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Lesões bucais na infância: revisão sistemática de interesse da fonoaudiologia

RESUMO

Este estudo tem como tema, fonoaudiólogos, médicos e dentistas que são profissionais que, frequentemente, em suas ações profissionais, realizam exames intrabucais em seus pacientes. Muitas crianças, desde seu nascimento, apresentam o acometimento por lesões bucais que podem trazer transtornos temporários ao cotidiano. O objetivo é apresentar aos profissionais de saúde uma revisão sistemática acerca das lesões bucais mais frequentes em crianças e de interesse da fonoaudiologia. Os profissionais de saúde devem buscar sempre aumentar seus conhecimentos melhorando a atenção à saúde de seus pacientes.

Descritores:
Saúde Bucal; Estomatite; Mucocele

ABSTRACT

The backgrounds of this study are the speech therapists, physicians and dentists that are professionals that in their professional actions, conduct intraoral examinations on their patients. Many children, from birth, have affection for oral lesions that can bring temporary inconvenience to daily life. The purpose is to providing to health professionals a systematic review about the most common oral lesions in children and the interests of speech therapy. Health professionals should always seek to increase their knowledge by improving health care for their patients.

Keywords:
Oral Health; Stomatitis; Mucocele

Introdução

A Fonoaudiologia é uma profissão em expansão e desenvolvimento no Brasil, especialmente quando vista sob o prisma do reconhecimento e definição governamental oficial e sua inserção nos Programas de Saúde Coletiva11. Freitas DA, Antunes SLNO, Mercado LF, Herrera AH, Caballero AD. Perspectiva del Odontólogo sobre la necesidad de unir la Logopedia a la Práctica Clínica. Rev Clin Med Fam. 2011;4(1):11-8.),(22. Varandas CPM, Campos LG, Motta AR. Adesão ao tratamento fonoaudiológico segundo a visão de ortodontistas e odontopediatras. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(3):233-9.. Todos os movimentos governamentais de melhoria de assistência e acesso à saúde tem situado o profissional fonoaudiólogo como importante motor do desenvolvimento no serviço público de saúde. Suas características essenciais, ainda que fomentadas por um rigor clínico, levaram seus profissionais a caminhar na direção da interdisciplinaridade. Observa-se, claramente, a grandeza da troca expressiva de conhecimento e experiências com profissionais de outras áreas, notadamente da Odontologia e da Medicina11. Freitas DA, Antunes SLNO, Mercado LF, Herrera AH, Caballero AD. Perspectiva del Odontólogo sobre la necesidad de unir la Logopedia a la Práctica Clínica. Rev Clin Med Fam. 2011;4(1):11-8.)-(33. Freitas DA, Caballero AD, Pereira MM, Oliveira SKM, Silva GP, Hernández CIV. Sequelas bucais da radioterapia de cabeça e pescoço. Rev. CEFAC. 2011;13(6):1103-8..

A literatura científica mundial é pródiga em apresentar pesquisas relevantes sobre a cárie em crianças44. Silva PSL, Leão VML, Scarpel RD. Caracterização da população portadora de câncer de boca e orofaringe atendida no setor de cabeça e pescoço em hospital de referência na cidade de Salvador-BA. Rev CEFAC. 2009; 11(Supl3):441-7.),(55. Almeida FCS, Cazal C, Brandão TB, Araujo ME, Silva DP, Dias RB. Campanha da popularização do auto exame da boca - Universidade de São Paulo, Brasil (Part I). Rev. Bras. Patol. Oral. 2005;4(3):147-56.. Entretanto, há uma grande lacuna quando observa-se a baixa produtividade científica acerca das lesões estomatológicas de tecido mole, que afetam a saúde bucal do paciente pediátrico44. Silva PSL, Leão VML, Scarpel RD. Caracterização da população portadora de câncer de boca e orofaringe atendida no setor de cabeça e pescoço em hospital de referência na cidade de Salvador-BA. Rev CEFAC. 2009; 11(Supl3):441-7.),(66. Bardellini E, Amadori F, Flocchini P, Conti G, Piana G, Majorana A. Oral findings in 50 children with neurofibromatosis type 1. A case control study. Eur J Paediatr Dent. 2011;12(4):256-60.)-(88. Baldani MH, Lopes CML, Scheidt WA. Prevalência de alterações bucais em crianças atendidas nas clínicas de bebês públicas de Ponta Grossa - PR, Brasil. Pesq Odontol Bras. 2005;15(4):302-7.. É imprescindível a afirmação da grande ocorrência destas lesões em crianças; e a certeza de que, em grande parte dos casos, estas lesões não recebem um rápido diagnóstico que possibilite um pronto tratamento99. Knight J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 2003;27(3):34-9, 42-3.),(1010. Tack DA, Rogers RS. Oral drug reactions. Dermatol Ther. 2002;15:236-50.. São muitos mitos, mistérios e crendices que cercam as famílias e profissionais com relação a estas patologias. Certamente que o grande impacto delas na condição alimentar e de desenvolvimento da fala na criança se revestem de importância primordial no âmbito da saúde coletiva.

Fonoaudiólogos possuem, com muita frequência, a oportunidade de realizarem inspeções visuais intrabucais em pacientes pediátricos. São, assim, potenciais detectadores de lesões e/ou anormalidades existentes nestes indivíduos1111. Coser RM, Flório FM, Melo BP, Quaglio JM. Características clínicas do cisto de erupçào. RGO. 2004;53(3):180-3.. O papel deste profissional é extremamente valioso quando se apodera da máxima conceituação de promoção de saúde e de agente transformador, ampliando seu campo de conhecimento e agregando valor científico às suas ações. Ao se contemplar a saúde como excelência na qualidade de vida e vislumbrar os poderes da interdisciplinaridade, pode-se incorporar atos resolutivos ao discurso orientador. A Fonoaudiologia está intimamente relacionada ao descobrimento precoce das lesões bucais na infância e merece, e tem o dever, do envolvimento nesta grave questão11. Freitas DA, Antunes SLNO, Mercado LF, Herrera AH, Caballero AD. Perspectiva del Odontólogo sobre la necesidad de unir la Logopedia a la Práctica Clínica. Rev Clin Med Fam. 2011;4(1):11-8.),(22. Varandas CPM, Campos LG, Motta AR. Adesão ao tratamento fonoaudiológico segundo a visão de ortodontistas e odontopediatras. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13(3):233-9.),(88. Baldani MH, Lopes CML, Scheidt WA. Prevalência de alterações bucais em crianças atendidas nas clínicas de bebês públicas de Ponta Grossa - PR, Brasil. Pesq Odontol Bras. 2005;15(4):302-7..

Quanto mais envolvidos os profissionais de saúde se encontram nos problemas de saúde geral e específicos de seus pacientes, melhor será sua condição de promotor desta saúde. O fonoaudiólogo é, sem dúvida alguma, um dos grandes sustentáculos da saúde feita com qualidade. Assim, o objetivo deste trabalho é relatar por meio de uma revisão sistemática, informações acerca das principais afecções bucais que acometem pacientes pediátricos, contribuindo para o crescimento do conhecimento e o engrandecimento da Fonoaudiologia.

Métodos

Para o desenvolvimento deste estudo sobre as lesões bucais que são mais frequentes na infância e tenham interesse para a Fonoaudiologia, foram realizadas buscas de literatura científica nas seguintes bases de dados on-line/portais de pesquisa: Pubmed/Medline, Scielo, Lilacs e Bireme. Os descritores e expressões utilizadas durante as buscas nas bases de dados foram: lesões bucais, lesões bucais na infância, alterações bucais em pediatria, mucocele, candidose, rânula, gengivoestomatite herpética aguda primária, língua geográfica. Estes descritores foram utilizados em português e em inglês. Somente foram utilizados os artigos publicados nos últimos 10 anos, os quais correspondem aos anos de 2001 ao ano de 2011, nos idiomas português e inglês, que apresentassem relevância relativa ao tema pesquisado. Na análise inicial foram obtidos 98 artigos; tendo sido excluídos os artigos publicados antes do ano 2001, que tratasse das lesões exclusivamente em adultos, que fossem publicados em idiomas diferentes do inglês ou português e que não contemplassem o texto completo. Após criteriosa reavaliação, um total de 31 artigos atendiam aos critérios estabelecidos. Os artigos foram estudados em sua plenitude e compilados a partir do eixo central da pesquisa.

Revisão de Literatura

Mucocele

As mucoceles são cistos formados a partir da obstrução dos condutos excretores das pequenas glândulas mucosas acessórias da cavidade bucal. Dois fenômenos são responsáveis: o extravasamento de muco e o cisto de retenção de muco. Sendo que, o primeiro é o mais comum e está basicamente relacionado com um dano no ducto excretor da glândula salivar; resulta em extravasamento de muco nos tecidos moles adjacentes. Frequentemente, esta lesão é causada por um trauma. O segundo aparece após a obstrução parcial ou completa do ducto excretor como exemplo, o cálculo que causa a retenção da secreção88. Baldani MH, Lopes CML, Scheidt WA. Prevalência de alterações bucais em crianças atendidas nas clínicas de bebês públicas de Ponta Grossa - PR, Brasil. Pesq Odontol Bras. 2005;15(4):302-7.),(1212. Lima LM, Possobon RM, Pires FR, Moraes ABA. - Mucous extravasation phenomena em babies. Braz J Oral Sci. 2002;1(2):92-4..

A lesão não tem predileção por nenhum gênero. Pode aparecer em qualquer região que abriga uma glândula salivar menor, sendo mais comum em lábio inferior. Pacientes com mordida profunda anterior, overjet acentuado e protusão dentária anterior superior são mais propensos ao trauma em lábio inferior99. Knight J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 2003;27(3):34-9, 42-3.),(1212. Lima LM, Possobon RM, Pires FR, Moraes ABA. - Mucous extravasation phenomena em babies. Braz J Oral Sci. 2002;1(2):92-4.)-(1414. Andiran N, Sarikayalar F, Ünal Of, Baydar De, Özaydin E. Mucocele of the anterior lingual salivary glands: from extravasation to an alarming mass with a benign course. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2001;61:143-7..

As características clínicas podem variar. As lesões mais superficiais são de formato arredondado, flutuantes, ligeiramente azulados ou translúcidos, indolores. As lesões mais profundas apresentam coloração semelhante a da mucosa do local. O tamanho varia de alguns milímetros a vários centímetros88. Baldani MH, Lopes CML, Scheidt WA. Prevalência de alterações bucais em crianças atendidas nas clínicas de bebês públicas de Ponta Grossa - PR, Brasil. Pesq Odontol Bras. 2005;15(4):302-7.),(99. Knight J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 2003;27(3):34-9, 42-3.),(1313. Wu CW, Kao YH, Chen CM, Hsu HJ, Chen CM, Huang IY. Mucoceles of the oral cavity in pediatric patients. Kaohsiung J Med Sci. 2011;27(7):276-9..

Lesões extensas e situadas em determinadas posições anatômicas podem trazer prejuízo à fala e à mastigação; realçando a essencialidade do conhecimento do fonoaudiólogo quanto a esta patologia intrabucal. O tratamento consiste na remoção cirúrgica. Durante a cirurgia, devem ser removidas também as glândulas salivares menores que circundam a mucocele, visando evitar recidiva1212. Lima LM, Possobon RM, Pires FR, Moraes ABA. - Mucous extravasation phenomena em babies. Braz J Oral Sci. 2002;1(2):92-4.),(1414. Andiran N, Sarikayalar F, Ünal Of, Baydar De, Özaydin E. Mucocele of the anterior lingual salivary glands: from extravasation to an alarming mass with a benign course. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2001;61:143-7..

Candidose ou Candidíase

A Candidose, ou "candidíase", é a infecção fúngica mais frequente em pacientes pediátricos. É causada pela Candica albicans, fungo que é integrante da microflora oral em grande parte das pessoas saudáveis33. Freitas DA, Caballero AD, Pereira MM, Oliveira SKM, Silva GP, Hernández CIV. Sequelas bucais da radioterapia de cabeça e pescoço. Rev. CEFAC. 2011;13(6):1103-8.),(1515. Kurnatowska AJ. Search for correlation between symptoms and signs of changes in the oral mucosa and presence of fungi. Mycoses. 2001;44:379-82.. Alguns fatores locais podem predispor ao desenvolvimento da candidíase bucal, como: xerostomia, higiene bucal deficiente, anemia, doenças crônicas, infecções virais, uso crônico de antibióticos e corticosteroides. Os recém-nascidos e as crianças são particularmente susceptíveis à doença1616. Samaranayake LP, Cheung LK, Samaranayake YH. Candidiasis and other fungal diseases of the mouth. Dermatol Ther. 2002;15:251-69.),(1717. Ellepola ANB, Samaranayake LP. Inhalational and topical steroids, and oral candidosis: a mini review. Oral Dis. 2001;7:211-6..

Pode apresentar formas clínicas variadas, como:33. Freitas DA, Caballero AD, Pereira MM, Oliveira SKM, Silva GP, Hernández CIV. Sequelas bucais da radioterapia de cabeça e pescoço. Rev. CEFAC. 2011;13(6):1103-8.),(1515. Kurnatowska AJ. Search for correlation between symptoms and signs of changes in the oral mucosa and presence of fungi. Mycoses. 2001;44:379-82.),(1818. Goins RA, Ascher D, Waecker N, Arnold J, Moorefield E. Comparison of fluconazole and nystatin oral suspensions for treatment of oral candidiasis in infants. Pediatr Infect Dis J. 2002;21(12):1165-7.:

Candidíase Pseudomembranosa- É a forma mais comum da doença, popularmente conhecida como ''sapinho''. Clinicamente, é possível observar a presença de placas brancas ou amareladas que são facilmente removidas. São mais frequentes na mucosa jugal, língua e palato. É comum em recém-nascidos, em decorrência do sistema imunológico ainda pouco desenvolvido.

Candidíase Eritematosa - Mais prevalente em pacientes com doenças crônicas, debilitantes e baixa imunológica. O exame intrabucal mostra placas eritematosas com aspecto de pontilhado avermelhado, há predileção pela superfície dorsal da língua.

Candidíase Crônica Hiperplásica - Caracterizada por presença de placas brancas que não podem ser removidas pela raspagem. Essa é a forma menos comum. Tais lesões estão usualmente localizadas na região anterior da mucosa jugal, não podendo ser clinicamente distinguida da leucoplasia comum.

Candidíase Mucocutânea - É uma forma bucal grave, sendo que a maioria dos casos é esporádica, embora tenha sido encontrado um padrão de herança autossômica recessiva em algumas famílias. Normalmente o problema imunológico torna-se evidente nos primeiros anos de vida, quando o paciente começa a desenvolver infecção por Candida na boca, unha, pele e outras regiões.

Pacientes pediátricos com candidíase queixam-se de dor e queimação nas regiões da lesão, com consequente dificuldade de alimentação. Quando exacerbadas, as lesões podem agredir a orofaringe e língua, dificultanto também a fala. O tratamento consiste no uso de agentes antifúngicos específicos. Em crianças, a Nistatina de uso tópico apresenta bons resultados terapêuticos1616. Samaranayake LP, Cheung LK, Samaranayake YH. Candidiasis and other fungal diseases of the mouth. Dermatol Ther. 2002;15:251-69.),(1919. Ellepola ANB, Samaranayake LP - Adjunctive use of chlorhexidine in oral candidoses: a review. Oral Dis. 2001;7:11-7..

Rânula

Rânula é o termo usado pela patologia para distinguir as mucoceles que surgem no soalho bucal. As rânulas podem originar-se do extravasamento de mucina do ducto submandibular ou das glândulas salivares menores do soalho da boca. Pode haver infecção bacteriana associada causando dor, febre e grande desconforto. Grandes cálculos salivares podem originar esta lesão2020. Bonet-Coloma C, Minguez-Martinez I, Aloy-Prósper A, Galán-Gil S, Peñarrocha-Diago M, Mínguez-Sanz JM. Pediatric oral ranula: clinical follow-up study of 57 cases. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2011;16(2):e158-62.)-(2222. Yuca K, Bayram I, Cankaya H, Caksen H, Kiroglu AF, Kiris M. Pediatric intraoral ranulas: an analysis of nine cases. Tohoku J Exp Med. 2005;205(2):151-5..

A manifestação clínica consiste em aumento de volume do soalho bucal, e assim como a mucocele, sua cor pode variar de rosa a azul claro2121. Bahnassy M. A huge oral ranula. Oman Med J. 2009;24(4):306-7..

Crianças que apresentam rânula de tamanhos médios e/ou grandes apresentam dificuldade na fala causada pela alteração do posicionamento da língua. O tratamento da rânula consiste na remoção e/ou marsupialização da glândula sublingual77. Sousa FB, Etges A, Corrêa L, Mesquita RA, Araújo NS. Pediatric oral lesions: a 15-year review from São Paulo, Brazil. J Clin Pediatr Dent. 2002; 26(4):413-8.),(99. Knight J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 2003;27(3):34-9, 42-3.),(2222. Yuca K, Bayram I, Cankaya H, Caksen H, Kiroglu AF, Kiris M. Pediatric intraoral ranulas: an analysis of nine cases. Tohoku J Exp Med. 2005;205(2):151-5..

Gengivoestomatite Herpética Aguda Primária

A Gengivoestomatite Herpética Aguda é a infecção primária causada pelo vírus herpes simples (HSV). Este vírus apresenta vida latente com sítio no gânglio trigeminal2323. Whitley RJ. - Herpes simplex virus in children. Curr Treat Options Neurol. 2002;4(3):231-7.. Frequente ocorre entre as crianças de um a seis anos de idade com predileção para o gênero feminino e pela raça branca três vezes mais que em negros99. Knight J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 2003;27(3):34-9, 42-3.),(2323. Whitley RJ. - Herpes simplex virus in children. Curr Treat Options Neurol. 2002;4(3):231-7.),(2424. Blevins JY. - Primary herpetic gingivostomatitis in young children. Pediatr Nurs. 2003;29(3):199-202..

Logo no início, a criança apresenta febre, mal-estar geral, irritabilidade, dor ao deglutir e linfadenopatia regional. Sobre a saúde bucal, observa-se gengivite, com inchaço e vermelhão gengival, além de dor intensa2323. Whitley RJ. - Herpes simplex virus in children. Curr Treat Options Neurol. 2002;4(3):231-7.),(2525. Tilliss TS, McDowell JD. - Differential diagnosis: is it herpes or aphthous? J Contemp Dent Pract. 2002;3(1):1-15.. Sequencialmente, formam-se inúmeras vesículas que ocupam a cavidade bucal. O rompimento destas vesículas provoca a ocorrência de úlceras rasas que cicatrizam em poucos dias e de forma espontânea. Os danos bucais dificultam a alimentação e a fala, os movimentos bucais tornam-se dolorosos para a criança acometida 2323. Whitley RJ. - Herpes simplex virus in children. Curr Treat Options Neurol. 2002;4(3):231-7.),(2424. Blevins JY. - Primary herpetic gingivostomatitis in young children. Pediatr Nurs. 2003;29(3):199-202..

O tratamento é apenas sintomático e de orientação, especialmente aos pais, por meio da compreensão do aspecto contagioso da infecção viral. A criança deve receber cuidados de higiene bucal minuciosos, beber água com frequência para evitar desidratação; além disso, alimentos ácidos e muito salgados podem exacerbar a sensação dolorosa88. Baldani MH, Lopes CML, Scheidt WA. Prevalência de alterações bucais em crianças atendidas nas clínicas de bebês públicas de Ponta Grossa - PR, Brasil. Pesq Odontol Bras. 2005;15(4):302-7.),(2424. Blevins JY. - Primary herpetic gingivostomatitis in young children. Pediatr Nurs. 2003;29(3):199-202..

Língua Geográfica

Língua geográfica é uma alteração benigna cuja principal característica são as lesões erosivas avermelhadas, de bordas irregulares cujo design lembra os contornos de um mapa geográfico; podendo migrar de uma área para outra da língua77. Sousa FB, Etges A, Corrêa L, Mesquita RA, Araújo NS. Pediatric oral lesions: a 15-year review from São Paulo, Brazil. J Clin Pediatr Dent. 2002; 26(4):413-8.),(2626. Vörös-Balog T, Vincze N, Bánóczy J. - Prevalence of tongue lesions in Hungarian children. Oral Dis. 2003;9:84-7.),(2727. Kayhan TÇ, Bllaç C, Bllaç DB, Ecemls T, Ermertcan AT. Annular plaques on the tongue: what is your diagnosis? Ann Dermatol. 2011;23(4):548-50..

Essa condição é mais comum nos primeiros anos de vida, e as lesões tendem a desaparecer antes da puberdade. Prevalência em crianças do gênero feminino2828. Yilmaz AE, Gorpelioglu C, Sarifakioglu E, Dogan DG, Bilici M, Celik N. Prevalence of oral mucosal lesions from birth to two years. Niger J Clin Pract. 2011;14(3):349-53.. Sua etiologia não é totalmente esclarecida, tendo relação com hereditariedade e deficiência nutricional2626. Vörös-Balog T, Vincze N, Bánóczy J. - Prevalence of tongue lesions in Hungarian children. Oral Dis. 2003;9:84-7.),(2929. Ishibashi M, Tojo G, Watanabe M, Tamabuchi T, Masu T, Aiba S. Geographic tongue treated with topical tacrolimus. J Dermatol Case Rep. 2010; 4(4):57-9..

As lesões não comprometem o paladar e podem permanecer ativas por períodos curtos ou longos, regredir espontaneamente e reaparecer depois. Embora sejam quase sempre assintomáticas, alimentos condimentados, ácidos ou bebidas alcoólicas podem provocar ardência e queimação2828. Yilmaz AE, Gorpelioglu C, Sarifakioglu E, Dogan DG, Bilici M, Celik N. Prevalence of oral mucosal lesions from birth to two years. Niger J Clin Pract. 2011;14(3):349-53.)-(3030. Masferrer E, Jucgla A. Images in clinical medicine. Geographic tongue. N Engl J Med. 2009;361(20): e44..

Não existem tratamentos específicos; podendo ser necessária a abordagem sobre os sintomas, quando eles se manifestam. É importante que o profissional de saúde oriente o paciente quanto à característica benigna da lesão2626. Vörös-Balog T, Vincze N, Bánóczy J. - Prevalence of tongue lesions in Hungarian children. Oral Dis. 2003;9:84-7.),(2929. Ishibashi M, Tojo G, Watanabe M, Tamabuchi T, Masu T, Aiba S. Geographic tongue treated with topical tacrolimus. J Dermatol Case Rep. 2010; 4(4):57-9.),(3131. Adams SP. Dermacase. Geographic tongue. Can Fam Physician. 2002; 48:697-702..

Comentários Finais

Profissionais de saúde que lidam com crianças e interagem suas ações com aspectos da saúde do aparelho estomatognático devem procurar sempre ampliar seus conhecimentos para proporcionar uma maior e melhor atenção aos seus pacientes. Fonoaudiólogos, médicos e dentistas precisam agir em consonância científica para alcançar a excelência em suas atividades cotidianas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2016

Histórico

  • Recebido
    01 Maio 2012
  • Aceito
    06 Fev 2013
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