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Apresentação

Apresentação

Neuroimagem em psiquiatria

Na década de 70, quando foram publicados os primeiros estudos de tomografia computadorizada em pacientes com transtornos mentais, talvez fosse difícil imaginar que o interesse no uso da neuroimagem em psiquiatria cresceria tanto, como vem ocorrendo nos últimos anos. Em ritmo acelerado, foram desenvolvidos métodos que propiciam imagens com nitidez cada vez maior do cérebro humano, tanto para a investigação de aspectos anatômicos estruturais (usando a ressonância magnética) quanto funcionais (usando as tomografias por emissão de pósitrons e fóton único e as técnicas de ressonância magnética espectroscópica e funcional). Com esses métodos, têm sido demonstradas alterações sutis mas consistentes da estrutura e do metabolismo de áreas cerebrais específicas em diversos transtornos mentais, como os psicóticos, afetivos, ansiosos e outros. Além disso, tem sido possível estudar mudanças dinâmicas do funcionamento cerebral durante tarefas de estimulação mental ou exacerbação de sintomas, assim como investigar alterações em vias neuroquímicas antes e depois da administração de tratamentos farmacológicos.

As descobertas das pesquisas em neuroimagem contribuíram decisivamente para o abandono, nas classificações psiquiátricas mais atuais, da antiga dicotomização entre transtornos psiquiátricos "orgânicos" e "funcionais". Por outro lado, esses achados não significaram uma redução dos sintomas mentais a elementos estritamente biológicos. Pelo contrário, a neuroimagem tem contribuído também para abrir perspectivas de uma integração mais ampla entre aspectos orgânicos e psicológicos dos transtornos mentais, como atestam os estudos mostrando mudanças no funcionamento cerebral por tratamentos tanto psicológicos como farmacológicos para alguns transtornos ansiosos. Assim, a neuroimagem pode se posicionar como um poderoso recurso de pesquisa que nos auxilia na compreensão dos correlatos cerebrais dos sintomas mentais e das diferentes formas de tratamento usadas para aliviá-los.

Da mesma forma como no exterior, cresce no Brasil o interesse nas aplicações da neuroimagem em psiquiatria. Foi este crescimento que permitiu que fossem reunidos neste suplemento profissionais brasileiros que têm atuado com grande produtividade nesta área. Esses profissionais, juntamente com seus colaboradores internacionais, nos proporcionaram um conjunto de artigos de profundidade científica, atualidade e abrangência. Esses trabalhos procuram, em linguagem acessível, trazer noções básicas sobre as principais técnicas de neuroimagem usadas hoje em dia, assim como exemplificar e sintetizar os achados obtidos com esses métodos em alguns dos principais transtornos psiquiátricos com os quais lidamos no dia-a-dia.

A história da contribuição da neuroimagem à neuropsiquiatria está longe de ser concluída. Com o avanço contínuo das técnicas e dos desenhos de pesquisa, deverá ser possível um conhecimento cada vez maior não só da natureza das alterações cerebrais subjacentes aos sintomas mentais, mas também da forma como essas alterações progridem, e a sua possível prevenção por novos tratamentos. As aplicações da neuroimagem na rotina clínica também merecerão atenção. Como ilustrado num artigo deste suplemento, já há em neurologia perspectivas de detecção precoce pela neuroimagem de sinais de doenças cujo diagnóstico sempre foi essencialmente clínico, como o mal de Parkinson. Em psiquiatria, as aplicações da neuroimagem na prática clínica são ainda modestas, mas há perspectivas futuras promissoras.

Esperamos que a leitura deste suplemento contribua para manter cada vez mais vivo o interesse do leitor da Revista Brasileira de Psiquiatria em acompanhar esses desenvolvimentos estimulantes.

Geraldo Busatto Filho, Jair C. Soares e Rodrigo Affonseca Bressan

Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Mar 2002
  • Data do Fascículo
    Maio 2001
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