Acessibilidade / Reportar erro

Características pré e pós-natais de crianças e adolescentes com deficiência intelectual

RESUMO

Objetivo:

descrever características pré e pós-natais de crianças e adolescentes com deficiência intelectual.

Métodos:

estudo realizado com todos os indivíduos atendidos no período de agosto de 2016 a fevereiro de 2018 em um Centro Especializado em Reabilitação referência para o extremo sul catarinense do Brasil. Foi aplicado, por entrevistadores treinados, um questionário aos pais e/ou responsáveis pelas crianças e adolescentes, contendo variáveis demográficas, socioeconômicas, pré e pós-natais. Análises descritivas foram realizadas, apresentando frequências absoluta e relativa das variáveis categóricas e medida de tendência central e de dispersão das variáveis numéricas.

Resultados:

foram estudados 42 indivíduos com média de idade de 11 anos (±3,0). Grande maioria das mães referiu não ter planejado a gestação e mais da metade delas relatou ter realizado parto cesárea. Além disso, cerca de um quinto dos indivíduos nasceram com baixo peso e a grande maioria deles recebeu aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade.

Conclusão:

os achados são de grande relevância para a organização e o aprimoramento dos serviços de atenção à saúde, uma vez que fornecem evidências para os profissionais de saúde aprimorarem e/ou direcionarem suas ações no atendimento a esse público-alvo.

Descritores:
Criança; Adolescente; Deficiência Intelectual; Cuidado Pré-Natal; Cuidado Pós-Natal

ABSTRACT

Purpose:

to describe pre and postnatal characteristics of children and adolescents with intellectual disability.

Methods:

study performed with all individuals who received healthcare between August 2016 and February 2018 at a reference Rehabilitation Center which serves 27 towns and cities in the South of Santa Catarina State, Brazil. A questionnaire focusing on demographic, socioeconomic, pre and postnatal variables was administered to parents or guardians of children and adolescents by trained interviewers. Descriptive analyses were performed using absolute and relative frequencies of categorical variables and central tendency and dispersion measures of numerical variables.

Results:

42 individuals in the mean age of 11 years (± 3.0) were studied. Most mothers reported having unintended pregnancy and more than a half reported having had a cesarean section. In addition, about one-fifth of the subjects had low birth weight and most of them received exclusive breastfeeding up to six months of age.

Conclusion:

these findings are crucial for the organization and improvement of health care services, since they provide evidence for health professionals to improve and/or focus their health care initiatives on these individuals.

Keywords:
Child; Adolescent; Intellectual Disabilities; Prenatal Care; Postnatal Care

Introdução

A deficiência intelectual (DI) é um transtorno neuropsiquiátrico diagnosticado no período do desenvolvimento, ou seja, até os 18 anos de idade. É caracterizada por limitações no funcionamento intelectual, como raciocínio, organização, solução de problemas e aprendizado, bem como no funcionamento adaptativo, como comunicação, independência pessoal e responsabilidade social11. American Association on Intellectual and Developmental Disabilities. Definition of Intellectual Disability [acesso em 05 set 2018]. Disponível em: http://aaidd.org
http://aaidd.org...
,22. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014..

No Brasil, cerca de 1,4% da população apresenta DI33. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Censo Demográfico 2010 [acesso em 04 set 2018]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/...
e, em aproximadamente 30% dos casos, as causas são desconhecidas44. Gonzales G, Raggio V, Boidi M, Tapié A, Roche L. Avances en la identificación etiológica del retraso mental. Rev Neurol. 2013;57(1):75-83.. Entretanto, são conhecidos alguns fatores que podem ocorrer nos períodos pré-natais e neonatais, sendo esses de naturezas biomédica, como distúrbios cromossômicos; comportamental, como uso de drogas e álcool pelas mães durante a gestação; social, como falta de acesso ao pré-natal e aos cuidados durante e após o nascimento e, ainda, de natureza educacional, como educação e apoio familiar prejudicados55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.

6. Karam SM, Barros AJD, Matijasevich A, Dos Santos IS, Anselmi L, Barros F et al. Intellectual disability in a birth cohort: prevalence, etiology, and determinants at the age of 4 years. Public Health Genomics. 2016;19(5):290-7.
-77. Ekblad M, Korkeila J, Lehtonen L. Smoking during pregnancy affects foetal brain development. Acta paediatrica. 2015;104(1):12-8..

Recente revisão sistemática e meta-análise examinou a influência dessas variáveis no desenvolvimento da DI e encontrou que características maternas, como baixa escolaridade, consumo de álcool e tabagismo na gestação, diabetes e hipertensão arterial sistêmica estiveram associadas a esta deficiência, uma vez que influenciam no desenvolvimento cognitivo e comportamental da criança66. Karam SM, Barros AJD, Matijasevich A, Dos Santos IS, Anselmi L, Barros F et al. Intellectual disability in a birth cohort: prevalence, etiology, and determinants at the age of 4 years. Public Health Genomics. 2016;19(5):290-7.. Além disso, idade materna avançada, prematuridade do bebê, ruptura prematura das membranas, parto cesárea e baixo peso ao nascer também são fatores que influenciam o desenvolvimento da DI55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.

9. Nemerimana M, Chege MN, Odhiambo EA. Risk factors associated with severity of nongenetic intellectual disability (mental retardation) among children aged 2-18 years attending Kenyatta National Hospital. Neurol Res Int. 2018;18:1-11.
-1010. Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74..

Dentre os fatores pós-natais, destaca-se, ainda, lesão cerebral traumática, infecções, doenças convulsivas e exposição a neurotoxinas, como chumbo e mercúrio22. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.. Segundo alguns estudos, outra variável que está associada à DI é o sexo, sendo que os meninos apresentam maior prevalência de DI quando comprados às meninas55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,1010. Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74.,1111. Vilaseca R, Rivero M, Bersabé RM, Cantero MJ, Navarro-Pardo E, Valls-Vidal C et al. Demographic and parental factors associated with developmental outcomes in children with intellectual disabilities. Front Psychol. 2019;10:872-86.. Isso ocorre devido à maior ocorrência de mutações no cromossomo X1212. Werling DM, Geschwind DH. Sex differences in autism spectrum disorders. Curr Opin Neurol. 2013;26(2):146-53..

Diante dos diversos fatores que podem estar relacionados à DI, torna-se fundamental conhecer as características de indivíduos com a doença, a fim de implementar ações de prevenção específicas mediante políticas públicas qualificadas e acessíveis. Assim, o objetivo do presente estudo foi descrever as características pré e pós-natais de crianças e adolescentes com DI atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação referência para o extremo sul catarinense do Brasil.

Métodos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC sob protocolo nº 57366316.6.0000.0119 e todos os participantes que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Trata-se de um estudo descritivo realizado com pais/responsáveis por crianças e adolescentes com DI atendidos no Centro Especializado em Reabilitação (CER II) da cidade de Criciúma-SC no período entre agosto de 2016 e fevereiro de 2018. O CER II é localizado nas clínicas da instituição de origem e atende toda a região da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC) e da Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC), totalizando 27 municípios.

O diagnóstico de DI foi realizado por meio de avaliação psicológica, testes WISC IV1313. Wechsler D. Escala Weschsler de inteligência para crianças: WISC-IV. Manual Técnico. 4ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2013. e/ou escala de maturidade mental Columbia1414. Alves ICB, Duarte JLM. Padronização brasileira da Escala de Maturidade Mental Colúmbia. In: Burgmeister BB, Blum LH, Lorge I (eds). Escala de Maturidade Mental Colúmbia. 3 ed. Manual para aplicação e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1993. p. 25-35., avaliação multidisciplinar por equipes estruturadas conforme as demandas individuais de cada caso, e que incluíram fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo e fisioterapeuta. Por último, o médico neurologista fazia o fechamento dos diagnósticos.

Para a coleta dos dados, foi aplicado, por entrevistadores treinados, um questionário aos pais/responsáveis pelas crianças e adolescentes. Este questionário continha as seguintes informações demográficas e socioeconômicas: sexo da criança/adolescente (masculino/feminino), idade da criança/adolescente (em anos completos), idade materna no nascimento (em anos completos), escolaridade paterna e materna (fundamental incompleto/fundamental completo/médio incompleto/médio completo/superior incompleto/superior completo) e cor da pele materna (branca/preta/outras). Além disso, foram analisadas as seguintes variáveis pré-natais: idade materna ao nascimento (≤19 anos/20-34 anos/≥35 anos) gravidez planejada (sim/não), tabagismo (sim/não) e consumo de álcool na gestação (sim/não), realização do pré-natal (sim/não), local do pré-natal (público/privado), trimestre de início do pré-natal (primeiro/segundo/terceiro) e número de consultas de pré-natal (≤5 consultas/≥6 consultas). As características neonatais também foram estudadas, sendo elas: tipo de parto (normal/cesárea), idade gestacional (<37semanas/≥37 semanas), amamentação (sim/não), amamentação exclusiva (sim/não), até que idade recebeu amamentação exclusiva (<6 meses/≥6 meses), peso ao nascer (<2.500g/2.500-2.999g/3.000-3.499g/≥3.500g), comprimento ao nascer (em cm) e perímetro cefálico (em cm).

Foram realizadas análises descritivas das variáveis estudadas apresentando frequências absoluta (n) e relativa (%) das variáveis categóricas e medida de tendência central (média) e dispersão (desvio padrão) das variáveis numéricas. Para a análise dos dados foi utilizado o programa Stata versão 12.1.

Resultados

Todas as 42 crianças e adolescentes com DI atendidas no período estabelecido foram estudadas. A Tabela 1 apresenta as características demográficas dos participantes e de suas mães. Observa-se que a metade dos indivíduos era do sexo masculino (50,0%) e que a média de idade era 11,1 (±3,0) anos. Em relação às características maternas, cerca de metade das mães era de cor da pele não branca (47,6%) e um quinto delas tinha o ensino médio completo (20,5%).

Tabela 1:
Características sociodemográficas dos participantes. Criciúma, Santa Catarina, 2018 (n=42)

Na Tabela 2 estão descritas as variáveis pré-natais dos indivíduos estudados. Pode-se verificar que a grande maioria das mães tinha idade entre 20 e 34 anos no nascimento da criança (75,0%) e referiu não ter planejado a gestação (75,0%). O tabagismo e o consumo de álcool durante a gestação foram relatados pela minoria das mães (14,6% e 7,3%, respectivamente). Além disso, quase a totalidade delas realizou o pré-natal no serviço público (97,4%), iniciando no primeiro trimestre da gestação (81,8%) e realizando, no mínimo, 6 consultas (73,5%).

Tabela 2:
Características pré-natais dos participantes. Criciúma, Santa Catarina, 2018 (n=42)

As características pós-natais dos participantes são apresentadas na Tabela 3. Evidencia-se que mais da metade das mães realizaram cesariana (55,0%). Quanto às variáveis antropométricas, observa-se que cerca de um quinto dos indivíduos estudados nasceram com baixo peso (16,7%) e que a média do comprimento ao nascer foi 47,9 (±3,1) cm. Em relação à amamentação, a grande maioria dos entrevistados recebeu aleitamento materno exclusivo (90,3%) e foi amamentada até os 6 meses de idade (82,8%).

Tabela 3:
Características pós-natais dos participantes. Criciúma, Santa Catarina, 2018 (n=42)

Discussão

Analisando as variáveis sociodemográficas estudadas, observou-se que a minoria das mães de crianças e adolescentes com DI tinham completado o ensino médio. De acordo com outros trabalhos, a baixa escolaridade materna é apontada como um fator associado à DI55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,66. Karam SM, Barros AJD, Matijasevich A, Dos Santos IS, Anselmi L, Barros F et al. Intellectual disability in a birth cohort: prevalence, etiology, and determinants at the age of 4 years. Public Health Genomics. 2016;19(5):290-7.,1515. Heikura U, Taanila A, Hartikainen AL, Olsen P, Linna SL, Von Wendt L et al. Variations in prenatal sociodemographic factors associated with intellectual disability: a study of the 20-year interval between two birth cohorts in northern Finland. Am J Epidemiol. 2008;167(2):169-77.. Recente revisão sistemática e meta-análise encontrou 100% a mais de risco entre as crianças e adolescentes cujas mães tinham baixa escolaridade55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.. Segundo os autores, a baixa escolaridade dos pais oportuniza que os mesmos não demonstrem interesse em relação ao estudo dos filhos ou não reconheçam a escola como tendo um papel importante na ascensão social55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655., o que pode explicar a idade avançada (média de 11 anos) para obtenção do diagnóstico de DI. Por outro lado, estudo realizado na Índia englobando indivíduos com faixa etária mais elevada não evidenciou associação entre essas variáveis1616. Naskar S, Nath K. A clinical study on intellectual disability in northeastern India: insight into the sociodemographic risk factors of a developing country. Int J Med Sci Public Health. 2016;5(9):1789-97..

Estudo de coorte realizado na Finlândia objetivando examinar o impacto dos fatores sociodemográficos ao longo de 20 anos acompanhou crianças com DI com idade média de 11,5 anos1515. Heikura U, Taanila A, Hartikainen AL, Olsen P, Linna SL, Von Wendt L et al. Variations in prenatal sociodemographic factors associated with intellectual disability: a study of the 20-year interval between two birth cohorts in northern Finland. Am J Epidemiol. 2008;167(2):169-77.. Ao analisar o grupo específico de crianças que apresentaram DI moderada, os pesquisadores constataram que o baixo nível socioeconômico é uma situação bastante presente nas famílias. Em relação às variáveis maternas, foi evidenciado que, após 20 anos de acompanhamento, baixa condição socioeconômica, baixa escolaridade e multiparidade foram os determinantes mais relevantes para o aumento de casos de DI1515. Heikura U, Taanila A, Hartikainen AL, Olsen P, Linna SL, Von Wendt L et al. Variations in prenatal sociodemographic factors associated with intellectual disability: a study of the 20-year interval between two birth cohorts in northern Finland. Am J Epidemiol. 2008;167(2):169-77.. Possível explicação para esses achados é que a baixa escolaridade e o baixo nível socioeconômico têm um impacto tanto na educação quanto no desenvolvimento das crianças1717. Engle PL, Black MM. The effect of poverty on child development and educational outcomes. Ann NY Acad Sci. 2008;1136:243-56.. Enfatiza-se que tais fatores sociodemográficos podem ser modificáveis, o que possibilita a implementação de ações de prevenção primária que visam reduzir o número de crianças com DI.

Huang et al.55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655. mostraram que a idade materna acima de 35 anos é um importante fator de risco para DI, sendo que as mulheres nessa faixa etária apresentaram 54% a mais de chance de ter filho com DI. O estudo não encontrou associação entre idade precoce (<20 anos) e DI. Em contrapartida, alguns autores evidenciaram que a maioria das mães tinha até 35 anos de idade88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.,1818. Palumbi R, Peschechera A, Margari M, Craig F, Cristella A, Petruzzelli MG et al. Neurodevelopmental and emotionalbehavioral outcomes in late-preterm infants: an observational descriptive case study. BMC Pediatric. 2018;18:318-23., o que corrobora com os achados do presente estudo.

Outras variáveis demográficas estudadas foram a cor da pele e o sexo. Embora não houve diferença na prevalência de meninos e meninas, no presente estudo, outros autores evidenciaram maior ocorrência de DI entre o sexo masculino 88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.,1111. Vilaseca R, Rivero M, Bersabé RM, Cantero MJ, Navarro-Pardo E, Valls-Vidal C et al. Demographic and parental factors associated with developmental outcomes in children with intellectual disabilities. Front Psychol. 2019;10:872-86.. Estudo de Huang et al.55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655. encontrou que os meninos apresentam 84% a mais de risco de desenvolver DI quando comparados às meninas. Segundo Werling e Geschwind1212. Werling DM, Geschwind DH. Sex differences in autism spectrum disorders. Curr Opin Neurol. 2013;26(2):146-53., os genes cromossômicos do sexo têm papel-chave em mecanismos moleculares que resguardam as mulheres de algumas deficiências conferidas por locos de risco específicos e/ou por carga mutacional no genoma, uma vez que são protegidas dos efeitos deletérios das mutações cromossômicas do X pela transcrição compensatória de seu segundo cromossomo X intacto.

Huang et al.55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655. encontraram em seu estudo de revisão e meta-análise que crianças e adolescentes filhos de mães negras tiveram 70% a mais de risco de ter DI. Tal resultado corrobora com dados obtidos no presente estudo onde foi observado que, aproximadamente, metade das mães declarou não ter cor da pele branca. Possível explicação para esse achado é que a cor da pele preta está relacionada às baixas renda e escolaridade, que, conforme discutido anteriormente, estão diretamente associadas à DI55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,1515. Heikura U, Taanila A, Hartikainen AL, Olsen P, Linna SL, Von Wendt L et al. Variations in prenatal sociodemographic factors associated with intellectual disability: a study of the 20-year interval between two birth cohorts in northern Finland. Am J Epidemiol. 2008;167(2):169-77..

Outro achado do presente estudo é que a grande maioria das mães referiu não ter planejado a gravidez; no entanto, iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação e realizaram o mínimo de consultas recomendadas pelo Ministério da Saúde1919. Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica nº 32. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília, DF; 2012.. Similarmente, estudo de coorte desenvolvido em Pelotas-RS evidenciou que mais da metade das gestantes realizaram a primeira consulta de pré-natal no primeiro trimestre da gestação, sendo que a maioria delas tiveram, no mínimo, sete consultas durante todo o período gestacional66. Karam SM, Barros AJD, Matijasevich A, Dos Santos IS, Anselmi L, Barros F et al. Intellectual disability in a birth cohort: prevalence, etiology, and determinants at the age of 4 years. Public Health Genomics. 2016;19(5):290-7..

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o pré-natal inclui, além do acompanhamento clínico para a detecção e prevenção de doenças, aconselhamento sobre estilo de vida saudável e planejamento familiar, orientações sobre tabagismo, etilismo e outras substâncias que podem prejudicar o feto, tornando-se, assim, indispensável durante a gestação2020. Organização Mundial da Saúde. OMS publica novas orientações sobre pré-natal para reduzir mortes de mães e bebês. [Acesso em 11 jun 2019]. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-publica-novas-orientacoes-sobre-pre-natal-para-reduzir-mortes-de-maes-e-bebes/
https://nacoesunidas.org/oms-publica-nov...
.

O álcool é, entre as substâncias de abuso, a que produz as mais sérias alterações neurocomportamentais no feto e, sendo uma substância teratógena, seu uso é desaconselhado na gestação2121. Stratton K, Howe C, Battaglia F. Fetal alcohol syndrome: diagnosis, epidemiology, prevention and treatment. Washington: National Academy Press; 1996.. De acordo com Huang et al.55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655., o feto é altamente suscetível às condições maternas. Desta forma, fatores de risco, como exposição a substâncias tóxicas maternas e distúrbios metabólicos, podem afetar significativamente o desenvolvimento cerebral geneticamente programado do feto. Crianças cujas mães relatam uso de álcool apresentam 54% mais risco de desenvolver DI do que aquelas filhas de mães que não consumiram álcool na gestação.

Importante destacar também a influência do tabagismo no desenvolvimento de DI77. Ekblad M, Korkeila J, Lehtonen L. Smoking during pregnancy affects foetal brain development. Acta paediatrica. 2015;104(1):12-8.,2222. Silva D, Colvin L, Hagemann E, Bower C. Environmental risk factors by gender associated with attention-deficit/hyperactivity disorder. Pediatrics. 2014;133(1):e14-22.. O risco de uma criança ter DI é 10% maior quando a mãe fumou na gestação comparada à criança cuja mãe não fumou55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.. De acordo com os autores, o feto é altamente suscetível às condições maternas, ou seja, exposição a substâncias tóxicas maternas e distúrbios metabólicos podem afetar significativamente o desenvolvimento cerebral do feto programado geneticamente55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,77. Ekblad M, Korkeila J, Lehtonen L. Smoking during pregnancy affects foetal brain development. Acta paediatrica. 2015;104(1):12-8..

Além disso, foi encontrado no presente estudo que mais da metade das mães relataram ter feito cesariana e que cerca de 1/3 das crianças nasceram com menos de 37 semanas. Ademais, aproximadamente, 20% das crianças nasceram com baixo peso. Resultados similares foram evidenciados em outros estudos55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.

9. Nemerimana M, Chege MN, Odhiambo EA. Risk factors associated with severity of nongenetic intellectual disability (mental retardation) among children aged 2-18 years attending Kenyatta National Hospital. Neurol Res Int. 2018;18:1-11.
-1010. Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74.,2323. Schieve LA, Tian LH, Baio J, Rankin K, Rosenberg D, Wiggins L et al. Population attributable fractions for three perinatal risk factors for autism spectrum disorders, 2002 and 2008 autism and developmental disabilities monitoring network. Ann Epidemiol. 2014;24(4):260-6.. Foi observado que o parto cesáreo, o baixo peso ao nascer e a prematuridade estiveram associados à DI de crianças55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.,88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.,1010. Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74.. Pesquisa realizada no Quênia com crianças e adolescentes diagnosticados com DI sem síndrome genética associada, apontou um aumento significante na prevalência de deficiência intelectual severa naqueles indivíduos nascidos por cesariana (50%) em comparação àqueles nascidos por parto normal (17,7%)99. Nemerimana M, Chege MN, Odhiambo EA. Risk factors associated with severity of nongenetic intellectual disability (mental retardation) among children aged 2-18 years attending Kenyatta National Hospital. Neurol Res Int. 2018;18:1-11.. Possível explicação para a influência da cesariana no desenvolvimento psicológico é que o parto casária é geralmente agendado para a 37ª até 39ª semana gestacional, o que pode privar o bebê de ter seu desenvolvimento completo88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72..

Estudo de coorte realizado na população sueca, ao examinar a relação entre prematuridade e deficiência intelectual, encontrou que 5,6% dos bebês nascidos antes da 37ª semana gestacional apresentaram DI, enquanto que, dos nascidos a termo, apenas 0,9% tiveram a doença2424. Heuvelman H, Abel K, Wicks S, Gardner R, Johnstone E, Lee B. Gestational age at birth and risk of intellectual disability without a common genetic cause. Eur J Epidemiol. 2018;33(7):667-79.. Similarmente, recente meta-análise mostrou que crianças prematuras e com baixo peso ao nascer tiveram 3 vezes mais risco de apresentar transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) comparadas aos seus pares2525. Franz AP, Bolat GU, Bolat H, Matijasevich A, Santos IS, Silveira RC et al. Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and very preterm/very low birth weight: a meta-analysis. Pediatrics. 2018;141(1):e20171645..

Trabalhos mostram que a prematuridade é um importante fator de risco perinatal para a DI88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.,1010. Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74.,2626. Onicescu G, Lawson AB, Mcdermott S, Aelion CM, Cai B. Bayesian importance parameter modeling of misaligned predictors: soil metal measures related to residential history and intellectual disability in children. Environ Sci Pollut Res Int. 2014;21(18):10775-86.. Palumbi et al.1818. Palumbi R, Peschechera A, Margari M, Craig F, Cristella A, Petruzzelli MG et al. Neurodevelopmental and emotionalbehavioral outcomes in late-preterm infants: an observational descriptive case study. BMC Pediatric. 2018;18:318-23. encontraram a presença de diferentes distúrbios do desenvolvimento neural entre prematuros tardios. O final da gestação é um período crucial para o desenvolvimento cerebral, uma vez que até a 34ª semana gestacional o volume cerebral é de 65%. Além disso, embora o processo de mielinização seja cinco vezes maior entre a 35ª e a 41ª semana de gestação, o desenvolvimento cerebral permanece até as 40 semanas gestacionais. Assim, o cérebro dos prematuros, além de não estar totalmente maduro e funcional, é muito vulnerável e suscetível a fatores ambientais adversos88. Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.,2727. Walsh JM, Doyle LW, Anderson PJ, Lee KJ, Cheong JL. Moderate and late preterm birth: effect on brain size and maturation at term-equivalent age. Radiology. 2014;273(1):232-40..

Outros autores sugerem, ainda, que prematuros com TDAH apresentam especificidades fenotípicas, como sintomas de desatenção, que diferem daqueles que apresentam o transtorno, mas não nasceram a termo2828. Johnson S, Kochhar P, Hennessy E, Marlow N, Wolke D, Hollis C. Antecedents of attention-deficit/hyperactivity disorder symptoms in children born extremely preterm. J Dev Behav Pediatr. 2016;37(4):285-97.. De acordo com Franz et al.2525. Franz AP, Bolat GU, Bolat H, Matijasevich A, Santos IS, Silveira RC et al. Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and very preterm/very low birth weight: a meta-analysis. Pediatrics. 2018;141(1):e20171645., embora as explicações para que os indivíduos prematuros e com baixo peso sejam mais prováveis de ter TDAH e problemas psiquiátricos ainda não sejam bem elucidadas, algumas hipóteses incluem questões pré e pós-natais, como problemas ambientais e biológicos (desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e inflamação sistêmica perinatal), que poderiam levar a distúrbios cerebrais estrutural e funcional.

Destaca-se, também, que o aleitamento materno é um fator de proteção para a DI. Bebês amamentados mostraram melhores resultados nas medidas do quociente intelectual, melhorando o desempenho e o desenvolvimento cognitivo2929. Victora CG, Horta BL, Loret de Mola C, Quevedo L, Pinheiro RT, Gigante DP et al. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2015;3(4):e199-205.,3030. Horta BL, Loret de Mola C, Victora CG. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104(467):14-9.. De acordo com Doom et al.3131. Doom JR, Gunnar MR, Georgieff MK, Kroupina MG, Frenn K, Fuglestad AJ et al. 2014. Beyond stimulus deprivation: iron deficiency and cognitive deficits in postinstitutionalized children. Child dev. 2014;85(5):1805-12., a deficiência de ferro na criança está associada a menores índices no quociente de inteligência e aumenta as chances de prejuízos na memória. Revisão sistemática encontrou que mesmo após ajuste para o ambiente doméstico ou estimulação, os indivíduos amamentados têm melhor desempenho em testes cognitivos3232. Horta BL, Victora CG. Long-term effects of breastfeeding: a systematic review. World Health Organization; Geneva: 2013., o que sugere que o leite materno tem um efeito de programação na inteligência2929. Victora CG, Horta BL, Loret de Mola C, Quevedo L, Pinheiro RT, Gigante DP et al. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2015;3(4):e199-205.. A grande maioria das crianças participantes do presente estudo foi amamentada exclusivamente até os 6 meses de idade.

Revisão sistemática e meta-análise realizada por Huang et al.55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655. identificaram que diversos fatores não genéticos podem estar associados à DI, sendo classificados como pré-natais, perinatais e pós-natais de acordo com a época em que ocorrem. Dentre os fatores pré-natais de maior importância para a incidência de DI estão: idade materna avançada, cor da pele materna preta, baixa escolaridade materna, três ou mais partos, uso de álcool na gestação, tabagismo na gestação, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, epilepsia e asma maternas. Em relação às variáveis perinatais, apenas o nascimento pré-termo foi destacado. Dentre os fatores pós-natais, destaca-se o sexo masculino e o baixo peso ao nascer como variáveis relacionadas à DI55. Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655..

Ainda, levando em consideração que a DI é uma doença multifatorial, alguns autores identificaram que algumas famílias podem ser caracterizadas como famílias de múltiplos riscos3333. Landy S, Menna R. Characteristics of multi-risk families. In: Landy S, Menna R (eds). Early intervention with multi-risk families: an integrative approach. New York: Paul Brookes Publishing; 2006. p. 3-54.. Segundo Landy e Menna3333. Landy S, Menna R. Characteristics of multi-risk families. In: Landy S, Menna R (eds). Early intervention with multi-risk families: an integrative approach. New York: Paul Brookes Publishing; 2006. p. 3-54., apresentar, no mínimo, quatro desses fatores: nível de estresse moderado a severo no pré-natal, pobreza, baixo nível de educação materna, discórdia/divórcio familiar, alcoolismo dos pais e transtornos mentais dos pais, classifica a família como tendo múltiplos riscos para o desenvolvimento de DI. Como nem todos os fatores puderam ser avaliados no presente estudo, não foi possível a comparação dos achados.

É importante destacar que o delineamento do presente estudo é observacional descritivo, ou seja, não há grupo de comparação, sendo estudadas apenas crianças e adolescentes com DI. Dessa forma, pelos resultados encontrados não é possível inferir qualquer relação entre as variáveis estudadas e a prevalência de DI. Os estudos descritivos são muito utilizados para gerar hipóteses, colaborando, desta forma, com o desenvolvimento de estudos epidemiológicos focados nos determinantes da DI em crianças e adolescentes.

Como fortaleza do estudo, é importante ressaltar que se trata de uma pesquisa pioneira no tema, uma vez que não há estudos sobre DI de crianças pertencentes aos 27 municípios da região sul de Santa Catarina.

Conclusões

Na presente pesquisa foi possível identificar o perfil dos indivíduos com DI. A maioria deles nasceu de parto cesária, com 37 semanas ou mais e foi amamentado exclusivamente nos primeiros 6 meses de vida. Quanto às mães, grande parte delas tinha baixa escolaridade e não planejou a gravidez. No entanto, iniciou o pré-natal primeiro trimestre da gestação e realizou número de consultas recomendadas pelo Ministério da Saúde.

Tais resultados são de grande relevância para a organização e o aprimoramento dos serviços de atenção à saúde, uma vez que fornecem evidências para os profissionais de saúde aprimorarem e/ou direcionarem suas ações no atendimento a esses indivíduos.

Além disso, enfatiza-se a necessidade da realização de pesquisas com outros delineamentos epidemiológicos para que possam ser avaliados fatores de risco e/ou de proteção para a DI e, consequentemente, desenvolvidas ações de prevenção direcionadas a esse público-alvo visando à redução da prevalência de DI na população.

Agradecimentos

A todos os participantes que fizeram com que esta pesquisa fosse desenvolvida.

REFERENCES

  • 1
    American Association on Intellectual and Developmental Disabilities. Definition of Intellectual Disability [acesso em 05 set 2018]. Disponível em: http://aaidd.org
    » http://aaidd.org
  • 2
    American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
  • 3
    Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Censo Demográfico 2010 [acesso em 04 set 2018]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm
    » http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm
  • 4
    Gonzales G, Raggio V, Boidi M, Tapié A, Roche L. Avances en la identificación etiológica del retraso mental. Rev Neurol. 2013;57(1):75-83.
  • 5
    Huang J, Zhu T, Qu Y, Mu D. Prenatal, perinatal and neonatal risk factors for intellectual disability: a systemic review and meta-analysis. PLoSONE. 2016;11(4):e0153655.
  • 6
    Karam SM, Barros AJD, Matijasevich A, Dos Santos IS, Anselmi L, Barros F et al. Intellectual disability in a birth cohort: prevalence, etiology, and determinants at the age of 4 years. Public Health Genomics. 2016;19(5):290-7.
  • 7
    Ekblad M, Korkeila J, Lehtonen L. Smoking during pregnancy affects foetal brain development. Acta paediatrica. 2015;104(1):12-8.
  • 8
    Schieve LA, Clayton HB, Durkin MS, Wingate MS, Drews-Botsch C. Comparison of perinatal risk factors associated with Autism Spectrum Disorder (ASD), Intellectual Disability (ID), and Co-occurring ASD and ID. J Autism Dev Disord. 2015; 45(8):2361-72.
  • 9
    Nemerimana M, Chege MN, Odhiambo EA. Risk factors associated with severity of nongenetic intellectual disability (mental retardation) among children aged 2-18 years attending Kenyatta National Hospital. Neurol Res Int. 2018;18:1-11.
  • 10
    Schieve LA, Tian LH, Rankin K, Kogan MD, Yeargin-Allsopp M, Visser S et al. Population impact of preterm birth and low birth weight on developmental disabilities in US children. Ann Epidemiol. 2016; 26(4):267-74.
  • 11
    Vilaseca R, Rivero M, Bersabé RM, Cantero MJ, Navarro-Pardo E, Valls-Vidal C et al. Demographic and parental factors associated with developmental outcomes in children with intellectual disabilities. Front Psychol. 2019;10:872-86.
  • 12
    Werling DM, Geschwind DH. Sex differences in autism spectrum disorders. Curr Opin Neurol. 2013;26(2):146-53.
  • 13
    Wechsler D. Escala Weschsler de inteligência para crianças: WISC-IV. Manual Técnico. 4ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2013.
  • 14
    Alves ICB, Duarte JLM. Padronização brasileira da Escala de Maturidade Mental Colúmbia. In: Burgmeister BB, Blum LH, Lorge I (eds). Escala de Maturidade Mental Colúmbia. 3 ed. Manual para aplicação e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1993. p. 25-35.
  • 15
    Heikura U, Taanila A, Hartikainen AL, Olsen P, Linna SL, Von Wendt L et al. Variations in prenatal sociodemographic factors associated with intellectual disability: a study of the 20-year interval between two birth cohorts in northern Finland. Am J Epidemiol. 2008;167(2):169-77.
  • 16
    Naskar S, Nath K. A clinical study on intellectual disability in northeastern India: insight into the sociodemographic risk factors of a developing country. Int J Med Sci Public Health. 2016;5(9):1789-97.
  • 17
    Engle PL, Black MM. The effect of poverty on child development and educational outcomes. Ann NY Acad Sci. 2008;1136:243-56.
  • 18
    Palumbi R, Peschechera A, Margari M, Craig F, Cristella A, Petruzzelli MG et al. Neurodevelopmental and emotionalbehavioral outcomes in late-preterm infants: an observational descriptive case study. BMC Pediatric. 2018;18:318-23.
  • 19
    Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica nº 32. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília, DF; 2012.
  • 20
    Organização Mundial da Saúde. OMS publica novas orientações sobre pré-natal para reduzir mortes de mães e bebês. [Acesso em 11 jun 2019]. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-publica-novas-orientacoes-sobre-pre-natal-para-reduzir-mortes-de-maes-e-bebes/
    » https://nacoesunidas.org/oms-publica-novas-orientacoes-sobre-pre-natal-para-reduzir-mortes-de-maes-e-bebes/
  • 21
    Stratton K, Howe C, Battaglia F. Fetal alcohol syndrome: diagnosis, epidemiology, prevention and treatment. Washington: National Academy Press; 1996.
  • 22
    Silva D, Colvin L, Hagemann E, Bower C. Environmental risk factors by gender associated with attention-deficit/hyperactivity disorder. Pediatrics. 2014;133(1):e14-22.
  • 23
    Schieve LA, Tian LH, Baio J, Rankin K, Rosenberg D, Wiggins L et al. Population attributable fractions for three perinatal risk factors for autism spectrum disorders, 2002 and 2008 autism and developmental disabilities monitoring network. Ann Epidemiol. 2014;24(4):260-6.
  • 24
    Heuvelman H, Abel K, Wicks S, Gardner R, Johnstone E, Lee B. Gestational age at birth and risk of intellectual disability without a common genetic cause. Eur J Epidemiol. 2018;33(7):667-79.
  • 25
    Franz AP, Bolat GU, Bolat H, Matijasevich A, Santos IS, Silveira RC et al. Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and very preterm/very low birth weight: a meta-analysis. Pediatrics. 2018;141(1):e20171645.
  • 26
    Onicescu G, Lawson AB, Mcdermott S, Aelion CM, Cai B. Bayesian importance parameter modeling of misaligned predictors: soil metal measures related to residential history and intellectual disability in children. Environ Sci Pollut Res Int. 2014;21(18):10775-86.
  • 27
    Walsh JM, Doyle LW, Anderson PJ, Lee KJ, Cheong JL. Moderate and late preterm birth: effect on brain size and maturation at term-equivalent age. Radiology. 2014;273(1):232-40.
  • 28
    Johnson S, Kochhar P, Hennessy E, Marlow N, Wolke D, Hollis C. Antecedents of attention-deficit/hyperactivity disorder symptoms in children born extremely preterm. J Dev Behav Pediatr. 2016;37(4):285-97.
  • 29
    Victora CG, Horta BL, Loret de Mola C, Quevedo L, Pinheiro RT, Gigante DP et al. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2015;3(4):e199-205.
  • 30
    Horta BL, Loret de Mola C, Victora CG. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104(467):14-9.
  • 31
    Doom JR, Gunnar MR, Georgieff MK, Kroupina MG, Frenn K, Fuglestad AJ et al. 2014. Beyond stimulus deprivation: iron deficiency and cognitive deficits in postinstitutionalized children. Child dev. 2014;85(5):1805-12.
  • 32
    Horta BL, Victora CG. Long-term effects of breastfeeding: a systematic review. World Health Organization; Geneva: 2013.
  • 33
    Landy S, Menna R. Characteristics of multi-risk families. In: Landy S, Menna R (eds). Early intervention with multi-risk families: an integrative approach. New York: Paul Brookes Publishing; 2006. p. 3-54.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2019
  • Aceito
    15 Jul 2019
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br