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Cultura de segurança do paciente em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: contribuições da equipe multiprofissional

Resumo

Objetivos:

analisar a cultura de segurança do paciente com a equipe multiprofissional em UTI neonatal de maternidade brasileira.

Métodos:

a cultura de segurança foi avaliada pelo instrumento Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC), com amostra de 117 profissionais. Os questionamentos foram divididos em 12 domínios, classificando-os como áreas de força quando o percentual foi maior do que 75% de respostas positivas. Para análise inferencial, utilizaram-se dos testes de Kruskal-Wallis e Qui-quadrado, considerando significativos valores de p<0,05.

Resultados:

os domínios “aprendizado organizacional- melhora contínua” e “trabalho em equipe” foram considerados como áreas de força no estabelecimento da segurança. Os que necessitaram de aprimoramento foram: “não punição do erro” e “quadro de funcionários”. Não se encontrou relevância significativa entre os cruzamentos dos números de respostas positivas com os dados profissionais, mostrando, desta forma, que os fatores não interferiram nas respostas dadas.

Conclusões:

diante dos resultados apresentados, sugere-se modificações principalmente nos aspectos relacionados à cultura punitiva e avaliação de possível diminuição da sobrecarga de trabalho. Entretanto, não se podem deixar de enaltecer os aspectos positivos encontrados, como o trabalho em equipe, a preocupação dos profissionais e gestores em trazer melhoras para promoção da segurança do paciente.

Palavras-chave:
Segurança do paciente; Unidades de Terapia Intensiva Neonatal; Equipe de assistência ao paciente

Abstract

Objectives:

to analyze the patient safety culture with the multidisciplinary team in a neonatal ICU at a Brazilian maternity.

Methods:

the safety culture was evaluated by the Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC), with a sample of 117 professionals. The questions were divided into 12 domains, classifying them as areas of strength when the percentage was higher than 75% of positive responses. For inferential analysis, Kruskal-Wallis and Chi-square tests were used, considering significant p<0.05 values.

Results:

the domains ‘organizational learning- continuous improvement’ and ‘teamwork’ were considered as areas of strength in establishing security. Those who needed improvement were: ‘non-punitive response to error’ and ‘staffing’. There was no significant relevance between the crossings of the numbers of positive responses with the professional data, thus showing that the factors did not interfere in the answers given.

Conclusions:

in view of the results presented, changes are suggested mainly in the aspects related to punitive culture and evaluation of possible reduction of work overload. However, we cannot fail to praise the positive aspects found, such as teamwork, the concern of professionals and managers to bring improvements to promote patient safety.

Key words:
Patient safety; Intensive care units neonatal; Patient care team

Introdução

A preocupação com a segurança do paciente não é fato recente, Hipócrates (460 a 370 a.C.), considerado o pai da medicina, em discursos, mencionava: “primeiro, não cause o dano”. Desta forma, percebe-se que desde aquele tempo, já havia discussão sobre os males que a assistência à saúde poderia acarretar aos pacientes.11 Ministry of Health (BR). Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília (DF): Ministry of Health; 2014.

A ampliação e o estabelecimento do programa de segurança do paciente no cenário mundial vêm se tornando essencial para redução dos danos na assistência à saúde.22 World Health Organization (WHO). World alliance or patient safety. Geneva: WHO; 2008-2009. As ações e pesquisas voltadas a esta temática ampliaram-se após a publicação, nos anos 2000, do relatório “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, no qual abordaram-se as consequências dos erros cometidos durante a assistência à saúde no cenário norte-americano.33 Donaldson MS, Corrigan JM, Kohn LT; Institute of Medicine (US) Committee on Quality of Health Care in America. To err is human: building a safer health system. Washington: National Academies Press; 2000.

No Brasil, grande avanço nessa temática foi alcançado mediante a publicação da Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, que instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e trouxe definições importantes, como a de segurança do paciente que consiste na “redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde”.44 Ministry of Health (BR). Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013 (BR). Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2013 Apr 1; Seção 1: 1.

Estudos em todo o mundo vêm demonstrando que muitos dos danos ocasionados pela assistência à saúde poderiam ser prevenidos. Pesquisa realizada na Irlanda demonstrou que dos 12,2% Eventos Adversos (EA), mais de 70% eram evitáveis, destes, 9,9% causaram danos permanentes e 6,7% contribuíram para o óbito.55 Rafter N, Hickey A, Conroy RM, Condell S, O’Connor P, Vaughan D, et al. The Irish National Adverse Events Study (INAES): the frequency and nature of adverse events in Irish hospitals - a retrospective record review study. BMJ Qual Saf. 2017; 26 (2): 111-9. Outra investigação realizada na Bélgica apontou que 56% dos prontuários analisados continham EA e, destes, 46% eram evitáveis. Destacou-se, também, que os EA estavam principalmente ligados à terapia medicamentosa, à cirurgia, ao diagnóstico e aos problemas sistêmicos nas instituições.66 Marquet K, Claes N, De Troy E, Kox G, Droogmans M, Schrooten W, et al. One fourth of unplanned transfers to a higher level of care are associated with a highly preventable adverse event: a patient record review in six Belgian hospitals. Crit Care Med. 2015 May; 43 (5): 1053-61.

No âmbito das unidades de cuidado ao recém-nascido, o estabelecimento de um ambiente seguro é primordial para promover a confiabilidade dos serviços prestados. Pesquisa realizada no Brasil, com 218 recém-nascidos, demonstrou que 183 (84%) apresentaram EA. Dentre os eventos encontrados, destacaram-se 29% de alterações na termorregulação, 17,1% de distúrbios da glicemia e 13,5% de infecção relacionada à assistência à saúde. Também, se observou a maior incidência de EA entre os recém-nascidos de muito baixo peso.77 Ventura CMU, Alves JGB, Meneses JA. Eventos adversos em unidade de terapia intensiva neonatal. Rev Bras Enferm. 2012; 65 (1): 49-55.

Diante desses dados, os debates sobre os incidentes ocorridos se mostram necessários para transformações dos serviços em ambientes mais seguros, estando estas mudanças diretamente ligadas à cultura de segurança do paciente implementada na instituição.88 Ministry of Health (BR). Segurança do paciente no domicílio. Brasília (DF): Ministry of Health; 2016. Para o Ministério da Saúde, cultura de segurança do paciente é um conjunto de valores não particularizado a um indivíduo, mas de responsabilidade coletiva, sendo inclusos a equipe de saúde, a família e a sociedade.11 Ministry of Health (BR). Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília (DF): Ministry of Health; 2014. Halligan e Zecevic99 Halligan M, Zecevic A. Safety culture in healthcare: a review of concepts, dimensions, measures and progress. BMJ Qual Saf. 2011 Apr; 20 (4): 338-43. afirmam que o conceito de cultura de segurança do paciente se refere a um conjunto de comportamentos grupais que determinam e refletem positiva ou negativamente na segurança do paciente.

Dessa maneira, torna-se importante, para o cuidado neonatal com segurança, a identificação do conjunto de valores e comportamentos que podem influenciar a assistência direta ao recém-nascido, os quais refletem a cultura de segurança do paciente e, por meio disto, propõe ações que poderia contribuir para redução de riscos e danos, obtendo-se, assim, mais segurança durante o processo de internação hospitalar do neonato. A partir desta perspectiva, objetivou-se, no presente artigo avaliar a cultura de segurança do paciente em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, sob a perspectiva da equipe multiprofissional, em uma maternidade brasileira.

Métodos

Trata-se de estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado em UTI neonatal de hospital público de Fortaleza - CE, Brasil. A instituição citada possui como missão prestar assistência, ensino e pesquisa no campo da saúde da mulher e do recém-nascido a qual possui 21 leitos de UTI neonatal, 30 de Unidades de Cuidados Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo) e cinco leitos de Unidades de Cuidados Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa).1010 Relatório Assistencial da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC). Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Fortaleza: Hospitais Universitários UFC/EBSERH; 2018.

A população do estudo foi composta por 243 profissionais, distribuídos em uma equipe de enfermagem, médicos neonatologistas, residentes de medicina, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, farmacêuticos e nutricionistas. A partir dessa população, realizou-se cálculo amostral com nível de confança de 95% e erro amostral de 7%, obtendo-se, ao final, amostra de 117 profissionais. A coleta de dados foi intencional, não probabilística e estratificada por categorias de profissionais.

Com o intuito de manter o sigilo e evitar identificação de participantes, realizou-se agrupamento dos profissionais por categorias, distribuindo-se em 17 enfermeiros, 26 médicos neonatologistas, oito residentes de neonatologia, 42 técnicos de enfermagem, 16 fisioterapeutas/terapeutas ocupacionais/fonoaudiólogos e oito assistentes sociais/psicólogos/farmacêuticos/nutricionistas.

Além disso, utilizaram-se os seguintes critérios de inclusão: profissionais da área da saúde de todas as categorias e que estivessem há mais de dois meses atuando no setor, visto que o guia do questionário utilizado estabelece que os profissionais devem ter conhecimento suficiente sobre o hospital e as respectivas operações para repassar respostas adequadas sobre as perguntas da pesquisa.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016. Como critérios de exclusão, elencaram-se: profissionais em férias, licença saúde, licença-gestação, maternidade ou paternidade ou atestado médico e desistência do consentimento, após início da coleta de dados.

A coleta de dados ocorreu entre agosto e novembro de 2018, com a aplicação do questionário Hospital Surveyon Patient Safety Culture (HSOPSC), sendo realizada a busca dos profissionais de forma individual e sigilosa. O instrumento utilizado possui nove sessões (A, B, C, D, E, F, G, H, I), contendo 42 perguntas, dispostas para análise de dados em 12 dimensões para serem analisadas sobre a cultura de segurança, sendo estas: trabalho em equipe dentro das unidades, expectativas e ações que favorecem a segurança, aprendizagem organizacional, apoio da gerência do hospital para segurança do paciente, percepção de segurança, feedback e comunicação sobre erros, abertura para comunicação, frequência de eventos notificados, trabalho em equipe entre as unidades, dimensionamento de pessoal, problemas em mudanças de turno e transições e resposta não punitiva aos erros.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016.

Esse questionário é baseado em escala do tipo Likert, sendo recomendado agrupar as respostas por categorias de constatações positivas (concordo totalmente/concordo e sempre/frequentemente), negativas (discordo totalmente/discordo e nunca/raramente) e neutras (não concordo nem discordo/algumas vezes).

Algumas perguntas possuem o valor reverso, ou seja, ao discordar da alternativa, o participante expressa uma atitude positiva. Diante do exposto, estas foram identificadas com a letra R. As perguntas que possuem este valor são: os itens 5, 7, 8, 10, 12, 14, 16 e 17 da seção A, quatro da seção B, seis da seção C, e 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 11 da seção F.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016.

Além das questões relacionadas diretamente à temática, o questionário investiga a percepção do nível de segurança do paciente (excelente, muito bom, regular, ruim, muito ruim); número de eventos notificados pelos participantes; questões relacionadas à atuação deste profissional dentro da equipe, como tempo de trabalho na instituição e na unidade, horas semanais trabalhadas, cargo/função, estabelecimento de interação direta com os pacientes, tempo de atuação na profissão, grau de instrução, idade e sexo.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016.

Os dados da pesquisa foram dispostos no Microsoft office Excel 2013, em planilhas e, posteriormente, analisados pelo programa SPSS, v. 22.0. Para análise descritiva dos dados, estabeleceram-se percentuais para cada categoria de respostas, sendo estas positivas, negativas ou neutras. Para estabelecer os domínios que obtiveram destaque, foi considerado o percentual de 75% de respostas positivas e para os que necessitaram de melhoras estabeleceu-se o percentual de ≤50% de respostas positivas.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016.

Para obtenção dos resultados deste estudo, tanto os valores e as porcentagens foram calculados considerando o total de respostas em cada dimensão de cultura de segurança, sendo estes valores modificáveis de acordo com o número de respostas dadas em cada dimensão.

Também, realizou-se o cruzamento dos dados do perfil profissional com nível de segurança do paciente, número de eventos notificados e respostas positivas sobre a cultura de segurança, utilizando-se dos testes Qui-quadrado e Kruskal Wallis, sendo considerando significativos os valores com p<0,05.

Os aspectos éticos estabelecidos pela Resolução 466/2012 foram respeitados em todos os momentos da pesquisa. Este estudo foi submetido à Plataforma Brasil e obteve a aprovação do Comitê de Ética da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, da Universidade Federal do Ceará (UFC), conforme parecer número 2.786.259.

Resultados

Os dados demonstraram que 94% (n=110) dos participantes eram do sexo feminino, com idades entre 18 e 58 anos, e média 35,5 (±6,6) anos. Em relação aos achados relacionados ao perfil profissional, verificou-se que os participantes possuíam média 9±5,8 anos de graduados. A maior parcela dos profissionais (76%; n=89) possuía de uma cinco anos de trabalho na instituição;71,8 % (n=84) de uma cinco anos de trabalho na UTI neonatal e 84,6% (n=99) afirmaram trabalhar de 20 a 39 horas semanais.

No referente à avaliação da cultura de segurança do paciente (Tabela 1), identificou um total de 2.611 respostas positivas (53,8 %), 1.067 (22%) neutras e 1.178 (24,2%) negativas. Ao considerar os 42 questionamentos sobre a cultura de segurança e o percentual estabelecido de 75% de resposta para determinação de áreas de força, realizouse levantamento de resposta conforme os domínios estabelecidos.

Tabela 1
Agrupamento das 42 perguntas do instrumento Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC) em domínios. Fortaleza, CE, Brasil, 2018.

Esses domínios estão apresentados na Figura 1, no qual o domínio 3 “Aprendizado organizacional - melhoria contínua” obteve 79,4% (n=277) de respostas positivas. Dentre as perguntas que compõem este domínio, “Estamos ativamente fazendo coisas para melhorar a segurança do paciente” apresentou 92,3% (n=108) e “Após implementarmos mudanças para melhorar a segurança do paciente, avaliamos a efetividade” obteve 74,1% (n=86) de respostas positivas (Tabela 1).

Figura 1
Respostas positivas, neutras e negativas, de acordo com cada domínio de cultura de segurança. Fortaleza, CE, Brasil, 2018.

O domínio “Trabalho em equipe na unidade” apresentou percentual de respostas positivas de 76% (n=355), e como parte deste domínio, os itens “Nesta unidade, as pessoas se tratam com respeito” e “Nesta unidade, as pessoas apoiam umas às outras” foram os que apresentaram níveis significativos de respostas positivas, tendo, respectivamente, percentuais de 87,2% (n=102) e 76,9% (n=90).

Destaca-se que o domínio 2, que se refere às expectativas e ações do supervisor para promoção da segurança do paciente, apresentou resultado de 71% (n=330) de respostas positivas. O referido domínio apresentou como item de destaque o questionamento “O meu supervisor/chefe não dá atenção suficiente aos problemas de segurança do paciente que acontecem repetidamente”, com 83,5% (n=96) de participantes discordando da afirmação. O item referente ao elogio do supervisor aos funcionários apresentou percentual menor de respostas positivas, com 64,9% (n=76).

Quanto ao “Feedback e comunicação sobre erros”, observou-se que este domínio obteve perfil positivo, apresentando 55,8% (n=192)de respostas positivas. O destaque desta categoria se concentrou na frase “Nesta unidade, discutimos meio de prevenir erros evitando que eles aconteçam novamente”, em que 70,4% (n=81) dos profissionais concordaram com esta afirmativa.

A “abertura para comunicação pelos profissionais” apresentou 53,2%(n=182) de respostas positivas, em que78,1% (n=89) dos profissionais afirmaram que ter liberdade para dizer algo que pode afetar negativamente o cuidado do paciente, 50,4% (n=57) afirmaram não ter receio de perguntar, quando algo aparece não estar certo, e apenas 31,3% (n=36) relataram que se sentiam à vontade para questionar as decisões ou ações dos superiores.

O domínio referente ao “Quadro de funcionários” apresentou percentual maior de respostas negativas, com 47% dos questionamentos (n=218) e baixa porcentagem de respostas positivas, obtendo apenas 34,9% (n=162) do percentual. Destaca-se que o item “Temos pessoal suficiente para dar conta da carga de trabalho” foi o que obteve a maior porcentagem de respostas negativas entre os questionamentos realizados pelo instrumento, detendo 86,2% (n=100) do total de respostas.

Observou-se que o domínio “Resposta não punitiva ao erro” apresentou 57,8% (n=201) de respostas negativas. Dentre os domínios aqui destacados, este foi o que deteve o menor número de respostas positivas, com apenas 22,7% (n=79) dos questionamentos. Neste domínio, 64,7% (n=75) dos profissionais afirmaram que se preocupam com o fato de que os erros possam ser usados contra eles e estes sejam registrados nas fichas funcionais.

O domínio 8 que descreve o apoio da gestão para promoção da segurança do paciente obteve 55,1% (n=193) de respostas positivas. Neste, 63,8% (n=74) dos participantes afirmaram que a direção trata a segurança do paciente como prioridade e 56,4% (n=66) discordaram que a direção do hospital apenas se interessa com a segurança quando ocorre algum evento.

Outro fator avaliado neste estudo é a integração/trabalho em equipe entre as unidades do hospital, em que se observou que mais da metade dos profissionais avaliaram positivamente este domínio, com 57,9% (n=271) das respostas. Nesta avaliação, 67,5% (n=79) dos participantes afirmaram que as unidades trabalham em conjunto para promoção da melhoria do cuidado aos pacientes e 61,5% (n=72) relataram cooperação satisfatória entre estas.

Além dos pontos citados anteriormente, esta pesquisa avaliou a segurança do paciente na troca de plantão e transferências internas, verificando-se percentual de 56,9% (n=261) de respostas favoráveis. Dentre os questionamentos que compõem este domínio, 71,6% (n=83) dos participantes discordaram da afrmação de que as mudanças de plantão ou turnos trazem danos aos pacientes.

Quanto à percepção geral sobre a segurança do paciente no ambiente analisado, verificou-se percentual representativo de respostas negativas, com 42,8% (n=198) do total dos questionamentos, sendo dois questionamentos decisivos para este resultado, o primeiro trata da concordância acerca do comprometimento da segurança do paciente em detrimento do trabalho excessivo, com 67% (n=77), e existência de problemas relacionados à segurança do paciente na unidade, com 60,7% (n=71).

O último ponto a ser exposto trata da frequência com que as notificações são realizadas, apesar deste domínio ter apresentado 41,3% (n=139) de respostas positivas, as notificações dos eventos ocorridos sofreram variações de acordo com a gravidade/danos que podem ocorrer aos pacientes. Visualizou-se que quando ocorre um erro que poderia causar dano ao paciente, o percentual de notificações é maior, com 50% (n=56) dos participantes afirmando que “quase sempre” ou “sempre” estes são notificados. Entretanto, quando este evento é percebido e corrigido antes de afetar o paciente, o percentual decaiu para 40,7% (n=46) e reduziu-se mais ainda quando o evento não possuia riscos de dano ao paciente, com 33% (n=37).

Em relação aos eventos adversos notificados, conforme explicitado na Figura 2, optou-se por mostrar a distribuição de acordo com cada categoria profissional. Dos percentuais apresentados, 67% (n=78) dos profissionais afirmaram que nunca realizaram notificação. Dentre os valores referentes aos profissionais, destacam-se os residentes de medicina, com 100% (n=8);fisioterapeutas/fonoaudiólogos/terapeuta ocupacionais, com 93,8% (n=15); e médicos, 88,5%(n=23) de respostas nessa opção. Observou-seque 47,1% (n=8) dos enfermeiros realizaram de três a cinco notificações, sendo que dos 17 enfermeiros participantes do estudo, 88% (n=15) afirmaram ter realizado de uma a mais de 21 notificações.

Figura 2
Percentuais de notificações, de acordo com cada categoria profissional. Fortaleza, CE, Brasil, 2018.

* Assistentes sociais/farmacêuticos/nutricionistas/psicólogos; ** Fisioterapeutas/terapeuta ocupacionais/fonoaudiólogos.


Outro fator importante avaliado é a nota atribuída à segurança do paciente, sendo dividida em excelente, muito boa, regular, ruim, muito ruim, de acordo com o estabelecido pelo instrumento. Como mostrado na Figura 3, o total geral indica que 47,9% (n=56) dos profissionais declararam a segurança do paciente como regular; 38,5% (n=45) muito boa; 5,1% (n=6) excelente; 4,3% (n=5) ruim; e 4,3% (n=5) não responderam.

Figura 3
Nota de segurança, de acordo com cada categoria profissional. Fortaleza, CE, Brasil, 2018.

* Assistentes sociais/farmacêuticos/nutricionistas/psicólogos; ** Fisioterapeutas/terapeuta ocupacionais/fonoaudiólogos.


Realizaram-se cruzamentos entre os números de respostas positivas, números de eventos notificados e nota de segurança com os dados de carga horária de trabalho, sexo, idade, tempo de trabalho no hospital, na unidade e profissão, constatando-se inexistência de valores com significância estatística.

Discussão

Mediante a análise dos dados, verificou-se predominância de participantes do sexo feminino, com idades de 18 a 58 anos de idade, média de 35,9 anos de idade e nove anos de formados. Estudo realizado no Brasil apresenta semelhança em relação ao sexo e tempo de formação, porém com divergência em relação ao tempo de trabalho na instituição, na unidade e carga horária, tendo os profissionais maior tempo de vínculo e mais horas semanais trabalhadas, quando comparados aos participantes deste estudo.1212 Minuzz AP, Salum NC, Locks MOH. Avaliação da cultura de segurança do paciente em terapia intensiva na perspectiva da equipe de saúde. Texto Contexto Enferm. 2016; 25 (2): 1-9.

O aprendizado organizacional foi o domínio que deteve o maior percentual de respostas positivas, e desta forma, denominou-se como potencial área no estabelecimento da segurança na UTI neonatal estudada. O ponto referido trata da avaliação de como os erros geram mudanças positivas para segurança do paciente.1111 Sorra J, Gray L, Streagle S, Famolaro T, Yount N, Behm J. AHRQ hospital survey on patient safety culture: user’s guide. Rockville: Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); 2016. Esse resultado revela que os eventos ocasionados anteriormente são processados e transformados em ações preventivas e positivas para o paciente. Estudo realizado na Lituânia, em hospital que presta serviço de obstetrícia, ginecologia e neonatologia, apresentou similaridade com o presente estudo, detendo percentual positivo de 73,2% nesta mesma área temática.1313 Ribeliene J, Blazeviciene A, Nadisauskiene RJ, Tameliene R, Kudreviciene A, Nedzelskiene I, et al. Patient safety culture in obstetrics and gynecology and neonatology units: the nurses’ and the midwives’ opinion. J Matern Fetal Neonatal Med. 2019 Oct; 32 (19): 3244-50. Outro destaque desta pesquisa foi o “trabalho em equipe na unidade”, com níveis consideráveis de parâmetros positivos. Este dado revela a integração efetiva entre os membros da equipe multiprofissional, sendo que estes afirmaram que trabalhavam em conjunto para obtenção do melhor cuidado ao paciente, sempre prevalecendo o respeito e apoio, no decorrer das atividades. Trabalho interdisciplinar é definido pela integração das ações dos profissionais em prol do bem-estar do usuário, de modo a contribuir para abordagem holística na assistência à saúde, por meio da constante troca de experiência e saberes.1414 Filho NCA, Souza AMP. A percepção sobre o trabalho em equipe multiprofissional dos trabalhadores de um Centro de Atenção Psicossocial em Salvador, Bahia, Brasil. Interface Comum Saúde Educ. 2017; 21 (60): 63-77. Estudo na Arábia Saudita constatou valor para este domínio inferior ao encontrado nesta pesquisa, com 69,3%de respostas afirmativas.1515 Alharbi W, Cleland J, Morrison Z. Assessment of patient safety culture in an adult oncology department in Saudi Arabia. Oman Med J. 2018 May; 33 (3): 200-8.

As “expectativas e ações do supervisor para promoção da segurança do paciente” apresentou percentual maior de respostas positivas, porém não se estabeleceu como área de força. Conforme essa temática, a maioria dos profissionais discordou do questionamento “O meu supervisor/chefe não dá atenção suficiente aos problemas de segurança do paciente que acontecem repetidamente”, sugerindo, assim, que aqueles que fazem parte da chefia/supervisão destes profissionais se preocupam com o estabelecimento de um ambiente seguro. Revisão sistemática sobre o tema afirma que o envolvimento dos gerentes no processo pode influenciar os resultados e o desempenho clínico de qualidade e segurança.1616 Parand A, Dopson S, Renz A, Vincent C. The role of hospital managers in quality and patient safety: a systematic review. BMJ Open. 2014; 4 (9): 1-15.

A realização de elogio pelo supervisor se apresenta como questionamento avaliado neste estudo, em que considerável parte dos profissionais afirmou receber elogio dos chefes quando o trabalho era realizado com excelência. O elogio constitui ferramenta primordial para estimular motivação dos trabalhadores, ao ser procedido de modo individual, demonstrando que a chefia concentrou-se na pessoa e reconheceu a dedicação desta.1717 Khoury K. Liderança é uma questão de atitude. 3rd ed. São Paulo: Senac; 2018. Em contraste com o apresentado neste estudo, pesquisa realizada em UTI adulta comprovou que 70,18% dos profissionais afirmaram não receber elogios no ambiente de trabalho.1212 Minuzz AP, Salum NC, Locks MOH. Avaliação da cultura de segurança do paciente em terapia intensiva na perspectiva da equipe de saúde. Texto Contexto Enferm. 2016; 25 (2): 1-9.

O domínio 4 que trata do “Feedback e comunicação sobre erros” foi composto por respostas majoritariamente de perfl positivo. O destaque desta categoria se concentrou na frase “Nesta unidade, discutimos meios de prevenir erros evitando que eles aconteçam novamente”, em que a maior parte dos profissionais concordaram com esta afrmativa, evidenciando a preocupação quanto à prevenção dos erros, por intermédio do debate no ambiente de trabalho. Estudo brasileiro expôs 26,9% de dados favoráveis neste domínio, confirmando falhas no feedback aos profissionais que realizam a comunicação dos erros existentes.1818 Mello JF, Barbosa SFF. Cultura de segurança do paciente em unidade de terapia intensiva: perspectiva da equipe de enfermagem. Rev Eletr Enferm. 2017 May; 19: 1-12.

Diante da complexidade do trabalho em grupo, a comunicação efetiva é um ponto de destaque no desenvolvimento da assistência em saúde, pois é através deste que se estabelece ambiente motivacional e socialização entre os membros da equipe.1919 Duarte SDCM, Stipp MAC, Silva MM, Oliveira FT. Eventos adversos e segurança na assistência de enfermagem. Rev Bras Enferm. 2015 Jan; 68 (1): 144-54. A abertura para comunicação no ambiente pesquisado apresentou pontos positivos para o estabelecimento de cultura de segurança, sendo que a maior parcela dos profissionais afirmaram que ter liberdade para relatar ao observar fatores podem afetar negativamente o cuidado do paciente a metade destes afirmando não ter receio de perguntar, quando algo parece não estar certo.

A sobrecarga de trabalho dos profissionais da UTI neonatal foi exposta no domínio “quadro de funcionários”, apresentando índices significativos de respostas negativas. Neste item,os profissionais destacaram não possuir pessoal suficiente para tarefas a ser desempenhadas. Enfatiza-se que trabalho excessivo, jornada de trabalho dupla, carga horária extensa e baixa remuneração são fatores propagadores do estresse e acarretam impacto aos trabalhadores e prejuízos na qualidade do serviço ofertado.2020 Curan GRF, Beraldo A, Souza SNDH, Rossetto EG. Dimensionamento de pessoal de unidades neonatais em um hospital universitário. Semin Ciênc Biol Saúde. 2015; 36 (Suppl 1): S55-S62.

Dentre os domínios expostos, a “Resposta não punitiva ao erro” apresentou o maior nível de respostas negativas e o menor número de respostas positivas. Neste domínio, os profissionais afirmaram preocupação com o fato de os erros serem usados contra eles e estes serem registrados nas fichas funcionais. Na literatura atual, observou-se, em estudo na Arábia Saudita, percentual de respostas positivas menores as explicitadas neste estudo, com apenas 11,3%.1515 Alharbi W, Cleland J, Morrison Z. Assessment of patient safety culture in an adult oncology department in Saudi Arabia. Oman Med J. 2018 May; 33 (3): 200-8.

Tendo como pressuposto a teoria do “Queijo suíço de James Reason”,11 Ministry of Health (BR). Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília (DF): Ministry of Health; 2014. em que os danos para que acometam o paciente passam por uma gama de processos desencadeadores e atravessam várias barreiras, verifica-se que o erro não pode ser individualizado, mas considerado pelas falhas do sistema como um todo. A cultura punitiva pode influenciar diretamente a comunicação dos erros, fazendo com que os profissionais tenham receio de notificar as falhas existentes, acarretando, assim, subnotificação dos casos.11 Ministry of Health (BR). Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília (DF): Ministry of Health; 2014.,2121 Minuzzi AP, Salum NC, Locks MOH, Amante LN, Matos E. Contribuições da equipe de saúde visando à promoção da segurança do paciente no cuidado intensivo. Esc Anna Nery. 2016 Jan/Mar; 20 (1): 121-9. Verifica-se assim que, no contexto estudado, ainda há a culpabilização do sujeito, necessitando, portanto, de transição/modificação da cultura de punição para o estabelecimento de aprendizagem pela análise dos erros existentes.

Para modificação desse cenário, estratégias podem ser utilizadas, como por exemplo identificação dos problemas que ocorrem no ambiente, em vez de crítica aos indivíduos, gestores que atuem como agentes de mudança e avaliem a equipe de forma não punitiva, avaliação constantemente da percepção acerca da punição do erro, e formação/treinamento da equipe sobre a segurança do paciente.2222 Battard J. Nonpunitive response to errors fosters a just culture. Nurs Manage. 2017 Jan; 48 (1): 53-5.

O apoio da gestão é imprescindível para o estabelecimento da cultura de segurança ao paciente. Este ponto obteve mais da metade de respostas positivas, os participantes afrmaram que a direção trata a segurança do paciente como prioridade e discordam que os gestores do hospital somente se interessam pela segurança quando ocorre algum evento. A gestão inclusa no desenvolvimento das ações para promoção de um ambiente seguro é essencial para potencializar as barreiras protetoras e, assim, reduzir os danos que possam comprometer o processo assistencial e o cuidado ao paciente. Em comparação com este estudo, pesquisa realizada em hospital na Região Sul do Brasil aponta 39,1% de respostas afrmativas, demonstrando, assim, percentual inferior ao encontrado neste estudo.2323 Cruz EDA, Rocha DJM, Mauricio AB, Ulbrich FS, Batista J, Maziero ECS. Cultura de segurança entre profissionais de saúde em hospital de ensino. Cogitare Enferm. 2018; 23 (1): 1-9. Este valor pode apresentar discrepâncias quando comparado entre instituições, devido as singularidades na condução da gestão em cada hospital e em cada localidade.

No nono domínio, que discorre sobre a integração entre as unidades do hospital, mais da metade dos participantes avaliaram positivamente. Este ponto faz referência ao trabalho em conjunto e à cooperação entre as unidades para promoção da melhoria do cuidado aos pacientes.1010 Relatório Assistencial da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC). Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Fortaleza: Hospitais Universitários UFC/EBSERH; 2018. Estudo realizado na China, com 1.379 profissionais de 19 hospitais, trouxe melhores resultados, com 65,3% de respostas positivas, evidenciando integração mais efetiva entre as unidades.2424 Wang M, Tao H. How does patient safety culture in the surgical departments compare to the rest of the county hospitals in Xiaogan city of China? Int J Environ Res Public Health. 2017; 14 (10): 1123.

Outros momentos críticos no estabelecimento da segurança do paciente se referem à troca de plantão e às transferências internas, apresentando 57% de respostas positivas, o que significa que mais da metade dos participantes consideram como efetivos estes processos internos. Quanto à análise das transferências intra-hospitalares e a passagem de plantão, em outros países, estudo realizado em Marrocos verificou 51,5% de respostas positivas, ou seja, próximo ao encontrado nesta pesquisa. Os autores do referido estudo apontam que o percentual encontrado foi maior quando comparado a estudos realizados nos Estados Unidos e no Líbano.2525 El-Jardali F, Sheikh F, Garcia NA, Jamal D, Abdo A. Patient safety culture in a large teaching hospital in Riyadh: baseline assessment, comparative analysis and opportunities for improvement. BMC Health Serv Res. 2014; 14 (1): 122.

A percepção geral sobre a segurança do paciente apresentou total significativo de respostas negativas e poucas respostas afirmativas. Neste domínio, parte considerável dos participantes concordaram que o comprometimento da segurança do paciente tem relação como trabalho excessivo e afirmaram que na unidade investigada existiam problemas relacionados à segurança do paciente. Pode-se acrescentar que a sobrecarga de trabalho se configura como uma das principais causas para o acontecimento dos eventos adversos em saúde, interferindo diretamente na segurança do paciente.1919 Duarte SDCM, Stipp MAC, Silva MM, Oliveira FT. Eventos adversos e segurança na assistência de enfermagem. Rev Bras Enferm. 2015 Jan; 68 (1): 144-54. Em desencontro com o resultado apresentado nesse domínio, pesquisa recente realizada no Irã evidenciou nível elevado de respostas positivas, sinalizando melhores aspectos na prevenção de erros e menos problemas com a segurança do paciente.2626 Akbari N, Malek M, Ebrahimi P, Haghani H, Aazami S. Safety culture in the maternity unit of hospitals in Ilam province, Iran: a census survey using HSOPSC tool. Pan Afr Med J. 2017; 27: 1-6.

O último domínio exposto foi “frequência de notificações”, em que se notou que apesar deste deter porcentagem maior de respostas positivas, os eventos ocorridos sofreram variações de acordo com a gravidade/danos que estes possam ocorrer aos pacientes. Quando ocorre um erro que poderia causar dano ao paciente, metade dos participantes afirmaram que “quase sempre” ou “sempre” estes são notificados. Todavia, quando o evento é percebido e corrigido antes de afetar o paciente, este percentual sofre redução e decai mais ainda quando o evento não possui riscos de danos ao paciente. Na literatura atual, notam-se resultados divergentes quanto a este ponto: um estudo apresentou percentual menor,1818 Mello JF, Barbosa SFF. Cultura de segurança do paciente em unidade de terapia intensiva: perspectiva da equipe de enfermagem. Rev Eletr Enferm. 2017 May; 19: 1-12. outros maiores1313 Ribeliene J, Blazeviciene A, Nadisauskiene RJ, Tameliene R, Kudreviciene A, Nedzelskiene I, et al. Patient safety culture in obstetrics and gynecology and neonatology units: the nurses’ and the midwives’ opinion. J Matern Fetal Neonatal Med. 2019 Oct; 32 (19): 3244-50.,1515 Alharbi W, Cleland J, Morrison Z. Assessment of patient safety culture in an adult oncology department in Saudi Arabia. Oman Med J. 2018 May; 33 (3): 200-8. e um estudo apresentou o mesmo percentual ao apresentado nesta pesquisa.2727 Asefzadeh S, Kalhor R, Tir M. Patient safety culture and job stress among nurses in Mazandaran, Iran. Electron Physician. 2017 Dec; 9 (12): 6010-6.

O total de eventos adversos notificados também foi verificado, observou-se que a maioria dos profissionais afirmaram não ter realizado notificações, uma pesquisa recente na Ásia Ocidental evidenciou o mesmo resultado.2626 Akbari N, Malek M, Ebrahimi P, Haghani H, Aazami S. Safety culture in the maternity unit of hospitals in Ilam province, Iran: a census survey using HSOPSC tool. Pan Afr Med J. 2017; 27: 1-6. Dentre os motivos para não notificação,mencionam-se o medo da punição e de processos judiciais, a inexistência de apoio da gestão hospitalar e inabilidade para detectar os eventos adversos.2828 Chakravarty A. A survey of attitude of frontline clinicians and nurses towards adverse events. Med J Armed Forces India. 2013 Oct; 69 (4): 335-40. Como ponto positivo na instituição analisada, destaca-se a presença de sistema de notificação on line, no qual os profissionais podem realizar a comunicação dos eventos adversos de forma sigilosa, acessível e compreensível.

Notou-se, também, que a maior parcela de enfermeiros realizou de três a cinco notificações, sendo que dos 17 enfermeiros participantes do estudo, 88% afirmaram ter realizado de uma a mais de 21 notificações. A visão dos enfermeiros como responsáveis por este processo pode contribuir para que outros membros da equipe não assumam a responsabilidade pela comunicação dos erros.2929 Siman AG, Cunha SGS, Brito MJM. The practice of reporting adverse events in a teaching hospital. Rev Esc Enferm USP. 2017; 51: e3243.

Dentre as categorias profissionais aqui explicitadas, observou-se que os residentes de neonatologia nunca realizaram notificações, indicando necessidade de maior capacitação, conscientização e incentivo deste público para realização das notificações.

No referente à nota para segurança do paciente, a maioria dos profissionais declarou a segurança do paciente como regular ou muito boa. Em hospital no Paraná, Brasil, os profissionais consideraram a segurança como muito boa,2323 Cruz EDA, Rocha DJM, Mauricio AB, Ulbrich FS, Batista J, Maziero ECS. Cultura de segurança entre profissionais de saúde em hospital de ensino. Cogitare Enferm. 2018; 23 (1): 1-9. corroborando estudo realizado em instituição internacional.1313 Ribeliene J, Blazeviciene A, Nadisauskiene RJ, Tameliene R, Kudreviciene A, Nedzelskiene I, et al. Patient safety culture in obstetrics and gynecology and neonatology units: the nurses’ and the midwives’ opinion. J Matern Fetal Neonatal Med. 2019 Oct; 32 (19): 3244-50.

Quanto aos cruzamentos realizados, os aspectos profissionais não foram significantes para determinação do número de respostas positivas, da nota de segurança e do número de notificações. Outro estudo realizado em UTI neonatal encontrou relações entre o tempo de trabalho no hospital e de atividade na unidade com o número de respostas positivas, sendo que os profissionais com menos de um ano na instituição/unidade tenderam a ter números maiores de respostas afirmativas.3030 Tomazoni A, Rocha PK, Souza SD, Anders JC, Malfussi HFC. Patient safety culture at neonatal intensive care units: perspectives of the nursing and medical team. Rev Latino-Am Enferm. 2014 Sep/Oct; 22 (5): 755-63.

Este estudo teve como limitação a extensão do questionário que contribuía para recusa do preenchimento pelos profissionais e a pouca disponibilidade de tempo da equipe.

As análises apresentadas nesta pesquisa trouxeram apanhado acerca da cultura de segurança do paciente em UTI neonatal com a equipe multiprofissional, evidenciando pontos relevantes no estabelecimento de práticas seguras na assistência ao neonato no contexto avaliado. Os domínios “aprendizado organizacional -melhora contínua” e “trabalho em equipe” apresentaram-se como áreas de força para o estabelecimento da segurança do paciente. Também se observou que os pontos referentes a não punição do erro e ao quadro de funcionários foram os que mais detiveram percentuais de respostas negativas.

Este estudo contribui para mudança do cenário analisado, sugerindo modificações principalmente nos aspectos relacionados à cultura punitiva e avaliação de possível diminuição da sobrecarga de trabalho a qual os participantes referiram exposição. Entretanto, não se podem deixar de enfatizar os aspectos positivos encontrados, tais como o trabalho em equipe, a preocupação dos profissionais e gestores em trazer melhoras para promoção da segurança do paciente e a discussão contínua para prevenção de erros, pois o estímulo à potencialização destes é essencial para garantir ações/comportamentos de segurança benéfica ao neonato.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    14 Ago 2019
  • Revisado
    28 Dez 2021
  • Aceito
    03 Jan 2022
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