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INOVATIVIDADE: VALIDAÇÃO DE UMA ESCALA MULTIDIMENSIONAL PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS A PARTIR DOS PRINCÍPIOS DA GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL1

INNOVATIVENESS: VALIDATION OF A MULTIDIMENSIONAL SCALE FOR MICRO AND SMALL ENTERPRISES BASED ON THE PRINCIPLES OF TOTAL QUALITY MANAGEMENT

INNOVATIVIDAD: VALIDACIÓN DE UNA ESCALA MULTIDIMENSIONAL PARA MICROEMPRESAS Y PEQUEÑAS EMPRESAS BASADA EN LOS PRINCIPIOS DE LA GESTIÓN DE LA CALIDAD TOTAL

RESUMO

A presente pesquisa se debruça sobre a inovatividade organizacional, a partir da identificação de lacunas na compreensão deste conceito no âmbito organizacional, mensurando suas dimensões e seus efeitos. Nesse contexto, esta pesquisa apresenta como objetivo geral validar uma escala multidimensional para avaliar a inovatividade, a partir dos princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM), em Micro e Pequenas Empresas (MPEs), na Região Metropolitana de Natal/RN. Foi realizada uma pesquisa exploratória conduzida por meio de uma survey, aplicada em 542 MPEs que estão sediadas na Região Metropolitana de Natal/RN. Os dados foram tratados estatisticamente pela aplicação de técnicas de Análise Fatorial Exploratória e de Análise Fatorial Confirmatória, através de um modelo de mensuração elaborado com base em PLS-SEM. A pesquisa elaborou e validou um instrumento para a mensuração das dimensões da inovatividade, alicerçado teoricamente nas dimensões do Modelo de Excelência em Gestão (MEG), resultando em uma escala de mensuração constituída por 30 variáveis relacionadas a cinco construtos para a inovatividade. Como implicação gerencial, o modelo proposto pode ser um guia para o processo de desenvolvimento da inovação em MPEs, no qual o gestor pode traçar uma base estratégica para gerenciar um processo de inovação capaz de impulsionar a vantagem competitiva.

Palavras-chave:
Inovatividade; Gestão da Qualidade Total; Micro e Pequena Empresa

The present research focuses on organizational innovativeness, based on the identification of gaps in the understanding of this concept in the organizational context, measuring its dimensions and effects. In this context, this research presents as a general objective to validate a multidimensional scale to assess innovativeness, based on the principles of Total Quality Management (TQM) in Micro and Small Enterprises (MSE's) in the Metropolitan Region of Natal/RN. An exploratory research was conducted by means of a survey, applied to 542 MPE's that are located in the metropolitan region of Natal/RN. The data was statistically treated by applying Exploratory Factor Analysis techniques and Confirmatory Factor Analysis through a measurement model elaborated based on PLS-SEM. The research developed and validated an instrument to measure the dimensions of innovativeness, theoretically based on the dimensions of the Management Excellence Model (MEG), resulting in a measurement scale consisting of 30 variables related to five constructs for innovativeness. As a managerial implication, the proposed model can be a guide to the process for the development of innovation in MSE's, in which the manager can draw a strategic basis for managing an innovation process capable of driving competitive advantage.

Keywords:
Innovativeness; Total Quality Management; Micro and Small Businesses


La presente investigación se centra en la innovatividad organizacional, a partir de la identificación de brechas en la comprensión de este concepto en el contexto organizacional, la medición de sus dimensiones y sus efectos. En este contexto, esta investigación presenta como objetivo general validar una escala multidimensional para evaluar la innovatividad, basada en los principios de la Gestión de la Calidad Total (GCT) en Micro y Pequeñas Empresas (MPE's) de la Región Metropolitana de Natal/RN. Se realizó una investigación exploratoria por medio de una encuesta, aplicada a 542 MPEs que se localizan en la región metropolitana de Natal/RN. Los datos fueron tratados estadísticamente mediante la aplicación de técnicas de Análisis Factorial Exploratorio y Análisis Factorial Confirmatorio a través de un modelo de medición basado en PLS-SEM. La investigación desarrolló y validó un instrumento de medición de las dimensiones de la innovación, basado teóricamente en las dimensiones del Modelo de Excelencia en Gestión (MEG), resultando en una escala de medición compuesta por 30 variables relacionadas con 5 constructos de la innovación. Como implicación gerencial, el modelo propuesto puede ser una guía para el proceso de desarrollo de la innovación en las EMES, en el que el gestor puede trazar una base estratégica para la gestión de un proceso de innovación capaz de impulsar la ventaja competitiva.

Palabras clave:
Innovatividad; Gestión de la Calidad Total; Micro y Pequeñas Empresas


INTRODUÇÃO

Com a evolução do campo organizacional, observa-se um desenho ambiental em que as mudanças têm se apresentado de forma rápida e desordenada, bem diferente do vivenciado em meados do século passado. Devido ao processo de internacionalização da economia, as transações comerciais e financeiras via rede têm se intensificado, levando as organizações a desenvolverem estratégias que busquem antecipar, conciliar e satisfazer as necessidades de um mercado instável em ambiente competitivo (ZENG et al., 2017ZENG, J. et al. The impact of organizational context on hard and soft quality management and innovation performance. International Journal of Production Economics, v. 185, p. 240-251, 2017.), considerando tanto os aspectos globais quanto a busca pela manutenção de sua capacidade de inovar a partir das interações entre as demandas internas, externas e institucionais (TEECE, 2010TEECE, D. J. Business models, business strategy and innovation. Long range planning, v. 43, n. 2-3, p. 172-194, 2010.; VOLBERDA, 1999; ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.).

Tendo em vista, portanto, as características e os desafios que o atual contexto impõe às organizações, a presente pesquisa se debruça sobre a inovatividade organizacional. Desse modo, na literatura, identificam-se lacunas na compreensão prática do processo de inovatividade ao âmbito organizacional, mensurando suas dimensões e seus efeitos (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; WANG E AHMED, 2004WANG, C. L.; AHMED, P. K. The development and validation of the organisational innovativeness construct using confirmatory factor analysis. European journal of innovation management, v. 7, n. 4, p. 303-313, 2004.; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.; ZENG et al., 2017ZENG, J. et al. The impact of organizational context on hard and soft quality management and innovation performance. International Journal of Production Economics, v. 185, p. 240-251, 2017.). A inovatividade é abordada como um aspecto desejável das organizações, uma vez que ela pode ser capaz de energizar sua probabilidade de sobrevivência e o seu sucesso contínuo (HURLEY; HULT; KNIGHT, 1998; DAMANPOUR; ARAVIND, 2012DAMANPOUR, F.; ARAVIND, D. Managerial innovation: Conceptions, processes, and antecedents. Management and organization review, v. 8, n. 2, p. 423-454, 2012.; DAMANPOUR, 2014DAMANPOUR, F. Footnotes to research on management innovation. Organization Studies, v. 35, n. 9, p. 1265-1285, 2014.; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.). Desse modo, tem sido estudada nos campos da gestão organizacional, do marketing e do empreendedorismo (HURLEY; HULT; KNIGHT, 1998; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.), sendo que esses estudos se concentraram na sua relação com orientações estratégicas de mercado e de empreendedorismo, aprendizado organizacional, desempenho e liderança (HURLEY; HULT; KNIGHT, 1998; DAMANPOUR; ARAVIND, 2012DAMANPOUR, F.; ARAVIND, D. Managerial innovation: Conceptions, processes, and antecedents. Management and organization review, v. 8, n. 2, p. 423-454, 2012.; DAMANPOUR, 2014DAMANPOUR, F. Footnotes to research on management innovation. Organization Studies, v. 35, n. 9, p. 1265-1285, 2014.; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.).

Ademais, há inconsistências e controvérsias que se devem à sobreposição dos conceitos de inovatividade e inovação (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; DAMANPOUR; ARAVIND, 2012DAMANPOUR, F.; ARAVIND, D. Managerial innovation: Conceptions, processes, and antecedents. Management and organization review, v. 8, n. 2, p. 423-454, 2012.; DAMANPOUR, 2014DAMANPOUR, F. Footnotes to research on management innovation. Organization Studies, v. 35, n. 9, p. 1265-1285, 2014.) e à indistinção de ambas (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; HURLEY; HULT; KNIGHT, 2005HURLEY, R. F.; HULT, G. T. M.; KNIGHT, G. A. Innovativeness and capacity to innovate in a complexity of firm-level relationships: A response to Woodside (2004). Industrial Marketing Management, v. 34, n. 3, p. 281-283, 2005.; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.). Em outras palavras, equivocadamente, a inovatividade tem sido compreendida como o número de inovações adotadas pelas organizações (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; HURLEY; HULT; KNIGHT, 2005HURLEY, R. F.; HULT, G. T. M.; KNIGHT, G. A. Innovativeness and capacity to innovate in a complexity of firm-level relationships: A response to Woodside (2004). Industrial Marketing Management, v. 34, n. 3, p. 281-283, 2005.; RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.; DI SERIO, 2017). Considerando isso, em seu cabedal teórico, este trabalho abarca a lacuna supracitada, fornecendo uma conceituação e um instrumento de mensuração interdisciplinar para a inovatividade, validando o conceito no campo empírico (SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.). Dessa forma, neste estudo, a inovatividade é compreendida como um conjunto de preditores da inovação, ou seja, são as capacidades organizacionais ou as competências de uma organização para introduzir a inovação (DOTZEL; SHANKAR; BERRY, 2013DOTZEL, T.; SHANKAR, V.; BERRY, L. L. Service innovativeness and firm value. Journal of Marketing Research, v. 50, n. 2, p. 259-276, 2013.; DE CARVALHO et al., 2018DE CARVALHO, G. D. G. et al. The Impact of Organizational Innovativeness on Product-oriented innovativeness in Agro-industrial micro and small businesses. International Journal of Innovation, v. 6, n. 3, p. 217-231, 2018.).

Nesse viés interpretativo, adota-se como base conceitual para inovatividade os princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM). A literatura sinaliza para uma relação entre os princípios da TQM como a base para o desenvolvimento da inovação, ou seja, a TQM se consistindo como a inovatividade (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; CEPEDA-CARRION; CEGARRA-NAVARRO; JIMENEZ-JIMENEZ, 2012CEPEDA-CARRION, G.; CEGARRA-NAVARRO, J. G.; JIMENEZ-JIMENEZ, D. The effect of absorptive capacity on innovativeness: Context and information systems capability as catalysts. British Journal of Management, v. 23, n. 1, p. 110-129, 2012.; TSAI; YANG, 2013TSAI, K.; YANG, S. Firm innovativeness and business performance: The joint moderating effects of market turbulence and competition. Industrial Marketing Management, v. 42, n. 8, p. 1279-1294, 2013.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.).

Dessa forma, a presente pesquisa é direcionada à proposição de um construto multidimensional de inovatividade que seja desenvolvido sob uma abordagem de medição rigorosa (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; WANG E AHMED, 2004WANG, C. L.; AHMED, P. K. The development and validation of the organisational innovativeness construct using confirmatory factor analysis. European journal of innovation management, v. 7, n. 4, p. 303-313, 2004.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.). A operacionalização proposta atende ao duplo desafio de limitar o número de itens utilizados e, ao mesmo tempo, manter a complexidade e a multidimensionalidade do construto (RUVIO et al., 2014RUVIO, Ayalla A. et al. Organizational innovativeness: Construct development and cross-cultural validation. Journal of Product Innovation Management, v. 31, n. 5, p. 1004-1022, 2014.; DE CARVALHO et al., 2017DE CARVALHO, G. D. G. et al. Innovativeness measures: a bibliometric review and a classification proposal. International Journal of Innovation Science, v. 9, n. 1, p. 81-101, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

Ressalta-se, ainda, que os campos de aplicação deste estudo são as Micro e Pequenas Empresas (MPEs). Retomando a importância das MPEs para as economias mundial e nacional e desconsiderando os dados econômicos e gerenciais que tendem para uma fragilidade maior dessas organizações em termos de estrutura e de recursos financeiros, é pertinente considerar e compreender seu processo de inovatividade sob o olhar da criação de um novo valor, que não seja necessariamente financeiro, tanto para os clientes quanto para essas empresas. Isso corrobora a estrutura, o aprendizado, o comprometimento organizacional e as vantagens comportamentais atribuídos às pequenas empresas em decorrência da sua capacidade de transformar recursos limitados em um novo valor (UKKO, 2014; BLOCK et al., 2015BLOCK, J. H.; FISCH, C. O.; HAHN, A.; SANDNER, P. G. Why do SMEs file trademarks? Insights from firms in innovative industries. Research Policy, v. 44, n. 10, p. 1915-1930, 2015.; SOTO-ACOSTA; MARTINEZ-CONESA, 2017; LIMAJ; BERNROIDER, 2017LIMAJ, E.; BERNROIDER, E. W. N. The roles of absorptive capacity and cultural balance for exploratory and exploitative innovation in SMEs. Journal of Business Research, 2017.; DE CARVALHO et al., 2020DE CARVALHO, G. D. G. et al. The local innovation agents program: a literature review on the largest Brazilian small business innovation support program. International Journal of Innovation Science, 2020.).

Nesse contexto, esta pesquisa apresenta a seguinte questão: qual é o nível de validação de uma escala multidimensional para avaliar a inovatividade, a partir dos princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM), em Micro e Pequenas Empresas (MPEs) atuantes na Região Metropolitana de Natal/RN? Para responder a essa questão, o presente trabalho, a partir de um estudo quantitativo, busca compreender a inovatividade a partir os princípios da TQM presentes no Modelo de Excelência da Gestão (MEG) (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.), sendo o objetivo geral do estudo validar uma escala multidimensional para avaliar a inovatividade, a partir dos princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM) em Micro e Pequenas Empresas (MPEs) na Região Metropolitana de Natal/RN.

Além desta parte introdutória, serão apresentados neste estudo os fundamentos teóricos e o modelo teórico da inovatividade; os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa; a análise e discursão dos resultados; e a conclusão.

1 INOVATIVIDADE BASEADA NOS PRINCÍPIOS DA TQM: CONTRUINDO UMA BASE CONCEITUAL

Antes de se iniciar a discussão acerca das bases conceituais de inovatividade em Micro e Pequenas Empresas (MPEs), que irão fundamentar a presente pesquisa, é necessário construir uma compreensão sobre o termo, de forma a diferenciá-lo do conceito de inovação. Dessa forma, parte-se da problematização realizada por Silva e Di Serio (2017)SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017., na qual indicam a existência de equívocos na utilização de termos como inovação e inovatividade (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.).

O termo inovação (innovation) é compreendido para os fins desta pesquisa como um resultado do processo de implementação ou de aperfeiçoamento de algo (SCHUMPETER, 1934SCHUMPETER, J. A. The Theory of Economic Development. Harvard University Press, Cambridge Massachusetts, 1934.; SAUNIL; UKKO, 2014). Por sua vez, o termo inovatividade (innovativeness) está relacionado aos preditores da inovação, ou seja, são as capacidades organizacionais ou as competências que uma organização tem para introduzir inovação (DOTZEL; SHANKAR; BERRY, 2013DOTZEL, T.; SHANKAR, V.; BERRY, L. L. Service innovativeness and firm value. Journal of Marketing Research, v. 50, n. 2, p. 259-276, 2013.), o que leva a uma compreensão da inovatividade como as competências desenvolvidas pela organização em suas dimensões as quais envolvem o gerenciamento dos fluxos de conhecimentos, recursos, liderança, capacidades e estratégias empresariais, de forma a sustentar a inovação (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; CEPEDA-CARRION; CEGARRA-NAVARRO; JIMENEZ-JIMENEZ, 2012CEPEDA-CARRION, G.; CEGARRA-NAVARRO, J. G.; JIMENEZ-JIMENEZ, D. The effect of absorptive capacity on innovativeness: Context and information systems capability as catalysts. British Journal of Management, v. 23, n. 1, p. 110-129, 2012.; TSAI; YANG, 2013TSAI, K.; YANG, S. Firm innovativeness and business performance: The joint moderating effects of market turbulence and competition. Industrial Marketing Management, v. 42, n. 8, p. 1279-1294, 2013.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.).

O entendimento sobre o que é a inovatividade implica na necessidade de se definir qual será a unidade de análise. Tal unidade deve ser adotada para possibilitar a mensuração da competência organizacional para o gerenciamento dos fluxos de conhecimentos, recursos, liderança, capacidades e estratégias empresariais, dentre outras dimensões da inovatividade no âmbito interno das organizações (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.). Desta forma, entende-se a unidade de análise como uma medida de geração de valor, a qual busca definir “o que é a inovatividade?”; “para quem é a inovatividade?”; “para o consumidor, para a organização, para o mercado, para o mundo?” (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; DAMANPOUR, 2014DAMANPOUR, F. Footnotes to research on management innovation. Organization Studies, v. 35, n. 9, p. 1265-1285, 2014.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.).

Todavia, identifica-se na literatura uma significativa quantidade de estudos que se propõem a mensurar o grau da inovatividade, com diferentes unidades de análises e até sem apresentar de forma clara qual foi a unidade de análise utilizada na condução do estudo (DAMANPOUR, 2014DAMANPOUR, F. Footnotes to research on management innovation. Organization Studies, v. 35, n. 9, p. 1265-1285, 2014.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.). A diversidade e a omissão da unidade de análise geram problemas de comparação e mensuração, tanto em relação à efetividade da inovatividade quanto à capacidade da empresa em promover a inovação (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.).

Tomando por base essa problemática, se faz necessário construir as bases teóricas para se estudar a inovatividade em MPEs. Dessa forma, essa fundamentação parte do escopo teórico da Gestão da Qualidade Total (TQM) e dos seus Modelos de Excelência Gerencial (MEGs), que expandiram a visão da qualidade de um atributo unidimensional de um produto para um recurso estratégico da organização (PERDOMO-ORTIZ; GONZÁLEZ-BENITO; GALENDE, 2006PERDOMO-ORTIZ, J.; GONZÁLEZ-BENITO, J.; GALENDE, J. Total quality management as a forerunner of business innovation capability. Technovation, v. 26, n. 10, p. 1170-1185, 2006.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.). Dessa forma, Bou-Llusar et al. (2009)BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009. define a TQM como uma abordagem de gerenciamento caracterizada por princípios que orientam a forma como a organização aprende e conduz as estratégias, desenvolve e aloca os recursos, estabelece as rotinas e processos, de forma que, quando desenvolvida de forma sistêmica, conduzirá a organização a um desempenho superior.

O conceito de TQM, proposto por Bou-Llusar et al. (2009)BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009., está alicerçado em três pontos principais. O primeiro ponto apresenta duas categorias que a TQM pode assumir: a primeira caracterizada pela i) dimensão social (Soft TQM), que está centrada na função de gerenciamento de pessoas, com ênfase no papel central do líder, no trabalho em equipe e na gestão do conhecimento; e a outra categoria trata da ii) dimensão técnica (hard TQM), que reflete uma orientação para operações, modelos de produção, melhoria contínua das rotinas e processos, bens e serviços com foco no cliente (BULLOCK, 2005; BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.; ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.). O segundo ponto do conceito de TQM está relacionado à indissociabilidade entre as dimensões sociais e técnicas da TQM, bem como os conceitos fundamentais que as constituem. Essas dimensões devem estar inter-relacionadas, suportando-se mutuamente (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.). E o terceiro ponto está relacionado ao pressuposto que a TQM fornece um valor superior ao cliente, uma vez que busca identificar as necessidades expressas e tácitas desses clientes, além de possibilitar à organização desenvolver a capacidade de resposta às mudanças do mercado, por meio do ganho de eficiência, resultado das práticas de melhoria contínua (POWELL, 1995POWELL, T. C. Total quality management as competitive advantage: a review and empirical study. Strategic management journal, v. 16, n. 1, p. 15-37, 1995.; BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.).

Dentro desta perspectiva, os MEGs, como modelos alicerçados na TQM (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.), apresentam uma orientação ao cliente, ao trabalho em equipe, à melhoria contínua, e à mudança organizacional (PERDOMO-ORTIZ; GONZÁLEZ-BENITO; GALENDE, 2006PERDOMO-ORTIZ, J.; GONZÁLEZ-BENITO, J.; GALENDE, J. Total quality management as a forerunner of business innovation capability. Technovation, v. 26, n. 10, p. 1170-1185, 2006.), além de serem intensivos em conhecimento (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; PSOMAS; KAFETZOPOULOS; GOTZAMANI, 2018PSOMAS, E.; KAFETZOPOULOS, D.; GOTZAMANI, K. Determinants of company innovation and market performance. The TQM Journal, v. 30, n. 1, p. 54-73, 2018.), o que possibilita realizar a captura de recursos em modelos organizacionais distintos, os reconfigurando a partir do estabelecimento das rotinas e processos na organização (KIM; KUMAR; KUMAR, 2012KIM, D.; KUMAR, V.; KUMAR, U. Relationship between quality management practices and innovation. Journal of operations management, v. 30, n. 4, p. 295-315, 2012.).

Na formação das bases teóricas dos MEGs, identificam-se elementos conceituais advindos das teorias da qualidade como a TQM, da Visão Baseada em Recursos (VBR), por meio do desenvolvimento e gerenciamento da base heterogênea dos recursos e capacidades organizacionais (BARNEY, 1991BARNEY. J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991.; ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.); e em estudos recentes observam-se elementos das capacidades dinâmicas, uma vez que este modelo auxilia a liderança de qualidade em criar, estender ou modificar a base de recursos da organização, devido ao seu foco em melhoria contínua, conhecimento e inovação (ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.; RUIZ-MORENO et al., 2016RUIZ-MORENO, A. et al. Quality management and administrative innovation as firms' capacity to adapt to their environment. Total Quality Management & Business Excellence, v. 27, n. 1-2, p. 48-63, 2016.; PSOMAS; KAFETZOPOULOS; GOTZAMANI, 2018PSOMAS, E.; KAFETZOPOULOS, D.; GOTZAMANI, K. Determinants of company innovation and market performance. The TQM Journal, v. 30, n. 1, p. 54-73, 2018.).

A aplicação dos fatores de gerenciamento da qualidade total, que compõem as dimensões hard e soft dos MEGs, permite a formação de um ambiente organizacional adequado ao desenvolvimento de novas ideias e à identificação e resolução de problemas de maneira inovadora (TSAI; YANG, 2013TSAI, K.; YANG, S. Firm innovativeness and business performance: The joint moderating effects of market turbulence and competition. Industrial Marketing Management, v. 42, n. 8, p. 1279-1294, 2013.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.), além de permitir que a liderança organizacional aloque os recursos e capacidades necessárias para a criação e melhoria de produtos, serviços, processos e estratégias de gestão, quanto ao desenvolvimento da TQM (ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.; PSOMAS; KAFETZOPOULOS; GOTZAMANI, 2018PSOMAS, E.; KAFETZOPOULOS, D.; GOTZAMANI, K. Determinants of company innovation and market performance. The TQM Journal, v. 30, n. 1, p. 54-73, 2018.). Em síntese, os MEGs, a partir das duas dimensões hard e soft, se constituem em elementos de inovatividade, sendo estes os antecessores da inovação no âmbito das organizações (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; CEPEDA-CARRION; CEGARRA-NAVARRO; JIMENEZ-JIMENEZ, 2012CEPEDA-CARRION, G.; CEGARRA-NAVARRO, J. G.; JIMENEZ-JIMENEZ, D. The effect of absorptive capacity on innovativeness: Context and information systems capability as catalysts. British Journal of Management, v. 23, n. 1, p. 110-129, 2012.; TSAI; YANG, 2013TSAI, K.; YANG, S. Firm innovativeness and business performance: The joint moderating effects of market turbulence and competition. Industrial Marketing Management, v. 42, n. 8, p. 1279-1294, 2013.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

1.1 Inovatividade: construindo um modelo de avaliação baseado em TQM

Considerando o conceito de inovatividade, a presente pesquisa empreendeu esforços para a proposição de um modelo de inovatividade baseado nos critérios adotados pelo MEG/PNQ/FNQ (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.), uma vez que estes critérios já são aplicados ao diagnóstico de alinhamento das práticas de TQM em MPEs brasileiras que participam anualmente do prêmio de qualidade em gestão, promovido pela Fundação Nacional de Qualidade (FNQ). Isso simplifica a adequação semântica das variáveis que irão compor os critérios, estando estes alinhados ao contexto das MPEs brasileiras, além de constituir a referência predominante para avaliar as práticas de TQM dessas organizações (SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.). Desta forma, apresenta-se no Quadro 1 a estrutura conceitual deste MEG/PNQ/FNQ (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.), o que possibilita a construção de evidências teóricas para justificar o uso nesta pesquisa destes critérios como dimensões da inovatividade e validá-los empiricamente.

Quadro 1
Modelo de Excelência em Gestão - MEG/PNQ/FNQ

A estrutura apresentada no Quadro 1 identifica os 7 critérios e as suas respectivas descrições, incluindo as referências e argumentos que sustentam a proposição do MEG/PNQ/FNQ (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.), que foram caracterizados a partir das dimensões hard e soft, da TQM (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.). Assim, foi realizado um resgate conceitual de TQM, no qual identificaram os seus elementos constituintes (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.) entre os 7 critérios de excelência em gestão propostos pelo MEG/PNQ/FNQ (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.).

Os elementos de TQM presentes em cada um dos critérios foram caracterizados conceitualmente e classificados tomando como base as dimensões hard e soft (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.), bem como as associações realizadas por Zapata-Cantu; Delgado; Gonzalez (2016)ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016., em que os autores identificam, na base teórica presente nos MEGs, a presença de recursos organizacionais. Identifica-se no modelo uma forte aderência teórica dos critérios de excelência como um preditor da inovação organizacional (inovatividade), sendo a inovação um dos resultados que a organização alcança ao utilizar os recursos tangíveis e intangíveis gerados por cada critério de excelência no processo de implementação das estratégias organizacionais. Assim, a presente pesquisa adotou os critérios de excelência presentes no MEG/PNQ/FNQ (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.), a partir de suas dimensões hard e soft como elementos de inovatividade, que são definidas como as competências técnicas e sociais desenvolvidas pela organização de forma a gerar e sustentar múltiplas formas de inovação organizacional (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; CEPEDA-CARRION; CEGARRA-NAVARRO; JIMENEZ-JIMENEZ, 2012CEPEDA-CARRION, G.; CEGARRA-NAVARRO, J. G.; JIMENEZ-JIMENEZ, D. The effect of absorptive capacity on innovativeness: Context and information systems capability as catalysts. British Journal of Management, v. 23, n. 1, p. 110-129, 2012.; TSAI; YANG, 2013TSAI, K.; YANG, S. Firm innovativeness and business performance: The joint moderating effects of market turbulence and competition. Industrial Marketing Management, v. 42, n. 8, p. 1279-1294, 2013.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; GROZA; ZMICH; RAJABI, 2021GROZA, M. D.; ZMICH, L. J.; RAJABI, R. Organizational innovativeness and firm performance: Does sales management matter?. Industrial Marketing Management, v. 97, p. 10-20, 2021.).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa, quanto aos seus objetivos, é considerada como exploratória, conduzida por uma survey de abordagem quantitativa, que permite realizar análises estatísticas e inferir sobre a sua amostra, além de determinar se há alguma relação entre variáveis (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.). Nesse caso, a pesquisa foi aplicada ao contexto das Micro e Pequenas Empresas com o objetivo de analisar o grau de inovatividade nesse tipo de organização (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.).

Como população do estudo foram definidas as MPEs participantes do Programa SEBRAE/CNPq de Agentes Locais de Inovação (ALI), no período de 2014 a 2018, que atuam na Região Metropolitana da cidade de Natal/RN. O ALI é um programa de extensão desenvolvido por meio do acordo de cooperação técnica nº 55/2014 firmado entre o CNPq e o SEBRAE, que busca fomentar ações de inovação entre as MPEs participantes. Assim, a população desta pesquisa foi composta por 2931 (duas mil novecentas e trinta e uma) MPEs que atuam nos setores tradicionais da economia e participaram do programa de ALI, no período de 2014 a 2018, com sede física na Região Metropolitana de Natal/RN. As empresas participantes do programa foram identificadas com base no banco de dados do sistema de monitoramento do programa ALI - SistemALI®, no qual os pesquisadores identificaram a razão social, o e-mail e o segmento de atuação das MPEs (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.; DE CARVALHO et al., 2020DE CARVALHO, G. D. G. et al. The local innovation agents program: a literature review on the largest Brazilian small business innovation support program. International Journal of Innovation Science, 2020.).

Inicialmente, o estudo buscou contemplar toda a população de MPEs, por meio de um estudo censitário. Neste caso, o instrumento de pesquisa foi enviado em formato eletrônico (Google Forms) para as 2931 (duas mil novecentas e trinta e uma) MPEs constituintes do universo populacional desta pesquisa. Deste total de instrumentos enviados, retornaram 542 (quinhentos e quarenta e dois) questionários em condições de serem tabulados e considerados para amostra desta pesquisa, o que garante um índice de confiabilidade de 95% e um erro amostral de 5% (COSTA, 2011COSTA, F. J. Mensuração de desenvolvimento de escalas: aplicações em administração. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2011.; SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.).

Os dados foram coletados através de um questionário elaborado a partir da adaptação das variáveis do modelo de MEG (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.) e da pesquisa realizada por Santos et al. (2018)SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.. Assim, o instrumento final utilizado nesta pesquisa, para captar o efeito das dimensões da inovatividade presente em MPEs, foi constituído por 31 variáveis mensuradas por uma escala intervalar de Likert com 7 pontos, variando de 1 a 7, em que o ponto 1 do contínuo significa “não se aplica em minha empresa”; e o ponto 7 significa “se aplica sistematicamente em minha empresa” (COSTA, 2011COSTA, F. J. Mensuração de desenvolvimento de escalas: aplicações em administração. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2011.; BARBOZA, 2013BARBOZA, S. I. S.; CARVALHO, D. L T. de; SOARES NETO, J. B; COSTA, F. J. da. Variações de Mensuração pela Escala de Verificação: uma análise com escalas de 5, 7 e 11 pontos. TPA-Teoria e Prática em Administração, v. 3, n. 2, p. 99-120, 2013.). A definição das variáveis que compuseram o instrumento de inovatividade se deu a partir das evidências teóricas e empíricas de pesquisas já realizadas, que demonstraram evidências de que os elementos de TQM presentes no MEG são fortes indutores da inovação e, consequentemente, constituem a inovatividade organizacional, ou seja, as capacidades ou as competências que uma organização tem para introduzir inovação (DOTZEL; SHANKAR; BERRY, 2013DOTZEL, T.; SHANKAR, V.; BERRY, L. L. Service innovativeness and firm value. Journal of Marketing Research, v. 50, n. 2, p. 259-276, 2013.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.; ALVES et al., 2017ALVES, A. C.; BARBIEUX, D.; REICHERT, F. M.; TELLO-GAMARRA, J.; ZAWISLAK, P. A. Innovation and dynamic capabilities of the firm: defining an assessment model. Revista de Administração de Empresas, v. 57, n. 3, p. 232-244, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

Os dados foram tratados e analisados por meio de estatísticas descritivas; e a técnica de Análise Fatorial Exploratória (AFE) e Confirmatória (AFC), através da modelagem de validação baseada em equações estruturais por mínimos quadrados parciais (PLS-SEM). Inicialmente, os dados passaram por verificação para identificar possíveis erros no preenchimento do instrumento de coleta. Assim, foi realizada uma revisão do banco de dados para verificação de missings, bem como foi verificada a distribuição dos dados através dos testes de assimetria e curtose, para aferir se os dados tendem para a normalidade.

A AFE foi utilizada com o objetivo de fazer o agrupamento das variáveis observáveis relacionadas à inovatividade (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.), obtendo os seus respectivos scores fatorais e refinamento das variáveis. Para a realização da AFE, foram observados os valores do teste Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO), para o qual se consideraram valores iguais ou superiores a 0,7 (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.). Um segundo teste realizado foi o de esfericidade de Bartlett, o qual indica a existência de relações suficientes entre os indicadores para a aplicação da análise fatorial, onde recomenda-se que o valor do teste de significância seja ≤ 0,01 (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.). A análise fatorial foi rotacionada por meio da técnica de rotação ortogonal Varimax, com o objetivo de minimizar a ocorrência de uma variável possuir altas cargas fatoriais para diferentes fatores, permitindo que uma variável seja facilmente identificada em um único fator (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.). Também foi feita a análise das comunalidades de cada variável, o que permite identificar o percentual de explicação que cada variável obteve ao longo da análise fatorial (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.).

Após a extração dos fatores, foi calculado o teste de confiabilidade de coerência interna denominado de Alfa de Cronbach, o qual permitiu identificar se a escala produz resultados consistentes entre medidas repetidas ou equivalentes de um mesmo objeto ou pessoa, revelando a ausência de erro aleatório (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.). Para efeito desta pesquisa, foram adotados valores para o Alfa de Cronbach de cada fator gerado com a análise fatorial igual ou superior a 0,7 (70%).

Com os resultados do modelo fatorial exploratório, buscou-se realizar a validação do modelo encontrado através de uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC), por meio de um modelo de mensuração elaborado com base em PLS-SEM. Para a análise do poder estatístico, nesta pesquisa, foram consideradas as relações entre o tamanho da amostra (n), nível de significância (α) e o tamanho do efeito da população (f2), que foram calculados a priori, sendo utilizados no planejamento desta pesquisa para se identificar o valor de n, em função do α, f2 e do poder estatístico (RINGLE; DA SILVA; BIDO, 2014RINGLE, C. M.; DA SILVA, D.; BIDO, D. S. Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. REMark, v. 13, n. 2, p. 54, 2014.). Para a estimação do modelo confirmatório, foi utilizado na base do cálculo um poder estatístico 0,95; um valor f2 médio de 0,15; e uma significância de 0,05, em que identificou-se uma amostra mínima de 153 observações, todavia para se obter uma maior consistência do modelo, optou-se por usar uma amostra com 542 observações (RINGLE; DA SILVA; BIDO, 2014RINGLE, C. M.; DA SILVA, D.; BIDO, D. S. Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. REMark, v. 13, n. 2, p. 54, 2014.).

A AFC foi avaliada a partir dos critérios de mensuração reflexivo para PLS-SEM, o qual analisou a Confiabilidade Composta (CC), que indica o grau de consistência interna dos construtos latentes, sendo considerado valores ≥ 0,7 (HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.; RINGLE; DA SILVA; BIDO, 2014RINGLE, C. M.; DA SILVA, D.; BIDO, D. S. Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. REMark, v. 13, n. 2, p. 54, 2014.). O segundo indicador avaliado foi a Variância Média Extraída (AVE), que representa o quanto em média, as variáveis se correlacionam positivamente com seus respectivos construtos, sendo considerado valores ≥ 0,5 (FORNELL; LARCKER, 1981FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981.; HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.). O último indicador avaliado foi a Validade Discriminante (VD), que indica se os construtos ou variáveis latentes são independentes um dos outros. Pelo critério de Fornell e Larcker (1981)FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981., a análise de VD, compara as raízes quadradas dos valores das AVEs de cada construto com as correlações (de Pearson) entre os construtos (ou variáveis latentes). As raízes quadradas das AVEs devem ser maiores que as correlações entre os dos construtos (FORNELL; LARCKER, 1981FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981.; HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.).

As técnicas estatísticas utilizadas foram modeladas e calculadas para as estatísticas descritivas e para a análise fatorial exploratória, com a utilização do software de análise estatísticas Stata® em sua versão 16. Para a modelagem do modelo fatorial confirmatório (PLS - SEM), foi utilizado o software de análise estatísticas SmartPLS®.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

As 542 Micro e Pequenas Empresas (MPEs) estudadas estão sediadas na Região Metropolitana de Natal/RN e atendem aos critérios estabelecidos pela Lei Complementar nº 123/2006, que classifica uma MPE no Brasil de acordo com a sua receita bruta anual menor ou igual a R$ 360 mil. A maioria destas MPEs, ou seja, 71%, atuam há mais de 5 anos, tratando-se de empresas relativamente estabelecidas, uma vez que superaram o período de 2 anos indicado como crítico para a mortalidade de MPEs no Brasil (SEBRAE, 2016SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Sobrevivência das Empresas no Brasil. SEBRAE: Brasília, 2016. Disponível em: http://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Sobreviv%C3%AAncia-de-Empresas-no-Brasil-2016-FINAL.pdf. Acesso em: 05/05/2018.
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).

Quanto aos setores de atuação das MPEs, observa-se que 44% das empresas desenvolvem suas atividades no setor de comércio, 40% no setor de serviço e 16% no setor de indústria. Assim, considerando que dadas MPEs foram escolhidas de forma aleatória, a partir do banco de dados do sistema de monitoramento do programa de ALI (SistemALI®), essas MPEs apresentam uma distribuição semelhante à das MPEs no mercado nacional, em que 45,3% atuam no setor de serviços, 44,6% no setor de comércio, 8,2% no setor de indústria e 1,9% no setor de agronegócio (SEBRAE, 2016SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Sobrevivência das Empresas no Brasil. SEBRAE: Brasília, 2016. Disponível em: http://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Sobreviv%C3%AAncia-de-Empresas-no-Brasil-2016-FINAL.pdf. Acesso em: 05/05/2018.
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). Quanto ao número de funcionários, observou-se que 81% possuem até 19 funcionários e que 19% possuem mais de 19. De acordo com os critérios de classificação de empresas pelo porte do IBGE, que considera microempresas aquelas que possuem até 19 empregados e empresas de pequeno porte aquelas que possuem entre 20 e 99, isso representa a existência de dois grupos (SEBRAE, 2016SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Sobrevivência das Empresas no Brasil. SEBRAE: Brasília, 2016. Disponível em: http://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Sobreviv%C3%AAncia-de-Empresas-no-Brasil-2016-FINAL.pdf. Acesso em: 05/05/2018.
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).

Identificadas as características das MPEs, buscou-se avaliar, através da Análise Fatorial Exploratória (AFE), a estrutura latente de um conjunto de dados através da formação de direções subjacentes, que permitiram explicar as correlações entre determinados conjuntos de dados. Antes de realizar a AFE, foi verificada a normalidade univariada das variáveis através da análise dos valores da assimetria univariada (skew-sk) e o seu achatamento, também chamado de curtose univariada (kurtosis-ku). Como parâmetro para este estudo, foram considerados, conforme indicado por Favero e Belfiore (2017)FAVERO, L. P.; BELFIORE, P. Manual de Análise de Dados: Estatística e Modelagem Multivariada com Excel®, SPSS® e Stata®. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017., os valores desejáveis para as medidas das formas da distribuição: assimetria univariada, sk < 3; e para o achatamento, curtose ku < 5. A partir dessa análise, foi possível observar que as variáveis manifestas apresentam valores aceitáveis para a assimetria. Todavia, quando verificada a curtose, observa-se a variável Inovat 18 (ku = 7,984) com valor ku superior a 5, indicando a presença de não normalidade severa nessa variável. Dessa forma, optou-se por excluí-la do estudo, uma vez que, possivelmente, apresente problemas quanto à sua formulação no questionário ou adequação da assertiva às características das MPEs participantes desta pesquisa.

Considerando os resultados da verificação da normalidade univariada, a AFE foi conduzida com 30 variáveis manifestas para inovatividade. A primeira verificação da AFE buscou aferir a adequação global do modelo e, para tal, foi utilizada a estatística KMO e o teste de esfericidade de Bartlett. Os resultados da adequação global da análise fatorial para o modelo de inovatividade apresentou um KMO de 0.8486, o que, segundo Corrar, Dias Filho e Paulo (2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.), indica que as variáveis compartilham um percentual de variância elevado. Já o teste de esfericidade de Bartlett é estatisticamente significante a 1% com p-value < 0,000, o que indica que existem correlações suficientes entre as variáveis de inovatividade para proceder a AFE.

Na Tabela 1, identificam-se os fatores extraídos na AFE pelo critério de autovalor - Kaiser (Eigenvalue ≥ 1), no qual foi identificado, para o modelo de inovatividade, a formação de 5 variáveis latentes, as quais apresentam os autovalores variando entre 6,60044 para a primeira componente e 3,47269 para o último fator formado. Observa-se que as 5 latentes acumulam 70,82% da variância total das variáveis originais e apresentam uma perda total de variância de 11,01%. O modelo foi rotacionado pela técnica Varimax, não sendo identificado no modelo a presença de carga cruzada, indicando estruturas fatorais com boa aderência conceitual.

Tabela 1
Modelo Final da Análise Fatorial Exploratória de Inovatividade (n = 542)

Ao verificar o percentual da variância total, explicada no modelo de inovatividade para os fatores extraídos com autovalor superior a 1, observa-se um total acumulado de 70,82%, sendo o primeiro fator responsável por 22% para o modelo rotacionado ortogonalmente pela Varimax. Como um único fator não representa mais de 50% da variância dos dados, infere-se que, possivelmente, os dados não apresentem severos problemas no viés do método (FAVERO; BELFIORE, 2017FAVERO, L. P.; BELFIORE, P. Manual de Análise de Dados: Estatística e Modelagem Multivariada com Excel®, SPSS® e Stata®. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.).

Quanto à avaliação da magnitude da medida do Alfa de Cronbach, a fim de avaliar a fidedignidade com que os fatores foram extraídos a partir das variáveis originais, a medida do Alfa de Cronbach oferece indícios sobre a consistência da escala inteira, sendo mensurada através de um coeficiente de confiabilidade que avalia individualmente a influência do construto com variação de 0 a 1. Neste trabalho, foram considerados valores superiores a 0,7 (CORRAR; DIAS FILHO; PAULO, 2011CORRAR, L. J; PAULO, E; DIAS FILHO, J. M. Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2011.). Assim é possível observar que todos os fatores obtidos apresentam coeficientes de consistência interna (Alfa de Cronbach) superiores ao padrão estabelecido na literatura, sendo o maior valor de alfa identificado para o fator PInfConhec - ξ1, ξ2 (α = 0,9500) e o menor valor foi identificado para o fator Estratégia - ξ6 (α = 0,8830).

Na avalição do modelo fatorial exploratório, quanto ao agrupamento das variáveis observáveis em relação as indicações teóricas da FNQ, (2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.) e de Santos et al. (2018)SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018., identificou-se a formação de 5 variáveis latentes de inovatividade, resultado que difere do modelo teórico estruturado originalmente a partir das 7 dimensões presentes no MEG, apresentado no Quadro 1 (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.). Desta forma, observa-se nos resultados o agrupamento da variável latente Pessoas (Pessoas - ξ1), mensurada por 5 variáveis observáveis (Inovat06, Inovat13, Inovat20, Inovat26 e Inovat31), com a variável latente Informação e Conhecimento (InfConhec - ξ2), mensurada por 4 variáveis observáveis, (Inova05, Inovat12, Inovat20 e Inovat25), que resultaram na formação de uma nova variável latente denominada de Pessoas, Informação e Conhecimento (PInfConhec - ξ1, ξ2), formada por 9 variáveis (Inovat05, Inovat06, Inovat12, Inovat13, Inovat19, Inovat20, Inovat25, Inovat26 e Inovat31). Uma segunda alteração no modelo se deu pelo agrupamento da variável Sociedade (Sociedade - ξ3), que inicialmente teve a variável Inovat18 excluída, devido à identificação de elevada curtose univariada (kurtosis-ku), a qual buscou mensurar Sociedade (Sociedade - ξ3) por 2 variáveis observadas (Inovat04 e Inovat11). Essa variável foi agrupada nos resultados AFE com a variável latente Processos (Processos - ξ4), mensurada por 4 variáveis observadas (Inovat07, Inovat14, Inovat21 e Inovat27), formando a variável Sociedade e Processos (SocProc -ξ3, ξ4), formada por 6 variáveis observáveis (Inovat04, Inovat07, Inovat11, Inovat14, Inovat21e Inovat27).

As demais variáveis latentes, Cliente (Cliente - ξ5), mensurada por 5 variáveis observadas (Inovat03, Inovat10, Inovat17, Inovat24 e Inovat30), Estratégias e Planos (Estratégia - ξ6), mensurada por 5 variáveis observadas (Inovat1, Inovat09, Inovat16, Inovat23 e Inovat29) e Liderança (Liderança - ξ7), mensurada por 5 variáveis observadas (Inovat2, Inovat08, Inovat15, Inovat22 e Inovat28), mantiveram as características apresentadas no modelo teórico proposto para a presente pesquisa (FNQ, 2014FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Critérios compromisso com a excelência. 7 ed. São Paulo: FNQ, 2014.; 2017FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE (FNQ). Gestão da Inovação. São Paulo: FNQ, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.).

A Análise Fatorial Confirmatória (AFC) foi realizada através do modelo de mensuração baseado em PLS-SEM, o qual caracterizou a relação entre as variáveis latentes e as suas medidas observadas, com a principal finalidade de apresentar a forma como as variáveis latentes se relacionam com as variáveis observadas reflexivas. O SmartPLS® apresenta algumas estatísticas que permitiram realizar a verificação de cada construto que compõe o modelo da AFC proposto. Assim, conforme preconizado por Hair Jr. et al. (2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.; 2017HAIR JR, J. F. et al. Mirror, mirror on the wall: A comparative evaluation of composite-based structural equation modeling methods. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 45, n. 5, p. 616-632, 2017.), as estatísticas observadas para avaliação do modelo de mensuração formam a análise das medidas de Confiabilidade Composta (CC) dos construtos e as variâncias médias extraídas (Average Variance Extracted - AVEs), validade discriminante que indica se os construtos são independentes um dos outros.

Para que uma escala seja medida, é fundamental que seja confiável. Considerando as limitações existentes no teste de Alfa de Cronbach, que avalia individualmente a influência dos construtos, foi utilizada a confiabilidade composta dos fatores, permitindo identificar a influência de todos os construtos de forma simultânea (RINGLE et al., 2014RINGLE, C. M.; DA SILVA, D.; BIDO, D. S. Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. REMark, v. 13, n. 2, p. 54, 2014.). Foram usados os cálculos para Confiabilidade Composta (CC > 0,7) e variâncias médias extraídas (AVE > 0,5) como valores aceitáveis (FORNELL; LARCKER, 1981FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981.; HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.). A tabela 2 apresenta esses valores para todas as variáveis latentes do modelo de inovatividade. Segundo Fornell e Larcker (1981)FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981. e Hair Jr. et al. (2014)HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014., os valores obtidos para CC são superiores a 0,914, estando relacionados à variável latente explicada Estratégia - ξ6.

Tabela 2
AFC modelo de mensuração baseado em PLS-SEM (n = 542)

Em relação à validade convergente, foi utilizado o cálculo das variâncias médias extraídas (Average Variance Extracted - AVEs), em que se avaliou a porcentagem da variância total dos indicadores que são explicados pela variável latente. Identificam-se, na Tabela 2, valores para as AVEs dos construtos superiores ao valor mínimo indicado por Fornell e Larcker (1981)FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981. e Hair Jr. et al. (2014)HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.. O menor valor identificado foi correspondente a 0,6683 para o construto Estratégia - ξ6. Os demais foram superiores, o que denota a existência de validade convergente, ou seja, superior aos limites de 0,5, recomendados pela literatura (FORNELL; LARCKER, 1981FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981.; HAIR JR. et al, 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.).

O segundo critério utilizado para avaliar a validade do construto foi a validade discriminante, que consiste em um indicador de que os construtos são independentes uns dos outros, tendo como objetivo avaliar se as escalas utilizadas medem construtos diferentes ou se não são identificadas diferenças entre as mensurações dos construtos, ou seja, se os respondentes do instrumento compreenderam as questões como sendo um conjunto homogêneo (HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.). Para avaliação da validade discriminante, foi utilizado o Critério de Fornell e Larcker (1981)FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981., em que são comparadas as raízes quadradas dos valores das AVEs de cada construto com as correlações (de Pearson) entre os construtos. Verifica-se, assim, que as raízes quadradas das AVEs são maiores que as correlações entre os construtos, conforme apresentado na Tabela 2, para inovatividade. Isso assegura a validade discriminante para o modelo de inovatividade (FORNELL; LARCKER, 1981FORNELL, C.; LARCKER, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of marketing research, p. 39-50, 1981.; HAIR JR. et al, 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.).

Tomando como base os resultados obtidos para o bom ajustamento do modelo de mensuração, pode-se afirmar que esse pode ser considerado consistente com os dados empíricos, confirmando a sua validade (HAIR JR. et al., 2014HAIR JR, J. F. et al. A Primer on Partial Least Squares Structural Equation Modeling (PLS-SEM). Los Angeles: SAGE, 2014.). Destaca-se que os resultados que emergiram a partir da AFE resultaram em um agrupamento de variáveis diferentes da proposta teórica construída inicialmente para esta pesquisa, como se observa com as categorias teóricas de Pessoas (Pessoas - ξ1), sendo agrupada com Informação e Conhecimento (InfConhec - ξ2), assim como Sociedade (Sociedade - ξ3), sendo agrupada com a categoria de Processos (Processos - ξ4).

O primeiro agrupamento entre as categorias Pessoas (Pessoas - ξ1) e Informação e Conhecimento (InfConhec - ξ2) pode ser explicado do ponto de vista teórico, uma vez que essas categorias são estruturadas a partir do soft TQM, que atribui as pessoas responsabilidade pela criação, detenção e disseminação do conhecimento, devido ao empoderamento da equipe de trabalho, através do fomento dos fluxos de informação e do aprendizado em equipe (BORNAY-BARRACHINA et al., 2012; MIERES et al., 2012; DOTZEL; SHANKAR; BERRY, 2013DOTZEL, T.; SHANKAR, V.; BERRY, L. L. Service innovativeness and firm value. Journal of Marketing Research, v. 50, n. 2, p. 259-276, 2013.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; GROZA; ZMICH; RAJABI, 2021GROZA, M. D.; ZMICH, L. J.; RAJABI, R. Organizational innovativeness and firm performance: Does sales management matter?. Industrial Marketing Management, v. 97, p. 10-20, 2021.). Desse modo, garante a participação das pessoas no processo de criação organizacional e mudança organizacional, fato evidenciadonos resultados das pesquisas de Honarpour, Jusoh e Md Nor (2012)HONARPOUR, A.; JUSOH, A.; MD NOR, K. Knowledge management, total quality management and innovation: A new look. Journal of technology management & innovation, v. 7, n. 3, p. 22-31, 2012. e Zeng, Phan e Matsui (2015)ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015..

O agrupamento das categorias Sociedade (Sociedade - ξ3) e Processos (Processos - ξ4) encontra amparo teórico, uma vez que as duas categorias apresentam uma base teórica alicerçada em um modelo de hard TQM que reflete uma orientação para operações; modelos de produção; melhoria contínua das rotinas e processos; bens e serviços com foco no cliente, bem como a busca por estratégia para contribuir com a comunidade e o meio ambiente, promovendo o desenvolvimento social (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.; ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.). Ao se observar a dinâmica operacional de uma MPE, vê-se o foco no desenvolvimento de um modelo de negócio que é baseado em processos de identificação de oportunidades, de melhoria de suprimento, de relacionamento com os fornecedores e de sustentabilidade econômica, financeira e social. Essa relação está amparada nos resultados de outros estudos que indicam a existência de relações teóricas e empíricas que justifiquem o agrupamento destas variáveis (PRAJOGO; SOHAL, 2003PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The relationship between TQM practices, quality performance, and innovation performance: An empirical examination. International journal of quality & reliability management, v. 20, n. 8, p. 901-918, 2003.; 2004PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The multidimensionality of TQM practices in determining quality and innovation performance-an empirical examination. Technovation, v. 24, n. 6, p. 443-453, 2004.; KIM; KUMAR; KUMAR, 2012KIM, D.; KUMAR, V.; KUMAR, U. Relationship between quality management practices and innovation. Journal of operations management, v. 30, n. 4, p. 295-315, 2012.; BON; MUSTAFA, 2013BON, A. T.; MUSTAFA, E. M. A. Impact of total quality management on innovation in service organizations: Literature review and new conceptual framework. Procedia Engineering, v. 53, p. 516-529, 2013.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

Os demais fatores confirmam as indicações teóricas propostas por este estudo, o que permite a construção de uma compreensão teórica e prática acerca da inovatividade a partir de uma abordagem múltipla para aplicação em MPEs no âmbito em que a pesquisa foi realizada. Esta pesquisa possibilitou que novas variáveis fossem analisadas ao longo do processo de avaliação da construção do conceito de inovatividade e suas categorias advindas da TQM, sendo, do ponto de vista prático, uma possível fonte de vantagem competitiva para MPEs que atuam em setores tradicionais da economia (DE CARVALHO et al., 2017DE CARVALHO, G. D. G. et al. Innovativeness measures: a bibliometric review and a classification proposal. International Journal of Innovation Science, v. 9, n. 1, p. 81-101, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; GROZA; ZMICH; RAJABI, 2021GROZA, M. D.; ZMICH, L. J.; RAJABI, R. Organizational innovativeness and firm performance: Does sales management matter?. Industrial Marketing Management, v. 97, p. 10-20, 2021.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

4 CONCLUSÃO

A presente pesquisa definiu como objetivo geral validar uma escala multidimensional para avaliar a inovatividade em Micro e Pequenas Empresas (MPEs) que atuam em setores tradicionais da economia na Região Metropolitana de Natal/RN, à luz dos princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM). Assim, foi realizado um estudo exploratório por meio de uma survey, aplicada em 542 MPEs que estão sediadas na Região Metropolitana de Natal/RN, atuantes nos setores tradicionais da economia e que participaram do programa de extensão de Agentes Locais de Inovação (ALI), no período de 2014 a 2018. Os dados foram tratados estatisticamente pela aplicação de técnicas multivariadas, como a Análise Fatorial Exploratória e a Análise Fatorial Confirmatória, por meio de um modelo de mensuração elaborado com base em PLS-SEM.

A Análise Fatorial Exploratória (AFE), que ancorou o estudo das estruturas subjacentes das variáveis manifestas, resultou, para o modelo de inovatividade, na formação de 5 fatores dos 7 construtos propostos pela teoria. Dessa forma, foram agrupados os fatores “Pessoas” e “Informação e Conhecimento”, formando um único fator, denominado “Pessoas, Informação e Conhecimento” (PInfConhec - ξ1, ξ2). Além disso, outro agrupamento se deu entre as variáveis manifestas nos construtos “Sociedade” e “Processos”, formando o fator denominado “Sociedade e Processos” (SocProc - ξ3, ξ4). Esses construtos foram amparados pelas suas semelhanças teóricas, sendo incorporados ao modelo final da pesquisa conforme o agrupamento da AFE (POWELL, 1995POWELL, T. C. Total quality management as competitive advantage: a review and empirical study. Strategic management journal, v. 16, n. 1, p. 15-37, 1995.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.). O modelo de AFE apresentou adequação global satisfatória e apontou a existência de correlações suficientes entre as variáveis para procedê-lo (teste de esfericidade de Bartlett).

A variância total explicada para os modelos de inovatividade foi 0,7 da variância total das variáveis originais, indicando ajuste adequado das variáveis latentes aos seus respectivos modelos teóricos. Com a reformulação do modelo, a partir dos resultados de AFE, foi verificada a consistência interna dos dados por meio do Alfa de Cronbach, apresentando-se superiores a 0,8 e indicando, por conseguinte, consistência interna dos construtos de inovatividade.

A Análise Fatorial Confirmatória foi modelada por meio da aplicação da PLS-SEM, a qual avaliou o modelo de mensuração confirmatório, a partir dos resultados identificados na AFE. A AFC atestou bons índices de ajustamento para todos os construtos de inovatividade, para o qual foram avaliados os índices de Confiabilidade Composta (CC), todos superiores a 0,9; variâncias médias extraídas (Average Variance Extracted - AVEs), com índices superiores a 0,6; e validade discriminante, que atestou que os construtos são independentes uns dos outros, ao se verificar no modelo que as raízes quadradas das AVEs são maiores que as correlações entre os construtos.

A contribuição teórica se identifica ao passo que o cabedal teórico deste estudo foi determinante para a compreensão ampla e livre de distorções dos conceitos de inovatividade (innovativeness) (GARCIA; CALANTONE, 2002GARCIA, R.; CALANTONE, R. A critical look at technological innovation typology and innovativeness terminology: a literature review. Journal of product innovation management, v. 19, n. 2, p. 110-132, 2002.; QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015QUANDT, C. O.; BEZERRA, C. A.; FERRARESI, A. A. Dimensões da inovatividade organizacional e seu impacto no desempenho inovador: proposição e avaliação de um modelo. Gestão & Produção, v. 22, n. 4, p. 873-886, 2015.; SILVA; DI SERIO, 2017SILVA, G.; DI SERIO, L. C. Revisitando os Pressupostos Básicos da Teoria de Inovação. In: EnANPAD. 41, 2017, São Paulo. Anais EnANPAD, 2017.). Este estudo foi operacionalizado e confirmado a partir das evidências empíricas que indicam a inovatividade como as capacidades organizacionais ou as competências que uma organização possui para introduzir inovação (DOTZEL; SHANKAR; BERRY, 2013DOTZEL, T.; SHANKAR, V.; BERRY, L. L. Service innovativeness and firm value. Journal of Marketing Research, v. 50, n. 2, p. 259-276, 2013.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

Como implicação gerencial se destaca o fato de que as condições atestadas pelos resultados empíricos indicam que as dimensões de inovatividade, visualizadas a partir dos conceitos da TQM, estão presentes nas práticas gerenciais de MPEs por meio de seus recursos e de suas capacidades (BOU-LLUSAR et al., 2009BOU-LLUSAR, J. C.; ESCRIG-TENA, A. B.; ROCA-PUIG, V.; BELTRÁN-MARTÍN, I. An empirical assessment of the EFQM Excellence Model: Evaluation as a TQM framework relative to the MBNQA Model. Journal of Operations Management, v. 27, n. 1, p. 1-22, 2009.; TEECE, 2010TEECE, D. J. Business models, business strategy and innovation. Long range planning, v. 43, n. 2-3, p. 172-194, 2010.; SILVA et al., 2016SILVA, G. et al. Relationships and partnerships in small companies: strengthening the business through external agents. BAR-Brazilian Administration Review, v. 13, n. 1, p. 1-18, 2016.; ZAPATA-CANTU; DELGADO; GONZALEZ, 2016ZAPATA-CANTU, L.; DELGADO, J. H. C.; GONZALEZ, F. R. Resource and dynamic capabilities in business excellence models to enhance competitiveness. The TQM Journal, v. 28, n. 6, p. 847-868, 2016.; ALVES et al., 2017ALVES, A. C.; BARBIEUX, D.; REICHERT, F. M.; TELLO-GAMARRA, J.; ZAWISLAK, P. A. Innovation and dynamic capabilities of the firm: defining an assessment model. Revista de Administração de Empresas, v. 57, n. 3, p. 232-244, 2017.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.), uma vez que essas dimensões são aplicadas ao diagnóstico de alinhamento das práticas de TQM em MPEs. Essa avaliação é fortemente difundida no âmbito nacional pela Fundação Nacional de Qualidade (FNQ), cujos princípios estão presentes no contexto das MPEs brasileiras (SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.). Sendo assim, o modelo proposto pode ser um guia para o processo de desenvolvimento destas competências em MPEs, no qual o gestor, a partir das dimensões identificadas para a inovatividade, pode traçar uma base estratégica para gerenciar o seu processo de inovação, desenvolvendo as competências, capacidades e recursos capazes de impulsionar a vantagem competitiva a partir das inovações geradas, resultando na evolução de objetivos e desempenho de qualidade para objetivos e desempenho de inovação (PRAJOGO; SOHAL, 2003PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The relationship between TQM practices, quality performance, and innovation performance: An empirical examination. International journal of quality & reliability management, v. 20, n. 8, p. 901-918, 2003.; 2004PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The multidimensionality of TQM practices in determining quality and innovation performance-an empirical examination. Technovation, v. 24, n. 6, p. 443-453, 2004.; SANTOS et al., 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; GROZA; ZMICH; RAJABI, 2021GROZA, M. D.; ZMICH, L. J.; RAJABI, R. Organizational innovativeness and firm performance: Does sales management matter?. Industrial Marketing Management, v. 97, p. 10-20, 2021.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.).

Embora tenham sido apresentadas algumas contribuições teóricas e implicações gerenciais desta pesquisa, algumas limitações devem ser reconhecidas, proporcionando aos pesquisadores oportunidades futuras de pesquisa e ações empíricas por meio da realização de novos estudos com modelagens confirmatórias. A primeira se deve ao fato do estudo possuir características regionais, apresentando como universo MPEs sediadas na cidade de Natal e que participaram do programa de extensão ALI de 2014 a 2018, atendendo ao propósito da pesquisa porque estão familiarizadas com as terminologias e os conceitos das práticas de inovatividade. No entanto, outras empresas de uso intensivo de TQM, que participaram de prêmios de melhoria de qualidade como o PNQ/FNQ, podem ter sido deixadas fora deste estudo. Portanto, utilizando dados coletados de MPEs que participaram de prêmios como o PNQ/FNQ e que não participaram do programa ALI, seria promissor replicar esta pesquisa em estudos futuros. A segunda limitação se trata de que a presente pesquisa não dá conta de esmiuçar como e por qual motivo as práticas de inovatividade conduzem à inovação, a partir de uma avaliação empírica. Com o objetivo de validar uma escala multidimensional para avaliar a inovatividade em Micro e Pequenas Empresas (MPEs), seria importante a realização, em estudos futuros, de análises para investigar a relação entre a inovatividade e a geração de inovações em MPEs.

Apesar das limitações supracitadas, esta pesquisa contribui para o avanço da literatura, conforme argumentadoa seguir. Enquanto trabalhos anteriores se limitaram a identificar, sob a ótica de modelos unidimensionais, práticas de inovatividade nas organizações (DE CARVALHO et al., 2018DE CARVALHO, G. D. G. et al. The Impact of Organizational Innovativeness on Product-oriented innovativeness in Agro-industrial micro and small businesses. International Journal of Innovation, v. 6, n. 3, p. 217-231, 2018.), este estudo aprimora a compreensão das práticas de inovatividade, apresentado uma visão de aplicação sistêmica destas em MPEs (PRAJOGO; SOHAL, 2003PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The relationship between TQM practices, quality performance, and innovation performance: An empirical examination. International journal of quality & reliability management, v. 20, n. 8, p. 901-918, 2003.; 2004PRAJOGO, D. I.; SOHAL, A. S. The multidimensionality of TQM practices in determining quality and innovation performance-an empirical examination. Technovation, v. 24, n. 6, p. 443-453, 2004.; SADIKOGLU; HONARPOUR; JUSOH; MD NOR, 2012HONARPOUR, A.; JUSOH, A.; MD NOR, K. Knowledge management, total quality management and innovation: A new look. Journal of technology management & innovation, v. 7, n. 3, p. 22-31, 2012.; KIM; KUMAR; KUMAR, 2012KIM, D.; KUMAR, V.; KUMAR, U. Relationship between quality management practices and innovation. Journal of operations management, v. 30, n. 4, p. 295-315, 2012.; BON; MUSTAFA, 2013BON, A. T.; MUSTAFA, E. M. A. Impact of total quality management on innovation in service organizations: Literature review and new conceptual framework. Procedia Engineering, v. 53, p. 516-529, 2013.; ZENG; PHAN; MATSUI, 2015ZENG, J.; PHAN, C. A.; MATSUI, Y. The impact of hard and soft quality management on quality and innovation performance: An empirical study. International Journal of Production Economics, v. 162, p. 216-226, 2015.; RUIZ-MORENO et al., 2016RUIZ-MORENO, A. et al. Quality management and administrative innovation as firms' capacity to adapt to their environment. Total Quality Management & Business Excellence, v. 27, n. 1-2, p. 48-63, 2016.; ZENG, J. et al., 2017; SANTOS et al, 2018SANTOS, M. B. et al. Reference models and competitiveness: an empirical test of the management excellence model (MEG) in Brazilian companies. Total Quality Management & Business Excellence, v. 29, n. 3-4, p. 346-364, 2018.; GROZA; ZMICH; RAJABI, 2021GROZA, M. D.; ZMICH, L. J.; RAJABI, R. Organizational innovativeness and firm performance: Does sales management matter?. Industrial Marketing Management, v. 97, p. 10-20, 2021.; ALANAZI, 2021ALANAZI, M. H. Towards a further step in understanding business excellence models: a comparative approach. Benchmarking: An International Journal, 2021.). Finalmente, a aplicação da inovatividade como preditor de inovação é promissor considerando o seu potencial para ativar capacidades organizacional e recursos estratégicos na busca pela geração de vargem competitiva em MPEs de setores tradicionais da economia.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    28 Jul 2023
  • Aceito
    20 Out 2023
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