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Análise da relação entre características das empresas e os key audit matters divulgados* * Este trabalho foi financiado por Fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no âmbito do projeto de financiamento com a Referência UID/SOC/04521/2019.

RESUMO

O objetivo geral deste estudo é analisar se as particularidades das empresas auditadas influenciam o volume de key audit matters (KAMs). Como objetivos específicos, pretende-se identificar o número de KAMs divulgado pelas empresas brasileiras e analisar os principais fatores associados à sua divulgação. O estudo pretende contribuir para uma área de investigação ainda escassa que analisa os fatores que afetam a divulgação das KAMs e que, por isso, torna os relatórios dos auditores mais individualizados. Este estudo contribui para a compreensão dos principais assuntos de auditoria nas empresas brasileiras considerados relevantes pelos auditores, proporcionando evidência sobre fatores associados à sua divulgação. Este estudo é relevante para os organismos emissores de normas de auditoria e para os usuários da informação financeira. Para os emissores de normas de auditoria, este estudo é relevante porque identifica os fatores associados à divulgação das KAMs, permitindo confirmar que o novo modelo de relatório de auditoria contribuiu para sua despadronização. Finalmente, para os usuários da informação financeira, este estudo demonstra que a divulgação das KAM varia de empresa para empresa, contribuindo para a maior transparência do relatório de auditoria. Coletaram-se informações dos Relatórios de Auditoria e das Demonstrações Financeiras Consolidadas das 447 empresas brasileiras cotadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA) relativas a 31 de dezembro de 2016, aplicando-se a regressão ordinary least squares (OLS) ao modelo definido. Os resultados evidenciam relação positiva entre o número de KAMs divulgadas e o auditor ser uma Big 4 e a complexidade da empresa auditada. Já os honorários e a opinião do auditor ser modificada demonstram relação negativa com o número de KAM. O artigo é relevante para as empresas, auditores e órgãos de regulação e supervisão, uma vez que identifica características das empresas que afetam a divulgação de KAM e que são determinantes para a não padronização do relatório do auditor.

Palavras-chave:
key audit matters; determinantes da opinião auditoria; relatório auditor

ABSTRACT

The general objective of this study is to analyze whether the particularities of audited companies influence the volume of key audit matters (KAMs). Its specific objectives are to identify the number of KAMs disclosed by Brazilian companies and analyze the main factors associated with their disclosure. The paper aims to contribute to an area of investigation still lacking in studies that analyze the factors affecting KAM disclosure, which makes audit reports more individualized. The study contributes to understanding the main auditing issues in Brazilian companies that auditors consider relevant, by providing evidence on factors associated with their disclosure. This research is relevant for agencies that issue auditing standards and for financial information users. For issuers of auditing standards, the study is relevant because it identifies the factors associated with KAM disclosure, enabling it to be confirmed that the new audit report model has contributed to its destandardization. For financial information users, the study demonstrates that KAM disclosure varies from company to company, thus contributing to greater transparency of the audit report. Data were collected from the Audit Reports and Consolidated Financial Statements of the 447 Brazilian companies listed on the São Paulo Securities, Commodities, and Futures Exchange (BM&FBovespa), on December 31st of 2016, and an ordinary least squares (OLS) regression was applied to the defined model. The results show a positive relationship between the number of KAMs disclosed and both the auditor being a Big 4 and the complexity of the audited company. The auditor’s fees and auditor’s opinion being modified show a negative relationship with the number of KAMs. The article is relevant for companies, auditors, and regulatory and supervisory bodies as it identifies company characteristics that influence KAM disclosure and are determinants for the non-standardization of the auditor’s report.

Keywords:
key audit matters; audit opinion determinants; auditor’s report

1. INTRODUÇÃO

A crise financeira internacional e o desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro contribuíram para reforçar a importância de ter auditorias independentes às demonstrações financeiras realizadas com qualidade (Braunbeck, 2010Braunbeck, G. (2010). Determinantes da qualidade das auditorias independentes no Brasil (Doctoral Thesis). Universidade de São Paulo, São Paulo.). Segundo Lin e Hwang (2010Lin, J., & Hwang, M. (2010). Audit quality, corporate governance, and earnings management: A meta‐analysis. International Journal of Auditing, 14(1), 57-77.), os auditores externos são responsáveis por expressar uma opinião sobre as demonstrações financeiras de modo a assegurar, razoavelmente, que elas refletem informação relevante e representam, fidedignamente, a situação financeira e os resultados apresentados pela empresa. Decorrente dessa análise resulta o relatório de auditoria. Contudo, seu formato tem sido criticado, uma vez que é considerado bastante padronizado e pouco informativo para seus usuários (Bédard, Gonthier-Besacier & Schatt, 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
http://www.isarhq.org/2014_downloads/pap...
).

Nesse sentido, o International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) emitiu a International Standard on Auditing (ISA) 701 - Comunicação de Key Audit Matters (KAM), em janeiro de 2015 (IAASB, 2015International Auditing and Assurance Standards Board. (2015). International Standard on Auditing (ISA) 701 (NEW), Communicating Key Audit Matters in the Independent Auditor's Report. IAASB. Retrieved from https://www.ifac.org/publications-resources/international-standard-auditing-isa-701-new-communicating-key-audit-matters-i.
https://www.ifac.org/publications-resour...
). Esse novo capítulo no relatório de auditoria consiste na divulgação de áreas que, segundo o auditor, demonstrem ser críticas ao longo da sua análise e apresentem relevância para compreender o trabalho realizado por si, como também as demonstrações financeiras da empresa. Essa norma tem como objetivo conciliar o relatório de auditoria nos vários países e, ainda, possibilitar uma linguagem mais compreensível aos usuários das demonstrações financeiras (Matos, Santos, Rodrigues & Leite, 2018Matos, T., Santos, O., Rodrigues, A., & Leite, R. (2018). Lobbying na regulação de auditoria no âmbito do IAASB. Revista Contabilidade & Finanças, 29(77), 246-265.).

De acordo com Roxo (2016Roxo, G. (2016). Análise das alterações nas normas de auditoria à luz do novo relatório de auditoria independente (Master’s Dissertation). Universidade Federal Rio Grande do Sul, Porto Alegre.), a entrada em vigor da norma, além de tornar o relatório final de auditoria mais individualizado para a empresa auditada, proporcionará, também, maior informação sobre áreas de risco reportadas por meio de KAMs. A opinião emitida no relatório de auditoria pode ser influenciada por determinadas características, tanto da auditora como da entidade que será auditada. E é por meio da análise dessas características que se torna possível verificar certos determinantes de qualidade das auditorias (Braunbeck, 2010Braunbeck, G. (2010). Determinantes da qualidade das auditorias independentes no Brasil (Doctoral Thesis). Universidade de São Paulo, São Paulo.).

Semelhante a Pinto e Morais (2019Pinto, I., & Morais, A. (2019). What matters in disclosures of key audit matters: Evidence from Europe. Journal of International Financial Management and Accounting, 30(2), 145-162.), este artigo utiliza a teoria de Hogarth (1980Hogarth, R. (1980). Judgement and choice: The psychology of decision. New York, NY: John Wiley & Sons. ) sobre a assimilação de informação no processo de julgamento e de decisão para identificar os fatores que influenciam o número de KAMs que os auditores divulgam. Conforme referido em Pinto e Morais (2019Pinto, I., & Morais, A. (2019). What matters in disclosures of key audit matters: Evidence from Europe. Journal of International Financial Management and Accounting, 30(2), 145-162.), no processo de divulgação de KAMs, os auditores podem usar a evitação ou o confronto. O uso de evitação significa que o auditor não divulgará uma KAM ou atrasará sua divulgação, e a expectativa é que ocorra evitação quando os auditores consideram que há menos responsabilidade associada aos efeitos de não divulgar uma KAM do que a divulgá-la. O uso de confrontação significa que o auditor usa estratégias compensatórias expressas no modelo de utilidade esperado, nas quais o auditor é avesso ao risco. A divulgação de KAMs no relatório de auditoria é influenciada pelas consequências percebidas pelo auditor do trade-off econômico entre a probabilidade de ser exposto a litígios e a perda de reputação, por um lado, e o custo esperado de perder um cliente, por outro. Dessa forma, a expectativa é que as características das empresas auditadas e a relação entre as auditoras e as empresas auditadas sejam importantes impulsionadores do número de KAMs divulgado.

A amostra é composta por dados financeiros de 447 empresas brasileiras cotadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA) no período de 31 de dezembro de 2016. Com relação à metodologia, primeiramente se fez a análise do relatório de auditoria, com o intuito de verificar o número de KAMs reportadas. Em seguida, para analisar a relação entre os principais determinantes e a divulgação de KAMs, estabeleceu-se uma variável dependente correspondente ao número de KAMs. No que diz respeito às variáveis independentes, essas foram definidas com base na literatura anterior sobre os determinantes dos honorários e da opinião dos auditores. As variáveis passam tanto por características da auditora (por exemplo, se a auditora pertence às Big 4, a opinião do auditor no relatório e os honorários cobrados pela auditora), como por características da empresa auditada. Estas denotam o setor que as empresas brasileiras integram, se demonstram risco de continuidade no ano em estudo, o número de segmentos apresentados e, por fim, os indicadores financeiros de rentabilidade e endividamento. Tendo as variáveis definidas, testou-se o modelo por meio da regressão ordinary least squares (OLS).

Na regressão linear, as variáveis de opinião do auditor, da auditora ser Big 4 e da complexidade da empresa auditada corroboram as hipóteses formuladas no estudo. Assim, os relatórios de auditoria de empresas mais complexas, auditadas por uma Big 4 e que apresentam, nesses relatórios, opiniões não modificadas, incluem um maior número de KAMs. Contudo, os resultados evidenciam, também, que, contrariamente à expectativa, quanto maior os honorários do auditor em relação ao total do ativo, menor o número de KAMs.

Este estudo é relevante pois contribui para identificar e verificar de que modo certas características da auditora e da empresa auditada podem influenciar o número de KAMs apresentado no relatório de auditora. Nomeadamente, observa-se interesse em perceber quais os determinantes na divulgação de KAMs para os usuários do relatório final de auditoria. As recentes alterações legislativas em matéria de auditoria, tal como o desenvolvimento do mercado e sistema financeiro do Brasil (Niyama, Costa, Dantas & Borges, 2013Niyama, J., Costa, F., Dantas, J., & Borges, E. (2013). Evolução da regulação da auditoria independente no Brasil: análise crítica, a partir da teoria da regulação. Advances in Scientific and Applied Accounting, 4(2), 127-161.), evidenciam a importância da aplicação desse tema ao país. Tal interesse é demonstrado, também, pelo estudo de Cruz, Nardi, Figueira e Menezes da Silva (2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
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), que identifica a relação entre o conteúdo do novo relatório e o perfil das empresas auditadas e de auditoria. O presente estudo distingue-se do de Cruz et al. (2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
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) por identificar fatores que determinam a divulgação de KAMs diferentes.

Este trabalho encontra-se dividido em cinco capítulos. Após a introdução, são apresentados o enquadramento do estudo ao mercado brasileiro e, em seguida, a revisão de literatura, que se encontra subdividida pelas variáveis que originam as hipóteses a serem estudadas. Com relação ao quarto capítulo, são apresentadas a amostra do estudo, a metodologia aplicada e a discussão de resultados obtidos. Por fim, são apresentadas as conclusões.

2. ENQUADRAMENTO

O relatório de auditoria emitido baseia-se na Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TA) n. 700 [Conselho Federal de Contabilidade (CFC), 2016b] aplicada à auditoria que se apresenta em conformidade com as normas internacionais emitidas pela International Federation of Accountants (IFAC, 2017; Roxo, 2016Roxo, G. (2016). Análise das alterações nas normas de auditoria à luz do novo relatório de auditoria independente (Master’s Dissertation). Universidade Federal Rio Grande do Sul, Porto Alegre.).

Segundo Castro, Vasconcelos e Dantas (2017Castro, R., Vasconcelos, J., & Dantas, J. (2017). Impactos das normas internacionais de auditoria nos relatórios dos auditores sobre as demonstrações financeiras dos bancos brasileiros. Revista Ambiente Contábil, 9(1), 1-20.), a atenção para o processo de convergência das normas brasileiras às normas internacionais de auditoria (ISA) teve início em 2009. A partir dessa data, o país acompanhou a tendência internacional, aderindo às Normas Internacionais de Relatório Financeiro [International Financial Reporting Standards (IASB, 2018International Accounting Standards Board. (2018). International Financial Reporting Standards. Retrieved from https://www.ifrs.org/issued-standards/list-of-standards/.
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)]. Também a partir dessa data, a divulgação dos valores cobrados em honorários pela auditora passou a ser obrigatória, com a Instrução da Comissão de Valores Mobiliários n. 480/2009 (CVM, 2009Comissão de Valores Mobiliários (Brazilian Securities and Exchange Commission). (2009). CVM Instruction n. 480, of December 7th of 2009. Discusses registering issuers of securities accepted for trading in regulated securities markets. Retrieved from http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/subportal_ingles/menu/investors/anexos/CVMInstruction480.pdf .
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). Tanto a crise no mercado financeiro brasileiro quanto as críticas à forma de divulgação do relatório de auditoria (Braunbeck, 2010Braunbeck, G. (2010). Determinantes da qualidade das auditorias independentes no Brasil (Doctoral Thesis). Universidade de São Paulo, São Paulo.) levaram à necessidade de reflexão sobre a qualidade do trabalho das auditorias independentes. Desse modo, em junho de 2016, entrou em vigor um conjunto de normas que constituem o Novo Relatório do Auditor Independente (NRA) (CFC, 2016bConselho Federal de Contabilidade (Federal Accounting Council) . (2016b). Brazilian Accounting Standard n. 700, of June 17th of 2016. Gives new wording to NBC TA 700, which discusses the formation of the opinion and publication of the independent auditor’s report on the financial statements. Retrieved from https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=325605.
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). Entre as normas emitidas, encontra-se a NBC TA 701 - Comunicação dos Principais Assuntos de Auditoria no Relatório do Auditor Independente (CFC, 2016aConselho Federal de Contabilidade (Federal Accounting Council) . (2016a). Brazilian Accounting Standard n. 701, of June 17th of 2016. Communication of Key Audit Matters in the Independent Auditor’s Report . Retrieved from https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=325606.
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?...
). Essa norma é reflexo da ISA 701. A introdução do NRA deveu-se à necessidade de prestação de informação relevante aos usuários das demonstrações financeiras, sendo assim de caráter obrigatório para as empresas cotadas em bolsa a partir de 31 de dezembro de 2016 (Tavares, 2017Tavares, L. C. (2017). Novo relatório dos auditores independentes: um estudo sobre os principais assuntos de auditoria nas companhias listadas na BMF&FBOVESPA (Master’s Dissertation). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.).

3. REVISÃO DA LITERATURA

O relatório de auditoria é elaborado de acordo com a opinião formada pelo auditor por meio da análise das demonstrações financeiras de uma empresa em determinado período. Posteriormente, o auditor realiza uma breve descrição das áreas auditadas e emite opinião quanto às demonstrações financeiras, isto é, uma opinião modificada ou não modificada (Carrington & Johed, 2014Carrington, T., & Johed, G. (2014). How the business press stabilizes and destabilizes notions of audit failure. The case of Intrum Justitia. In Pallas, J., Strannegård, L., & Jonsson, L. (Ed.), Organizations and the media organizing in a mediatized world (pp. 116-131). New York, NY: Routledge.). Esses autores defendem, ainda, que o relatório de auditoria é um documento importante para a sociedade, pois é a partir desse que os usuários tomam decisões de investimento.

Cada vez mais o relatório financeiro apresenta-se sob pressão, não só por parte dos reguladores, mas também pelos investidores e imprensa. As críticas referem-se à forma, conteúdo e valor para os usuários (Church, Davis & McCracken, 2008Church, B., Davis, S., & McCracken, S. (2008). The auditor's reporting model: A literature overview and research synthesis. Accounting Horizons, 22(1), 69-90.; Mock et al., 2013Mock, T., Bédard, J., Coram, P., Davis, S., Espahbodi, R., & Warne, R. (2013). The audit reporting model: Current research synthesis and implications. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 32(1), 323-351.; Smieliauskas, Craig & Amernic, 2008Smieliauskas, W., Craig, R., & Amernic, J. (2008). A proposal to replace ‘true and fair view’ with ‘acceptable risk of material misstatement’. A Journal of Accounting, Finance and Business Studies, 44(3), 225-250.). Dessa forma, os usuários exigem um relatório com mais informação relativa à empresa, como também ao procedimento da auditoria. É também importante salientar que alguns autores consideram que o relatório não é eficaz na comunicação de informações relevantes sobre a auditoria aos usuários (Gray, Turner, Coram & Mock, 2011Gray, G., Turner, J., Coram, P., & Mock, T. (2011). Perceptions and misperceptions regarding the unqualified auditor's report by financial statement preparers, users, and auditors. Accounting Horizons, 25(4), 659-684.; Vanstraelen, Schelleman, Meuwissen & Hofmann, 2012Vanstraelen, A., Schelleman, C., Meuwissen, R., & Hofmann, I. (2012). The audit reporting debate: Seemingly intractable problems and feasible solutions. European Accounting Review, 21(2), 193-215.). A falha na comunicação remete para a expectation gap entre o auditor e os usuários do relatório, definida como a diferença entre os níveis de expetativa no desempenho previsto pelo auditor independente e pelo usuário das demonstrações financeiras. Segundo Sterzeck (2017Sterzeck, G. (2017). Audit expectation gap nos litígios das firmas de auditoria (Master’s Dissertation). Universidade de São Paulo, São Paulo.), a existência dessa diferença cria ineficiências na comunicação, fazendo com que a tomada de decisão seja negativamente influenciada e ocorra a deterioração da confiança na profissão de auditoria.

Segundo o IAASB (2013International Auditing and Assurance Standard Board. (2013). Exposure draft: Reporting on audited financial statements: proposed new and revised International Standards on Auditing (ISAs). New York, NY: International Federation of Accountants.), a forma padronizada do relatório tem sido uma preocupação, já que não responde às necessidades de informação dos usuários. Desse modo, o IAASB (2015International Auditing and Assurance Standards Board. (2015). International Standard on Auditing (ISA) 701 (NEW), Communicating Key Audit Matters in the Independent Auditor's Report. IAASB. Retrieved from https://www.ifac.org/publications-resources/international-standard-auditing-isa-701-new-communicating-key-audit-matters-i.
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) publicou a ISA 701 - Comunicação de Key Audit Matters (KAM). Essa norma introduz uma nova seção no relatório de auditoria que consiste nos assuntos que o auditor considere mais significantes das demonstrações financeiras e nos quais despende maior tempo e atenção. Assim sendo, o auditor será inteiramente responsável por decidir que assuntos foram mais relevantes no período que analisou (Dogan & Arefaine, 2017Dogan, B., & Arefaine, B. (2017). The implementation of ISA 701 - Key audit matters: Empirical evidence on auditors adjustments in the new audit report (Master’s Dissertation). Uppsala University, Uppsala.). O objetivo da introdução de KAMs é transmitir informação do trabalho realizado por parte do auditor, ou seja, melhorar a comunicação do relatório de auditoria com seus usuários.

A comunicação de KAMs torna-se efetiva para as auditorias de demonstrações financeiras de períodos que encerram em ou após 31 de dezembro de 2016. Na nova seção do relatório de auditoria, intitulada Key Audit Matters, o auditor deve descrever cada KAM como também incluir a forma como é analisada na auditoria (IAASB, 2015International Auditing and Assurance Standards Board. (2015). International Standard on Auditing (ISA) 701 (NEW), Communicating Key Audit Matters in the Independent Auditor's Report. IAASB. Retrieved from https://www.ifac.org/publications-resources/international-standard-auditing-isa-701-new-communicating-key-audit-matters-i.
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).

Segundo o IAASB (2015International Auditing and Assurance Standards Board. (2015). International Standard on Auditing (ISA) 701 (NEW), Communicating Key Audit Matters in the Independent Auditor's Report. IAASB. Retrieved from https://www.ifac.org/publications-resources/international-standard-auditing-isa-701-new-communicating-key-audit-matters-i.
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), as KAMs resultarão em relatório de auditoria menos padronizado, transmitindo informação específica sobre a empresa e proporcionando transparência. Por essa razão, o IAASB não fornece exemplos de que KAMs devem ser comunicadas de modo a reduzir o risco de relatórios padronizados (Dogan & Arefaine, 2017Dogan, B., & Arefaine, B. (2017). The implementation of ISA 701 - Key audit matters: Empirical evidence on auditors adjustments in the new audit report (Master’s Dissertation). Uppsala University, Uppsala.). Esses autores salientam, ainda, que as mudanças no relatório permitem o aumento de transparência, uma vez que são divulgadas não só as áreas que necessitam de maior atenção, como também os riscos associados à empresa e à forma como esses são geridos.

As KAMs podem, assim, atrair a atenção dos usuários tornando as demonstrações financeiras mais relevantes (Orquin & Loose, 2013Orquin, J., & Loose, S. (2013). A review on eye movements in decision making. Acta Psychologica, 144(1), 190-206.) ou até mesmo funcionarem como substitutas de outras divulgações (Christensen, Glover & Wolfe, 2014Christensen, B. , Glover, S., & Wolfe, C. (2014). Do critical audit matter paragraphs in the audit report change nonprofessional investors' decision to invest? Auditing: A Journal of Practice & Theory, 33(4), 71-93.).

Um relatório de auditoria mais individualizado pode ter como consequência um esforço adicional do auditor (Carcello & Li, 2013Carcello, J., & Li, C. (2013). Costs and benefits of requiring an engagement partner signature: Recent experience in the United Kingdom. The Accounting Review, 88(5), 1511-1546.; Roxo, 2016Roxo, G. (2016). Análise das alterações nas normas de auditoria à luz do novo relatório de auditoria independente (Master’s Dissertation). Universidade Federal Rio Grande do Sul, Porto Alegre.). Isto é, uma vez que é pedido ao auditor para elaborar declarações sobre áreas complexas (Öhman, 2007Öhman, P. (2007). Perspective on audit: Thoughts, expectations and dilemma (Doctoral Thesis). University Mid Sweden, Sundsvall.), esses podem aumentar os procedimentos e desenvolver processos de controle de qualidade, o que se traduz em custo adicional devido ao aumento de trabalho (Bédard et al., 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
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). Consequentemente, esse esforço adicional pode resultar em aumento dos honorários de auditoria (Carcello & Li, 2013Carcello, J., & Li, C. (2013). Costs and benefits of requiring an engagement partner signature: Recent experience in the United Kingdom. The Accounting Review, 88(5), 1511-1546.), bem como no atraso do relatório (Bédard et al., 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
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). Em outras palavras, como é necessário um maior esforço total na auditoria, a introdução de KAMs pode levar ao aumento de espera do relatório (Knechel, Sharma & Sharma, 2012Knechel, W., Sharma, D., & Sharma, V. (2012). Non‐audit services and knowledge spillovers: Evidence from New Zealand. Journal of Business Finance & Accounting, 39(1), 60-81.). Porém, Knechel et al. (2012Knechel, W., Sharma, D., & Sharma, V. (2012). Non‐audit services and knowledge spillovers: Evidence from New Zealand. Journal of Business Finance & Accounting, 39(1), 60-81.) defendem que se o auditor realizar esse esforço com antecedência, não há razões para haver atrasos no seu relatório.

Certos autores apoiam que a introdução de KAMs não terá as consequências que se esperam, uma vez que a informação fornecida já era conhecida ou esperada (Bédard et al., 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
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), ou quando a informação é nova, não é transmitida de forma a criar diferenças para os usuários (Ball, 2013Ball, R. (2013). Accounting informs investors and earnings management is rife: Two questionable beliefs. Accounting Horizons, 27(4), 847-853.). Por essa razão, resultados anteriores demonstram que o novo relatório de auditoria tem um valor simbólico (Bédard et al., 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
http://www.isarhq.org/2014_downloads/pap...
; Church et al., 2008Church, B., Davis, S., & McCracken, S. (2008). The auditor's reporting model: A literature overview and research synthesis. Accounting Horizons, 22(1), 69-90.; Mock et al., 2013Mock, T., Bédard, J., Coram, P., Davis, S., Espahbodi, R., & Warne, R. (2013). The audit reporting model: Current research synthesis and implications. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 32(1), 323-351.) e não reporta reação significativa por parte dos investidores (Minutti-Meza, Gutierrez, Tatum & Vulcheva, 2015Minutti-Meza, M., Gutierrez, E., Tatum, K., & Vulcheva, M. (2015). Consequences of changing the auditor’s report: Early evidence from the UK. Singapore Management University. Retrieved from https://accountancy.smu.edu.sg/sites/accountancy.smu.edu.sg/files/MiguelMinuttiMeza_paper_1.pdf.
https://accountancy.smu.edu.sg/sites/acc...
).

Ao divulgar mais informação no relatório, o auditor deve ter em conta o dever de confidencialidade que se define pela “confidencialidade das informações adquiridas em relações profissionais e comerciais e não deve divulgar tais informações a terceiros sem a devida e específica autorização, a menos que haja um direito ou dever legal ou profissional de divulgar” (IFAC, 2006International Federation of Accountants. (2006). Code of ethics for professional accountants.). Segundo Dogan e Arefaine (2017Dogan, B., & Arefaine, B. (2017). The implementation of ISA 701 - Key audit matters: Empirical evidence on auditors adjustments in the new audit report (Master’s Dissertation). Uppsala University, Uppsala.), esse fato contribui para aumentar o risco do auditor, uma vez que seus clientes revelam informação sensível e esses têm que ter atenção na divulgação de modo a não prejudicar a empresa auditada. A comunicação pelos auditores de informações que os clientes entendam que ultrapasse o dever de confidencialidade pode levar a efeitos negativos, nomeadamente a perda do cliente. Portanto, os auditores encontram-se impedidos de divulgar informação que não é conhecida devido ao risco de danificar a empresa. Segundo Vanstraelen, Schelleman, Imba e Ra (2011Vanstraelen, A., Schelleman, C., Imba, I., & Ra, R. (2011). A framework for extended audit reporting. Maastricht Accounting, Auditing and Information Management Research Center. Retrieved from https://www.accaglobal.com/content/dam/acca/global/PDF-technical/audit-publications/extended_audit_reporting.pdf.
https://www.accaglobal.com/content/dam/a...
), os auditores estão dispostos a divulgar as informações adicionais exigidas pela KAM, desde que essas não ultrapassem o dever de confidencialidade. A opinião emitida pelo auditor pode ser afetada por uma série de determinantes categorizados como fatores de natureza financeira e não financeira (Caramanis & Spathis, 2006Caramanis, C., & Spathis, C. (2006). Auditee and audit firm characteristics as determinants of audit qualifications: Evidence from the Athens stock exchange. Managerial Auditing Journal, 21(9), 905-920.) e que podem estar relacionados com características da empresa auditada, características da auditora ou da relação entre a empresa auditada e a auditora. Esses determinantes procuram oferecer uma explicação para a opinião emitida pelo auditor (Ireland, 2003Ireland, J. (2003). An empirical investigation of determinants of audit reports in the UK. Journal of Business Finance & Accounting, 30(7‐8), 975-1016.; Ye, Carson & Simnett, 2011Ye, P., Carson, E., & Simnett, R. (2011). Threats to auditor independence: The impact of relationship and economic bonds. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 30(1), 121-148.).

3.1. Auditor

Uma das variáveis apontadas pela literatura como determinante da opinião de auditoria é a dimensão da auditora. Segundo diversos autores, as Big 4 proporcionam uma auditoria de maior qualidade (Francis & Yu, 2009Francis, J., & Yu, M. (2009). Big 4 office size and audit quality. The Accounting Review, 84(5), 1521-1552.; Krishnan, 2003Krishnan, G. (2003). Does Big 6 auditor industry expertise constrain earnings management? Accounting Horizons, 17(1), 1-16.). Isso pode ser justificado pelo investimento nos recursos humanos e financeiros, permitindo que essas auditoras tenham acesso a tecnologia avançada e, dessa forma, possam investir nos processos de auditoria (Simunic & Stein 1987Simunic, D., & Stein, M. (1987). Product differentiation in auditing: Auditor choice in the market for unseasoned new issues. Vancouver: Canadian Certified General Accountants Research Foundation.). No que diz respeito à relação do auditor com o cliente, estudos anteriores verificaram que as Big 4 não comprometem sua independência (Carcello, Hermanson & Huss, 2000Carcello, J., Hermanson, D., & Huss, H. (2000). Going-concern opinions: The effects of partner compensation plans and client size. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 19(1), 67-77.) e que as empresas auditadas pelas Big 4 tendem a reportar informação financeira de modo mais conservador (DeAngelo, 1981DeAngelo, L. (1981). Auditor size and audit quality. Journal of Accounting and Economics, 3(3), 183-199.; Raghunandan & Rama, 1995Raghunandan, K., & Rama, D. (1995). Audit reports for companies in financial distress: Before and after SAS No. 59. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 14(1), 50-63.). Nesse sentido, verifica-se a existência de relação positiva entre as empresas auditadas pelas Big 4 e a emissão de uma opinião não qualificada. Essa relação é justificada pela capacidade de suportar a pressão dos clientes, identificando e relatando não conformidades (Camargo, 2012Camargo, R. (2012). Determinantes dos pareceres dos auditores independentes emitidos às companhias negociadas na BM&FBOVESPA (Master’s Dissertation). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.; Lai, 2013Lai, K. (2013). Audit reporting of Big 4 versus non-Big 4 auditors: The case of ex-Andersen clients. The International Journal of Accounting, 48(4), 495-524.). Adicionalmente, tal como evidenciado na teoria de Dye (1993Dye, R. (1993). Auditing standards, legal liabilities, and auditor wealth. Journal of Political Economy, 101(5), 887-914. ), auditoras que apresentem valores mais elevados de riqueza estão mais expostas a estar em risco, em caso de litígio ou de sanções regulamentares. Assim, a divulgação de KAM pode ser entendida como uma forma de os auditores comunicarem matérias que consideram relevantes sem, contudo, sujeitarem-se às consequências que a divulgação de reservas pode ter. Consequentemente, espera-se que exista maior número de KAMs reportadas pelas Big 4.

H1: existe associação positiva entre o fato de uma empresa ser auditada por uma Big 4 e o número de KAMs.

3.2. Honorários

Estudos anteriores demonstram que os honorários de auditoria podem estar positivamente associados ao risco percebido (Lyon, 2005Lyon, J., & Maher, M. (2005). The importance of business risk in setting audit fees: Evidence from cases of client misconduct. Journal of Accounting Research, 43(1), 133-151.). Yang (2018Yang, L., Brink, A, & Wier, B. (2018). The impact of emotional intelligence on auditor judgement. International Journal of Auditing, 22(1), 83-97.) conclui que honorários de auditoria estão positivamente relacionados com riscos financeiros, estratégicos e operacionais específicos da empresa. Estudos anteriores demonstram, também, que empresas em que existem deficiências relevantes no controle interno têm honorários de auditoria significativamente maiores (Hogan & Wilkins, 2008Hogan, C., & Wilkins, M. (2008). Evidence on the audit risk model: Do auditors increase audit fees in the presence of internal control deficiencies? Contemporary Accounting Research, 25(1), 219-242.; Munsif, Raghunandan, Rama & Singhvi, 2011Munsif, V., Raghunandan, K., Rama, D., & Singhvi, M. (2011). Audit fees after remediation of internal control weaknesses. Accounting Horizons, 25(1), 87-105.). É evidente que a realização de auditoria interna contribui para a diminuição dos honorários (Felix & Gramling, 2001Felix, W., Jr., & Gramling, A. (2001). The contribution of internal audit as a determinant of external audit fees and factors influencing this contribution. Journal of Accounting Research, 39(3), 513-534.). O nível de governança afeta o valor dos honorários dos serviços de auditoria a serem executados, tal como o número de horas estimadas para sua realização (Castro, Peleias & Silva, 2015Castro, W., Peleias, I., & Silva, G. (2015). Determinantes dos honorários de auditoria: um estudo nas empresas listadas na BM&FBovespa. Revista Contabilidade & Finanças, 26(69), 261-273.). Desse modo, o auditor cobra honorários superiores ao cliente quando se verificam maiores riscos de governança (Bortolon, Sarlo & Santos, 2013Bortolon, P., Sarlo, A., & Santos, T. (2013). Custos de auditoria e governança corporativa. Revista Contabilidade & Finanças, 24(61), 27-36.). Estudos anteriores sustentam que maiores níveis de governança despendem mais da auditoria, pois exigem mais esforço por parte do auditor e obrigam melhor acompanhamento do cliente (Hallak & Silva, 2012Hallak, R., & Silva, A. (2012). Determinantes das despesas com serviços de auditoria e consultoria prestados pelo auditor independente no Brasil. Revista Contabilidade & Finanças, 23(60), 223-231.; Yatim, Kent & Clarkson, 2006Yatim, P., Kent, P., & Clarkson, P. (2006). Governance structures, ethnicity, and audit fees of Malaysian listed firms. Managerial Auditing Journal, 21(7), 757-782.). Vários autores distinguem os honorários cobrados pelas Big 4 como honorários premium em relação às outras auditoras no mercado (Hallak & Silva, 2012Hallak, R., & Silva, A. (2012). Determinantes das despesas com serviços de auditoria e consultoria prestados pelo auditor independente no Brasil. Revista Contabilidade & Finanças, 23(60), 223-231.; Palmrose, 1986Palmrose, Z. (1986). The effect of non-audit services on the pricing of audit services: Further evidence. Journal of Accounting Research, 24(2), 405-411.), evidenciando a qualidade dos procedimentos praticados e também o fato de o mercado reagir favoravelmente quando o cliente é auditado por uma auditora desse grupo (Lennox, 1999Lennox, C. S. (1999). Audit quality and auditor size: An evaluation of reputation and deep pockets hypotheses. Journal of Business Finance & Accounting, 26(7‐8), 779-805.). Nesse contexto, a associação entre a divulgação de uma KAM e os honorários de auditoria pode ser positiva.

H2: existe associação positiva entre o valor dos honorários cobrados pelas auditoras e o número de KAMs.

3.3. Opinião do Auditor

Segundo as normas do CFC, o auditor deve formar sua opinião sobre se as demonstrações financeiras são elaboradas, em todos os aspetos relevantes, de acordo com a estrutura de relatório financeiro aplicável. Para formar essa opinião, o auditor deve concluir se obteve segurança razoável sobre se as demonstrações financeiras tomadas em conjunto não apresentam distorções relevantes, independentemente se causadas por fraude ou erro. Caso o auditor conclua, com base na evidência de auditoria obtida, que as demonstrações financeiras apresentam distorções relevantes, ou caso não consiga obter evidência de auditoria suficiente e apropriada, ele deverá emitir uma opinião modificada. Estudos anteriores demonstram que perante as consequências que a emissão de uma opinião qualificada pode ter para os clientes, os auditores ficam com pouca margem para negociar com esses a conformidade das demonstrações financeiras com as normas contabilísticas (Cipriano, Hamilton & Vandervelde, 2017Cipriano, M., Hamilton, E., & Vandervelde, S. (2017). Has the lack of use of the qualified audit opinion turned it into the “Rotten Kid” threat? Critical Perspectives on Accounting, 47(1), 26-38. ). Apesar de as reservas não poderem ser substituídas por KAMs (e vice-versa), as consequências de uma opinião qualificada podem levar os auditores a aproveitar as matérias relevantes de auditoria para descrever situações de maior risco para as empresas. Assim sendo, pode ser provável que o auditor, ao emitir uma opinião de não qualificação das demonstrações financeiras, apresente um maior número de KAMs reportadas.

H3: existe associação negativa entre a opinião do auditor e o número de KAMs.

3.4. Complexidade

É necessária uma variável que integre a complexidade da empresa de modo a compreender como essa se comporta com a introdução da norma em estudo. Essa variável explicativa é o número de segmentos reportados pela empresa no seu relatório financeiro, uma vez que estudos anteriores abordam as vantagens dessa forma de relato. Nomeadamente, a possibilidade de uma melhor percepção quanto aos riscos e oportunidades resulta na capacidade de influenciar os investidores na tomada de decisão (Berger & Hann, 2003Berger, P., & Hann, R. (2003). The impact of SFAS No. 131 on information and monitoring. Journal of Accounting Research, 41(2), 163-223.). Consequentemente, o aumento da complexidade do cliente leva ao reforço da atenção do auditor em que, quanto maior o número de segmentos da empresa, maior o número de KAMs esperadas.

H4: existe associação positiva entre a complexidade da empresa auditada e o número de KAMs.

3.5. Risco de Continuidade

A incerteza relativa à capacidade de continuidade da empresa é considerada um determinante para a opinião formada pelo auditor. A avaliação da capacidade é feita por meio julgamento sobre a incerteza dos resultados futuros da empresa (Marques & Souza, 2017Marques, V., & Souza, M. (2017). Principais assuntos de auditoria e opinião sobre o risco de descontinuidade: uma análise das empresas do IBOVESPA. Revista de Informação Contábil, 11(4), 1-22.). O auditor, ao emitir uma opinião com risco de continuidade operacional, deve avaliar as consequências para seu cliente. Isto é, o auditor deve ponderar entre emitir uma opinião com risco de continuidade que não se verifique posteriormente (erro tipo I) ou não emitir essa opinião e o cliente falhar (erro tipo II) (Matsumura, Subramanyam & Tucker, 1997Matsumura, E., Subramanyam, K., & Tucker, R. (1997). Strategic auditor behavior and going‐concern decisions. Journal of Business Finance & Accounting, 24(6), 727-758.; Tucker, Matsumura & Subramanyam, 2003Tucker, R., Matsumura, E., & Subramanyam, K.R. (2003). Going-concern judgments: An experimental test of the self-fulfilling prophecy and forecast accuracy. Journal of Accounting and Public Policy, 22(5), 401-432.). Estudos anteriores revelam que os auditores estão mais dispostos a divulgar uma opinião com risco de continuidade quando a empresa em questão é menos lucrativa (Lee, Jiang & Anandarajan, 2005Lee, P., Jiang, W., & Anandarajan, A. (2005). Going concern report modeling: A study of factors influencing the auditor's decision. Journal of Forensic Accounting, 6(1), 55-76.; Menon & Schwartz, 1987Menon, K., & Schwartz, K. (1987). An empirical investigation of audit qualification decisions in the presence of going concern uncertainties. Contemporary Accounting Research, 3(2), 302-315.), revela níveis elevados de alavancagem (Raghunandan & Rama, 1995Raghunandan, K., & Rama, D. (1995). Audit reports for companies in financial distress: Before and after SAS No. 59. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 14(1), 50-63.), apresenta liquidez reduzida (Menon & Schwartz, 1987Menon, K., & Schwartz, K. (1987). An empirical investigation of audit qualification decisions in the presence of going concern uncertainties. Contemporary Accounting Research, 3(2), 302-315.; Raghunandan & Rama, 1995Raghunandan, K., & Rama, D. (1995). Audit reports for companies in financial distress: Before and after SAS No. 59. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 14(1), 50-63.) e é de pequena dimensão (Mutchler, Hopwood & McKeown, 1997Mutchler, J., Hopwood, W., & McKeown, J. (1997). The influence of contrary information and mitigating factors on audit opinion decisions on bankrupt companies. Journal of Accounting Research, 35(2), 295-310.). O registo de perdas em anos consecutivos é também indicador para o auditor avaliar a capacidade de continuidade (Gallizo & Saladrigues, 2016Gallizo, J., & Saladrigues, R. (2016). An analysis of determinants of going concern audit opinion: Evidence from Spain stock exchange. Intangible Capital, 12(1), 1-16.), sendo que a incerteza em relação às estimativas do risco de falência da empresa aumenta a possibilidade de obter uma opinião com risco de continuidade operacional (Lennox & Kausar, 2017Lennox, C. S., & Kausar, A. (2017). Estimation risk and auditor conservatism. Review of Accounting Studies, 22(1), 185-216.). Para proteger sua reputação e reduzir o risco de litigância, é provável que os auditores divulguem mais KAMs em empresas com maior risco de continuidade. Essas empresas tenderão a ver a sua informação financeira analisada pelos auditores de forma mais minuciosa. O aumento no esforço do auditor para reduzir sua responsabilidade tende a melhorar os procedimentos de auditoria e, portanto, a identificação de KAMs. Estudos anteriores demonstram, também, que os clientes das Big 4 têm menor tendência de receber uma opinião com risco de continuidade (Reichelt & Wang, 2010Reichelt, K., & Wang, D. (2010). National and office‐specific measures of auditor industry expertise and effects on audit quality. Journal of Accounting Research, 48(3), 647-686.) devido a esses clientes estarem em melhores condições financeiras e apresentarem menor nível de manipulação (Becker, DeFond, Jiambalvo & Subramanyam, 1998Becker, C., DeFond, M., Jiambalvo, J., & Subramanyam, K. (1998). The effect of audit quality on earnings management. Contemporary Accounting Research, 15(1), 1-24.; Francis, Michas & Yu, 2013Francis, J., Michas, P., & Yu, M. (2013). Office size of Big 4 auditors and client restatements. Contemporary Accounting Research, 30(4), 1626-1661. ).

Assim sendo, espera-se que a divulgação de uma opinião com risco de continuidade possa estar associada ao maior número de KAMs no relatório de auditoria da empresa.

H5: existe associação positiva entre a existência de opinião ou ênfase de continuidade e o número de KAMs.

3.6. Rentabilidade Financeira

Zanchun, Chun e Jianming (2010Zanchun, X., Chun, C., & Jianming, Y. (2010). Abnormal audit fees and audit opinion. Further evidence from China’s capital market. China Journal of Accounting Research, 3(1), 51-70) e Habib (2013Habib, A. (2013). A meta-analysis of the determinants of modified audit opinion decisions. Managerial Auditing Journal, 28(3), 184-216.) evidenciam que as empresas com maior nível de rentabilidade encontram-se associadas a uma melhor opinião de auditoria, pois não necessitam manipular as informações com a finalidade de agradar o mercado. Além disso, a rentabilidade é, em geral, associada à viabilidade futura. Portanto, as empresas mais rentáveis tendem a ter menos probabilidade de descumprimento e a receber um parecer de auditoria não modificado (Beasley, Carcello & Hermanson, 1999Beasley, M., Carcello, J., & Hermanson, D. (1999). Fraudulent financial reporting: 1987-1997. An analysis of U.S. public companies. New York, NY: COSO.; Laitenen & Laitenen, 1998Laitinen, E. & Laitinen, T. (1998). Qualified audit reports in Finland: Evidence from large companies. European Accounting Review, 7(4), 639-653.; Loebbecke, Eining, M. e Willingham, 1989Loebbecke, J., Eining, M., & Willingham, J. (1989). Auditor’s experience with material irregularities: Frequency, nature, and detectability. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 9(1), 1-28.), o que diminui o conflito entre o auditor e a empresa. Bellovary, Giacomino e Akers (2007Bellovary, J., Giacomino, D., & Akers, M. (2007). A review of bankruptcy prediction studies: 1930 to present. Journal of Financial Education, 33, 1-42.) evidenciam, também, que a rentabilidade é um fator que explica a inclusão de uma opinião com risco de continuidade, isto é, quanto maior o nível de rentabilidade, menor a probabilidade de a empresa receber uma opinião com esse risco. Assim, é provável que auditores de empresas menos rentáveis, com maior risco operacional, sintam-se mais pressionados a divulgar KAMs de modo a assegurar sua independência. Prevemos uma associação negativa entre a rentabilidade das empresas e o número de KAMs divulgadas.

H6: existe associação negativa entre rentabilidade da empresa auditada e o número de KAMs.

3.7. Endividamento Financeiro

Dopuch, Holthausen e Leftwich (1987Dopuch, N., Holthausen, R., & Leftwich, R. (1987). Predicting audit qualifications with financial and market variables. Accounting Review, LXII(3),431-454.) verificaram que características das empresas auditadas eram fundamentais para prever a emissão da opinião de auditoria, sendo a divulgação de prejuízos significante na determinação dessa opinião. Estudos anteriores demonstram que empresas com prejuízos apresentam indícios de maior risco (Ireland, 2003Ireland, J. (2003). An empirical investigation of determinants of audit reports in the UK. Journal of Business Finance & Accounting, 30(7‐8), 975-1016.; Ye et al., 2011Ye, P., Carson, E., & Simnett, R. (2011). Threats to auditor independence: The impact of relationship and economic bonds. Auditing: A Journal of Practice & Theory, 30(1), 121-148.) e, portanto, os auditores tendem a rever mais detalhadamente essa empresa, o que resulta em aumento de esforço por parte do auditor. Esse aumento do esforço do auditor para reduzir sua responsabilidade tende a melhorar os procedimentos de auditoria e, portanto, a identificação das KAMs.

Além disso, Chan e Walter (1996Chan, Y., & Walter, T. (1996). Qualified audit reports and costly contracting. Asia Pacific Journal of Management, 13(1), 37-63.) evidenciam que empresas com valor elevado de endividamento apresentam maior risco financeiro. Nesse sentido, os auditores deverão ter atenção redobrada. Assim, espera-se que empresas com maior endividamento revelem maior número de KAMs.

H7: existe associação positiva entre o nível de endividamento da empresa auditada e o número de KAMs.

4. ESTUDO EMPÍRICO

Este trabalho tem como finalidade identificar o número de KAMs divulgadas pelas empresas brasileiras e os principais fatores associados a essa divulgação.

4.1. Amostra

A amostra deste trabalho é composta pelas empresas brasileiras cotadas na BM&FBOVESPA. Coletaram-se os dados financeiros de 448 empresas, sendo excluídas aquelas que não apresentavam os dados necessários para aferir as hipóteses formuladas anteriormente, levando à amostra final constituída de 447 empresas. Na Tabela 1 é apresentada a classificação das empresas por setor, seguindo a divisão atualmente utilizada pelo BM&FBOVESPA. Com relação aos dados, coletaram-se por meio da análise da informação dos Relatórios de Auditoria disponibilizados pelas empresas, tal como das Demonstrações Financeiras Consolidadas e respectivas Notas. A amostra do estudo corresponde a 2016, ano em que foi introduzida a comunicação de KAMs nos relatórios de auditoria.

Tabela 1
Descrição da amostra final

Os setores de atividades mais representados na amostra são o financeiro, com 27% das entidades, o de consumo, com 23%, o de bens industriais, com 16%, e o de utilidade pública, com 15%.

4.2. Metodologia

Para atingir o primeiro objetivo do trabalho, procedeu-se à análise do relatório do auditor, de modo a identificar o número de KAMs divulgadas. Para concretização do segundo objetivo (verificar os principais determinantes da divulgação de KAMs), definiu-se como variável dependente o número de KAMs. Com relação às variáveis independentes que explicam o modelo, definiram-se oito variáveis com base na revisão de literatura, que têm em conta não só as características da auditora, mas também da empresa auditada. Utilizou-se um modelo de regressão múltipla com objetivo de responder às hipóteses de investigação. É utilizado o método OLS definido da seguinte forma:

K A M = β 0 + β 1 A u d i t + β 2 H o n o r + β 3 M o d i f + β 4 S e g m + β 5 R C + β 6 R O A + β 7 E n d i v + β 8 S e t _ F i n a n + β 9 S e t _ C C + β 10 S e t _ C n c + β 11 S e t _ U P + β 132 S e t _ S a ú d e + β 13 S e t _ T e l e + β 14 S e t _ B I + β 15 S e t _ M B + β 16 S e t _ P e t r + β 17 S e t _ T I + + ε (1)

em que KAM é o número de KAMs presentes no relatório de auditoria final, Audit é o tipo de auditora que realizou esse relatório (assume o valor 1 quando a auditora é uma Big 4 e 0 caso contrário), Honor são os honorários cobrados pelas auditoras (em reais) divididos pelo total do ativo, Modif é a opinião do relatório a ser modificada (assume valor 1 quando o relatório é modificado e 0 caso contrário), Segm é o número de segmentos em que a linha de negócio da empresa auditada está dividida, RC é o risco de continuidade da empresa auditada (assume o valor 1 quando existe risco de continuidade no relatório de auditoria e 0 caso contrário), ROA é a rentabilidade financeira da empresa auditada, calculado por meio da fração do resultado líquido pelo ativo total em reais, Endiv é o grau de endividamento da empresa auditada, calculado pelo quociente entre o total do passivo e o total do ativo, em reais, Set_Finan é o setor financeiro, Set_CC é o setor de consumo cíclico, Set_Cnc é o setor de consumo não cíclico, Set_UP é o setor de utilidade pública, Set_Saúde é o setor de saúde, Set_Tele é o setor de telecomunicações, Set_BI é o setor de bens industriais, Set_MB é o setor de materiais básicos, Set_Petr é o setor de petróleo, gás e biocombustíveis e Set_TI é o setor de tecnologia de informação.

4.3. Análise de Resultados

Na Tabela 2 estão apresentadas as estatísticas descritivas para a variável dependente e as variáveis independentes.

Tabela 2
Estatística descritiva das variáveis dependente e independentes

A variável dependente evidencia um total de 1,084 KAMs reportadas referentes às empresas da amostra estudada. O valor médio nos relatórios de auditoria referentes ao período 2016 é de 2,436 KAMs por empresa, com desvio padrão de 1,508. Com relação ao valor médio de KAM por empresa noutros países, o Reino Unido demonstra uma média de 4,1 KAMs e a França e o Chipre de 2 KAMs nos relatórios de auditoria [Association of Chartered Certified Accountants (ACCA), 2018Association of Chartered Certified Accountants. (2018). Key audit matters: Unlocking the secrets of the audit. ACCA. Retrieved from https://www.accaglobal.com/vn/en/professional-insights/global-profession/key-audit-matters.html.
https://www.accaglobal.com/vn/en/profess...
; Bédard et al., 2014Bédard, J., Gonthier-Besacier, N., & Schatt, A. (2014). Costs and benefits of reporting key audit matters in the audit report: The French experience. International Symposium on Audit Research. Retrieved from http://www.isarhq.org/2014_downloads/papers/ISAR2014_Bedard_Besacier_Schatt.pdf.
http://www.isarhq.org/2014_downloads/pap...
]. A mediana aponta para uma KAM no relatório final e o número máximo de KAMs presentes nos relatórios é de oito. Em comparação com estudos anteriores (Vik & Walter, 2017Vik, C., & Walter, M. (2017). The reporting practices of key audit matters in the Big five audit firms in Norway (Master’s Dissertation). BI Norwegian Business School, Oslo.), a Noruega apresenta o valor máximo de cinco KAMs e a Holanda de seis KAMs nos relatórios.

Com relação às variáveis independentes, a média do tipo de auditora demonstra que 71,36% das empresas cotadas em bolsa no Brasil são auditadas por Big 4. É também possível apurar que, em média, as Big 4 reportam 2,61 KAMs nos seus relatórios, enquanto as auditoras não Big 4 apresentam 1,95 KAMs. Já a variável opinião modificada demonstra que, em média, 5,38% das empresas cotadas em bolsa têm uma opinião modificada. A percentagem de KAMs reportadas para as empresas com emissão de uma opinião não modificada é de 2,95%. No que diz respeito ao risco de continuidade, o valor médio de empresas que apresentam esse risco é 18,16%.

O tipo de setor mais representativo na amostra deste trabalho é o financeiro, indicando a média de 26,62%. Isso significa que aproximadamente um quarto das empresas cotadas do Brasil faz parte do setor financeiro. Os setores de telecomunicações e de tecnologia de informação são os que têm menor presença: respectivamente 1,34 e 1,56%, em média.

O valor médio dos honorários cobrados pelas auditoras em relação ao total do ativo é de 0,096, com desvio padrão 0,0526.

Sobre a complexidade das empresas da amostra em estudo, o número médio de segmentos é 1,639, tendo como desvio padrão 1,703. A mediana demonstra um segmento de negócio nas empresas auditadas. O valor mínimo de segmentos é 0, sendo que o valor máximo são 8 segmentos.

Com relação aos indicadores de desempenho financeiro, a rentabilidade financeira apresenta valor médio de -0,482, com desvio padrão de 4,064. O valor mínimo de rentabilidade é -70,248 e máximo é 4,528 e a mediana do valor de rentabilidade das empresas cotadas é 0,013. O valor médio dessa variável indica que a rentabilidade do ativo não é positiva, ou seja, as empresas estudadas não têm capacidade de gerar resultados com base nos seus ativos. Com relação ao indicador de endividamento, o valor médio da amostra é 7,739, com desvio padrão de 133,152. Ou seja, as empresas auditadas evidenciam a incapacidade de financiar seu ativo por recurso ao passivo. A mediana dessa variável é 0,641, tomando como valor mínimo 0 e máximo de 2.802,406. Nesse caso, o valor máximo aparenta ser um outlier do estudo.

Por meio da regressão linear múltipla, é possível verificar a relação da variável dependente do estudo com as restantes variáveis independentes, representada na Tabela 3. O modelo realizado tem capacidade de explicar a relação entre as variáveis e tem um coeficiente de determinação que indica que as variáveis independentes do modelo explicam 18,3% da variância da variável KAM.

Adicionalmente, efetuou-se o teste VIF (variance inflation factors) de forma a afastar a possibilidade de existência de multicolineariedade entre as variáveis independentes. Verificou-se que é improvável tal existência, uma vez que todos os valores são inferiores a 10 (resultados não tabelados), assim como todas as variáveis foram incluídas na regressão. Analisou-se, também, a heterocedasticidade, por meio do teste Breusch-Pagan-Gofrey, tendo-se concluído que não há heterocedasticidade.

Tabela 3
Resultados obtidos por meio da regressão linear

Para analisar a significância estatística individual das variáveis independentes do modelo, procedeu-se ao teste t. Assim, verifica-se que as variáveis do tipo de auditora, a opinião do auditor, os honorários e a complexidade da empresa têm p-valor inferior ao nível de significância. Logo, é possível rejeitar a hipótese nula e demonstrar a existência estatística que o coeficiente dessas variáveis é significativo para esse nível de significância. As variáveis risco de continuidade, endividamento e rentabilidade apresentam p-valor superior, e assim não vão rejeitar a hipótese nula. Isso significa, também, que se encontra evidência estatística que seus coeficientes não são significativos para um nível de significância de 10% e, consequentemente, aos restantes níveis.

As empresas mais complexas tendem a ter mais KAMs nos seus relatórios de auditoria. Existe, assim, associação positiva entre a complexidade da empresa e o número de KAMs, verificando-se a H4. Comprova-se, assim, que a divulgação de KAMs depende da complexidade da empresa auditada (Cordos & Fülop, 2015Cordos, G., & Fülöp, M. (2015). Understanding audit reporting changes: introduction of Key Audit Matters. Accounting & Management Information Systems, 14(1), 128-152.; Cruz et al., 2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
https://congressousp.fipecafi.org/anais/...
). Os resultados evidenciam que empresas auditadas pela Big 4 tendem a apresentar mais KAMs no relatório de auditoria. O coeficiente da variável auditor é positivo e estatisticamente significativo, corroborando-se, dessa forma, a H1, à semelhança do resultado apurado no estudo de Cruz et al. (2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
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). Por meio do coeficiente da opinião do auditor, negativo e estatisticamente significativo, é possível constatar que empresas com relatórios de auditoria nos quais a opinião do auditor é modificada apresentam menos KAMs, verificando-se a H3. No estudo de Cruz et al. (2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
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), a variável opinião de auditor não é estatisticamente significativa.

Contrariamente ao esperado, verifica-se que empresas cujo peso dos honorários sobre o total do ativo é maior apresentam menos KAMs. Rejeita-se, dessa forma, a H2. Tal como explicado por Pinto e Morais (2019Pinto, I., & Morais, A. (2019). What matters in disclosures of key audit matters: Evidence from Europe. Journal of International Financial Management and Accounting, 30(2), 145-162.), esse resultado pode ser justificado pelo fato de a decisão do auditor em divulgar uma KAM poder ser uma escolha entre manter sua reputação e manter um certo nível de rendimento. DeAngelo (1981DeAngelo, L. (1981). Auditor size and audit quality. Journal of Accounting and Economics, 3(3), 183-199.) aponta que os auditores são mais propensos a questionar sua independência em relação a clientes mais importantes. McKeown, Mutchler e Hopwood (1991McKeown, J., Mutchler, J., & Hopwood, W. (1991). Towards an explanation of auditor failure to modify the audit opinion of bankrupt companies [Supplement]. Auditing: A Journal of Practice and Theory, 1-13. ) concluem que os clientes maiores aproveitam seu poder de argumentação e, consequentemente, são menos propensos a receber opinião qualificada. Reynolds e Francis (2000Reynolds, J., & Francis, J. (2000). Does size matter? The influence of large clients on office-level auditor reporting decisions. Journal of Accounting and Economics, 30(3), 375-400.) investigam a influência de clientes de maior dimensão nas decisões de relatórios dos auditores e concluem que os fatores econômicos podem incentivar os auditores a concordar com as decisões dos clientes em termos de relatórios financeiros apenas para mantê-los como clientes.

Por último, e uma vez que as entidades do setor financeiro apresentam especificidades, regulação e supervisão diferentes de outros setores, verificou-se novamente o modelo de regressão, excluindo as entidades do setor financeiro. Os resultados (não tabelados) evidenciam que o coeficiente da variável complexidade continua positivo e estatisticamente significativo, indicando que as empresas mais complexas tendem a ter mais KAMs divulgadas no relatório de auditoria. A variável opinião do auditor continua a apresentar um coeficiente negativo e estatisticamente significativo, indicando que empresas com opiniões modificadas no relatório de auditoria tendem a ter menos KAMs nesse relatório. Os resultados são, no entanto, diferentes, face aos apresentados na Tabela 3, em dois aspetos: o primeiro, a variável auditor deixa de ser estatisticamente significativa; e a variável honorários sobre o total do ativo apresenta um coeficiente negativo, mas não estatisticamente significativo.

5. CONCLUSÕES

Este estudo tem como propósito identificar o número de KAMs reportadas para as empresas brasileiras cotadas e verificar quais os determinantes dessa divulgação. Nesse sentido, examinaram-se os relatórios de auditoria e demonstrações financeiras apresentados pelas empresas brasileiras cotadas em bolsa, de modo a coletar os dados necessários para, depois, realizar as estatísticas descritivas e aplicar métodos de regressão. Os resultados obtidos revelam que quando uma auditora Big 4 efetua o relatório final de auditoria, espera-se maior número de KAMs reportadas. Também, o aumento dos honorários cobrados por parte da auditora resultará em menor número de KAMs. Contudo, quando a opinião do auditor é modificada, no relatório de auditoria são divulgadas menos KAMs. Com relação aos determinantes das características da empresa auditada, espera-se um maior número de KAMs quando a empresa é mais complexa.

Este estudo contribui para o aumento de literatura sobre a entrada em vigor da ISA 701 no presente relatório de auditoria, investigando a relação com características determinantes para a divulgação da opinião do auditor. Importante ressaltar o fato de a amostra ter como foco um período recente, ser mais abrangente que estudos anteriores (Tavares, 2017Tavares, L. C. (2017). Novo relatório dos auditores independentes: um estudo sobre os principais assuntos de auditoria nas companhias listadas na BMF&FBOVESPA (Master’s Dissertation). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.) e contemplar determinantes da divulgação de KAMs distintos de estudos anteriores (Cruz et al., 2018Cruz, A., Nardi, P., Figueira, L., & Menezes da Silva, R. (2018). A relação entre o novo relatório do auditor independente e o perfil das empresas. XVCongresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. Retrieved from https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2018/ArtigosDownload/781.pdf.
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).

A principal limitação deste trabalho refere-se à amostra definida, pois tem em conta apenas as empresas brasileiras cotadas e, assim, cria a impossibilidade de comparar a comunicação de KAMs com os determinantes de opinião em situações financeiras e econômicas distintas. Além disso, este estudo incide apenas no ano de 2016.

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    Este trabalho foi financiado por Fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no âmbito do projeto de financiamento com a Referência UID/SOC/04521/2019.

Editado por

Editor Associado: Eliseu Martins

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Out 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    06 Nov 2018
  • Revisado
    05 Dez 2018
  • Aceito
    26 Jun 2019
Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Departamento de Contabilidade e Atuária Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - prédio 3 - sala 118, 05508 - 010 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: (55 11) 2648-6320, Tel.: (55 11) 2648-6321, Fax: (55 11) 3813-0120 - São Paulo - SP - Brazil
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