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Frequência do aparecimento de dedo em gatilho no pós-operatório da síndrome do túnel do carpo em duas técnicas cirúrgicas: Aberta e endoscópica* * Trabalho desenvolvido no Serviço de Residência Médica de Cirurgia e Microcirurgia da, Mão do Hospital Alvorada, São Paulo, SP, Brasil.

Resumo

Objetivo

Determinar a frequência do aparecimento de dedo em gatilho (DG) no pós-operatório da síndrome do túnel do carpo (STC) em duas técnicas: aberta (TA) e endoscópica (TE). Como desfecho secundário, comparar as taxas de remissão da parestesia e dor residual entre as duas técnicas.

Métodos

De forma prospectiva, verificamos o aparecimento de dedo em gatilho e taxa de remissão da parestesia e dor no território do nervo mediano em série de pacientes adultos operados pela TA (n = 34). Comparamos com coorte retrospectiva operada pela TE (n = 33), pela mesma equipe de cirurgiões. A avaliação dos pacientes ocorreu por meio de questionário estruturado em consulta de retorno, com mínimo de 6 meses de pós-operatório.

Resultados

Sessenta e sete pacientes foram avaliados. Não houve diferença quanto ao aparecimento de dedo em gatilho (TA, 26,5% versus TE, 27,3%; p = 0,94) e dor (TA, 76,5% versus TE, 84.8%; p = 0,38). Os pacientes operados pela TA apresentaram menos queixas de parestesia do que os operados pela TE (TA 5,9% versus TE 24,2%; p = 0,03).

Conclusões

Em nossa série, a técnica cirúrgica não influenciou o aparecimento de dedos em gatilho e dor residual. Os pacientes operados pela técnica aberta apresentaram menos queixa de parestesia residual pós-operatória.

Palavras-chave
síndrome do túnel do carpo; parestesia; estudo comparativo; endoscopia; dedo em gatilho

Abstract

Objective

The present study aimed to determine the frequency of trigger finger (TF) onset after surgery for carpal tunnel syndrome (CTS) using an open (OT) or an endoscopic technique (ET). As a secondary endpoint, the present study also compared paresthesia remission and residual pain rates in patients submitted to both techniques.

Methods

Trigger finger onset and remission rates of paresthesia and pain at the median nerve territory was verified prospectively in a series of adult patients submitted to an OT procedure (n = 34). These findings were compared with a retrospective cohort submitted to ET (n = 33) by the same surgical team. Patients were evaluated with a structured questionnaire in a return visit at least 6 months after surgery.

Results

Sixty-seven patients were evaluated. There was no difference regarding trigger finger onset (OT, 26.5% versus ET, 27.3%; p = 0.94) and pain (OT, 76.5% versus ET, 84.8%; p = 0.38). Patients submitted to OT had fewer paresthesia complaints compared with those operated using ET (OT, 5.9% versus ET, 24.2%; p = 0.03).

Conclusions

In our series, the surgical technique did not influence trigger finger onset and residual pain rates. Patients submitted to OT had less complaints of residual postoperative paresthesia.

Keywords
carpal tunnel syndrome; paresthesia; comparative study; endoscopy; trigger finger disorder

Introdução

Define-se a síndrome do túnel do carpo (STC) como o conjunto de sinais e sintomas decorrentes da compressão do nervo mediano no nível do punho.11 Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel do carpo - Parte I (Anatomia, Fisiologia, Etiologia e Diagnóstico). Rev Bras Ortop 2014;49(05):429–436 Esta compressão pode estar associada, por exemplo, a tenossinovites ou à presença de estruturas anômalas dentro do túnel do carpo.22 Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel do Carpo - Parte II (Tratamento). Rev Bras Ortop 2014;49(05):437–445 A STC é descrita como a neuropatia compressiva mais prevalente, acometendo cerca de 2,7% da população geral,33 Atroshi I, Gummesson C, Johnsson R, Ornstein E, Ranstam J, Rosén I. Prevalence of carpal tunnel syndrome in a general population. JAMA 1999;282(02):153–158 e com frequência aumentada em populações específicas, tais como diabéticos e trabalhadores braçais.33 Atroshi I, Gummesson C, Johnsson R, Ornstein E, Ranstam J, Rosén I. Prevalence of carpal tunnel syndrome in a general population. JAMA 1999;282(02):153–158

O diagnóstico da STC é feito através da associação da história clínica, sintomatologia e manobras específicas.11 Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel do carpo - Parte I (Anatomia, Fisiologia, Etiologia e Diagnóstico). Rev Bras Ortop 2014;49(05):429–436 São sintomas comuns: dormência, parestesia, dor, perda de força na mão e no punho. Quando indicado, o tratamento cirúrgico se baseia na descompressão do túnel do carpo, por via aberta ou com auxílio de instrumentos de endoscopia.44 Verdugo RJ, Salinas RA, Castillo JL, Cea JG. Surgical versus nonsurgical treatment for carpal tunnel syndrome. Cochrane Database Syst Rev 2008;(04):CD001552

5 Okamura A, Guidetti BC, Caselli R, Borracini JA, Moraes VY, Belloti JC. How doboard-certified hand surgeons manage carpal tunnel syndrome? a national survey. Acta Ortop Bras 2018;26 (01):48–53
-66 Phalen GS. The carpal-tunnel syndrome. Seventeen years' experience in diagnosis and treatment of six hundred fifty-four hands. J Bone Joint Surg Am 1966;48(02):211–228

A tenossinovite estenosante dos tendões flexores dos dedos da mão - "dedo em gatilho" (DG) - é caracterizada por um processo inflamatório que acomete a bainha dos tendões flexores na região da primeira polia arciforme (A1). No dedo em gatilho, há espessamento da bainha e possível desenvolvimento de um nódulo no tendão flexor. Com isso, há consequente aumento do diâmetro do tendão, resultando em atrito entre a polia A1 e o tendão.77 Ryzewicz M,Wolf JM. Trigger digits: principles, management, and complications. J Hand Surg Am 2006;31(01):135–146 Algumas doenças podem ser consideradas como predisponentes ao desenvolvimento do DG, tais como artrite reumatoide, diabetes, hipotireoidismo e amiloidose.88 Buch-Jaeger N, Foucher G, Ehrler S, Sammut D. The results of conservative management of trigger finger. A series of 169 patients. Ann Chir Main Memb Super 1992;11(03):189–193

No cenário do tratamento da STC e do DG, é frequente o aparecimento do DG após o tratamento cirúrgico da STC. Estudos reportam a frequência de 10 a 13% em séries jordanianas, brasileiras e americanas.99 El-Hadidi S. Is there a relation between carpal tunnel syndrome and trigger finger? BMC Proc 2015;9(Suppl 3):A65

10 Pires FA, Fernandes CH, do Santos JBG. Does the presence of trigger finger affect the outcome of surgical treatment of carpal tunnel syndrome? A preliminary prognostic study. J Hand Surg Eur Vol 2018;43(09):999–1001
-1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34 Neste interim, essa relação de causa-efeito tem sido discutida por diversos autores,99 El-Hadidi S. Is there a relation between carpal tunnel syndrome and trigger finger? BMC Proc 2015;9(Suppl 3):A65

10 Pires FA, Fernandes CH, do Santos JBG. Does the presence of trigger finger affect the outcome of surgical treatment of carpal tunnel syndrome? A preliminary prognostic study. J Hand Surg Eur Vol 2018;43(09):999–1001

11 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34
-1212 Assmus H. [Tendovaginitis stenosans: a frequent complication of carpal tunnel syndrome]. Nervenarzt 2000;71(06):474–476 mas a exata relação de ambas ainda não está bem esclarecida.

Dentre as opções de tratamento cirúrgico, pode-se realizar descompressão por via aberta tradicional, que consiste em acesso amplo à pele e fáscia palmar, ou por via endoscópica.22 Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel do Carpo - Parte II (Tratamento). Rev Bras Ortop 2014;49(05):437–445 É hipótese dos autores, corroborada por alguns estudos prévios,1010 Pires FA, Fernandes CH, do Santos JBG. Does the presence of trigger finger affect the outcome of surgical treatment of carpal tunnel syndrome? A preliminary prognostic study. J Hand Surg Eur Vol 2018;43(09):999–1001,1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34 que a utilização de técnica minimamente invasiva, tal como a endoscópica, resulte em menor frequência de DGs, por preservar estruturas como a fáscia palmar e a pele imediatamente anterior ao ligamento transverso do carpo, o que, potencialmente, pode abrandar o efeito arco de corda resultante da descompressão do túnel do carpo.99 El-Hadidi S. Is there a relation between carpal tunnel syndrome and trigger finger? BMC Proc 2015;9(Suppl 3):A65

10 Pires FA, Fernandes CH, do Santos JBG. Does the presence of trigger finger affect the outcome of surgical treatment of carpal tunnel syndrome? A preliminary prognostic study. J Hand Surg Eur Vol 2018;43(09):999–1001
-1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34

O presente estudo tem como objetivo determinar a frequência de DG em pacientes que foram submetidos ao tratamento cirúrgico da STC, comparando duas técnicas de descompressão: aberta (TA) versus endoscópica (TE). Como desfecho secundário, verificaremos se há diferença nas taxas de remissão da parestesia e dor entre as duas técnicas avaliadas.

Materiais e Métodos

O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa, sob o número 17597019.7.0000.5533. Foi desenvolvido no serviço de residência médica de cirurgia da mão do Hospital Alvorada - Moema (São Paulo, SP) e da Clínica ortopédica Ortocity (São Paulo, SP). Trata-se de um estudo do tipo série de casos, com uma amostra prospectiva associada a coorte histórica retrospectiva, utilizada para comparação.

Foram incluídos pacientes adultos > 18 anos, de ambos os sexos, que foram operados pela equipe de cirurgia de cirurgiões de mão (Moraes V. Y., Belloti J. C., Fernandes M., AO, Raduan Neto J.), em São Paulo, e que completaram no tempo mínimo de pós-operatório de 6 meses, pelas técnicas aberta ou endoscópica.

Não foram incluídos no estudo pacientes com outras doenças ou deformidades das mãos.

Critérios de inclusão

  • - Pacientes submetidos a tratamento cirúrgico da STC por técnica aberta ou endoscópica;

  • - Seguimento mínimo de 6 meses pós-operatório;

  • - Sem complicações intraoperatórias

Critérios de exclusão

  • - Pacientes não concordantes para cooperar o com estudo;

  • - Pacientes com DG previamente ao procedimento cirúrgico para síndrome do túnel do carpo (diagnóstico clínico prévio, informado pelo paciente);

Método de coleta de dados

Amostra de pacientes operados pela técnica aberta

Trata-se de amostra de conveniência, resultante do ambulatório de especialidades. Estes pacientes foram tratados inicialmente por método conservador, com uso de corticosteroides e órtese noturna, por um período mínimo de 4 semanas. Na falha do tratamento conservador, os pacientes foram operados seguindo critérios de diagnóstico definidos, a saber: 1) presença de parestesia noturna no território do nervo mediano; 2) perda de capacidade de discriminação de dois pontos; 3) teste de Phalen positivo; 4) Sinal de Tinel positivo no nível do túnel do carpo; 5) parestesia no território do mediano; 6) perda de força na mão. Para a indicação do tratamento cirúrgico, esses pacientes deveriam apresentar ao menos três dos critérios expostos.

Amostra de pacientes operados pela técnica endoscópica (controle retrospectivo)

Realizamos o levantamento de pacientes operados pela técnica endoscópica com o auxílio dos registros dos controles cirúrgicos da equipe. Estes pacientes foram operados entre 2016 e 2019. Houve a identificação dos mesmos e coleta de dados demográficos: idade, gênero, profissão, mão dominante, doenças pré-existentes e dados relativos à doença/intervenção (Apêndice 1 Apêndice 1 Questionário do estudo - Túnel do carpo e aparecimento de dedo em gatilho Apêndice 1 Questionário do estudo - Túnel do carpo e aparecimento de dedo em gatilho 1–NOME COMPLETO ____________________________________________________________ 2–IDADE ( ) ANOS 3–SEXO ( ) MASCULINO ( ) FEMININO 4–MÃO OPERADA ( ) DIREITA ( ) ESQUERDA 5–MÃO DOMINANTE ( ) DIREITA ( ) ESQUERDA 6–DOENÇAS PRÉVIAS ____________________________________________________________ 7–HOUVE APARECIMENTO DO DEDO EM GATILHO? ( ) SIM ( ) NÃO 8–QUANTO TEMPO APÓS A CIRURGIA ? ( ) MESES 9–O DEDO EM GATILHO OCORREU NA MÃO OPERADA ? ( ) SIM ( ) NÃO 10 – QUAL DEDO ACOMETIDO ? ( ) 1º ( ) 2º ( ) 3º ( ) 4º ( ) 5º 10–A CIRURGIA FOI POR VIA ABERTA OU ENDOSCÓPICA ? ( ) ABERTA ( ) ENDOSCÓPICA 11–HOUVE MELHORA DOS SINTOMAS REFERENTES A SÍNDROME DO TUNEL DO CARPO ? Dor ( ) SIM ( ) NÃO Parestesia ( ) SIM ( ) NÃO Parestesia Noturna ( ) SIM ( ) NÃO ). Com estes dados, pareamos com os pacientes operados pela técnica aberta, a fim de tornarmos os grupos passíveis de comparação. A coleta de dados foi realizada preferencialmente em consulta presencial de retorno. Como alternativa, alguns contatos foram realizados por telefone com um questionário estruturado.

Método de coleta das variáveis de interesse

Para o diagnóstico de dedo em gatilho, realizamos as seguintes perguntas: 1) algum dos dedos apresenta-se travado ou com dificuldade de "dobrar" ou "esticar"?; 2) apresenta dor na "base" ou "raiz" dos dedos? Para a identificação de parestesia e dor realizamos as seguintes perguntas: 1) apresenta formigamento das mãos?; 2) apresenta algum desconforto nas mãos que atrapalha o sono?; 3) apresenta alguma dor ou desconforto nas mãos? Uma ou mais repostas "sim" foram consideradas como "eventos" para os objetivos do estudo.

Análise Estatística

Na análise estatística descritiva, expomos os dados contínuos como médias e seus respectivos desvios padrão (DP). Os dados categóricos foram expostos por seu número absoluto associados às suas porcentagens. Na análise estatística inferencial, optamos pela utilização de testes não-paramétricos. Utilizamos o teste U Mann-Whitney para variáveis contínuas e o teste F de Fisher para as variáveis categóricas. Consideramos p < 0,05 para determinar diferenças entre grupos de comparação (significância estatística).

Resultados

Caracterização dos grupos: técnica aberta versus endoscópica

Incluímos 67 pacientes, todos com diagnóstico clínico compatível com STC. Trinta e três foram operados pela TE e 34 pela TA. As características demográficas dos grupos estão expostas na ►Tabela 1.

Tabela 1
Características das amostras e desfechos clínicos: Aberta e Endoscópica.

Variáveis pós-operatórias: presença de gatilho, melhora da dor e remissão da parestesia

Os DGs ocorreram em 26,9% dos pacientes. Não houve diferença quanto à frequência do aparecimento de DG, quando agrupados pelas diferentes técnicas: TA, 26,5% versus TE, 27,3%; p = 0,94. Na avaliação da melhora da dor não houve diferença entre os grupos, TA, 76,5% versus TE, 84.8%; p = 0,38. Na avaliação da melhora da parestesia, a TA demonstrou-se mais efetiva que a TE, 94.1% versus 75.8%; p = 0.03.

Discussão

É sabido que pacientes com STC estão predispostos a desenvolver o DG, sendo sua incidência relatada em torno de 0,2 a 31,7% por alguns estudos.99 El-Hadidi S. Is there a relation between carpal tunnel syndrome and trigger finger? BMC Proc 2015;9(Suppl 3):A65,1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34,1313 Shapiro S. Microsurgical carpal tunnel release. Neurosurgery 1995;37(01):66–70,1414 Hayashi M, Uchiyama S, Toriumi H, Nakagawa H, Kamimura M, Miyasaka T. Carpal tunnel syndrome and development of trigger digit. J Clin Neurosci 2005;12(01):39–41 Entretanto, estudos correlacionando o aparecimento do dedo em gatilho no pós-operatório do tratamento de STC são poucos. Um estudo1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34 que analisou 132 mãos operadas encontrou a frequência de 22% de DG. Hayashi et al.,1414 Hayashi M, Uchiyama S, Toriumi H, Nakagawa H, Kamimura M, Miyasaka T. Carpal tunnel syndrome and development of trigger digit. J Clin Neurosci 2005;12(01):39–41 que realizaram outro estudo prospectivo com 164 mãos, encontraram uma frequência de DG de 31,7%. Nossa série é condizente com o exposto na literatura, com frequência de aparecimento que variou de 26,5 a 27,3%. Este achado fortalece a representatividade de nossa amostra, a despeito do relativo pequeno número amostral. Neste cenário, nos pareceu importante controlar as comorbidades, especialmente o diabetes, pois é consenso que há uma maior incidência de DG em diabéticos, identificada como o triplo da população sem a doença.1515 Fahey JJ, Bollinger JA. Trigger-finger in adults and children. J Bone Joint Surg Am 1954;36-A(06):1200–1218 Em nossa série, os grupos se demonstraram comparáveis, no que diz respeito a frequência de comorbidades e diabetes, fato este que corrobora para a robustez de nossos resultados.Estudos1010 Pires FA, Fernandes CH, do Santos JBG. Does the presence of trigger finger affect the outcome of surgical treatment of carpal tunnel syndrome? A preliminary prognostic study. J Hand Surg Eur Vol 2018;43(09):999–1001,1111 Zhang D, Collins J, Earp BE, Blazar P. Relationship of Carpal Tunnel Release and New Onset Trigger Finger. J Hand Surg Am 2019;44 (01):28–34 sugerem que a liberação do túnel do carpo seria um fator de risco para o desenvolvimento de DGs, devido a alterações anatômicas e mecânicas. Com a liberação do ligamento carpal transverso, existe a hipótese que esta altera a biomecânica da ação dos flexores, aumentando seu "ângulo de ataque" distal, com consequente maior atrito no nível da entrada do túnel osteofibroso. Este evento pode contribuir para a gênese do DG ou incorrer na piora de um quadro prévio. Neste contexto, a liberação pela TE representaria menor dano tecidual: 1) pela menor via de acesso; 2) não-violação de estruturas anteriores ao LTC, tais como a pele e a fáscia palmar. Entretanto, nossos resultados não demonstraram a hipótese descrita, com frequência de dedos em gatilho bastante semelhantes entre os grupos.

Obtivemos diferença estatística no que diz respeito à melhora da parestesia entre os grupos, indicando melhor performance da TA. Em nosso estudo, apesar de robusta a diferença, devemos ter em mente que podemos entrar diante de viés de aferição, pois tratamos de coortes não simultâneas e com tempo de evolução de doença diferentes. Existem diversos estudos1616 Agee JM, McCarroll HR Jr, Tortosa RD, Berry DA, Szabo RM, Peimer CA. Endoscopic release of the carpal tunnel: a randomized prospective multicenter study. J Hand Surg Am 1992;17(06):987–995

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18 Palmer DH, Paulson JC, Lane-Larsen CL, Peulen VK, Olson JD. Endoscopic carpal tunnel release: a comparison of two techniques with open release. Arthroscopy 1993;9(05):498–508
-1919 Urbaniak JR. Complications of treatment of carpal tunnel syndrome. In: Gelberman RH. Operative nerve repair and reconstruction. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 1991:967–979 comparando as mesmas intervenções e desfechos. Nestes, os autores reportam taxa semelhante de melhora da parestesia ou da sensibilidade, com mensurações realizadas entre 6 e 12 meses de pós-operatório. Com população semelhante à nossa, o estudo de Okamura et al.2020 Okamura A, Meirelles LM, Fernandes CH, Raduan Neto J, Dos Santos JB, Faloppa F. Evaluation of patients with carpal tunnel syndrome treated by endoscopic technique. Acta Ortop Bras 2014;22(01):29–33 reporta excelente e consistente resultado da TE para desfechos funcionais objetivos e o questionário de Boston. Apesar deste estudo incluir um número relevante de pacientes, ele carece de um grupo de comparação. Em outro desfecho relevante, dor, não identificamos benefício para qualquer das técnicas. Há de se pesar que parte da literatura refere benefício da TE, especialmente no primeiro mês.22 Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel do Carpo - Parte II (Tratamento). Rev Bras Ortop 2014;49(05):437–445

Algumas observações devem ser feitas sobre a validade interna2121 de Moraes VY, Ferrari PM, Gracitelli GC, Faloppa F, Belloti JC. Outcomes in orthopedics and traumatology: translating research into practice. Acta Ortop Bras 2014;22(06):330–333 dos nossos resultados: 1) trata-se de amostra pequena, o que pode ter limitado a representatividade dos nossos dados; 2) característica retrospectiva, no que diz ao manejo inicial de diagnóstico e de tratamento conservador; 3) pela natureza do nosso estudo, não se pode imputar causa-efeito, tão somente associação entre as duas doenças.

Conclusão

Nesta amostra, demonstramos que técnica cirúrgica parece não influenciar o aparecimento de DGs e de dor pós-operatória. Os pacientes operados pela TA apresentaram maior remissão da parestesia quando comparados aos operados pela técnica endoscópica.

Agradecimentos

Agradecimentos a Giovanna Arcaro de Lima, pelo suporte.

  • *
    Trabalho desenvolvido no Serviço de Residência Médica de Cirurgia e Microcirurgia da, Mão do Hospital Alvorada, São Paulo, SP, Brasil.
  • Suporte Financeiro
    Não houve suporte financeiro de fontes públicas, comerciais, ou sem fins lucrativos.

Apêndice 1

Questionário do estudo - Túnel do carpo e aparecimento de dedo em gatilho

Apêndice 1
Questionário do estudo - Túnel do carpo e aparecimento de dedo em gatilho

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2020
  • Aceito
    16 Set 2020
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