A eficácia da educação em saúde na prevenção do trauma mamilar na amamentação: revisão sistemática

Oliveira, Flávia Silva; Vieira, Flaviana; Cecilio, Jessica Oliveira; Guimarães, Janaína Valadares; Campbell, Suzanne Hetzel

doi:10.1590/1806-93042020000200002

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Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil

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Sumário

REVISÃO • Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 20 (2) • Apr-Jun 2020 • https://doi.org/10.1590/1806-93042020000200002 copiar

A eficácia da educação em saúde na prevenção do trauma mamilar na amamentação: revisão sistemática

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Objetivos:

analisar a eficácia da educação em saúde para a prevenção do trauma mamilar na amamentação comparado a outras intervenções.

Métodos:

revisão sistemática realizada em janeiro de 2019, segundo recomendações PRISMA. As buscas foram realizadas na Cinahl, PubMed, Web of Science, Scopus e referências citadas nos artigos selecionados. Os estudos foram avaliados quanto à qualidade e nível de evidência conforme o sistema Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation.

Resultados:

foram selecionados 12 estudos, todos executados em maternidades. As intervenções foram representadas em duas categorias: educação em saúde sobre amamentação e uso de coberturas mamilares. A educação em saúde sobre amamentação apresenta moderada evidência na prevenção do trauma mamilar. As coberturas de gel ou água de hortelã-pimenta, de guaiazulene, aplicadas no pós-parto, têm efeito positivo na prevenção do trauma mamilar, com moderada a alta evidência.

Conclusão:

a educação em saúde sobre amamentação, com demonstração clínica, configura-se importante estratégia para prevenção do trauma mamilar, devendo ser realizada mais de uma abordagem educativa. A implementação de coberturas mamilares precisa ser ponderada, pois todas exigiram remoção antes da mamada. Todas as intervenções foram conduzidas no pós-parto, o que aponta para a necessidade de pesquisas clínicas sobre a prevenção do trauma mamilar no pré-natal.

Palavras-chave:
Aleitamento materno; Ferimentos e lesões; Educação em saúde; Revisão sistemática

Autor, Ano, País	Proposta	Método	Resultados	Nível de evidência	Conclusão
E1. Duffy et al.¹⁴14 Duffy EP, Percival P, Kershaw E. Positive effects of an antenatal group teaching session on postnatal nipple pain, nipple trauma and breast feeding rates. Midwifery. 1997; 13 (4): 189-96. 1997, Austrália	Investigar o efeito de uma sessão de ensino em grupo para nulíparas no terceiro trimestre da gravidez	Estudo experimental randomizado com 75 primíparas em acompanhamento de pré-natal com intensão de amamentar. GE^* * GE= Grupo Experimental; (n=37): receberam intervenção de ensino pré-natal. GC^† † GC= Grupo Controle; (n=38): receberam educação pré-natal usual. Acompanhadas até o 4º dia pós-natal para avaliação da mamada, dor e trauma mamilar (NTI^‡ ‡ NTI= Nipple Trauma Index; ). Na 6º semana foi verificada a manutenção do aleitamento materno.	O grupo de intervenção apresentou maior escore geral da NTI (M^§ § M= Média; = 132,85, DP^\|\| \|\| DP= Desvio Padrão. = 5,5), indicando menos trauma mamilar p<0,001;	Moderado	O ensino prático em grupo pré-natal foi uma estratégia eficaz para reduzir a dor e trauma mamilar em nulíparas e para aumentar as taxas de aleitamento materno.
E2. Henderson et al.,²⁸28 Henderson A, Stamp G, Pincombe J. Postpartum positioning and attachment education for increasing breastfeeding: a randomized trial. Birth. 2001; 28 (4): 236-42. 2001, Australia	Avaliar a eficácia de uma intervenção educacional padronizada na amamentação	Ensaio clínico randomizado com 160 primíparas com intenção de amamentar. GE (n=80): recebeu educação em saúde sobre amamentação padronizada e individual com abordagem verbal, visual e escrita dentro de 24h de pós-parto. GC (n=80): recebeu os cuidados usuais da unidade. Os grupos foram avaliados após 6 semanas, 3 e 6 meses.	Não houve diferença significativa entre os grupos na incidência do trauma mamilar.	Moderado	A intervenção não pode ser recomendada como prática usual.
E3. Oliveira et al.²⁹29 Oliveira LD, Giugliani ER, Espirito Santo LC, França MC, Weigert EM, Kohler CV, Lourenzi Bonilha AL. Effect of intervention to improve breastfeeding technique on the frequency of exclusive breastfeeding and lactation-related problems. J Hum Lact. 2006; 22 (3): 315-21. 2006, Brasil	Avaliar o impacto de uma intervenção da técnica de amamentação na taxa de amamentação exclusiva e sobre os problemas mamários relacionados amamentação no primeiro mês pós-parto.	Ensaio clínico randomizado com 211 pares mãe-filho. GE (n=74): orientação com uso de material educativo sobre a técnica da amamentação. GC (n=137): orientações convencionais da unidade. A avaliação foi feita na maternidade, 7º e 30º dia de pós-parto.	Não houve diferença significativa (p>0,05) entre os grupos quanto à frequência de trauma mamilar na maternidade (GE=43.2% x GC=43.8%), no 7º dia (GE=43.2% x GC=48.9%) e 30º dia (GE=8.5% x GC=9.1%).	Alto	Uma sessão na maternidade para reforçar a técnica adequada de amamentação não foi suficiente para melhorar a técnica de amamentação ou reduzir a ocorrência de problemas mamários resultantes de má técnica.
E4. Eksioglu et al.¹⁵15 Eksioglu A, Yesil Y, Gungor DD, Turfan EC. The effects of different breastfeeding training techniques for primiparous mothers before discharge on the incidence of cracked nipples. Breastfeed Med. 2017; 12 (5): 311-5. 2017, Turquia	Investigar os efeitos de diferentes técnicas de treinamento em amamentação antes da alta para mães primíparas sobre a incidência subsequente de trauma mamilar	Estudo de intervenção controlado com 90 primíparas. G1 (n=30): cuidados de rotina. G2 (n=30): recebimento de folheto informativo. G3 (n=30): treinamento baseado em demonstração.	Na 2^a semana de pós-parto a taxa de trauma mamilar foi de 63,3% no G1; 56,7% no G2 e 20.0% no G3 (p=0,001). Na 4^a semana de pós-parto a taxa de trauma mamilar foi de 30.0% no G1; 10.0% no G2 e 6,7% no G3 (p=0,026).	Moderado	O treinamento baseado em demonstração foi um método eficaz para prevenir trauma mamilar.

Autor, Ano, País	Proposta	Método	Resultados	Nível de evidência	Conclusão
E5. Hewat et al.³⁸38 Hewat RJ, Ellis DJ. A comparison of the effectiveness of two methods of nipple care. Birth. 1987; 14 (1): 41-5. 1987, Canadá	Avaliar se o leite materno ou o colostro aplicado aos mamilos após a amamentação é superior à lanolina hidratada na prevenção de dor e trauma nos mamilos	Ensaio Clínico Randomizado com 23 primíparas avaliadas até o 10º dia de pós-parto. G1 (n = 10) aplicou leite materno ou colostro expresso no mamilo direito e lanolina à esquerda após cada mamada. G2 (n = 13) reverteu o procedimento. Cada participante era seu próprio controle.	Todas as mulheres vivenciaram o trauma mamilar. Houve uma correlação positiva e significativa entre trauma mamilar e ingurgitamento (r = 0.43; p<0.02).	Baixo	Leite materno não foi superior às aplicações de lanolina na prevenção ou diminuição do trauma nos mamilos nos primeiros 10 dias pós-parto.
E6. Centuori et al.³⁰30 Centuori S, Burmaz T, Ronfani L, Fragiacomo M, Quintero S, Pavan C, et al. Nipple care, sore nipples, and breast-feeding: a randomized trial. J Hum Lact. 1999;15(2):125-30. 1999, Itália	Determinar se a duração da amamentação, incidência de trauma e dor mamilar são afetados pelo uso de pomadas e cremes.	Ensaio Clínico Randomizado com 219 puérperas acompanhadas em quatro momentos até o terceiro mês pós-parto. GC^* * GE= Grupo Experimental; (n=96): seguiu as rotinas do hospital. GE^† † GC= Grupo Controle; (n=123): sem uso de método físico, químico e mecânico no cuidado com mamilos.	Não houve diferença a entre os dois grupos quanto a problemas mamários e mamilares. O uso de mamadeira e chupeta foram associados ao trauma mamilar (p<0,05) após a alta hospitalar e duas semanas de pós-parto.	Moderado	A limpeza especial com água destilada e gaze estéril, e o uso de cremes e spray nos mamilos se mostraram desnecessários.
E7. Api et al.²⁵25 Api M, Sivri D, Api O, Görgen H, Çetin A, Yayla M. Prevention of Nipple Cracks With Guaiazulene Versus Breast Milk in Nursing Mother: A Randomized, Controlled, Double-Blind Trial. J Turkish German Gynecol Assoc. 2005; 6 (4): 279-84. 2005, Turquia	Avaliar a efetividade do creme de guaiazulene em relação a aplicação de leite materno na prevenção da dor e do trauma mamilar durante a amamentação.	Ensaio clínico randomizado, controlado, duplo cego com puérperas de parto vaginal. GE (n=76): fez uso da pomada de guaiazulene 0.05%após cada mamada. Foi recomendada limpeza das mamas antes da mamada GC (n=77): usou leite materno após cada mamada. As mulheres foram avaliadas 15 e 30 dias após o parto quanto a dor e trauma mamilar.	A incidência total de trauma mamilar foi 31.4% aos 30 dias de pós-parto, sendo 18.4% no GE e 44.2% no GC (p=0.001, RR^‡ ‡ RR= Risco Relativo; EVOO= extra virgem olive oil. =0.42, IC95%= 0.24-0.71).	Alto	A aplicação de guaiazulene foi efetiva para reduzir o trauma mamilar.
E8. Melli et al.²³23 Melli MS, Rashidi MR, Nokhoodchi A, Tagavi S, Farzadi L, Sadaghat K, Tahmasebi Z, Kazemi AM. A randomized trial of peppermint gel, lanolin ointment, and placebo gel to prevent nipple crack in primiparous breastfeeding women. Med Sci Monit. 2007; 13 (9). 2007, Irã	Investigar o efeito preventivo do trauma mamilar do gel de hortelã-pimenta em comparação a lanolina modificada e placebo	Ensaio Clínico Randomizado Duplo-Cego realizado com 216 primíparas, avaliadas nos dias 4, 7, 14 e 42 pós-parto. G1 (n=72): lanolina purificada G2(n=72): gel de hortelã-pimenta. G3(n=72): gel placebo. A intervenção foi aplicada na aréola e mamilo após cada mamada e levada antes da próxima mamada. Todas receberam orientação sobre amamentação prévia ao aleitamento materno.	Traumas mamilares foram menos frequentes ao usar gel de hortelã-pimenta (3,8%) do que em uso de pomada de lanolina (6,9%) ou placebo (22,6%) (p=0,01), no 14º dia de pós-parto. O risco relativo de trauma no grupo lanolina (RR: 2,41, IC95%= 1,20-3,01) foi maior do que no grupo hortelã-pimenta (RR= 1,85, IC95%= 1,64-3,10).	Alto	O gel de hortelã-pimenta formulado como um remédio natural foi eficaz na prevenção do trauma mamilar. A aplicação do gel foi sugerida como uma profilaxia do trauma mamilar com a adequada instrução no início da amamentação.
E9. Melli et al.²⁴24 Melli MS, Rashidi MR, Delazar A, Madarek E, Maher MHK, Ghasemzadeh A, Sadaghat K, Tahmasebi Z. Effect of peppermint water on prevention of nipple cracks in lactating primiparous women: a randomized controlled trial. Int Breastfeed J. 2007; 2 (7). 2007, Irã	Avaliar a eficácia de uma preparação tópica de água de hortelã-pimenta em comparação com o leite materno expresso para a prevenção de traumas mamilares em primíparas que amamentam..	Ensaio Clínico Randomizado, com 196 mulheres, acompanhadas por até três visitas ou telefonemas no prazo de 14 dias e, um telefonema na sexta semana pós-parto. GE (n=98): aplicação de água de hortelã-pimenta após cada mamada. GC (n=98): aplicação de leite materno após cada mamada. Todas as mães receberam educação padronizada em amamentação com demonstrações antes de iniciar a amamentação.	Ocorrência do trauma mamilar foi menor no grupo que utilizou água de hortelã-pimenta (p<0.01) GE= 7%, GC= 23%. No GE o trauma ocorreu no 7º dia de pós-parto (6,2 ± 1,9) e no GC no 4º dia (3,8 ± 0,9). A água de hortelã-pimenta reduziu o risco de trauma em comparação ao outro grupo (RR= 3,6, IC95%= 2,9, 4,3).	Moderado	A água de hortelã-pimenta foi eficaz na prevenção da dor e do trauma mamilar em comparação ao leite materno.
E10. Atan e Sirin.²⁷27 Atan SÜ, Sirin A. Prevention of nipple problems in primipara breastfeeding mothers: A pilot study. Healthmed. 2012; 6 (12): 4258-66. 2012, Turquia	Comparar a efetividade do leite materno, compressa úmida morna e compressa de chá na prevenção de problemas mamilares em primíparas	Estudo experimental com 105 primíparas. G1 (n=35): compressa de chá G2 (n=35): compressa úmida morna G3 (n=35): leite materno Oferecido uma educação em saúde sobre os benefícios e sucesso do aleitamento materno e um folheto para suportar essa educação. Visitas no 5º e 14º dia de pós-parto.	No 3º dia de pós-parto ocorreu a maior taxa de trauma mamilar (34,3%). No 6º e 7º dia de pós-parto foi identificado menos problemas mamilares no grupo da compressa úmida morna (p>0.023). No 14º dia de pós-parto não houve diferença significativa entre os grupos, p=609(G1= 54,3%; G2=42,9% e G3=49,5%).	Baixo	Parteiras e enfermeiras podem ensinar as mães no hospital sobre compressas úmidas mornas para a prevenção da dor e do trauma mamilar e continuar a prática após a alta.
E11. Thabet et al.²⁶26 Thabet HA, Mourad MA, Alahadal AM, Alsenany S, Alsaif A. Prevention of Nipple Cracks with Peppermint Water versus Breast Milk in Lactating Primiparous Women. Life Science J. 2013;10(4): 2010-7. Disponível em: http://www.lifesciencesite.com/lsj/life1004/266_21318life1004_2010_2017.pdf. http://www.lifesciencesite.com/lsj/life1... 2013, Arábia Saudita	Comparar o efeito da água de hortelã-pimenta em relação ao leite materno na prevenção de lesões mamilares	Estudo Experimental com 150 primíparas em amamentação após parto vaginal com 38 ou mais semanas de gestação, do 1º ao 14º dia de pós-parto. G1 (n=50): água de hortelã-pimenta após cada mamada com uma gaze nos mamilos e aréolas após a lavagem dos mamilos com água. G2 (n=50): leite materno expresso após cada mamada. GC (n=50) manter seus mamilos limpos e secos. Todas receberam educação hospitalar abrangente sobre amamentação antes do início da amamentação.	As mulheres do grupo da água de hortelã-pimenta eram mais propensas a mamilos e aréolas intactos aos 15 e 30 dias (88% e 92%) do que as mulheres no grupo de leite materno (60% e 64%) e GC (44% e 40%) (p<0,001).	Baixo	Leite materno não foi superior às aplicações de lanolina na prevenção ou diminuição do trauma nos mamilos nos primeiros 10 dias pós-parto.
E12. Cordero et al.⁴⁰40 Cordero MJA, Villar NM, Barrilao RG, Cortés MEC, López AM. Application of Extra Virgin Olive Oil to Prevent Nipple Cracking in Lactating Women. Worldviews on Evid Based Nurs. 2015; 12 (6): 364-9. 2015, Cuba	Avaliar a eficácia do azeite extra-virgem (EVOO) no alívio e prevenção de mamilos doloridos em lactantes em comparação com o uso de leite materno	Experimental, prospectivo, randomizado com 300 mães em amamentação. G1 (n=150): EVOO no mamilo após cada mamada G2 (n=150): gotas de leite após cada mamada. Avaliações clínicas foram realizadas nas duas primeiras semanas de tratamento e após primeiro mês de amamentação.	A ocorrência do trauma mamilar no grupo EVOO: 2,7%. No grupo que usou leite materno: 44,0%. Trauma mamilar foi relacionado a má postura na mamada (p<0,001)	Baixo	O EVOO foi importante na prevenção do trauma mamilar, com resultado positivo mesmo com a postura inadequada durante a mamada.

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[1] Contribuição dos autores

Oliveira FS e Vieira F participaram na concepção do estudo, seleção dos artigos, interpretação e discussão dos dados e redação do artigo. Cecilio JO contribuiu na seleção dos artigos a serem incluídos no estudo. Guimaraes JV e Campbell SH contribuíram com revisão crítica do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão final do artigo.