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Metas do CBC

Metas do CBC

José Wazen da Rocha,TCBC-RJ

Confesso que ao me apresentar como candidato à Presidência procurei, pesquisando títulos conseguidos através de meus 45 anos de vida médica, alguns que justificassem minha postulação e conclui que o melhor modo de faze-lo seria repetindo a frase do Mestre Fernando Paulino. "Sou um Cirurgião Geral" e acrescento, que procurou em toda sua vida honrar os compromissos morais e éticos de nossa especialidade. Durante 35 anos trabalhei em regime de exclusividade e em tempo integral no Hospital do Andaraí, onde estruturamos um Corpo Clínico forte, representativo da comunidade médica e junto com outros hospitais públicos, assistimos de maneira eficaz aos pacientes, realizando pesquisas clínicas e cirúrgicas constituindo um sistema público de elevado valor técnico, reforçando ainda o sistema de Pós-graduação.

No final da década de 1980 houve uma radical modificação na política de saúde, os Hospitais foram perdendo suas características definidas após longo período de funcionamento, Chefes de Serviço foram colocados em disponibilidade, quebrando-se uma estruturação desenvolvida durante anos, instalando-se uma grave crise funcional nos Hospitais Institucionais. Iniciou-se então uma nova fase na medicina assistencial com a contrução pelo setor privado de novos hospitais, recuperação e reestruturação de outros já existentes, aproveitando o desenvolvimento da indústria de material médico. Hoje esses hospitais internam pacientes particulares, segurados de Empresas de Seguro ou de Medicina de Grupo que apoiam quase 40 milhões de pessoas. São dados concretos e conhecidos de todos e a AMB, Sociedades Especializadas, Sindicato Médico, Conselhos Estaduais e Federais e o CBC estão participando unidos na procura de soluções, visando não só a defesa do médico como também procurando reestruturar a rede institucional responsável por fornecer assistência integral a mais de cem milhões de pessoas.

Quando me apresentei, junto com um grupo de profissionais do mais alto nível moral e técnico, como candidato à direção do CBC moveu-nos a vontade de ofertar nossa força de trabalho para tentar continuar a fazer, como ocorreu nos Diretórios que dirigiram o CBC, um órgão forte, austero, respeitado, defendendo não só os cirurgiões como também a Cirurgia Brasileira, envolvendo-nos em discussões técnicas, oferecendo através de nossas Secções e Comissões Especializadas, pareceres formulados por cirurgiões de grande experiência e desprovidos de qualquer característica de corporativismo, mas com a coragem que advém de uma organização séria, com mais de setenta anos de luta, em busca do desenvolvimento e aperfeiçoamento da cirurgia brasileira.

Um dos principais objetivos do CBC é o que se refere à Educação Continuada. Não desconhecemos os graves problemas que decorrem da formação anual de excesso de médicos devido a proliferação de Escolas Médicas algumas sem condições de formar profissionais competentes, tornando criticável o processo de graduação. Já no início do século XX Willliam Halsted modificava o regime de ensino médico criando a Residência Médica.

Provavelmente estamos formando cerca de 10 mil médicos por ano, muitos lançados diretamente no mercado de trabalho, não preparados para exercer a arte médica sendo fáceis vítimas de explorações por profissionais ou organizações inescrupulosas.

O CBC vem através de seu programa de Educação Continuada, credenciando hospitais para formação de residentes, avaliando cursos de pós-graduação e pleiteando junto à Comissão Nacional de Residência, ao lado da AMB e outras entidades, modificações no sistema de cirurgia geral. Como já afirmava o Professor Mariano de Andrade: "Penso ser imperativo que nós médicos tomemos a iniciativa na solução desse problema, pois é injustificável, se não ingênuo, acreditar que soluções adequadas possam ser obtidas por meio de decretos ou legislação política ao arrepio de nossas sociedades e de nossas universidades". Nesses últimos anos assombra ao mundo médico e mesmo leigo as extraordinárias conquistas na área médica, com revelações contínuas que modificam radicalmente conceitos solidamente estabelecidos. Paralelamente, milhões de pessoas morrem de desnutrição, fome e epidemias que no mundo desenvolvido já foram erradicadas. É um contraste que traz angústia e decepção. Hospitais públicos sucateados estabelecendo um dilema para o jovem cirurgião que foi preparado para por em prática seu conhecimento conseguido após Residência Cirúrgica e Título de Especialista e tendo que improvisar por falta de recursos apropriados para realizar o procedimento ideal, opta pelo menos pior. Dentro deste conflito de situações, do contraste de uma cirurgia plena de recursos com uma assistência institucional, com grata, exceções, mas de um modo geral com deficiências sérias é que o CBC ao lado das sociedades, sindicatos e conselhos devem exercer seu direito reindivicatório na esperança de formar um sistema de saúde adequado.

Obrigatório se torna realçar o trabalho, a dedicação, a seriedade e a competência dos Diretórios que desde 1929 dirigem o CBC, procurando como afirma Fares Rahal: agregar, defender e postular posições éticas e cientificamente sólidas de todos os seus membros sem nenhum laivo de corporativismo.

Ex-Presidentes que compareceram à nossa solenidade de posse — Drs. Américo Caparica, Orlando Marques Vieira, Guilherme Eurico B. Cunha, Samir Rasslan, Luiz Guilherme Romano, nossa admiração pelo exemplo, e o propósito de continuar seguindo a conduta dos mesmos na Presidência do Colégio, como deve ser o desejo de todos do Diretório Nacional e que pretendemos manter como uma de nossas metas.

Aos Membros do CBC, que receberam o título de Eméritos minhas homenagens e a certeza de que continuaremos a contar com o apoio de todos na tarefa de formar cirurgiões que dignifiquem o CBC.

Aos cirurgiões que receberam o título de Membros Titulares do CBC deixo um pensamento de Fernando Pessoa que hoje me foi carinhoasamente enviado:

Para ser grande ser inteiro

Nada teu exageras ou exclui,

Sê todo em cada coisa

Põe o quanto és no mínimo que fazes,

Assim num lago a lua toda brilha

Porque alta vive.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2002
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