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Consumo, composição botânica e valor nutritivo da dieta de bovinos em pastos tropicais consorciados sob três taxas de lotação

Consumption, botanical composition and nutritive value of the diet of cattle on mixed tropical pastures under three stocking rates

Resumos

Foram avaliados o consumo, a composição botânica e o valor nutritivo da dieta de bovinos em pastagens de Brachiaria decumbens e Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e de Brachiaria brizantha cv. Marandu e Stylosanthes guianensis cv. Mineirão, submetidas a três taxas de lotação. Adotou-se o delineamento experimental em blocos completos casualizados com os tratamentos no esquema de parcelas subdivididas, com duas repetições. Os tratamentos das parcelas constituíram um fatorial 2x3, sendo duas gramíneas (B. decumbens e B. brizantha cv. Marandu) em consorciação com S. guianensis cv. Mineirão e três taxas de lotação (0,8; 1,2 e 1,6 UA/ha), e as subparcelas, os meses de amostragem (julho e outubro de 1998, correspondendo à época seca; janeiro e abril de 1999, correspondendo à época das águas). Foram utilizados bezerros Nelore, desmamados, com peso vivo médio de 138 kg, no início do experimento. Não foi observado efeito da taxa de lotação sobre as variáveis estudadas. O consumo diário de MS foi maior em pastagens com B. brizantha, em outubro (no final da seca) e em abril (no final das águas), entretanto, dietas de melhor valor nutritivo foram obtidas em pastagens com B. decumbens. As dietas foram constituídas por mais de 80% de folhas de gramínea, enquanto a participação da leguminosa nas dietas foi de apenas 2,1%, com um índice de seleção de 0,08, indicando pouca aceitação deste componente da MS disponível pelos animais em pastejo.

Brachiaria; DIVMO; época das águas; época seca; estilosantes; seletividade


The effects of three stocking rates on intake, botanical composition, and nutritive value of the diet of cattle on pastures of Brachiaria decumbens with Stylosanthes guianensis cv. Minerão and B. brizantha cv. Marandu with S. guianensis cv. Mineirão were evaluated. The experimental design was a randomized complete block with two field replications. The treatments were arranged as a 2 x 3 factorial with 2 grasses (B. decumbens and B. brizantha cv. Marandu) in association with S. guianensis cv. Minerão, three stocking rates (0.8, 1.2, and 1.6 AU/ha), and two sampling periods (July and October 1998, corresponding to the early and late dry season; and January and April 1999, corresponding to the mid and late rainy season). Weaned Nellore steers with an average initial weight 138 kg were used. There was no effect of stocking rate on the variables studied. Daily consumption of forage dry matter was higher on pastures with B. brizantha in October (late dry season) and in April (late rainy season). However, it was observed diets with higher nutritive value in B. decumbens pastures. More than 80% of the diet was composed of live grass leaves while legumes represented 2.1% of the diet, with a selection index of 0.08, indicating low contribution of this forage component to the grazing animals.

Brachiaria; diet composition; dry season; IVOMD; rainy season; Stylosanthes


Consumo, composição botânica e valor nutritivo da dieta de bovinos em pastos tropicais consorciados sob três taxas de lotação1 1 Pesquisa financiada pela Embrapa Gado de Corte e pelo CNPq

Consumption, botanical composition and nutritive value of the diet of cattle on mixed tropical pastures under three stocking rates

Roberto Giolo de AlmeidaI; Valéria Pacheco Batista EuclidesIII; Domicio do Nascimento JuniorII; Manuel Cláudio Motta MacedoIII; Dilermando Miranda da FonsecaII; Patrícia Amarante BrâncioIV; Rodrigo Amorim BarbosaV

IProfessor do Departamento de Agronomia da UNEMAT, Campus Universitário de Tangará da Serra, MT, CEP: 78300-000. E.mail: robertogiolo@unemat.br

IIProfessor do Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa, MG, CEP: 36571-000

IIIPesquisador da Embrapa Gado de Corte, Caixa Postal 154, Campo Grande, MS, CEP: 79002-970

IVEnga.-Agra. Doutora em Zootecnia. E.mail: pbrancio@zipmail.com.br

VEng.-Agr. Estudante de doutorado do Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa, MG, CEP: 36571-000

RESUMO

Foram avaliados o consumo, a composição botânica e o valor nutritivo da dieta de bovinos em pastagens de Brachiaria decumbens e Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e de Brachiaria brizantha cv. Marandu e Stylosanthes guianensis cv. Mineirão, submetidas a três taxas de lotação. Adotou-se o delineamento experimental em blocos completos casualizados com os tratamentos no esquema de parcelas subdivididas, com duas repetições. Os tratamentos das parcelas constituíram um fatorial 2x3, sendo duas gramíneas (B. decumbens e B. brizantha cv. Marandu) em consorciação com S. guianensis cv. Mineirão e três taxas de lotação (0,8; 1,2 e 1,6 UA/ha), e as subparcelas, os meses de amostragem (julho e outubro de 1998, correspondendo à época seca; janeiro e abril de 1999, correspondendo à época das águas). Foram utilizados bezerros Nelore, desmamados, com peso vivo médio de 138 kg, no início do experimento. Não foi observado efeito da taxa de lotação sobre as variáveis estudadas. O consumo diário de MS foi maior em pastagens com B. brizantha, em outubro (no final da seca) e em abril (no final das águas), entretanto, dietas de melhor valor nutritivo foram obtidas em pastagens com B. decumbens. As dietas foram constituídas por mais de 80% de folhas de gramínea, enquanto a participação da leguminosa nas dietas foi de apenas 2,1%, com um índice de seleção de 0,08, indicando pouca aceitação deste componente da MS disponível pelos animais em pastejo.

Palavras-chave:Brachiaria, DIVMO, época das águas, época seca, estilosantes, seletividade.

ABSTRACT

The effects of three stocking rates on intake, botanical composition, and nutritive value of the diet of cattle on pastures of Brachiaria decumbens with Stylosanthes guianensis cv. Minerão and B. brizantha cv. Marandu with S. guianensis cv. Mineirão were evaluated. The experimental design was a randomized complete block with two field replications. The treatments were arranged as a 2 x 3 factorial with 2 grasses (B. decumbens and B. brizantha cv. Marandu) in association with S. guianensis cv. Minerão, three stocking rates (0.8, 1.2, and 1.6 AU/ha), and two sampling periods (July and October 1998, corresponding to the early and late dry season; and January and April 1999, corresponding to the mid and late rainy season). Weaned Nellore steers with an average initial weight 138 kg were used. There was no effect of stocking rate on the variables studied. Daily consumption of forage dry matter was higher on pastures with B. brizantha in October (late dry season) and in April (late rainy season). However, it was observed diets with higher nutritive value in B. decumbens pastures. More than 80% of the diet was composed of live grass leaves while legumes represented 2.1% of the diet, with a selection index of 0.08, indicating low contribution of this forage component to the grazing animals.

Keywords:Brachiaria, diet composition, dry season, IVOMD, rainy season, Stylosanthes

Introdução

A introdução de leguminosas em pastagens tem sido sugerida como alternativa para suprir ou minimizar a deficiência de N desses ecossistemas, aumentando a capacidade de suporte e prolongando a produtividade, mas a falta de entendimento sobre as características morfofisiológicas contrastantes das espécies tem dificultado a sua adoção mais ampla.

Vários trabalhos têm demonstrado a superioridade de pastagens consorciadas sobre aquelas com a mesma gramínea em monocultivo, quanto ao valor nutritivo da MS disponível, com reflexos positivos sobre a produção animal (Favoretto et al., 1983; Pereira et al., 1992; Leite & Euclides, 1994; Euclides et al., 1998).

O benefício da inclusão de leguminosas em pastagens tropicais pode ser explicado pela manutenção do nível adequado de proteína da dieta animal, quer seja pelo efeito direto da ingestão de leguminosas ou seja pelo efeito indireto do acréscimo do conteúdo de nitrogênio à gramínea.

Segundo Poppi & McLennan (1995), dietas contendo Stylosanthes spp. aumentam o suprimento de proteína no intestino, mais pelo estímulo do consumo do que pela melhoria na eficiência de uso da proteína.

Late et al. (1994), avaliando as implicações da seletividade de bovinos em pastagens consorciadas, observaram que o aumento na proporção de leguminosas na pastagem foi associado a maior participação de gramíneas na dieta dos animais em pastejo, e que a proporção de leguminosa na dieta aumentou durante a época seca do ano, quando as gramíneas apresentaram valor nutritivo mais baixo.

Lascano (1999), estudou a relação entre oferta e consumo de leguminosas em pastos consorciados, por meio do índice de seleção. No estudo de Brachiaria spp. de hábito de crescimento prostrado e semi-ereto com leguminosas estoloníferas, observou que a proporção de leguminosa na dieta foi relacionada a sua presença na pastagem; em outro ensaio, verificou que a seletividade dos animais pela leguminosa foi maior na época seca do ano. Neste mesmo trabalho, o autor verificou que em consorciações de gramíneas com leguminosas de baixa palatabilidade, sob diferentes ofertas da leguminosa, a seletividade foi sempre em favor da gramínea.

Nas áreas de Cerrado, estima-se que apenas 2% das áreas de pastagens envolvam consorciações de gramíneas com leguminosas, principalmente, Calopogonium mucunoides e, mais recentemente, Stylosanthes spp. (Macedo, 1995; Zimmer & Euclides Filho, 1997). Em 1993, a EMBRAPA lançou no mercado o estilosantes Mineirão (Stylosanthes guianensis var. vulgaris cv. Mineirão), como alternativa para formação de pastagens na região dos Cerrados, em função da sua grande resistência ao pastejo, capacidade de consorciação, boa aceitação pelos animais e boa tolerância a pragas e doenças, quando em consorciação com gramíneas, apresentando teores de proteína bruta de 12-18% e digestibilidade in vitro da matéria seca de 52-60% (Embrapa, 1993).

Tendo em vista o pequeno número de pesquisas envolvendo o estilosantes Mineirão, em consórcio, o presente estudo teve por objetivo avaliar a consorciação desta leguminosa com duas gramíneas utilizadas nos Cerrados, sob três taxas de lotação.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Embrapa Gado de Corte (CNPGC), em Campo Grande, MS, no período de julho de 1998 a abril de 1999. O padrão climático da região é descrito, segundo Köppen, na faixa de transição entre Cfa e Aw tropical úmido. A precipitação média anual é de 1500 mm, sendo considerados meses de seca, de maio a setembro (30% da precipitação anual). As pastagens, encontram-se em um Latossolo Vermelho-Escuro (LVE), fase cerradão, caracterizado por apresentar textura argilosa, pH ácido, baixa saturação por bases e baixo teor de fósforo.

Adotou-se o delineamento experimental em blocos casualizados, com os tratamentos em esquema de parcelas subdivididas, com duas repetições. Os tratamentos das parcelas (piquetes) constituíram um fatorial 2x3, sendo duas gramíneas (B. decumbens Stapf e B. brizantha (Hoecht) Stapfcv. Marandu) em consorciação com S. guianensis cv. Mineirão e três taxas de lotação (0,8; 1,2 e 1,6 UA/ha), e os tratamentos das subparcelas, época seca (meses de amostragem, julho e outubro), e época das águas (janeiro e abril).

Os piquetes apresentavam uma área de 0,75 ha e eram providos de bebedouro e de cocho, para sal mineral.

As amostragens foram realizadas nos meses de julho e outubro de 1998, correspondendo ao ápice e à fase final da época seca, e de janeiro e abril de 1999, correspondendo ao ápice e à fase final da época das águas.

Utilizaram-se bezerros Nelore, desmamados, com peso vivo médio de 138 kg, distribuídos nos piquetes de acordo com a taxa de lotação. Os animais receberam tratamento contra endo e ectoparasitos antes do início do experimento e foram vacinados contra febre aftosa em 26/11/1998.

A determinação do consumo de forragem pelos animais procedeu-se com base nas estimativas da produção fecal e da digestibilidade da forragem, conforme indicado por Astigarraga (1997):

Utilizou-se o sesquióxido de cromo (Cr2O3), como indicador externo, para se estimar a produção fecal. Os animais receberam duas doses diárias, contendo cinco gramas de Cr2O3 cada, via oral, às 5 e 17 h, em períodos de 12 dias, sendo os sete primeiros dias para estabilização da concentração de Cr2O3 nas fezes e os cinco últimos dias para a colheita de fezes, no reto dos animais. A concentração do indicador nas amostras de fezes foi determinada por meio de espectofotometria de absorção atômica, conforme descrito por Williams et al. (1962). A produção fecal foi estimada pela relação entre a quantidade de indicador ingerida e a concentração do indicador presente nas fezes. Para fins dos cálculos utilizou-se a média dos valores da produção fecal obtidos durante o período da manhã e da tarde. A digestibilidade da forragem foi estimada a partir de amostras de extrusa, colhidas de bovinos fistulados no esôfago.

A composição botânica da dieta foi avaliada por meio da análise de amostras de extrusa obtidas nos mesmos períodos de avaliação do consumo. Foram distribuídos dois animais fistulados por piquete, sendo amostrados, aleatoriamente, dois piquetes por dia, um para cada bloco. Os animais fistulados permaneciam nos piquetes a serem amostrados de um dia para o outro, sendo submetidos a jejum prévio de 15 horas, antes das amostragens, que foram realizadas a partir das 5 h, com duração de cerca de 20 minutos. As amostras foram divididas em duas subamostras, uma para análise da composição botânica (leguminosa; folha, colmo e material morto de gramínea), pelo método do ponto-microscópico (Duarte et al., 1992) e a outra para determinação da proteína bruta (PB), conforme AOAC (1990), da fibra em detergente neutro (FDN), conforme Goering & Van Soest (1970) e da digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), de acordo com Moore & Mott (1974).

O manejo dos animais fistulados no esôfago foi feito conforme Euclides et al. (1992). O índice de seleção utilizado foi o proposto por Hodgson (1979), que é a relação entre a participação da planta na extrusa e na pastagem. Valores maiores do que 1,0 indicam preferência e menores, rejeição.

Os dados foram analisados pelo aplicativo estatístico SAS (SAS, 1990). Para os fatores qualitativos com apenas dois níveis (gramínea, época e mês dentro de época), as médias foram comparadas pelo teste F. Para o fator quantitativo (taxa de lotação), realizou-se a análise de regressão, sendo escolhida a equação ajustada, de acordo com o coeficiente de determinação, nível de significância dos coeficientes de regressão e teste para falta de ajustamento. As interações significativas foram desdobradas, convenientemente, e analisadas em nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

O consumo médio de MS observado neste trabalho foi de 4,74 kg/animal.dia, enquanto que a estimativa de consumo da equação proposta por Minson & McDonald (1987), para pastagens tropicais, considerando-se animais com peso vivo médio (W) de 200,73 kg, com ganho médio diário (G) de 0,371 kg/animal, foi de 4,45 kg/animal dia-1, mostrando que a metodologia utilizada produziu estimativas satisfatórias.

A taxa de lotação não influenciou o consumo voluntário de MS, tendo em vista que a disponibilidade de MS não era limitante. Nos pastos consorciados com B. decumbens e com B. brizantha, as disponibilidades de MS observadas nas épocas da seca e das águas foram de 3057 e de 3485 kg/ha e, de 3521 e de 3418 kg/ha, respectivamente (Almeida et al., 2003).

O consumo diário de MS, expresso em percentagem do peso vivo (%PV), foi influenciado pela época do ano e pela interação entre gramínea e mês dentro de época (Tabela 1).

Observaram-se maiores consumos de MS (P<0,05) na época seca do que nas águas, com valores de 2,7 e 2,4 % PV, respectivamente, pois os animais eram mais jovens durante esta época do ano, e estes tendem a apresentar maior consumo em relação ao PV, em conseqüência da maior exigência nutricional (Peixoto, 1993; Romney e Gill, 2000).

Nas pastagens com B. decumbens, observou-se variação no consumo durante a época das águas, com menores (P<0,05) valores no mês de abril, acompanhados pela diminuição do teor de proteína bruta da forragem (Tabela 3). Já nas pastagens com B. brizantha, observou-se variação no consumo durante a época seca, com menores (P<0,05) valores em julho, quando foram encontrados menores valores de DIVMO e maiores de FDN na dieta. Observou-se nos meses de outubro, durante a época seca, e abril, durante as águas, maiores (P<0,05) consumos nas pastagens com B. brizantha. Este comportamento pode ser explicado pela maior proporção de folhas desta gramínea na MS disponível, sendo que as pastagens com B. brizantha e com B. decumbens, apresentavam, nos meses de outubro e abril, 24,2 e 22,8% e 22,8 e 14,1% de folhas na MSV das gramíneas, respectivamente. Entretanto, estes maiores consumos, em pastagens com B. brizantha, não foram suficientes para superar os ganhos por animal observados nas pastagens com B. decumbens (Almeida et al., 2002).

Euclides et al. (1993) observaram consumos de 2,32 e 2,38% PV, em pastagens exclusivas de B. decumbens e de B. brizantha, respectivamente, enquanto que, no presente trabalho, realizado na mesma região, foram observados maiores consumos, exceto no mês de abril, nos pastos consorciados com B. decumbens. O maior consumo, em pastos consorciados, está associado à melhor qualidade da MS disponível, proporcionada pela leguminosa.

Quanto às dietas, mais de 80% da MS coletada em fístula esofágica consistia em folhas de gramínea. Este componente influenciou na interação entre gramínea e época do ano (Tabela 2). Nas pastagens com B. brizantha não foi encontrada variação (P>0,05) na percentagem de folha de gramínea nas dietas entre épocas do ano, com valor médio de 90,1%. Nas pastagens com B. decumbens observou-se menor (P<0,05) percentagem de folha de gramínea nas dietas durante a época das águas (81,2%), do que na época seca (91,4%). Provavelmente, isto é conseqüência da menor disponibilidade de folhas durante a época das águas (Almeida et al., 2003), com concomitante acréscimo de colmos de gramínea na dieta (Tabela 2). O índice de seleção para folha de gramínea foi superior a 3,0 , durante todo o período experimental, indicando uma grande preferência por este componente da forragem disponível.

A leguminosa foi pouco consumida (Tabela 2) sendo que sua participação na dieta não foi influenciada (P>0,05) por nenhuma das fontes de variação em estudo, com valor médio de 2,1%. O índice de seleção para este componente da forragem disponível foi, em média, de 0,08, indicando rejeição por parte dos animais, que pode estar associada aos elevados teores de FDA e de lignina encontrados no estilosantes Mineirão, em média, de 35,3 e 21,8% nas folhas, e de 58,7 e 41,2% nos caules, respectivamente.

Esperava-se encontrar maior percentagem de leguminosa na dieta no final da estação de crescimento das gramíneas, em abril, e durante a época seca, quando a gramínea apresenta baixo valor nutritivo e a leguminosa ainda mantém tecidos verdes (Gardener, 1984; Late et al., 1994). Entretanto, dias antes das amostragens da época seca, observou-se a ocorrência de chuvas, que podem ter contribuído para reduzir a aceitabilidade das folhas, especialmente, devido à proliferação de fungos, conforme mencionado por Little et al. (1984) e observado no presente trabalho.

Houve efeito significativo (P<0,05) da interação entre gramínea e mês da época do ano sobre o valor nutritivo das dietas (Tabela 3). Pastagens de B. decumbens proporcionaram dietas com maiores teores de proteína bruta e de DIVMO e menores de FDN, durante certos meses do ano, indicando uma tendência de melhor valor nutritivo do que aquelas obtidas com B. brizantha, com reflexos positivos sobre a produção por animal (Almeida et al., 2002).

Também observou-se efeito da época do ano sobre o teor de proteína bruta e de FDN da dieta, com maiores (P<0,05) valores durante a época das águas (9,7 e 73,8%) do que na seca (8,9 e 72,0%), respectivamente, refletindo as condições das pastagens (Almeida et al., 2002a). Como conseqüência, os animais foram capazes de selecionar dietas com teores de proteína bruta acima do valor crítico (6-7%), não limitando a atuação das bactérias celulolíticas do rúmen nem o consumo voluntário (Minson, 1990).

Os consumos diários de FDN observados foram superiores a 1,2% PV, indicando ter sido esta característica qualitativa da forragem ingerida, um fator limitante do consumo, de acordo com Mertens (1994), para espécies temperadas. Entretanto, na literatura nacional, sobre forrageiras tropicais, são encontrados valores médios de consumo de FDN de até 1,8% PV (Euclides et al., 2000).

Conclusões

A taxa de lotação não influenciou no consumo e nas características da dieta, tendo em vista que a MS disponível não era limitante. As pastagens de B. brizantha cv. Marandu consorciada com S. guianensis cv. Mineirão proporcionaram maiores consumos no final da seca e final das águas, entretanto, as pastagens de B. decumbens consorciada com S. guianensis cv. Mineirão proporcionaram dietas de melhor valor nutritivo.

Literatura Citada

Recebido em: 18/08/01

Aceito em: 26/08/02

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    Pesquisa financiada pela Embrapa Gado de Corte e pelo CNPq
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Jul 2003
    • Data do Fascículo
      Fev 2003

    Histórico

    • Aceito
      26 Ago 2002
    • Recebido
      18 Ago 2001
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