprevisibilidade, o imbricamento social e econômico, a valorização da comunhão mais do que a competição são algumas categorias que exigem presença em qualquer teoria que pretenda explicar as redes de negócios.

Não é intenção dos autores serem normativos, mas propor um caminho que parece ser mais promissor para dar voz à rede; para olhar o fenômeno de redes com uma lente que permita que suas características essenciais possam se evidenciar. As metodologias dominantes empregadas na academia brasileira estão sendo capazes de realizar essa tarefa.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi discutir as metodologias de pesquisa empregadas pelos autores brasileiros nos artigos sobre redes de negócios a partir de uma amostra de trabalhos apresentados no Congresso EnAnpad. A tarefa se justifica uma vez que análises prévias indicavam que o assunto era pouco refletido, apesar de sua importância, conforme afirmado há tempos por Tichy, Tushman e Fombrun (1979TICHY, N.; TUSHMAN, M.; FOMBRUN, C. Social networks analysis for organizations. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.). Num trabalho com objetivo semelhante, Mariz, Goulart e Dourado (2004MARIZ, L.; GOULART, S.; DOURADO, D. O reinado dos estudos de caso em teoria das organizações: imprecisões e alternativas. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 3., 2004, Atibaia. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2004. 1 CD-ROM.) concluíram que nos artigos brasileiros apresentados nos Congressos EnAnpad entre 1999 e 2003 predominavam os métodos qualitativos e uma certa banalização do estudo de caso, o que é confluente com as conclusões deste estudo.

A proposição orientadora é que os pesquisadores brasileiros utilizam predominantemente metodologias que buscam relações causais estritas, com objetos de estudo que são os atores e que esta abordagem é um dos motivos de existirem poucos avanços teóricos nesse campo.

A análise mostrou que a proposição se mantém. Conforme se verifica nos dados do Tabela 2, há dominância de metodologias de pesquisa descritivas e qualitativas, com dados coletados por questionários e o uso de um amplo leque de teorias de base. Nos 156 artigos analisados não se encontrou nenhuma proposta de modelo, ou conjunto de afirmativas que pudesse indicar uma contribuição às teorias de redes.

Os resultados são relevantes quando confrontados com as convergências sobre as características do fenômeno de rede e os princípios dos três paradigmas dominantes, conforme se vê no Quadro 1. Essas características raramente são citadas nos artigos analisados e predomina o paradigma racional, com muitos temas sobre vantagens isoladas dos participantes e questionários que captam a percepção dos sujeitos.

A dominância de estratégias descritivas, qualitativas, com análises que buscam isolar algumas variáveis, reduz as possibilidades de desenvolvimento de teorias, já que são raras as interpretações e construções de novas hipóteses. Foram 71 trabalhos qualitativos sem nenhuma nova proposta. Agregue-se a isto a dominância de estudos de casos e temos uma pulverização de descrições de exemplos isolados. O problema não é ser um caso isolado, já que cada rede tem a sua especificidade. O problema é a ausência do salto que pode e deve ser realizado do estágio da descrição para a construção dos preditores, ou fundamentos, ou modelos, ou sistemas sobre o fenômeno. Sem essa evolução de construção de conhecimentos sobre os fundamentos das redes, os pesquisadores acabam repetindo os padrões de teorias e metodologias de análises de empresas isoladas. Em suma, os pesquisadores brasileiros não estão construindo hipóteses e teorias sobre redes, mas primordialmente descrevendo a participação e vantagens das empresas nas redes e a percepção de atores dentro delas. Esse modo de análise é característico das teorias competitivas, com foco em unidades, mas é pouco adequado para um fenômeno de interações e interdependência. Temos também a dominância de entrevistas, o que, segundo Marsden (1990MARSDEN, P. Network data and measurement. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 16, p. 435-463, 1990.) indica que as pesquisas analisaram as redes cognitivas, isto é, a percepção das redes, o que é diferente dos fluxos da rede.

Considerando as convergências sobre as características da rede, as premissas dos três paradigmas dominantes e os resultados da análise dos artigos, propusemos um modelo de metodologia de pesquisa, na forma de sistema, conforme se vê na Figura 1, que pretende abarcar as características de complexidade das redes e apontar alguns caminhos de estratégias e instrumentos de coleta que nos parecem mais capazes de compreenderem o fenômeno e criarem hipóteses, para o desenvolvimento das teorias.

Não se trata, evidentemente, de impor uma escolha. Trata-se de indicar um outro caminho de metodologia, que parece ser mais competente para captar o fenômeno de redes. Na verdade, esse desenho vem sendo elaborado, testado e aprimorado pelos autores nos últimos anos, não sendo fruto exclusivo da análise deste trabalho. Os resultados até o momento, com pesquisas sobre políticas ambientais e sobre o nascimento de redes, indicam que o modelo tem capacidade operacional e consegue coletar dados que mostram as direções e os conteúdos dos fluxos. O modelo é capaz de mostrar a historicidade, o fluxo, a mobilidade e a incerteza, que são as características mais evidentes do fenômeno de redes

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    Processo de Avaliação: Double Blind Review

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2012

Histórico

  • Recebido
    08 Nov 2010
  • Aceito
    02 Jan 2012
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