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Exigências de lisina e energia metabolizável para marrãs de reprodução

Lysine and metabolyzable energy requirements for breeding gilts

Resumos

Objetivando-se determinar os níveis de lisina (Lis) e energia metabolizável (EM) para marrãs de reprodução, foram utilizadas 108 marrãs Seghers® (Large-White x Landrace/Large-White), submetidas a um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3 - três níveis de Lis (0,55, 0,75 e 0,95%) e três de EM (3.100, 3.250 e 3.400 kcal EM/kg). Os tratamentos foram aplicados do alojamento ao abate (30 dias de gestação). Observou-se efeito apenas da EM sobre o desempenho reprodutivo, não hevendo efeito da Lis ou da interação EM x Lis. O número de corpos lúteos e o peso à inseminação artificial (IA) elevaram de forma linear com o aumento do nível de EM na ração. De forma similar, os números de embriões totais e viáveis aumentaram, linearmente, com o aumento do teor de EM. A menor concentração de nitrogênio da uréia plasmática foi obtida com 0,55% de Lis e 3.400 kcal EM/kg de ração. O peso vivo, a espessura de toucinho à IA e os teores de glicose plasmática, progesterona e insulina não foram influenciados pelos tratamentos. O nível de lisina total nível para marrãs não necessita ser superior a 0,55%. O teor energético, por sua vez, deve ser, no mínimo, de 3.400 kcal EM/kg de ração.

corpos lúteos; embriões; leitões; ovulação; reprodução; nitrogênio da uréia plasmática


One experiment was carried out to determine the lysine (Lys) and metabolyzable energy (ME) levels for breeding gilts. One hundred and eight Seghers® gilts (Large-White x Landrace/Large-White) were alloted to a complete randomized design with a 3x3 factorial design, three levels of Lys (0.55, 0.75 and 0.95%) and three levels of ME (3,100, 3,250, and 3,400 kcal ME/kg). The treatments were the same from the beginning of trial (housing) to the slaughter (30 days of gestation). There was only effect of ME on the reproductive performance, without effect of Lys or the ME x Lis interaction. The number of corpora lutea increased linearly with the highest level of ME and weigh at artificial insemination (AI-weight). Likewise, the numbers of total and live embryos increased linearly with the highest level of ME. The lowest concentration of plasma urea nitrogen was obtained with 0.55% of Lys and 3,400 kcal ME/kg. The weight and back fat thickness at AI, plasma glucose, progesterone, and insulin were not influenced by the treatments. The requirement for total lysine for breeding gilts is not higher than 0.55%. The minimum energy recommendation is of 3,400 kcal ME/kg.

corpora lutea; embryos; piglets; ovulation; plasma urea nitrogen; reproduction


MELHORAMENTO, GENÉTICA E REPRODUÇÃO

Exigências de lisina e energia metabolizável para marrãs de reprodução1 1 Parte da tese de Doutorado em Zootecnia do primeiro autor junto ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá. Financiamento: CNPq; Raçalto Brasil Agropecuária Ltda; Multimix - Nutrição Animal Ltda.

Lysine and metabolyzable energy requirements for breeding gilts

José Maurício Gonçalves dos SantosI; Ivan MoreiraII; Elias Nunes MartinsII

ICentro Universitário de Maringá (jmgds@cesumar.br)

IIUniversidade Estadual de Maringá - Departamento de Zootecnia

RESUMO

Objetivando-se determinar os níveis de lisina (Lis) e energia metabolizável (EM) para marrãs de reprodução, foram utilizadas 108 marrãs Seghers® (Large-White x Landrace/Large-White), submetidas a um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3 - três níveis de Lis (0,55, 0,75 e 0,95%) e três de EM (3.100, 3.250 e 3.400 kcal EM/kg). Os tratamentos foram aplicados do alojamento ao abate (30 dias de gestação). Observou-se efeito apenas da EM sobre o desempenho reprodutivo, não hevendo efeito da Lis ou da interação EM x Lis. O número de corpos lúteos e o peso à inseminação artificial (IA) elevaram de forma linear com o aumento do nível de EM na ração. De forma similar, os números de embriões totais e viáveis aumentaram, linearmente, com o aumento do teor de EM. A menor concentração de nitrogênio da uréia plasmática foi obtida com 0,55% de Lis e 3.400 kcal EM/kg de ração. O peso vivo, a espessura de toucinho à IA e os teores de glicose plasmática, progesterona e insulina não foram influenciados pelos tratamentos. O nível de lisina total nível para marrãs não necessita ser superior a 0,55%. O teor energético, por sua vez, deve ser, no mínimo, de 3.400 kcal EM/kg de ração.

Palavras-chave: corpos lúteos, embriões, leitões, ovulação, reprodução, nitrogênio da uréia plasmática

ABSTRACT

One experiment was carried out to determine the lysine (Lys) and metabolyzable energy (ME) levels for breeding gilts. One hundred and eight Seghers® gilts (Large-White x Landrace/Large-White) were alloted to a complete randomized design with a 3x3 factorial design, three levels of Lys (0.55, 0.75 and 0.95%) and three levels of ME (3,100, 3,250, and 3,400 kcal ME/kg). The treatments were the same from the beginning of trial (housing) to the slaughter (30 days of gestation). There was only effect of ME on the reproductive performance, without effect of Lys or the ME x Lis interaction. The number of corpora lutea increased linearly with the highest level of ME and weigh at artificial insemination (AI-weight). Likewise, the numbers of total and live embryos increased linearly with the highest level of ME. The lowest concentration of plasma urea nitrogen was obtained with 0.55% of Lys and 3,400 kcal ME/kg. The weight and back fat thickness at AI, plasma glucose, progesterone, and insulin were not influenced by the treatments. The requirement for total lysine for breeding gilts is not higher than 0.55%. The minimum energy recommendation is of 3,400 kcal ME/kg.

Key Words: corpora lutea, embryos, piglets, ovulation, plasma urea nitrogen, reproduction

Introdução

Os manejos reprodutivo, nutricional e alimentar das marrãs visando melhorar a produtividade têm sido o objetivo em muitas pesquisas científicas. As marrãs são uma categoria bastante importante na suinocultura, pois representam anualmente, no mínimo, 30% do plantel reprodutor e, em alguns casos, a taxa de reposição desses animais pode ultrapassar os 50%. Suas características produtivas e reprodutivas são marcantes, pois apresentam elevado potencial para a produção de leitões ou de carcaças com elevada proporção de carne magra.

Le Cozler et al. (1998) alimentaram marrãs à vontade ou com consumo restrito a 80% do consumo à vontade dos 72 dias de idade até a inseminação artificial e constataram que a idade à puberdade foi de 234,5 dias para as marrãs alimentadas à vontade e de 247 dias para aquelas alimentadas de forma restrita. O peso e a espessura de toucinho também foram maiores para aquelas que consumiram ração à vontade (150,1 kg e 15,85 mm versus 133 kg e 11,21 mm). Após a sincronização do estro aos 260 dias, o peso e a espessura de toucinho foram, respectivamente, de 189,9 kg e 20,93 mm, para o grupo alimentado à vontade, e de 150,2 kg e 13,42 mm, para o grupo com alimentação restrita. A melhor produção de leitões no primeiro parto foi obtida no grupo com consumo à vontade (12,9 vs 11,9 leitões). Entretanto, as perdas de peso e de espessura de toucinho durante a lactação foram menores no grupo com alimentação restrita (8,5 kg e 1,5 mm vs 17,1 kg e 3,8 mm).

Uma das razões para a maior perda de peso e de espessura de toucinho é que o maior peso corporal tem pouca influência sobre a capacidade de consumo de ração na fase de lactação, desfavorecendo as fêmeas primíparas de maior peso corporal, que apresentam maior exigência de mantença.

Outro fator importante é a manipulação da condição corporal das marrãs destinadas à reprodução. Dietas isolisínicas, porém com teores de proteína distintos, podem alterar a composição da carcaça. Tuitoek et al. (1997) observaram que marrãs com potencial de desempenho médio a alto abatidas aos 100 kg não apresentaram diferenças quanto à profundidade de lombo e espessura de toucinho, ao compararem os consumos de rações contendo: 13% de proteína bruta e 0,66% de lisina digestível aparente, durante a fase de crescimento; 11% de proteína bruta e 0,55% de lisina digestível aparente, durante a fase de terminação; e níveis superiores de proteína bruta e semelhantes de lisina.

Entretanto, esses autores constataram aumento no conteúdo de gordura total da carcaça dos animias alimentados com menor teor de proteína bruta na ração. Logo, o uso de dietas com menor nível de proteína bruta para fêmeas suínas de reprodução pode ser interessante por aumentar, em geral, a reserva corporal de tecido adiposo.

As marrãs também podem apresentar diferentes padrões de resposta para taxa de ovulação, número de embriões vivos e sobrevivência embrionária quando submetidas a diferentes níveis de energia digestível em dietas isoprotéicas (Silva et al., 1998b).

Este estudo foi conduzido objetivando-se determinar as exigências nutricionais de lisina total e energia metabolizável para marrãs selecionadas para alta produção de carne magra na fase de pré-cobertura.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no município de Maringá, região Noroeste do Paraná, no perído de maio a setembro de 2000, utilizando-se 108 marrãs Seghers® (Large-White X Landrace/Large-White), com 96,0 ± 8,7 kg e 165,6 ± 10,1 dias de idade, distribuídas em delineamento experimental inteiramente casualizado, com 12 repetições por tratamento, em que cada marrã constituiu uma unidade experimental. Os tratamentos (nove) foram arranjados em um esquema fatorial 3 x 3 - três níveis de lisina total (0,55, 0,75 e 0,95%) e três de EM (3.100, 3.250 e 3.400 kcal EM/kg de ração) (Tabelas 3 e 4).

As marrãs foram avaliadas desde seu alojamento até 30 dias de gestação, quando foram abatidos os últimos animais.

As composições química e energética dos alimentos que constituíram as rações encontram-se nas Tabelas 1 e 2. Além dos ingredientes normalmente utilizados na formulação de rações, foram incluídos calcário, com 37,00% de cálcio, fosfato bicálcico, com 22,61% de cálcio e 17,03% de fósforo, e óleo de soja, com 7.674 kcal EM/kg.

As relações lisina:metionina+cistina e lisina:treonina, para a deposição de tecido corporal, atenderam ou superaram o padrão de aminoácidos proposto pelo NRC (1998), enquanto as exigências dos demais nutrientes foram calculadas para atenderem ao mínimo recomendado pelo NRC (1998).

As marrãs foram mantidas em um galpão (50 m de comprimento, 12 m de largura e 2,5 m de pé-direito), totalmente fechado nas extremidades, com muretas de 1,1 m de altura e janelas de amianto nas laterais, telhado de telha cerâmica, estrutura de sustentação de madeira e piso de concreto, parcialmente ripado. As baias eram dotadas de bebedouro tipo chupeta e comedouro tipo calha. As marrãs foram alojadas em grupos de seis em baias com área de 10,0 m2.

As marrãs receberam as rações experimentais em modo restrito, na proporção de 2,2 kg/fêmea/dia até os 28 dias após o início do experimento, quando passaram a receber as dietas, até ao abate, à vontade. A detecção do estro foi iniciada a partir do primeiro dia do alojamento, computando-se os estros manifestados pelas marrãs. Para o diagnóstico e a estimulação do estro, foram utilizados cachaços adultos, duas vezes ao dia, às 7 e 16 h, sendo considerado início do estro o primeiro diagnóstico positivo para o reflexo de tolerância à pressão lombar pelo macho.

A dose inseminante foi elaborada com as frações rica e pobre do sêmen, utilizando-se como diluente o "Beltsvile Thawing Solution" (BTS-IMV). Cada ejaculado processado apresentou, no mínimo, 80% de motilidade e não mais que 15% de alterações morfológicas espermáticas. O número total de espermatozóides por dose foi padronizado em 3 x 109. O período de armazenamento do sêmen não excedeu 60 horas, sob temperatura controlada de 15ºC. Antes do uso, nova avaliação da motilidade foi realizada e, quando inferior a 70%, o sêmen foi descartado. Foram utilizados seis diferentes cachaços nas coletas de sêmen.

As marrãs foram inseminadas após atingirem, no mínimo, 130 kg e 210 dias de idade, no terceiro ou quarto estro, de modo que nenhuma fêmea foi inseminada durante ou nas duas semanas subseqüentes à fase de restrição alimentar, para normalização do aporte nutricional. As marrãs foram inseminadas de acordo com o manejo de rotina da granja, sem um número fixo ou limite de inseminações e receberam a primeira dose de sêmen assim que apresentaram reflexo de tolerância ao macho, de manhã ou à tarde, e as demais doses nos turnos subseqüentes até ao final do estro, em intervalos variando de 8 a 16 horas.

Foram utilizados seis animais por tratamento para a dosagem de nitrogênio da uréia plasmática (NUP) e glicose, por métodos enzimáticos (kits comerciais). Cada amostra de sangue foi puncionada diretamente da veia cava anterior em alíquotas de 10 mL, em tubos com heparina. O plasma obtido por centrifugação (820 g) foi estocado a -18ºC até a realização da análise laboratorial de todas as amostras. As coletas foram realizadas às 11 h, ou seja, 4 horas após o arraçoamento dos animais, para evitar a influência do pico pós-prandial (Cai et al., 1994). A primeira coleta foi realizada no dia da alocação dos animais para obtenção do valor de baseline do NUP, quando as marrãs ainda estavam consumindo, à vontade, a dieta utilizada na granja. Outras quatro coletas foram realizadas no 14º, 28º, 42º e 56º dias subseqüentes ao alojamento dos animais e compreenderam o consumo das rações experimentais de modo restrito até o 28º dia e o consumo à vontade, nas coletas posteriores. Para a dosagem de glicose plasmática, uma única amostragem foi realizada ao 56º dia do experimento, coletando-se sangue de seis animais de cada tratamento.

A coleta de sangue para a dosagem de insulina e progesterona foi realizada no 7º dia de gestação. O soro foi congelado a -18ºC até o momento da análise laboratorial, realizada por meio de kits de radioimunoensaio de fase líquida (Coat-a-Count® - Diagnostic Products Company), para as determinações direta e quantitativa tanto de progesterona como de insulina sérica. O tempo transcorrido entre as coletas e o processamento das amostras de sangue para o congelamento não excedeu 3 horas.

As fêmeas foram pesadas, individualmente, ao início do experimento, à inseminação artificial e ao abate. No momento da pesagem, foi mensurada a espessura de toucinho, no ponto P2, no lado direito do corpo do animal, utilizando-se um aparelho de ultra-som (Renco Lean-Meater® tipo LM-8), com capacidade para medir até a terceira camada de gordura.

A contagem de corpos lúteos, após o abate, foi feita por dissecação dos ovários, considerando-se o número obtido o total de ovulações. A contagem do número de embriões totais e viáveis foi feita após a dissecação dos cornos uterinos. Na seqüência, os embriões foram classificados como viáveis (com tamanho e aspecto normais) ou inviáveis (com sinais de reabsorção). A razão entre embriões viáveis e corpos lúteos foi calculada e multiplicada por 100.

A análise estatística foi realizada pelo programa estatístico SAS (2000). O NUP foi analisado considerando-se o valor de baseline uma co-variável. Para a variável razão entre embriões viáveis e corpos lúteos, admitiu-se distribuição binomial com função de ligação logit e, para as demais variáveis, distribuição gama com função de ligação identidade, uma vez que não apresentaram distribuição normal. Para a análise do peso, da idade e da espessura de toucinho à inseminação artificial, foram utilizados como co-variáveis, respectivamente, o peso, a idade e a espessura de toucinho ao alojamento. Na análise de regressão do número de corpos lúteos, embriões totais e embriões viáveis, adotou-se como co-variável o consumo diário de EM (consumo diário de ração x teor de EM da ração).

Resultados e Discussão

Do total de 108 marrãs alojadas, 15 foram descartadas por anestro, seis, por claudicação, e quatro, por morte. As causas desses descartes foram aleatórias e não tiveram relação com os tratamentos aplicados. Os resultados obtidos para as variáveis produtivas e reprodutivas encontram-se nas Tabelas 5 e 6. As médias de temperaturas máxima e mínima medidas durante o período experimental foram 25,2ºC e 15,8ºC, respectivamente.

O consumo diário de ração apresentou comportamento quadrático (P=0,001) com o aumento do teor de EM das dietas, segundo a equação = -57,36 + 0,038 EM - 0,000006 EM2 (r2 = 0,99), porém não sofreu efeito dos níveis de lisina ou da interação lis X EM. Normalmente, rações com maior densidade energética proporcionam menor consumo de alimento (Silva et al., 1998a).

Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de lisina e EM das dietas ou de sua interação sobre o peso, a idade e a espessura de toucinho à inseminação artificial e o número de marrãs inseminadas e prenhes também (P>0,05).

Resultados anteriores coprovaram que o peso à inseminação artificial influencia o desempenho reprodutivo (Newton & Mahan, 1993). Também neste estudo o peso ao início da vida reprodutiva influenciou positivamente o número de corpos lúteos. Entretanto, a taxa de ganho de peso diário não deve ser muito superior aos 600 g, pois, de acordo com Beltranena et al. (1991), ganhos excessivos em carne magra podem promover atraso, em vez de antecipação da puberdade, além de elevarem o tamanho corporal e as exigências de mantença.

Entretanto, Murgas et al. (1995) observaram que maior ganho de peso diário, proporcionado pelo maior consumo diário de energia e provavelmente associado à maior deposição de tecido adiposo, diminuiu a idade à puberdade. Aparentemente, há certa necessidade da marrã em acumular um limiar de reserva corporal em gordura para desencadear a puberdade (Beltranena et al., 1991). Ao avaliar o ganho de peso diário de 11 a 14 dias antes do estro de cobertura, Ashworth (1991) encontrou relação linear e positiva entre a taxa de ovulação e o ganho de peso, proporcionada por diferentes planos de consumo e maximizada pelo consumo à vontade.

Observou-se, de modo similar ao descrito na literatura (Klindt et al., 1999; Pharazyn et al., 1991), influência da nutrição e do manejo alimentar sobre os desempenhos produtivo e reprodutivo das fêmeas suínas, provavelmente decorrente do teor de EM da dieta.

Entretanto, Murgas et al. (1998) constataram efeito quadrático do consumo de energia sobre a taxa de ovulação e aumento linear sobre a mortalidade embrionária aos 30 dias de gestação. Há informações sobre a influência da lisina sobre o ganho de peso e as características de carcaça de suínos para abate (Fialho, et al., 1998; Loughmiller et al., 1998; Tuitoek et al., 1997; Bikker et al., 1994). Entretanto, para marrãs de reposição, as informações são escassas, principalmente quanto ao elevado peso atualmente praticado à inseminação artificial, havendo informações disponíveis apenas para faixas de peso inferiores (Silva et al., 1998b).

Normalmente, as dietas são formuladas com base em informações para animais de abate, em que os objetivos são, basicamente, a obtenção de animais com reduzida espessura de toucinho, elevado rendimento de carne magra e alto ganho de peso diário. Provavelmente, para as marrãs de reposição, esta não seja a melhor estratégia, pois é interessante que as fêmeas apresentem composição corporal diferenciada no início da vida reprodutiva, como maior reserva de gordura.

A dosagem do NUP é uma forma rápida de avaliação e determinação das exigências de aminoácidos em suínos (Coma et al., 1995), por permitir avaliação do metabolismo protéico. Neste estudo, a concentração de NUP aos 56 dias foi influenciada pela interação dos teores de lisina e de EM da dieta. Para o nível de 3.100 kcal EM/kg de ração, não houve efeito (P>0,05) do teor de lisina (Lis) sobre o NUP, mas, para o nível de 3.250 kcal EM/kg, houve efeito linear decrescente (P=0,041) do teor de lisina sobre o NUP, segundo a equação = 38,96 10,74 Lis (r2=0,95). Entretanto, para o nível energético de 3.400 kcal EM/kg, houve elevação linear numérica (P=0,047) da Lis sobre o NUP, segundo a equação = 21,58 + 10,43 Lis (r2=0,96). Loughmiller et al. (1998) também obtiveram resultados similares ao avaliarem marrãs até os 113 kg utilizando a dosagem de NUP e definiram o nível 0,60% de lisina total para maior taxa de crescimento e melhores características de carcaça.

A concentração de glicose plasmática não foi influenciada (P>0,05) pelos tratamentos, não havendo associação entre este parâmetro e o desempenho reprodutivo, provavelmente pela tendência de variação do nível de glicose plasmática, principalmente com a ingestão de carboidratos solúveis na dieta, que pode ser influenciada pela ingestão de sacarose, comumente utilizada em algumas rações para suínos. Entretanto, em resposta a esse maior aporte de glicose, haveria um aumento na concentração de insulina, tendendo à normalização da concentração plasmática de glicose. Almeida et al. (2001), ao submeterem marrãs a diferentes planos alimentares com fornecimento de ração na quantidade de 2,1 ou 2,8 vezes as exigências de mantença, na primeira ou na segunda semana do ciclo estral, também não encontraram diferenças na concentração de glicose, mesmo por um período de menor duração.

Peruzzo et al. (1997) avaliaram a adição de 0 ou 20% de açúcar cristal em rações para marrãs de reprodução, alimentadas de forma restrita ou não, e observaram efeito (P>0,05) da adição deste dissacarídeo apenas sobre o consumo, que, quando à vontade, aumentou o número de corpos lúteos (P<0,05). De acordo com Almeida et al. (2001), a concentração de insulina é influenciada pelo momento da alimentação, pela quantidade de alimento consumida e pelas variações na concentração desse hormônio previstas quando das mudanças de planos alimentares. Entretanto, a concentração de insulina no soro não diferiu (P>0,05) entre os tratamentos, mesmo com diferenças quanto ao consumo de ração. Diferenças maiores, tanto no consumo de ração, como de energia, segundo Flowers et al. (1989), tendem a aumentar a concentração plasmática de insulina.

A concentração de progesterona no soro sete dias após a inseminação não diferiu (P>0,05) entre os tratamentos, não sendo encontrada relação com o número de corpos lúteos. O número de embriões e a razão entre embriões viáveis e corpos lúteos também não foram correlacionados à concentração de progesterona. Esses resultados são similares aos descritos por Machado (1998), que também não observou relação entre níveis séricos de progesterona e número de corpos lúteos e sobrevivência embrionária, mas divergem dos relastos de Pharazyn et al. (1991), que sugeriram tendência de aumento na sobrevivência embrionária e menor variação para essa característica em relação à concentração da progesterona plasmática em marrãs no terceiro dia de gestação. Jindal et al. (1996), por sua vez, evidenciaram a correlação positiva entre a concentração de progesterona plasmática e a sobrevivência embrionária. Essa correlação positiva pode ser explicada, em parte, pelo fato de que as mudanças no ambiente uterino, imprescindíveis para a sincronia e o desenvolvimento dos embriões, depende do aumento da concentração de progesterona plasmática nos primeiros momentos após a concepção (Jindal et al., 1997). Além disso, até mesmo as secreções dos ovidutos podem sofrer influência da progesterona, o que pode afetar os embriões (Pharazyn et al., 1991).

As variáveis peso e espessura de toucinho à inseminação artificial não foram influenciadas pelos tratamentos (P>0,05). A variação do peso e da idade médios à inseminação (44 a 158 kg e 235 a 253 dias, respectivamente) é explicada pelo fato de que o peso e a idade propostos (130 kg e 210 dias) foram parâmetros mínimos a serem seguidos e que a maioria das marrãs não estava em estro no momento em que a idade e o peso limites foram alcançados. Além disso, nenhuma marrã foi inseminada até 14 dias após o término da restrição alimentar para que os quadros endócrino e metabólico se normalizassem.

A idade à inseminação artificial não influenciou (P>0,05) o desempenho reprodutivo das marrãs. Sugere-se que a restrição alimentar, feita ao início do experimento, pode ser substituída pelo consumo à vontade desde o início do alojamento para propiciar peso adequado à inseminação artificial com menor núemero de dias não-produtivos. Deve-se atentar para o peso à cobertura, pois esta variável influenciou positivamente o número de corpos lúteos. Além disso, é necessário fornecer aos animais rações energéticas, visando não só maior produção de corpos lúteos como também de embriões totais e viáveis. A utilização de dietas com baixo teor de proteína bruta, como as utilizadas (13%) mostrou-se viável.

Conclusões

Para marrãs de reprodução com peso médio de 100 kg e 170 dias de idade, o nível de lisina total, na fase de pré-cobertura até a inseminação artificial, não necessita ser superior a 0,55%. O teor energético, por sua vez, deve ser de pelo menos 3.400 kcal EM/kg de ração.

Literatura Citada

AJINOMOTO. Ajinomoto Animal Nutrition, http://www.lisina.com.br, 20/03/2000.

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Recebido em: 05/05/04

Aceito em: 18/07/05

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  • 1
    Parte da tese de Doutorado em Zootecnia do primeiro autor junto ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá. Financiamento: CNPq; Raçalto Brasil Agropecuária Ltda; Multimix - Nutrição Animal Ltda.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Aceito
      18 Jul 2005
    • Recebido
      05 Maio 2004
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