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Analgossedação e delirium em unidades de terapia intensiva brasileiras: como estamos na atualidade. Estudo ASDUTI

Ao Editor,

O manejo adequado da analgossedação e do delirium está relacionado a melhores desfechos em terapia intensiva.(11 Jackson DL, Proudfoot CW, Cann KF, Walsh T. A systematic review of the impact of sedation practice in the ICU on resource use, costs and patient safety. Crit Care. 2010;14(2):R59.

2 Shehabi Y, Bellomo R, Mehta S, Riker R, Takala J. Intensive care sedation: the past, presente and the future. Crit Care. 2013;17(3):322.
-33 Shinotsuka CR, Salluh JI. Percepções e práticas sobre delirium, sedação e analgesia em pacientes críticos: uma visão narrativa. Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(2):155-61.) O objetivo deste estudo foi avaliar como tem sido feito o manejo da analgossedação e do delirium na realidade brasileira atual.

Foi desenvolvido questionário na plataforma digital SurveyMonkey® (Apêndice 1 Apêndice Apêndice 1 Questionário do estudo ASDUTI. Avaliação de analgossedação e delirium em unidades de terapia intensiva Dados institucionais: Perfil do hospital: ( ) público ( ) privado ( ) filantrópico Perfil da unidade: ( ) geral ( ) trauma ( ) cardiológica ( ) neurológica ( ) outro 1. No seu serviço, há protocolo de analgesia e sedação? ( ) Sim ( ) Não 2. Há avaliação sistemática de dor em sua UTI? ( ) Sim ( ) Não 3. Com que frequência é realizada a avaliação da dor em sua UTI? ( ) 1 vez ao dia ( ) 2 vezes ao dia ( ) 3 vezes ao dia ( ) A cada 12 horas ( ) A cada 2 horas ( ) A cada hora ( ) Nenhuma das anteriores 4. Quem realiza avaliação de dor em sua unidade? ( ) Médico ( ) Enfermeiro ( ) Fisioterapeuta ( ) Outro profissional 5. Há avaliação sistemática de sedação em sua UTI? ( ) Sim ( ) Não 6. Quantas vezes ao dia é avaliada a sedação em sua UTI? ( ) 1 vez ao dia ( ) 2 vezes ao dia ( ) 3 vezes ao dia ( ) A cada 12 horas ( ) A cada 6 horas ( ) A cada 2 horas ( ) A cada hora ( ) Nenhuma das anteriores 7. Qual ferramenta é utilizada para avaliação de sedação em sua unidade? ( ) Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS) ( ) Sedation-Agitation Scale (SAS) ( ) Ramsay ( ) Não é utilizada nenhuma escala para avaliação da sedação ( ) Outra 8. Quais destes medicamentos estão DISPONÍVEIS para utilização em seu hospital? Assinale todas as alternativas aplicáveis. ( ) Midazolam ( ) Morfina ( ) Fentanil ( ) Remifentanil ( ) Sufentanil ( ) Alfentanil ( ) Dexmedetomidina ( ) Clonidina ( ) Cetamina ( ) Propofol 9. Quais destas drogas estão CONTEMPLADAS em seu PROTOCOLO de analgossedação? Assinale todas as alternativas aplicáveis. ( ) Midazolam ( ) Morfina ( ) Fentanil ( ) Remifentanil ( ) Sufentanil ( ) Alfentanil ( ) Dexmedetomidina ( ) Clonidina ( ) Cetamina ( ) Propofol 10. Qual estratégia de sedação você aplica em sua unidade? ( ) Sedação intermitente ( ) Despertar diário ( ) Sedação-alvo ( ) Nenhuma das estratégias acima 11. Sua unidade avalia delirium de forma sistemática? ( ) Sim ( ) Não 12. Qual ferramenta você utiliza para avaliação de delirium? ( ) Confusion Assessment Method in a Intensive Care Unit (CAM-ICU) ( ) Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC) ( ) Outra ( ) Não utilizo nenhuma ferramenta para avaliação de delirium 13. Quantas vezes ao dia é realizada avaliação de delirium em sua unidade? ( ) Nenhuma ( ) 1 vez ao dia ( ) 2 vezes ao dia ( ) 3 vezes ao dia ( ) Mais de três vezes ao dia 14. Qual profissional realiza avaliação de delirium em sua UTI? ( ) Médico ( ) Enfermeiro ( ) Psicóloga ( ) Outro profissional 15. Diante de um paciente com delirium hiperativo, qual (is) medicamentos você utiliza? ( ) Haloperidol ( ) Antipsicóticos ( ) Dexmedetomidina ( ) Outros ( ) Não utilizo nenhuma medicação ), com 15 questões de múltipla escolha, com questões de opção única e outras de escolha múltipla. O instrumento foi disponibilizado de novembro de 2015 a fevereiro de 2016. O método de seleção dos profissionais para coleta de dados incluiu diversas categorias multiprofissionais.

Responderam ao questionário 410 profissionais. Destes, 48,78% eram de hospitais públicos, 33,41% de hospitais privados e 17,80% de filantrópicos. Na avaliação do perfil da unidade, 81,23% trabalhavam em unidade de terapia intensiva (UTI) com perfil geral.

Na avaliação relacionada aos protocolos de analgossedação, 59,50% dos respondedores utilizavam protocolos em seus serviços, ou seja, observou-se discreto aumento em relação ao observado por Salluh et al.(44 Salluh JI, Dal-Pizzol F, Mello PV, Friedman G, Silva E, Teles JM, Lobo SM, Bozza FA, Soares M; Brazilian Research in Intensive Care Network. Delirium recognition and sedation practices in critically ill patients: a survey on the attitudes of 1015 Brazilian critical care physicians. J Crit Care. 2009;24(4):556-62.) No entanto, os dados são bem inferiores aos de Patel et al.,(55 Patel RP, Gambrell M, Speroff T, Scott TA, Pun BT, Okahashi J, et al. Delirium and sedation in the intensive care unit: survey of behaviors and attitudes of 1384 healthcare professionals. Crit Care Med. 2009;37(3):825-32.) que evidenciaram protocolos de analgossedação em 71% de sua amostra.

Dentre os participantes, 234 (59,24%) relataram realizar avaliação sistemática da dor em sua UTI. A dor foi avaliada até duas vezes por dia para 35,48% da amostra, sendo que o enfermeiro era o responsável por essa avaliação em 51,34% das vezes, seguido pelo médico (42,78%). Já a sedação foi avaliada até duas vezes ao dia em 49,35% dos casos.

Quando avaliado o manejo da sedação, a utilização de ferramentas validadas (Richmond Agitation-Sedation Scale - RASS e Sedation-Agitation Scale - SAS) foi evidenciada em 72,91% dos questionários, e a estratégia de sedação mais frequentemente adotada foi o despertar diário (60,11%), seguida pela sedação-alvo (23,94%). Quando comparado a dados nacionais, de 2009, houve grande progresso em relação à utilização de ferramentas validadas (12%).(44 Salluh JI, Dal-Pizzol F, Mello PV, Friedman G, Silva E, Teles JM, Lobo SM, Bozza FA, Soares M; Brazilian Research in Intensive Care Network. Delirium recognition and sedation practices in critically ill patients: a survey on the attitudes of 1015 Brazilian critical care physicians. J Crit Care. 2009;24(4):556-62.)

Foi questionada a disponibilidade de medicamentos de analgossedação nos serviços e sua incorporação nos protocolos, e observamos que midazolam, fentanil, propofol e morfina foram os medicamentos mais disponíveis nas instituições - os três primeiros foram também os mais utilizados nos protocolos institucionais, além da dexmedetomidina. Apesar de recomendações para se evitar o uso de benzodiazepínicos na escolha dos sedativos,(22 Shehabi Y, Bellomo R, Mehta S, Riker R, Takala J. Intensive care sedation: the past, presente and the future. Crit Care. 2013;17(3):322.) a droga ainda permanece como a mais utilizada.

Na avaliação do delirium, 44,68% dos respondedores a realizam de forma sistemática, sendo que 56,72% utilizam o Confusion Assessment Method for the ICU (CAM-ICU) como ferramenta, e 37,37% não utilizam ferramenta validada. No estudo de Patel et al., 59% dos respondedores avaliavam delirium de forma sistemática.(55 Patel RP, Gambrell M, Speroff T, Scott TA, Pun BT, Okahashi J, et al. Delirium and sedation in the intensive care unit: survey of behaviors and attitudes of 1384 healthcare professionals. Crit Care Med. 2009;37(3):825-32.)

Em 29,62% da amostra, houve avaliação diária do delirium e, para 23,10%, a avaliação foi feita duas vezes ao dia. O médico foi responsável pela avaliação em 64,07% dos respondedores, seguido pelo enfermeiro (26,05%). Diante do delirium hiperativo, o haloperidol foi a droga de escolha para 72,13% dos participantes, e 12,30% utilizaram dexmedetomidina e 11,20%, antipsicóticos (Tabela 1).

Tabela 1
Características da avaliação e manejo da analgossedação e delirium

Foram limitações do estudo a não consideração da distribuição geográfica das UTI dos respondedores na pesquisa; a ausência de diferenciação de respostas entre hospitais públicos, privados e filantrópicos; a não comparação das respostas entre as equipes multiprofissionais.

Em conclusão, este estudo evidencia a necessidade de avanços em relação às rotinas aplicadas no manejo da analgossedação e delirium, apesar de evidências consistentes na literatura que determinam melhores desfechos, quando aplicados protocolos e estratégias recomendadas.

Viviane Cordeiro Veiga
Unidade de Terapia Intensiva Neurológica, Hospital BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil e Comitê de Neurointensivismo, Associação de Medicina Intensiva Brasileira - São Paulo (SP), Brasil.
Salomón Soriano Ordinola Rojas
Unidade de Terapia Intensiva Neurológica, Hospital BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil.

  • Fonte financiadora do projeto: AMIBNet, Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Jackson DL, Proudfoot CW, Cann KF, Walsh T. A systematic review of the impact of sedation practice in the ICU on resource use, costs and patient safety. Crit Care. 2010;14(2):R59.
  • 2
    Shehabi Y, Bellomo R, Mehta S, Riker R, Takala J. Intensive care sedation: the past, presente and the future. Crit Care. 2013;17(3):322.
  • 3
    Shinotsuka CR, Salluh JI. Percepções e práticas sobre delirium, sedação e analgesia em pacientes críticos: uma visão narrativa. Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(2):155-61.
  • 4
    Salluh JI, Dal-Pizzol F, Mello PV, Friedman G, Silva E, Teles JM, Lobo SM, Bozza FA, Soares M; Brazilian Research in Intensive Care Network. Delirium recognition and sedation practices in critically ill patients: a survey on the attitudes of 1015 Brazilian critical care physicians. J Crit Care. 2009;24(4):556-62.
  • 5
    Patel RP, Gambrell M, Speroff T, Scott TA, Pun BT, Okahashi J, et al. Delirium and sedation in the intensive care unit: survey of behaviors and attitudes of 1384 healthcare professionals. Crit Care Med. 2009;37(3):825-32.

Apêndice

Apêndice 1
Questionário do estudo ASDUTI. Avaliação de analgossedação e delirium em unidades de terapia intensiva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2018
  • Data do Fascículo
    Jun 2018

Histórico

  • Recebido
    21 Nov 2017
  • Aceito
    03 Dez 2017
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