| "1. No Cartum, a forma do verbo 'fazer', no plural, está adequada ou inadequada? Justifique". (AMARAL et al., 2016AMARAL, E. et al. Novas palavras 3º ano. São Paulo: FTD, 2016., p. 244, grifo nosso). |
| Duas possibilidades de interpretação parecem plausíveis aqui: |
| (1) como adequação não tem um sentido absoluto, é praticamente impossível responder à questão sem que se diga quais são os parâmetros estilísticos considerados. Ou seja, a forma do verbo está adequada/inadequada em relação a que prática estilística? |
(2) o conceito de adequação está empregado como sinônimo do binômio certo/errado (BOPP DA SILVA et al., 2018BOPP DA SILVA, T.; SIMIONI, T. SOUZA, A. A noção de norma, a variação linguística e a formação de professores: entre a sociolinguística e uma “linguística da tolerância”. Revista SOLETRAS, n. 35, p. 28-54, 2018. Disponível em: Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/32150 . Acesso em: 14 jul 2021.
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index....
; SIMIONI; SOUZA, 2018SIMIONI, T.; SOUZA, A. Práticas de letramento na formação de professores mediadas pela sociolinguística. Revista de Letras Norte@mentos, v. 11, n. 27, p. 97-114, out. 2018. Disponível em: Disponível em: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/binorteamentos/article/view/3362 . Acesso em: 14 jul 2021.
http://sinop.unemat.br/projetos/revista/...
) que tem sido preterido por certa pedagogia linguística. |
| Tanto em um caso como em outro, está implícita a ideia de que as formas linguísticas podem ser em si e por si adequadas ou inadequadas à revelia de seus usuários, contextos e práticas sociais. |
| "2. Considere este trecho de texto e observe as formas verbais em destaque: [… ] Quanto à adequação à variedade culta das formas destacadas, indique a afirmação incorreta". (AMARAL et al., 2016AMARAL, E. et al. Novas palavras 3º ano. São Paulo: FTD, 2016. , p. 243, grifo nosso). |
| Como não há referências ou informações sobre a fonte do texto, autoria, contexto de publicação etc., é bastante complicado realizar uma avaliação acerca da adequação estilística. Com base apenas no assunto do texto (economia), pode-se dizer que as formas verbais empregadas estão dentro do limite de usos possíveis e previsíveis de falantes/usuários da norma culta. Por outro lado, a questão relaciona adequação a formas linguísticas, mas é preciso lembrar que estilo é uma questão social e não meramente formal. A questão estilística trata de como as pessoas utilizam as formas linguísticas para fazerem coisas. Se não sabemos que pessoas são essas e que coisas desejam fazer, a adequação acaba ficando num vácuo em que tudo é possível e não possível ao mesmo tempo. Nesse sentido, o LD em questão parece assumir uma noção de variedade culta abstrata e homogeneizante que pouco se aproxima dos usos reais e verificáveis. |
| "3. Reescreva as frases a seguir, fazendo as substituições propostas e alterando, se necessário, a forma verbal para manter a concordância adequada à variedade culta do idioma". (AMARAL et al., 2016AMARAL, E. et al. Novas palavras 3º ano. São Paulo: FTD, 2016., p. 243, grifo nosso). |
| Os exercícios de reescrita de frases são atividades que testam apenas o nível formal da linguagem. Nesse caso, sem uma mirada minimamente funcionalista, não há como avaliar a adequação estilística por tudo que já dissemos até aqui. |
| "4. [… ] Qual(is) do(s) verbo(s) empregado(s) por ele não está(ão) adequado(s) à concordância verbal na variedade culta do idioma? Explique". (AMARAL et al., 2016AMARAL, E. et al. Novas palavras 3º ano. São Paulo: FTD, 2016., p. 255, grifo nosso). |
| Nessa atividade temos as informações minimamente necessárias e relevantes para montar um cenário da prática estilística construída. Duas interpretações são possíveis aqui: |
| (1) A noção de estilo que está subjacente é de que o estilo varia conforme o contexto estilístico. Nesse caso, por se tratar de um contexto formal (fala de um analista financeiro sobre a Petrobrás no veículo intitulado Infomoney) e de um assunto de forte tensionamento, é esperado que ele seja um falante altamente escolarizado e, nas condições mencionadas, que ele realize o maior número de concordâncias previstas pela tradição gramatical normativa. E assim ele procede. |
| (2) Em sua fala, o entrevistado se refere a "ela", a Petrobrás; utiliza corretamente o verbo "reconheceu" e utiliza equivocadamente o verbo "reduziram" e a locução "estão trabalhando". Essa interpretação não considera que o entrevistado possa, no meio da fala, ter substituído o referente "ela [Petrobrás]" por "eles [eles da Petrobrás]", marcando essa substituição apenas pelo verbo. |
| Se a questão é avaliar a adequação estilística e se estilo é um fenômeno social mais que linguístico, a atividade ganharia se admitisse que o entrevistado - justamente por ter as credenciais mínimas para falar sobre o tema, na situação específica e no veículo que o publica - está adequado ao propósito da situação, portanto, sua fala assim se comporta. Se a fala não estivesse adequada, a matéria muito provavelmente o ignoraria, talvez até procurasse outro entrevistado que estivesse mais adequado. Enfim, a atividade em questão (e o livro como um todo) ganharia se o exercício partisse do princípio de que cabe ao estudante explicar em que medida a adequação se estabelece e constrói novas possibilidades sintáticas, argumentativas, bem como novos sentidos sociais. Ou seja, em vez de ter de dizer se está ou não adequado, o estudante poderia ser motivado a refletir sobre como se constrói a adequação, pensando-a como um princípio geral da interação, que pode, inclusive, ser violado e ser muito mais flexível do que supõe a tradição normativa. |
| "5. Se o eu lírico escrevesse em nome de um coletivo, incluindo-se nessa ideia de coletividade, identifique, entre as construções a seguir, a mais adequada, de acordo com a norma-padrão. Justifique sua escolha." (CEREJA et al., 2016CEREJA, W. R. et al. Português Contemporâneo: diálogo, reflexão e uso. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 3., p. 24, grifo nosso). |
| Não se trata de uma questão de adequação estilística, mas de correção em relação à norma padrão. |
