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Fixação de fraturas em martelo com técnica de placa de gancho modificada: Uma série de casos prospectivos de 17 pacientes* * Estudo desenvolvido no Departamento de Ortopedia do Hospital Universitário de Assiut, Assiut, Egito.

Resumo

Objetivo

Diversas modalidades têm sido sugeridas para o tratamento de fraturas em martelo; no entanto, o tratamento inadequado pode causar retardo de extensão, deformidade em pescoço de cisne ou artrite da articulação interfalangiana distal (AIFD). Este estudo teve como objetivo avaliar os desfechos (funcionais, radiológicos e complicações) da redução aberta e fixação interna (RAFI) das fraturas em martelo com placas de gancho de baixo custo fabricadas com mini placas de titânio de baixo perfil.

Métodos

Série de casos prospectivos de 17 pacientes consecutivos (idade média de 32,3 anos) com fraturas em martelo (seis do tipo IB e 11 do tipo IIB de Wehbe). Onze (64,7%) pacientes eram do sexo masculino. A mão acometida era a dominante em todos os pacientes, com acometimento do dedo indicador em seis (35,3%), anelar em cinco (29,4%), mínimo em três (17,65%) e médio em três (17,65%) pacientes. O mesmo cirurgião de mão experiente realizou todas as cirurgias.

Resultados

O tempo operatório médio foi de 37,65 minutos. Após um acompanhamento médio de 10,94 meses (intervalo de 6 a 27), observou-se movimento médio da AIFD de 50º (intervalo de 20º a 70º), retardo de extensão em quatro (23,5%) pacientes e complicações em seis (35,29%) pacientes. De acordo com os critérios de Crawford, os desfechos foram excelentes em seis (35,3%), bons em sete (41,2%) e regulares em quatro (23,5%) pacientes.

Conclusão

A técnica da placa de gancho modificada para fixação de fraturas em martelo é benéfica e econômica, mas exigente; permite fixação estável e adequada para permitir a movimentação precoce da AIFD com desfechos funcionais aceitáveis.

Palavras-chave
placas ósseas; traumatismos dos dedos; articulações dos dedos; fraturas ósseas; fixação interna de fraturas

Abstract

Objective

Various modalities have been suggested to manage mallet fractures; however, inappropriate treatment can lead to extension lag, a swan neck deformity, or arthritis of the distal interphalangeal joint (DIPJ). The current study aimed to evaluate the results (functional, radiological, and complications) of open reduction and internal fixation (ORIF) of mallet fractures using low-cost hook plates fabricated from low-profile titanium mini plates.

Methods

A prospective case series of 17 consecutive patients (average age of 32.3 years) with mallet fractures (six were Wehbe Type IB and 11 were Wehbe Type MB). Eleven (64.7%) were males. The affected hand was dominant in all patients, and the affected digit was the index in 6 (35.3%), the ring in 5 (29.4%), the small in 3 (17.65%), and the middle in 3 (17.65%) patients. The same fellowship-trained hand surgeon performed all surgeries.

Results

The average operative time was 37.65 minutes. After an average follow-up of 10.94 months (range 6-27), the average DIPJ motion was 50º º (range 20º-70º), the extensor lag was noted in 4 (23.5%) patients, and complications were reported in 6 (35.29%) patients. According to Crawford criteria, 6 (35.3%) patients achieved excellent results, 7 (41.2%) achieved good results, and 4 (23.5%) achieved fair results.

Conclusion

The modified hook plate technique for fixation of mallet fractures is a beneficiai, economical, yet demanding technique that adequately provides stable fixation to allow early DIPJ motion with acceptable functional outcomes.

Keywords
bone plates; finger injuries; finger joint; fractures, bone; fracture fixation, internal

Introdução

O dedo em martelo traumático é uma lesão comum que acomete o tendão extensor da articulação interfalangiana distal (AIFD)11 Lin JS, Samora JB. Surgical and Nonsurgical Management of Mallet Finger: A Systematic Review. J Hand Surg Am 2018;43(02): 146-163.e2 e pode ser associada a uma fratura com avulsão de um fragmento ósseo de tamanho variável e fixação do tendão extensor. A lesão também conhecida como "fratura em martelo".22 Bendre AA, Hartigan BJ, Kalainov DM. Mallet finger. J Am Acad Orthop Surg 2005;13(05):336-344 Seu tratamento inadequado pode gerar várias complicações, inclusive retardo de extensão, deformidade em pescoço de cisne, artrite, dor e perda de função.33 Okafor B, Mbubaegbu C, Munshi I, Williams DJ. Mallet deformity of the finger. Five-year follow-up of conservative treatment. J Bone Joint Surg Br 1997;79(04):544-547,44 Stark HH, Gainor BJ, Ashworth CR, Zemel NP, Rickard TA. Operative treatment of intra-articular fractures of the dorsal aspect of the distal phalanx of digits. J Bone Joint Surg Am 1987;69(06):892-896 De modo geral, as fraturas em martelo são tratadas de forma conservativa com órteses, como as talas de Stack ou feitas sob medida.55 Salazar Botero S, Hidalgo Diaz JJ, Benaïda A, Collon S, Facca S, Liverneaux PA. Review of Acute Traumatic Closed Mallet Finger Injuries in Adults. Arch Plast Surg 2016;43(02):134-144 Embora não exista consenso sobre as indicações para tratamento cirúrgico, a maioria dos cirurgiões o considera caso a fratura envolva mais de um terço da superfície articular ou haja presença de subluxação articular.66 Giddins GE. The non-operative management of hand fractures. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(01):33-41

Muitas técnicas foram descritas para o tratamento cirúrgico de fraturas em martelo, como pinos de bloco de extensão e fixação interna com redução aberta (RAFI) usando diversos implantes, como fios, bandas de tensão, parafusos ou placas.22 Bendre AA, Hartigan BJ, Kalainov DM. Mallet finger. J Am Acad Orthop Surg 2005;13(05):336-344,55 Salazar Botero S, Hidalgo Diaz JJ, Benaïda A, Collon S, Facca S, Liverneaux PA. Review of Acute Traumatic Closed Mallet Finger Injuries in Adults. Arch Plast Surg 2016;43(02):134-144,77 Moradi A, Kachooei AR, Mudgal CS. Mallet fracture. J Hand Surg Am 2014;39(10):2067-2069Nenhuma dessas técnicas se mostrou superior às demais e todas foram associadas a taxas de complicações significativas de até 54%.77 Moradi A, Kachooei AR, Mudgal CS. Mallet fracture. J Hand Surg Am 2014;39(10):2067-2069,88 King HJ, Shin SJ, Kang ES. Complications of operative treatment for mallet fractures of the distal phalanx. J Hand Surg [Br] 2001 ;26 (01):28-31,99 Stern PJ, Kastrup JJ. Complications and prognosis of treatment of mallet finger. J Hand Surg Am 1988;13(03):329-334 Em 2007, Teoh e Lee1010 Teoh LC, Lee JY. Mallet fractures: a novel approach to internal fixation using a hook plate. J Hand Surg Eur Vol 2007;32(01): 24-30 introduziram uma nova abordagem, a RAFI, para tratamento de fraturas em martelo com uma placa de gancho, com excelentes resultados. Desde então, poucos relatos foram publicados na literatura avaliando os desfechos dessa técnica e alguns questionaram a reprodução dos resultados inicialmente descritos.1111 Tie J, Hsieh MKH, Tay SC. Outcome of Hook Plate Fixation of Mallet Fractures. J Hand Surg Asian Pac Vol 2017;22(04):416-422

Este estudo teve por objetivo relatar nossa experiência inicial e os desfechos (clínicos, radiológicos e complicações) das fraturas em martelo após a RAFI com placas de gancho de baixo custo fabricadas a partir de mini placas de titânio de baixo perfil.

Métodos

Este estudo prospectivo de série de casos foi realizado em pacientes com fraturas em martelo dos dedos e tratados em uma unidade especializada em cirurgia da mão em um centro de trauma de nível 1 por um profissional especializado e experiente entre abril de 2016 e julho de 2019. O estudo incluiu pacientes esqueleticamente maduros (acima de 18 anos de idade) com fraturas em martelo recentes (atendidos até 4 semanas após a lesão) de qualquer um dos quatro dígitos ulnares e classificação de Wehbe e Schneider1212 Wehbé MA, Schneider LH. Mallet fractures. J Bone Joint Surg Am 1984;66(05):658-669 de tipo IB e IC (fraturas envolvendo mais de um terço da superfície articular) e tipo II (fraturas associadas à subluxação palmar da falange distal) e que concordaram com a participação. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (aprovação número 17101844). Os pacientes participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os dados demográficos dos pacientes, incluindo idade e sexo, além do tipo de trauma e do tempo entre o trauma e a cirurgia, foram coletados. Radiografias simples anteroposteriores e em perfil pré-operatórias do dedo foram usadas para determinar o tamanho e o deslocamento do fragmento, a porcentagem de acometimento da superfície articular, a presença de subluxação articular e a classificação da fratura.

Técnica Cirúrgica

Sob anestesia de bloqueio digital e após a preparação do membro acometido, com uso de uma luva de borracha como torniquete, uma incisão cutânea dorsal, em forma de H, foi feita centralizada sobre a prega de extensão da AIFD (Fig. 1A). Para expor o tendão extensor e o fragmento avulsionado, um retalho cutâneo espesso foi elevado e retraído em sentido proximal e distal (►Fig. 1B). O local da fratura foi exposto e limpo. O periósteo foi elevado distalmente ao local da fratura na superfície dorsal da falange distal, permitindo a colocação subperióstea dos componentes de fixação; isso poderia facilitar a redução da fratura e minimizar as complicações dos tecidos moles, como ruptura cutânea e deformidades ungueais ( Fig. 1C). A placa de gancho foi preparada a partir de uma mini placa de titânio de 2,0 mm com múltiplos orifícios (Orthomed-E), classicamente utilizada em fraturas de falanges e metacarpos. A placa de gancho foi confeccionada cortando dois orifícios da placa; em seguida, um dos orifícios foi seccionado para remover um terço de sua circunferência; as extremidades do crescente restante foram dobradas para formar dois ganchos pontiagudos (►Fig. 1D).

Fig. 1
Técnica cirúrgica. (A): Uma incisão dorsal em forma de H é feita sobre a articulação interfalangiana distal. (B): Retalhos cutâneos espessos são elevados em sentido proximal e distal. (C): Elevação subperióstea para colocação da placa de gancho. (D): Fabricação da placa de gancho a partir de uma mini placa. (E): Colocação intraoperatória da placa de gancho, mostrando seu perfil baixo e menos proeminente (ponta de seta preta). (F): Fluoroscopia intraoperatória para verificação da posição e redução da placa (ponta de seta preta).

O fragmento avulsionado foi então reduzido e fixado com pinça. Os ganchos da placa foram ancorados no tendão, tracionando o fragmento ósseo e mantendo-o na posição reduzida com a AIFD em extensão total. A placa foi posicionada na superfície dorsal da falange distal. Uma broca de 1,5 mm foi usada para criar o orifício para o parafuso perpendicular à superfície dorsal e um parafuso de 2,0 mm foi inserido. O parafuso bicortical comercial é melhor para obter uma boa fixação (►Fig. 1E). Imagens intraoperatórias com arco em C verificaram a redução da fratura, a correção da subluxação e a colocação e o comprimento do parafuso. A estabilidade da fixação foi avaliada em uma imagem lateral com leve flexão da AIFD (Fig. 1F).

Protocolos de Reabilitação Pós-Operatória e Acompanhamento

Uma tala de extensão temporária de alumínio é incluída no curativo pós-operatório e substituída por uma tala de Stack no dia seguinte. O paciente é instruído a remover a tala por 10 minutos a cada hora para fazer exercícios de flexão ativa da AIFD com o punho fechado nas primeiras 2 semanas; a seguir, é feita mobilização protegida por seis semanas. A tala é usada continuamente entre os exercícios por 6 semanas e apenas à noite pelos próximos 2 meses.

Os pacientes foram acompanhados no ambulatório no primeiro dia, às 2 semanas, 6 semanas, 3 meses, 6 meses, 12 meses e, depois, anualmente após a cirurgia. Radiografias seriadas anteroposteriores e em perfil do dedo acometido foram realizadas imediatamente após o procedimento e nas consultas de acompanhamento para avaliação da consolidação da fratura e detecção de qualquer evidência de complicações (►Fig. 2). Os desfechos funcionais foram determinados segundo os critérios de Crawford1313 Crawford GP. The molded polythene splint for mallet finger deformities. J Hand Surg Am 1984;9(02):231-237 (►Tabela 1). A amplitude de movimento e o retardo de extensão da AIFD foram medidos com um goniômetro. Adotamos os critérios relatados por Teoh e Lee,11 Lin JS, Samora JB. Surgical and Nonsurgical Management of Mallet Finger: A Systematic Review. J Hand Surg Am 2018;43(02): 146-163.e2 que consideraram a flexão ativa da AIFD de 70º como completa e de 60º ou mais como normal. O desfecho bom foi descartado por dor ou rigidez no acompanhamento final. Quaisquer complicações (no período perioperatório ou durante o acompanhamento) foram relatadas.

Fig. 2
Paciente do sexo feminino, 35 anos, com fratura em martelo de tipo NB de Wehbe. (A): Radiografia simples pré-operatória anteroposterior e em perfil (a ponta de seta branca indica a fratura). (B): Imagens clínicas e fluoroscópicas intraoperatórias mostrando a redução da fratura e o posicionamento da placa. (C e D): Radiografias de acompanhamento de 6 meses e 1 ano, respectivamente, mostrando a consolidação da fratura e a manutenção da posição da placa.

Tabela 1
Critérios de Crawford para avaliação do dedo em martelo

Resultados

A Tabela 2 mostra os detalhes da coorte. A idade média dos pacientes foi de 32,3 anos (intervalo de 18 a 50). Em todos os pacientes, a mão afetada foi a dominante. O dedo acometido foi o indicador em seis (35,3%), o anelar em cinco (29,5%), o mínimo em três (17,6%) e o médio em 3 (17,6%) pacientes.

Tabela 2
Características demográficas detalhadas, circunstâncias da lesão, detalhes cirúrgicos e desfechos da população do estudo

A porcentagem média de acometimento da superfície articular (observado nas radiografias em perfil) foi de 47,9% (intervalo de 30 a 65%). A subluxação palmar da falange distal esteve presente em 11 (64,7%) pacientes. Em relação à classificação de Wehbe das fraturas, seis (35,3%) eram do tipo IB e 11 (64,7%) eram do tipo IIB.

O tempo médio desde a lesão até a cirurgia foi de 12,1 dias (intervalo de 1 a 20), enquanto o tempo médio desde a internação até a cirurgia foi de 6,59 horas (intervalo de 4 a 12 horas). O tempo operatório médio foi de 37,65 minutos (intervalo de 25 a 45). O tempo médio de internação foi de 8,59 horas (intervalo de 6 a 14).

Depois do acompanhamento médio de 10,94 meses (intervalo de 6 a 27), todas as fraturas apresentaram consolidação radiográfica, detectada na 6ª semana pós-operatória, com congruência da AIFD. A amplitude ativa média de movimento da AIFD foi de 50º (intervalo de 20º a 70º). O retardo de extensão foi observado em quatro (23,5%) pacientes e seu valor médio foi de 3o (intervalo de 0o a 20º). De acordo com os critérios de Crawford, os desfechos foram excelentes em seis (35,3%), bons em sete 7 (41,2%) e regulares em quatro (23,5%) pacientes. Nenhum desfecho mau foi registrado neste estudo.

Seis (35,29%) pacientes apresentaram complicações. Dois pacientes tiveram nova luxação da fratura com deformidade persistente devido ao movimento passivo vigoroso precoce da AIFD nas primeiras 2 semanas pós-operatórias e foram submetidos à revisão da fixação. No entanto, ambos relataram amplitude de movimento limitada na última consulta de acompanhamento e seus desfechos foram classificados como regulares de acordo com a escala de Crawford. Dois pacientes apresentaram infecção pós-operatória, um após 1 semana e o outro após 3 meses. Os dois foram tratados com desbridamento e remoção do componente metálico; na última consulta de acompanhamento, ambos apresentavam amplitude de movimento limitada, retardo de extensão e desfecho regular na escala de Crawford. Seis (35,3%) pacientes (incluindo os quatro pacientes anteriores) apresentaram deformidades ungueais que melhoraram após 1 ano de acompanhamento. Vale ressaltar que a proeminência dorsal da placa foi uma queixa de alguns pacientes no período pós-operatório imediato; essa queixa, porém, foi resolvida de forma espontânea, sem necessidade de intervenção específica, e não afetou os desfechos funcionais. Nenhum dos pacientes apresentou dor residual na última consulta de acompanhamento.

A remoção dos componentes de fixação não foi feita de forma rotineira nesta série. As indicações para remoção foram a ocorrência de alguma complicação ou deformidade ungueal ou o pedido do paciente. Doze dos 17 pacientes foram submetidos à remoção dos componentes de fixação.

Discussão

O tratamento ideal das fraturas em martelo ainda é controverso;66 Giddins GE. The non-operative management of hand fractures. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(01):33-41 no entanto, a maioria dos cirurgiões concorda que o manejo inadequado de tais lesões pode levar a problemas do mecanismo extensor, como retardo de extensão ou deformidade em pescoço de cisne, ou ainda artrite da AIFD com subsequente prejuízo funcional.33 Okafor B, Mbubaegbu C, Munshi I, Williams DJ. Mallet deformity of the finger. Five-year follow-up of conservative treatment. J Bone Joint Surg Br 1997;79(04):544-547,1010 Teoh LC, Lee JY. Mallet fractures: a novel approach to internal fixation using a hook plate. J Hand Surg Eur Vol 2007;32(01): 24-30,1212 Wehbé MA, Schneider LH. Mallet fractures. J Bone Joint Surg Am 1984;66(05):658-669 Embora o tratamento conservador tenha ótimos resultados, é amplamente aceito que uma fratura intra-articular com acometimento de mais de um terço da superfície articular ou subluxação da AIFD é uma indicação para intervenção cirúrgica.11 Lin JS, Samora JB. Surgical and Nonsurgical Management of Mallet Finger: A Systematic Review. J Hand Surg Am 2018;43(02): 146-163.e2,22 Bendre AA, Hartigan BJ, Kalainov DM. Mallet finger. J Am Acad Orthop Surg 2005;13(05):336-344,77 Moradi A, Kachooei AR, Mudgal CS. Mallet fracture. J Hand Surg Am 2014;39(10):2067-2069

Apesar do desenvolvimento de várias técnicas para o tratamento cirúrgico, incluindo percutâneas e abertas, e diferentes métodos de fixação, como fios, suturas, placas e parafusos, nenhuma foi isenta de complicações.66 Giddins GE. The non-operative management of hand fractures. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(01):33-41,77 Moradi A, Kachooei AR, Mudgal CS. Mallet fracture. J Hand Surg Am 2014;39(10):2067-2069

Muitos cirurgiões relataram o uso de fios; quatro técnicas diferentes de fixação com diversas formas de configurações (fio K, fio em forma de oito, fio de banda de tensão e sutura de banda de tensão) foram comparadas em um estudo biomecânico de Damron et al.1414 Damron TA, Engber WD, Lange RH, et al. Biomechanical analysis of mallet finger fracture fixation techniques. J Hand Surg Am 1993; 18(04):600-607, discussion 608 Esses autores observaram que os construtos com bandas de tensão eram superiores a outras formas de fixação. A pinagem em bloco de extensão introduzida por Ishiguro et al.1515 Ishiguro T, Itoh Y, Yabe Y, Hashizume N. Extension block with Kirschner wire for fracture dislocation of the distal inter-phalangeal joint. Tech Hand Up Extrem Surg 1997;1(02):95-102 e depois modificada por outros autores é uma técnica bastante adotada por muitos cirurgiões de mão.1515 Ishiguro T, Itoh Y, Yabe Y, Hashizume N. Extension block with Kirschner wire for fracture dislocation of the distal inter-phalangeal joint. Tech Hand Up Extrem Surg 1997;1(02):95-102,1616 Tetik C, Gudemez E. Modification of the extension block Kirschner wire technique for mallet fractures. Clin Orthop Relat Res 2002; (404):284-290,1717 Chung DW, Lee JH. Anatomic reduction of mallet fractures using extension block and additional intrafocal pinning techniques. Clin Orthop Surg 2012;4(01):72-76,1818 Shimura H, Wakabayashi Y, Nimura A. A novel closed reduction with extension block and flexion block using Kirschner wires and microscrew fixation for mallet fractures. J Orthop Sci 2014; 19 (02):308-312 Porém, pode ter desfechos ruins e causar complicações, como perda de redução, migração de pinos, migração de fios e retardo de movimento devido a fios transarticulares.99 Stern PJ, Kastrup JJ. Complications and prognosis of treatment of mallet finger. J Hand Surg Am 1988;13(03):329-334,1010 Teoh LC, Lee JY. Mallet fractures: a novel approach to internal fixation using a hook plate. J Hand Surg Eur Vol 2007;32(01): 24-30,1919 Acar MA, Güzel Y, Guleç A, Uzer G, Elmadağ M Clinical comparison of hook plate fixation versus extension block pinning for bony mallet finger: a retrospective comparison study. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(08):832-839 Além disso, foi relatado que a RAFI com um mini parafuso tem taxas de complicações mais altas do que as técnicas de fixação percutânea com fios.2020 Lucchina S, Badia A, Dornean V, Fusetti C. Unstable mallet fractures: a comparison between three different techniques in a multicenter study. Chin J Traumatol 2010;13(04):195-200

Para evitar as complicações mencionadas acima, Teoh e Lee1010 Teoh LC, Lee JY. Mallet fractures: a novel approach to internal fixation using a hook plate. J Hand Surg Eur Vol 2007;32(01): 24-30 introduziram, em 2007, uma nova técnica de fixação com placa de gancho para dar fixação interna estável ao utilizar a superioridade biomecânica do método de banda de tensão com um implante estável ancorado longe do fragmento fraturado. Esses autores relataram desfechos excelentes em sua série de nove pacientes com acompanhamento médio de 17 meses; seus pacientes alcançaram flexão ativa média da AIFD de 64º, sem retardo de extensão ou complicações, e todos apresentaram desfechos excelentes ou bons na escala de Crawford.1010 Teoh LC, Lee JY. Mallet fractures: a novel approach to internal fixation using a hook plate. J Hand Surg Eur Vol 2007;32(01): 24-30 Nosso estudo adotou a mesma técnica descrita por Teoh e Lee, mas usamos uma incisão em forma de H em vez de uma incisão dorsal transversal. Todos os nossos pacientes foram operados sob anestesia de bloqueio digital e receberam alta no mesmo dia da cirurgia. Nosso estudo é uma coorte prospectiva com 17 pacientes, o que acreditamos ser um número considerável. Embora tenhamos operado mais pacientes do que Teoh e Lee neste estudo e todos tenham apresentado consolidação da fratura, nossos resultados foram relativamente menos ótimos do que os antes relatados. Nossos resultados estão de acordo com os estudos publicados sobre a mesma técnica, com flexão ativa média da AIFD de 50º, retardo de extensão em 23,5% de pacientes com valor médio de 3o. A taxa de desfechos excelentes e bons na escala de Crawford foi de 76,5% e a taxa de complicações foi de 35,3%.

Desde a introdução das técnicas de placa de gancho, poucos estudos relataram seus desfechos. Em alguns, o número de pacientes foi maior, com até 35 dedos. Todos tiveram resultados variáveis, que foram abaixo do ideal em comparação aos relatados por Teoh e Lee1111 Tie J, Hsieh MKH, Tay SC. Outcome of Hook Plate Fixation of Mallet Fractures. J Hand Surg Asian Pac Vol 2017;22(04):416-422,1919 Acar MA, Güzel Y, Guleç A, Uzer G, Elmadağ M Clinical comparison of hook plate fixation versus extension block pinning for bony mallet finger: a retrospective comparison study. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(08):832-839,2121 Imoto FS, Leão TA, Imoto RS, Dobashi ET, de Mello CE, Arnoni NM. Osteosynthesis of mallet finger using plate and screws: evaluation of 25 patients. Rev Bras Ortop 2016;51(03):268-273,2222 Toker S, Türkmen F, Pekince O, Korucu İ, Karalezli N. Extension Block Pinning Versus Hook Plate Fixation for Treatment of Mallet Fractures. J Hand Surg Am 2015;40(08):1591-1596,2323 Thirumalai A, Mikalef P, Jose RM. The Versatile Hook Plate in Avulsion Fractures of the Hand. Ann Plast Surg 2017;79(03): 270-274 (►Tabela 3).

Tabela 3
Comparação dos desfechos deste estudo com trabalhos anteriores sobre a fixação com placa de gancho de fraturas em martelo

A vantagem teórica proposta pela técnica da placa de gancho foi superar algumas das complicações de sua técnica predecessora, a fixação com fios em bloco de extensão, que incluía principalmente consolidação viciosa, diminuição da amplitude de movimento e osteoartrite.1919 Acar MA, Güzel Y, Guleç A, Uzer G, Elmadağ M Clinical comparison of hook plate fixation versus extension block pinning for bony mallet finger: a retrospective comparison study. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(08):832-839,2424 Pegoli L, Toh S, Arai K, Fukuda A, Nishikawa S, Vallejo IG. The Ishiguro extension block technique for the treatment of mallet finger fracture: indications and clinical results. J Hand Surg [Br] 2003;28(01):15-17 Embora a placa de gancho permita uma amplitude de movimento precoce, não houve superioridade real nesse parâmetro, pois a fixação em bloco de extensão forneceu uma boa amplitude de movimento da AIFD, de 72º segundo Lucchina et al.,2020 Lucchina S, Badia A, Dornean V, Fusetti C. Unstable mallet fractures: a comparison between three different techniques in a multicenter study. Chin J Traumatol 2010;13(04):195-200 e de 83º de acordo com Lee et al.2525 Lee YH, Kim JY, Chung MS, Baek GH, Gong HS, Lee SK. Two extension block Kirschner wire technique for mallet finger fractures. J Bone Joint Surg Br 2009;91(11):1478-1481 Em dois estudos comparativos retrospectivos de Acar et al.1919 Acar MA, Güzel Y, Guleç A, Uzer G, Elmadağ M Clinical comparison of hook plate fixation versus extension block pinning for bony mallet finger: a retrospective comparison study. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(08):832-839 e Toker et al.2222 Toker S, Türkmen F, Pekince O, Korucu İ, Karalezli N. Extension Block Pinning Versus Hook Plate Fixation for Treatment of Mallet Fractures. J Hand Surg Am 2015;40(08):1591-1596 que comparavam os desfechos da pinagem em bloco de extensão e da fixação com placa de gancho, não houve diferença significativa entre os dois grupos em relação à amplitude de movimento e os desfechos funcionais. Porém, a técnica de bloqueio com fio apresentou maior tempo de uso da fluoroscopia, retardo na consolidação óssea e maior tempo de retorno ao trabalho.1919 Acar MA, Güzel Y, Guleç A, Uzer G, Elmadağ M Clinical comparison of hook plate fixation versus extension block pinning for bony mallet finger: a retrospective comparison study. J Hand Surg Eur Vol 2015;40(08):832-839

Toker et al.2222 Toker S, Türkmen F, Pekince O, Korucu İ, Karalezli N. Extension Block Pinning Versus Hook Plate Fixation for Treatment of Mallet Fractures. J Hand Surg Am 2015;40(08):1591-1596 realizaram uma análise de custo e mostraram que a técnica da placa de gancho era sete vezes mais cara do que o uso da pinagem em bloco de extensão. Este estudo utilizou uma placa de gancho de 0,6 mm (Medartis; Basel, Suíça) que custa cerca de U$ 420, o que corresponde a mais de dois terços dos custos totais incorridos. Em nosso estudo, adotamos a técnica idealizada por Teoh e Lee, utilizando uma placa confeccionada a partir de uma mini placa com orifícios múltiplos que pode ser cortada em placas menores de orifício único. Cada uma pode ser usada em um paciente, o que reduz substancialmente o custo. Usamos uma placa produzida localmente para esse fim, o que fez com que o custo de uma placa e um parafuso fosse de cerca de US$ 20 por paciente. Vale ressaltar que o menor tempo operatório, o menor uso de fluoroscopia intraoperatória, o menor tempo de internação e a maior velocidade de consolidação e o retorno ao trabalho devem ser considerados ao determinar a análise real de custos e benefícios do uso das placas de gancho.

Este estudo tem algumas limitações; primeiro, foi um estudo de coorte não comparativo e, assim, não pudemos comparar os desfechos dessa técnica com outras modalidades de tratamento de fraturas em martelo. Em segundo lugar, um número relativamente baixo de pacientes foi incluído. Por fim, o curto período de acompanhamento impediu uma conclusão confiável sobre as prováveis complicações em longo prazo, como osteoartrite da AIFD.

Conclusão

A técnica de placa de gancho fabricada para redução aberta e fixação interna de fraturas em martelo é relativamente exigente, mas benéfica e barata. Acredita-se que forneça fixação estável adequada, permita a movimentação precoce da AIFD e tenha desfechos funcionais e radiológicos aceitável. Estudos controlados randomizados de bom delineamento experimental são encorajados para comparar os desfechos dessa técnica com outras metodologias populares para avaliação de sua superioridade e segurança.

  • *
    Estudo desenvolvido no Departamento de Ortopedia do Hospital Universitário de Assiut, Assiut, Egito.
  • Suporte Financeiro
    Este estudo não recebeu apoio financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.

References

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Ago 2022
  • Aceito
    07 Fev 2023
  • Publicado
    24 Out 2023
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