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Propagação vegetativa de porta-enxertos de pereira por estacas semi-lenhosas

Vegetative propagation of pear rootstocks using semi hardwood cuttings

Resumos

Pesquisou-se a viabilidade técnica da propagação vegetativa dos porta-enxertos de pereira 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (Pyrus calleryana Dcne.) e 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.), por estacas semi-lenhosas. O experimento foi conduzido em telado equipado com sistema de nebulização intermitente, pertencente ao Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Jardim Botânico, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, Estado de São Paulo. Adotou-se o fatorial 3 x 4 (porta-enxertos x doses de ácido indolbutírico), com cinco repetições de 20 estacas, em delineamento inteiramente casualizado. Com os resultados obtidos aos 60 dias após a estaquia, conclui-se que: a) é tecnicamente possível a propagação dos porta-enxertos 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' e 'Seleção IAC-1' por estacas semi-lenhosas; b) dentre os porta-enxertos pesquisados, 'Taiwan Nashi-C' apresenta a maior porcentagem de enraizamento, a menor porcentagem de estacas com calo, além do maior comprimento de raízes e número de raízes por estaca; c) é necessário o uso de ácido indolbutírico para o enraizamento de estacas semi-lenhosas desses porta-enxertos, sendo que, no conjunto das variáveis analisadas, as concentrações de 4.000 mg.L-1 e de 6.000 mg.L-1 proporcionam os maiores benefícios ao enraizamento adventício; d) as concentrações de ácido indolbutírico testadas não são fitotóxicas às estacas semi-lenhosas dos genótipos pesquisados.

Estaquia; pêra; propagação clonal; Pyrus calleriana; Pyrus spp


The objective of this work was to evaluate the technical viability of the vegetative propagation of the pear rootstocks'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (Pyrus calleryana Dcne.) and 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.) using semi-hardwood cuttings. The experiment was conducted in a nursery with an intermittent mist system at the Propagation Center Laboratory of the Botanical Garden, Instituto Agronômico de Campinas (IAC), SP, Brazil. The experiment was arranged in a 3 x 4 factorial scheme (rootstocks x indolebutyric acid doses), with five repetitions of 20 cuttings, in a complete randomized design. Results obtained 60 days after grafting showed that: a) the propagation of 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' and 'Seleção IAC-1' using semi-hardwood cuttings is technically viable; b) among the studied rootstocks, 'Taiwan Nashi-C' showed the highest rooting percentage, lowest callus percentage, highest root length and root number per cutting; c) rooting of semi-hardwood cuttings required application of indolebutyric acid, and the doses 4000 mg.L-1 and 6000 mg.L-1 provided the highest adventitious rooting; d) the tested doses of indolebutyric acid were not phytotoxic to semi hardwood cuttings of the studied genotypes.

Clonal propagation; cuttings; pear; Pyrus calleriana; Pyrus spp


PROPAGAÇÃO DE PLANTAS

Propagação vegetativa de porta-enxertos de pereira por estacas semi-lenhosas

Vegetative propagation of pear rootstocks using semi hardwood cuttings

Nelson Pires FeldbergI, * * Autor correspondente. ; Wilson BarbosaII; Newton Alex MayerIII; Fernanda Motta da Costa SantosIV

IEngenheiro-Agrônomo, Mestre. Pesquisador da EPAGRI, Estação Experimental de Videira, Caixa Postal 21, 89560-000, Videira, SC, Brasil. nelsonfeldberg@epagri.sc.gov.br

IIBiólogo, Mestre. Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Centro Experimental Central, Av. Barão de Itapura, 1481, Caixa Postal 28, Guanabara, 13001-970, Campinas, SP, Brasil, wbarbosa@iac.sp.gov.br

IIIEngenheiro-Agrônomo, Doutor. Pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Rodovia BR 392, km 78, Caixa Postal 403, 96001-970, Pelotas, RS, Brasil. alex@cpact.embrapa.br

IVBióloga, Mestre. Bolsista AT, Universidade Federal de Lavras, Campus Universitário, Caixa Postal 3037, 37200-000, Lavras, MG, Brasil. mottinha_fer@yahoo.com.br

RESUMO

Pesquisou-se a viabilidade técnica da propagação vegetativa dos porta-enxertos de pereira 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (Pyrus calleryana Dcne.) e 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.), por estacas semi-lenhosas. O experimento foi conduzido em telado equipado com sistema de nebulização intermitente, pertencente ao Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Jardim Botânico, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, Estado de São Paulo. Adotou-se o fatorial 3 x 4 (porta-enxertos x doses de ácido indolbutírico), com cinco repetições de 20 estacas, em delineamento inteiramente casualizado. Com os resultados obtidos aos 60 dias após a estaquia, conclui-se que: a) é tecnicamente possível a propagação dos porta-enxertos 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' e 'Seleção IAC-1' por estacas semi-lenhosas; b) dentre os porta-enxertos pesquisados, 'Taiwan Nashi-C' apresenta a maior porcentagem de enraizamento, a menor porcentagem de estacas com calo, além do maior comprimento de raízes e número de raízes por estaca; c) é necessário o uso de ácido indolbutírico para o enraizamento de estacas semi-lenhosas desses porta-enxertos, sendo que, no conjunto das variáveis analisadas, as concentrações de 4.000 mg.L-1 e de 6.000 mg.L-1 proporcionam os maiores benefícios ao enraizamento adventício; d) as concentrações de ácido indolbutírico testadas não são fitotóxicas às estacas semi-lenhosas dos genótipos pesquisados.

Palavras-chave: Estaquia, pêra, propagação clonal, Pyrus calleriana, Pyrus spp.

ABSTRACT

The objective of this work was to evaluate the technical viability of the vegetative propagation of the pear rootstocks'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (Pyrus calleryana Dcne.) and 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.) using semi-hardwood cuttings. The experiment was conducted in a nursery with an intermittent mist system at the Propagation Center Laboratory of the Botanical Garden, Instituto Agronômico de Campinas (IAC), SP, Brazil. The experiment was arranged in a 3 x 4 factorial scheme (rootstocks x indolebutyric acid doses), with five repetitions of 20 cuttings, in a complete randomized design. Results obtained 60 days after grafting showed that: a) the propagation of 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' and 'Seleção IAC-1' using semi-hardwood cuttings is technically viable; b) among the studied rootstocks, 'Taiwan Nashi-C' showed the highest rooting percentage, lowest callus percentage, highest root length and root number per cutting; c) rooting of semi-hardwood cuttings required application of indolebutyric acid, and the doses 4000 mg.L-1 and 6000 mg.L-1 provided the highest adventitious rooting; d) the tested doses of indolebutyric acid were not phytotoxic to semi hardwood cuttings of the studied genotypes.

Key words: Clonal propagation, cuttings, pear, Pyrus calleriana, Pyrus spp.,

INTRODUÇÃO

A produção mundial de pêras em 2008 foi de 29.999.195 toneladas, em área colhida de 1.736.819 hectares. O Brasil, com produção de 17391 toneladas, contribuiu com apenas 0,056 % da produção mundial (FAO, 2010). Devido à pequena produção no Brasil, a pêra lidera o ranking de frutas importadas, com a importação de grandes volumes para atender a demanda interna. Em 2008, o Brasil importou 139.777,53 toneladas de pêras, correspondente à US$ 120.624.143,00 (IBRAF, 2010).

Em função do aumento contínuo do volume importado pelo país no período entre 2003 e 2008 (IBRAF, 2010), observa-se a necessidade de se desenvolver tecnologias para viabilizar o cultivo da pereira, solucionando os problemas que limitam a expansão em área cultivada e em rentabilidade aos fruticultores. Dentre as demandas, é constante a necessidade de informações relativas à porta-enxertos, pelos efeitos diretos e indiretos que exercem nas copas, além de métodos para viabilizar sua propagação clonal, por garantir a manutenção da identidade genética, homogeneizando seus efeitos nas cultivares-copa (Antunes et al., 1996; Webster, 1998; Faoro & Yasunobu, 2000; Reis et al., 2000; Chalfun et al., 2002; Wertheim, 2002; Barbosa et al., 2007).

Pyrus calleryana Dcne e P. betulaefolia Bunge são os porta-enxertos mais utilizados para a cultura da pereira no Brasil (Leite, 2000). Estima-se que estejam presentes entre 90 e 95 % da área total cultivada (Rufato et al., 2004). As plantas de P. betulaefolia são bastante vigorosas e têm sido utilizadas como porta-enxertos para cultivares de P. communis L., menos vigorosas e que produzem frutas de coloração vermelha, e para as cultivares asiáticas (Camellato, 2003). A espécie P. calleryana apresenta boa adaptação a climas quentes, a solos arenosos ou argilosos, adequada ancoragem, compatibilidade com as cultivares-copa existentes, a tolerância a solos encharcados e resistência a diversas doenças como o declínio e ao "fire blight". Recentemente, no Brasil, vem sendo avaliada também como porta-enxerto para macieiras e marmeleiros, além das pereiras (Pio et al., 2008).

No Estado de São Paulo, a cultura da pereira vem sendo ampliada com plantios de cultivares japonesas, enxertadas em novos porta-enxertos orientais, como P. calleryana e P. betulaefolia . O porta-enxerto 'Taiwan Nashi-C' (P. calleryana), clone introduzido do Japão há mais de dez anos, tem apresentado boa adaptação ao clima tropical de altitude, como na região de Jundiaí-SP, que apresenta média histórica anual de 80 horas de frio com temperaturas < 7,0 °C. Além da adaptação aos solos úmidos, a tolerância às principais pragas e doenças, o vigor e o rápido crescimento observado nas plantas matrizes, 'Taiwan Nashi-C' demonstrou ser compatível com mais de 50 cultivarescopa e seleções de pereiras européias, orientais e híbridos (Barbosa et al., 1995).

Em viveiros, os porta-enxertos atingem o ponto de enxertia, entre seis e sete meses após a emergência, quando a maioria mede, aproximadamente, 8 mm de diâmetro à cerca de 15 cm acima do nível do solo e 120 cm de altura (Pio et al., 2007). Além disto, o custo da propagação sexuada é baixo e a conservação das sementes armazenadas a 5-10°C é satisfatória, sendo possível obter 94 % de germinação quando elas são armazenadas por 18 meses. Por outro lado, conforme observam Barbosa et al. (1997), aproximadamente 20% dos seedlings de 'Taiwan NashiC' apresentam-se anormais, com segregação indesejada para a formação de mudas vigorosas de pereira, o que sugere que o uso de métodos de propagação vegetativa seria mais eficiente para evitar o problema.

O porta-enxerto 'Seleção IAC-1', material de origem desconhecida, vem sendo caracterizado há cerca de 10 anos no Instituto Agronômico (IAC). Trata-se de um genótipo que apresenta algumas semelhanças entre a pereira 'Taiwan Nashi-C', como a arquitetura e o vigor das plantas, e a 'Manshu Mamenashi', como a coloração das folhas e a borda serrilhada. A massa dos frutos é intermediária à dos dois genótipos citados. Paralelamente às análises moleculares, iniciou-se sua avaliação como portaenxerto de pereiras asiáticas e européias1 1 Barbosa -Comunicação pessoal -03/12/2008 -Instituto Agronômico (IAC), São Paulo, Brasil .

Para estacas lenhosas de P. calleryana, Antunes et al. (1996) constataram maior eficiência da imersão rápida (5 segundos) em ácido indolbutírico (AIB), comparativamente à imersão lenta (24 horas). Em imersão rápida, os autores recomendaram a dose de 2.000 mg.L-1 de AIB, por aumentar o peso da matéria seca de raízes, em relação às doses 0, 1.000 e 3.000 mg.L-1. O ácido indolbutírico também foi benéfico ao enraizamento de estacas lenhosas de pereira 'Limeira' (Pyrus pyrifolia (Burm F.) Nakai x P. communis), sendo os melhores resultados obtidos com a dose de 4.000 mg.L-1, acondicionando-se as estacas em estufa tipo B.O.D. (Biochemical Oxygen Demand) (Barbosa et al., 2007).

Em P. calleryana 'D-6', a porcentagem de enraizamento de estacas lenhosas não foi influenciada pelo estiolamento da planta matriz, nem pela bandagem na base dos ramos e uso de 2.000 mg.L-1 de ácido indolbutírico (Chalfun et al., 2002).

O objetivo do presente trabalho foi estudar a viabilidade técnica da propagação vegetativa dos porta-enxertos de pereira 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (P. calleryana Dcne.) e 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.), por estacas semi-lenhosas.

MATERIAL E MÉTODOS

Plantas matrizes com 12 anos de idade, dos porta-enxertos de pereira 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' (P. calleryana Dcne.) e 'Seleção IAC-1' (Pyrus spp.), foram mantidas em condições de campo, em área experimental pertencente ao Pólo Regional do Sudoeste Paulista (APTA), em Capão Bonito-SP.

Em julho de 2006, realizou-se poda drástica nessas plantas, para a indução da brotação de ramos novos. A coleta dos ramos semi-lenhosos foi realizada em 12 de dezembro de 2006. Tais ramos foram embalados em papel umedecido e acondicionados em sacos plásticos, para evitar a desidratação das folhas. Em seguida foram transportados ao Laboratório de Propagação do Núcleo Jardim Botânico, do Instituto Agronômico (IAC), em CampinasSP, onde o experimento foi conduzido.

O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, no esquema fatorial 3 x 4 (porta-enxertos x concentrações de AIB), com cinco repetições de 20 estacas cada, totalizando 60 parcelas.

As estacas foram preparadas com, aproximadamente, 25 cm de comprimento, contendo de 4 a 6 gemas e 3 a 4 folhas, deixadas na gema superior. Para 'Taiwan Nashi-C' e 'Seleção IAC-1', as estacas apresentavam diâmetro entre 8 e 12 mm e, para 'Taiwan Mamenashi', entre 10 e 15 mm. Os cortes foram feitos em bisel, sendo o da base da estaca logo abaixo de uma gema, local onde também foram feitas duas lesões opostas, com auxílio de um estilete, conforme método descrito por Murata et al. (2002). Procedeu-se o tratamento da base das estacas com solução hidroalcoólica de ácido indolbutírico (AIB) por cinco segundos, nas seguintes concentrações: 0, 2.000, 4.000 e 6.000 mg.L-1. Em seguida, as estacas foram acondicionadas em sacos plásticos (15 cm de altura x 10 cm de diâmetro) com furos de 0,6 cm de diâmetro, contendo vermiculita expandida de grânulos médios, tipo Agrofloc (produzido pela empresa Brasil Minérios), ocultando-se 1/3 da parte basal das estacas no substrato. Os sacos plásticos foram mantidos em ambiente telado (50 % de sombreamento), equipado com sistema de nebulização intermitente, o qual foi programado para acionar por 1 minuto a nebulização, a cada intervalo de 30 minutos.

Transcorridos 60 dias da estaquia, as estacas foram retiradas da vermiculita, avaliando-se as seguintes variáveis: porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de estacas com calo, porcentagem de estacas mortas e porcentagem de estacas verdes (vivas, porém sem calos e sem raízes). Nas estacas enraizadas, foi avaliado o número de raízes por estaca e o comprimento das três maiores raízes.

Os dados expressos em porcentagem foram transformados para arco seno p/100 . Os dados foram submetidos à análise de variância e teste F e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de probabilidade, utilizando-se o programa Sisvar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ocorreu diferença significativa entre os genótipos de pereira na porcentagem de enraizamento (Tabela 1). O cultivar 'Taiwan Nashi-C' apresentou 49,74 % de enraizamento, diferindo de 'Taiwan Mamenashi' (27,70 %) e da 'Seleção IAC-1' (30,59 %). Esses resultados já indicam viabilidade técnica da propagação desses porta-enxertos por estacas semi-lenhosas, pois, na prática, porcentagens de enraizamento ao redor de 50 % tem sido consideradas viáveis comercialmente. Apesar da menor eficiência na obtenção de porta-enxertos, comparativamente ao sistema tradicional por germinação de sementes, o método da estaquia semi-lenhosa apresenta a vantagem da garantia da fidelidade genética da planta matriz e da manutenção do vigor, pré-requisitos da moderna fruticultura. Murata et al. (2002) também observaram diferenças entre porta-enxertos de pereira quanto à capacidade de enraizamento em estacas lenhosas mantidas sob nebulização intermitente, cujo melhor resultado (53,8 % de enraizamento) também foi obtido com 'Taiwan NashiC', utilizando-se estacas sem corte basal e não tratadas com fitorreguladores. Diferenças entre genótipos, quanto a capacidade de enraizamento, também foram observadas em estacas semi-lenhosas de marmeleiro (Rufato et al., 2004) e entre espécies de Pyrus sp. Entretanto, os resultados não são consistentes entre P. betulaefolia e P. calleryana. Simonetto (1990) obteve maiores porcentagens de enraizamento com P. betulaefolia, tanto com estacas lenhosas como com estacas semi-lenhosas, enquanto que Silva et al. (1997) obtiveram melhores resultados com P. calleryana, testando a enxertia e a estaquia lenhosa simultaneamente.

Para a porcentagem de estacas com calo, os três porta-enxertos diferiram entre si (Tabela 1). A menor média foi obtida em 'Taiwan Nashi-C' (11,49 %), em função do maior número de estacas enraizadas, e a maior na 'Seleção IAC-1' (39,87 %). Dentro de cada dose de ácido indolbutírico testada, verifica-se que a 'Seleção IAC-1' apresenta maior tendência em formar calo, enquanto que'Taiwan Nashi-C', a menor (Figura 2), ainda que nem sempre as diferenças sejam significativas. Em diversas espécies frutíferas lenhosas, a formação de calo não necessariamente resulta na posterior formação de raízes. Entretanto, para P. calleryana, a formação de raízes pode ser precedida da formação de calo, conforme destacado por Simonetto (1990). Segundo o autor, com o transplantio de estacas calejadas, é possível obter enraizamento após a retirada da câmara de nebulização, no viveiro. Portanto,com os genótipos estudados no presente trabalho, é possível que a porcentagem de enraizamento possa ser aumentada, hipótese esta que ainda deve ser investigada.


A mortalidade de estacas foi elevada em 'Taiwan Mamenashi' (47,63 %), diferindo estatisticamente dos demais genótipos, sendo que 'Taiwan Nashi-C' (33,21 %) e 'Seleção IAC-1' (26,54 %) não diferiram entre si. As estacas de 'Taiwan Mamenashi' foram as que apresentavam os maiores diâmetros no momento da estaquia, devido ao maior vigor de suas plantas em resposta à poda drástica realizada no mês de julho de 2006. Possivelmente, o diâmetro das estacas pode ter influenciado negativamente o enraizamento, sendo necessários novos estudos para verificar se a formação de raízes aumenta quando as estacas são preparadas à partir de ramos mais finos, coletados com menor número de dias após a poda.

As porcentagens de estacas verdes, ou seja, as que não apresentaram formação de raízes ou calo, mas que permaneceram verdes e com folhas, foi considerada baixa nos três genótipos. 'Taiwan Nashi-C' apresentou maior média (5,58 %) em relação à 'Taiwan Mamenashi' (0,25 %). A 'Seleção IAC-1' comportou-se como intermediária, com 3,0 % de estacas verdes. Essa variável tem sido também avaliada e/ou incluída apenas como porcentagem de estacas não enraizadas, por muitos autores. Entretanto, no presente estudo, com o objetivo de melhor detalhar os efeitos dos fatores e níveis testados, optou-se por classificar as estacas que não formaram raízes em três classes (calo, verdes e mortas). Na prática, entende-se que se durante o período de enraizamento (60 dias) não houver enraizamento ou mesmo formação de calo, dificilmente isso ocorrerá depois. Ou ainda, mesmo que ocorra a formação de raízes, a baixa porcentagem de estacas verdes (5,58 %) obtida não justificaria sua manutenção em câmara de nebulização intermitente por período maior.

'Taiwan Nashi-C' apresentou melhor qualidade de raízes adventícias em relação aos demais genótipos, comprovada estatisticamente com o maior número de raízes por estaca (5,36) e com maior comprimento (6,89 cm). Essas variáveis são importantes em trabalhos de propagação vegetativa, pois, juntamente com a porcentagem de enraizamento, revelam a qualidade do sistema radicular formado e expressam os efeitos dos tratamentos testados. O comprimento das raízes e o número de raízes por estaca também são variáveis que se relacionam com a capacidade de sobrevivência das estacas, após a retirada da câmara de nebulização intermitente, quando ocorre a troca do substrato de enraizamento para o de aclimatação e crescimento. Posteriormente, essas variáveis também influenciarão no crescimento dos porta-enxertos, no engrossamento do caule, na época de realização da enxertia, no crescimento e na ancoragem das plantas no campo. O crescimento e o desenvolvimento de uma planta no campo, cujo porta-enxerto é propagado vegetativamente, depende muito da qualidade dos sistema radicular formado na fase de enraizamento, sobretudo o número de raízes primárias e a sua adequada distribuição ao redor da estaca.

Portanto, no conjunto das variáveis analisadas, verifica-se que os melhores resultados foram obtidos com 'T. Nashi-C' que, além da maior porcentagem de enraizamento, apresentou maior número e comprimento de raízes, o que confere melhor qualidade ao sistema radicular primário. 'Taiwan Mamenashi' e a 'Seleção IAC-1' não diferiram entre si, nas variáveis número e comprimento de raízes.

O uso do ácido indolbutírico foi benéfico às estacas semi-lenhosas dos genótipos estudados (Tabela 1), pois promoveu o aumento da porcentagem de enraizamento, do número de raízes por estaca e do comprimento das raízes. As doses de 2.000, 4.000 e de 6.000 mg.L-1 não exerceram influência significativa na porcentagem de enraizamento, para 'T. Nashi-C' e 'T. Mamenashi'. Já para a 'Seleção IAC-1', as doses de 4.000 e de 6.000 não diferiram entre si, porém influenciaram positivamente no enraizamento, comparativamente às doses 2.000 e 0 mg.L-1 (Figura 1).


Para as variáveis número de raízes por estaca e comprimento médio das raízes, não houve diferença significativa entre as doses 2.000, 4.000 e 6.000 mg.L-1, para nenhum dos três porta-enxertos estudados (Figuras 3 e 4). Apesar da não significância, constata-se que as doses de 4.000 e de 6.000 mg.L-1 tendem a promover melhorias na qualidade do sistema radicular, comparativamente à dose de 2.000 mg.L-1. Em estacas lenhosas de Pyrus calleryana, o enraizamento adventício não é influenciado pelo estiolamento da planta matriz e nem pelo uso de 2.000 mg.L-1 de AIB (Reis et al., 2000). Antunes et al. (1996) também não constataram efeito significativo do uso AIB na porcentagem de enraizamento de estacas semi-lenhosas da mesma espécie. Entretanto, segundo Simonetto (1990), doses de 2.000, 3.000 ou 4.000 mg.L-1 promoveram enraizamento em torno de 30 % em estacas semi-lenhosas de P. calleryana, enquanto que na ausência de AIB, o enraizamento foi de apenas 8,1 %. No enraizamento in vitro, tanto para P. calleryana como para P. betulaefolia, a maior concentração de AIB testada (1,0 mg.L-1) apresentou o melhor resultado (100 % de enraizamento), em brotos com ou sem ranhuras na base, mantidos em meio Murashige & Skoog (MS) (Pasqual & Lopes, 1991; Pasqual et al., 2002).



Dentro de cada dose de ácido indolbutírico testada, diferenças foram observadas entre os porta-enxertos nas variáveis número de raízes por estaca (Figura 3) e comprimento médio das raízes (Figura 4). Para a primeira variável, 'Taiwan Nashi-C' apresentou número de raízes significativamente maior apenas em relação à 'Seleção IAC-1' e nas doses 2.000 e 6.000 mg.L-1. Na variável comprimento de raízes, 'Taiwan Nashi-C' novamente se destacou em relação aos demais porta-enxertos nas quatro doses de ácido indolbutírico testadas, pois suas raízes apresentaram comprimento significativamente maior que os demais. Esses dados revelam melhor qualidade de raízes do portaenxerto 'Taiwan Nashi-C' e maior chance de sobrevivência na fase subseqüente (aclimatação).

Outro benefício do uso do AIB foi a redução da porcentagem de estacas com calo, comparando-se com as estacas não tratadas com o fitorregulador (Tabela 1; Figura 2). As doses do AIB apresentaram efeito inversamente proporcional à formação de calo, ou seja, na ausência de AIB a porcentagem de estacas com calo foi maior (45,15 %) e com o aumento da dose de AIB, a porcentagem de estacas com calo foi gradativamente reduzida (Figura 2), atingindo 11,53 % na dose de 6.000 mg.L-1 (Tabela 1).

As doses de AIB não exerceram efeito significativo nas porcentagens de mortalidade e de estacas verdes (Tabela 1). Portanto, verifica-se que nenhuma das três doses de ácido indolbutírico testadas apresentou efeito fitotóxico, pois não provocaram a mortalidade das estacas e foram equivalentes à testemunha.

São necessários estudos complementares para a avaliação do comportamento produtivo das principais cultivares-copa enxertadas sobre esses porta-enxertos, bem como sua utilização com interenxerto de menor vigor, visando reduzir o porte das plantas e antecipar a entrada em produção.

CONCLUSÕES

É tecnicamente possível a propagação dos porta-enxertos 'Taiwan Nashi-C', 'Taiwan Mamenashi' e 'Seleção IAC-1' por estacas semi-lenhosas, sob câmara de nebulização intermitente.

Dentre os porta-enxertos estudados, 'Taiwan Nashi-C' apresenta a maior porcentagem de enraizamento, a menor porcentagem de estacas com calo, além do maior comprimento de raízes e número de raízes por estaca.

É necessário o uso de ácido indolbutírico para o enraizamento de estacas semi-lenhosas dos porta-enxertos estudados, sendo que, no conjunto das variáveis analisadas, as doses de 4.000 mg.L-1 e de 6.000 mg.L-1 proporcionam os maiores benefícios ao enraizamento adventício.

As doses de ácido indolbutírico testadas não são fitotóxicas às estacas semi-lenhosas dos genótipos estudados.

Recebido para publicação em fevereiro de 2010 e aprovado em novembro de 2010

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  • *
    Autor correspondente.
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    Barbosa -Comunicação pessoal -03/12/2008 -Instituto Agronômico (IAC), São Paulo, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2010

    Histórico

    • Recebido
      Fev 2010
    • Aceito
      Nov 2010
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