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Análise das dissertações e teses de enfermagem sobre adolescência, Brasil, 1979-2000

Analyse of nursing dissertations and theses on adolescence - Brazil, 1979-2000

El análisis de las disertaciones y tesis sobre la adolescencia, Brasil, 1979-2000

Resumos

Objetivou-se averiguar o conhecimento produzido na enfermagem brasileira sobre adolescência de 1979 a 2000. A pesquisa documental relacionou resumos das dissertações e teses contidas no CD-room do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN), cujas temáticas eram adolescência/adolescente. Os resultados, discutidos de acordo com os conceitos de Meleis (1997) e a literatura pertinente, mostram 46 trabalhos, sendo 37 dissertações, com defesa na Região Sudeste (32), desenvolvidas, prioritariamente, no período 1995-1999. As tendências teórico-metodológicas demonstraram prevalência de estudos clínicos (22), ligados ao adolescente, de natureza qualitativa (34). Concluímos que há necessidade de estudos que contemplem o adolescente em seu contexto familiar e comunitário, como também é necessário maior incentivo ao desenvolvimento de teses em regiões menos favorecidas do país.

adolescente; enfermagem; conhecimento


This study aimed at checking the nursing knowledge produced about adolescence in Brazil from 1979 to 2000. The document-based research listed abstracts of dissertations and theses contained on the CD-ROM of the Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN), the topics of which were adolescence/adolescent. The results, discussed in accordance with the concepts of Meleis (1997) and the relevant literature, show 46 works, 37 of them dissertations, defended in the Southeast Region (32), developed mostly between 1995 e 1999. The theoretical and methodological tendencies showed prevalence of clinical studies (22) related to the adolescent, of a qualitative nature (34). We concluded that there is a need for studies that include the adolescent in his/her family and community context. Also, greater incentive is necessary for the development of theses in poorer regions of the country.

adolescent; nursing; knowledge


Se apuntó a descubrir el conocimiento producido en el enfermería brasileña sobre la adolescencia de 1979 a 2000. La investigación documentaria relacionó los resúmenes de las disertaciones y tesis contenidos en el CD del Centro de Estudios e Investigaciones de Enfermería cuyo temático ellos eran adolescencia/adolescente. Los resultados, discutió de acuerdo con los conceptos de Meleis (1997) y la literatura pertinente, muestra 46 trabajos, siendo 37 disertaciones, con la defensa en el Área del Sudeste (32), desarrolló, principalmente, en el periodo 1995-1999. Las tendencias teórico-metodológicas demostraron predominio de estudios clínicos (22), se unió al adolescente, de naturaleza cualitativa (34). Se concluye que hay necesidad de estudios que ellos contemplan al adolescente en su familia y contexto de la comunidad, así como es necesario el incentivo más grande al desarrollo de tesis en las áreas menos favorecidas del país.

adolescencia; enfermería; conocimiento


REVISÃO

Análise das dissertações e teses de enfermagem sobre adolescência, Brasil, 1979-2000

Analyse of nursing dissertations and theses on adolescence - Brazil, 1979-2000

El análisis de las disertaciones y tesis sobre la adolescencia, Brasil, 1979-2000

Thereza Maria Magalhães MoreiraI; Maria Salete Bessa JorgeII; Francisca Elisângela Teixeira LimaIII

IEnfermeira. Doutora em Enfermagem, Professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem, Professora Titular da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

IIIEnfermeira. Doutoranda em Enfermagem, Professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

E-mail do autor: tmoreira@uece.br

RESUMO

Objetivou-se averiguar o conhecimento produzido na enfermagem brasileira sobre adolescência de 1979 a 2000. A pesquisa documental relacionou resumos das dissertações e teses contidas no CD-room do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN), cujas temáticas eram adolescência/adolescente. Os resultados, discutidos de acordo com os conceitos de Meleis (1997) e a literatura pertinente, mostram 46 trabalhos, sendo 37 dissertações, com defesa na Região Sudeste (32), desenvolvidas, prioritariamente, no período 1995-1999. As tendências teórico-metodológicas demonstraram prevalência de estudos clínicos (22), ligados ao adolescente, de natureza qualitativa (34). Concluímos que há necessidade de estudos que contemplem o adolescente em seu contexto familiar e comunitário, como também é necessário maior incentivo ao desenvolvimento de teses em regiões menos favorecidas do país.

Descritores: adolescente; enfermagem; conhecimento

ABSTRACT

This study aimed at checking the nursing knowledge produced about adolescence in Brazil from 1979 to 2000. The document-based research listed abstracts of dissertations and theses contained on the CD-ROM of the Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN), the topics of which were adolescence/adolescent. The results, discussed in accordance with the concepts of Meleis (1997) and the relevant literature, show 46 works, 37 of them dissertations, defended in the Southeast Region (32), developed mostly between 1995 e 1999. The theoretical and methodological tendencies showed prevalence of clinical studies (22) related to the adolescent, of a qualitative nature (34). We concluded that there is a need for studies that include the adolescent in his/her family and community context. Also, greater incentive is necessary for the development of theses in poorer regions of the country.

Descriptors: adolescent; nursing; knowledge

RESUMEN

Se apuntó a descubrir el conocimiento producido en el enfermería brasileña sobre la adolescencia de 1979 a 2000. La investigación documentaria relacionó los resúmenes de las disertaciones y tesis contenidos en el CD del Centro de Estudios e Investigaciones de Enfermería cuyo temático ellos eran adolescencia/adolescente. Los resultados, discutió de acuerdo con los conceptos de Meleis (1997) y la literatura pertinente, muestra 46 trabajos, siendo 37 disertaciones, con la defensa en el Área del Sudeste (32), desarrolló, principalmente, en el periodo 1995-1999. Las tendencias teórico-metodológicas demostraron predominio de estudios clínicos (22), se unió al adolescente, de naturaleza cualitativa (34). Se concluye que hay necesidad de estudios que ellos contemplan al adolescente en su familia y contexto de la comunidad, así como es necesario el incentivo más grande al desarrollo de tesis en las áreas menos favorecidas del país.

Descriptores: adolescencia; enfermería; conocimiento

1 Introdução

A faixa adolescente representa 34 milhões de indivíduos no Brasil(1). Este grande contingente de jovens brasileiros evidencia a necessidade de políticas públicas que lhes garantam saúde, educação, bem-estar e o desenvolvimento de suas potencialidades.

No enfoque de saúde integral, é necessário que seja priorizado o modo de vida das pessoas e seus vínculos(2), respeitando a saúde no contexto cultural.

A adolescência constitui um processo biológico de vivências orgânicas, no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade, abrangendo a faixa etária dos 10 aos 19 anos(3).

O adolescente pode ser definido como alguém que teve o tempo necessário para assimilar valores na comunidade; alguém cujo corpo chegou à maturação necessária para que possa se consagrar às tarefas que lhe são apontadas por esses valores, competindo no mundo em condições de igualdade(4).

O Ministério da Saúde considera adolescência como a faixa etária que vai dos 12 aos 19 anos5, abrangendo nesta faixa os conflitos enfrentados por estes indivíduos, as mudanças físicas, sexuais, emocionais e relacionais como sendo um processo natural do desenvolvimento e da firmação de sua personalidade.

A adolescência pode ainda ser considerada uma fase do desenvolvimento humano situada entre a infância e a vida adulta, marcada por transformações biológicas da puberdade e relacionada à maturidade biopsicosocial. Um período crítico frente a tais mudanças, sujeito a crises características dessa fase. É um momento de definição sexual, profissional e social; onde o ser adquire ou descobre novos valores e adota novas responsabilidades(3).

Diante de tais definições, temos que na implementação das políticas públicas necessárias pesam as pesquisas feitas na área. O interesse dos estudiosos sobre a adolescência tem aumentado muito nos últimos anos. Temas como o conceito de adolescência, a faixa etária que abrange, seus comportamentos característicos, os agravos e as condições de saúde dessa clientela têm chamado a atenção dos pesquisadores e ilustrado as páginas dos periódicos nos últimos anos.

Essa valorização do adolescente, no entanto, é recente. Há cerca de um século, a adolescência não era tema reconhecido, compondo um grupo social sem destaque na sociedade, o que tem se revertido na modernidade, rendendo um vasto campo de produção científica(4).

O Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), criado em 1989 pelo Ministério da Saúde brasileiro, prevê a interação com outros setores no sentido de promoção da saúde, identificação de grupos de risco, detecção precoce de agravos, tratamento adequado e reabilitação dos indivíduos nesta faixa etária, de forma integral, multisetorial e interdisciplinar. Propõe ainda, entre muitas ações, o exercício de uma rede de referência e contra-referência no setor saúde, em centros culturais e organizações comunitárias; o apoio à implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente; a discussão de assuntos do interesse dos adolescentes; o intercâmbio de informações sobre a adolescência; e a participação do adolescente como agente multiplicador na promoção de saúde de seus pares(3).

O enfermeiro, como profissional de saúde, é responsável pela promoção e proteção da saúde dos adolescentes, com ações vinculadas às globais, considerando aspectos políticos, sociais e econômicos que envolvam a saúde como respeito à sua cidadania; e pela publicação desses trabalhos(6). Assim, a produção de conhecimentos pela enfermagem em saúde do adolescente é processo recente, como também a atuação do profissional junto a esse grupo, que vem se configurando como objeto da assistência de enfermagem nas últimas décadas(7).

A produção científica nas várias áreas do conhecimento é meio indispensável para o alcance do conhecimento científico. Os enfermeiros necessitam de conhecimento que proporcione base sólida ao desenvolvimento de sua prática, o que é exigência para sua plena autonomia(8). O processo da produção do conhecimento, incluindo sua caracterização, tipo, organização, padrões e formas têm se constituído em um tema de constante preocupação desta ciência(9).

A enfermagem tem estruturado princípios, normas, significados e formulado um corpo de conhecimentos próprio. Tais esforços se concentram a partir de experiências em sua prática, aperfeiçoando ou recriando um significado conceitual do pensar o fazer em enfermagem. As informações decorrentes dessas pesquisas têm contribuído na definição de seu papel institucional e social.

O atual momento de desenvolvimento do conhecimento de enfermagem no campo empírico, em detrimento do clínico, favorece a criação de um espaço de abstração e de construção de conceitos que representam o âmbito da enfermagem(9).

As pesquisas em enfermagem devem ser desenvolvidas disciplinadamente, com ações específicas e decisões apropriadas, custo-efetivas e que resultem em melhoria do cuidado. As pesquisas de enfermagem na área de saúde do adolescente devem, portanto, resultar em melhoria da atenção à saúde desse grupo. Mas que conhecimentos estão sendo produzidos na enfermagem sobre adolescência? Qual abordagem de conhecimento está sendo produzida? Há modelos teórico-referenciais que fundamentam esta produção? Em que ambientes os dados foram colhidos?

A proposta deste trabalho tem vínculo com o desenvolvimento do ensino de enfermagem em saúde coletiva na universidade pela autora, onde uma das áreas de estudo é a saúde do adolescente, além do constante convívio com esta clientela nos serviços de saúde e na universidade, e da realização de curso de especialização na área, chamando sua atenção para a referida temática. A intenção foi de buscar maior conhecimento acerca das dissertações e teses realizadas na área nos últimos anos, para realizar um diagnóstico do que está sendo publicado, mostrando caminhos para novos enfoques.

A partir do exposto, traçamos como objetivo geral: Averiguar o conhecimento produzido na enfermagem brasileira sobre a temática adolescência no período de 1979 a 2000. E como objetivos específicos: 1)traçar um perfil das dissertações e teses relacionadas no período; 2)analisar as tendências teórico-metodológicas relativas a esta produção e 3)sugerir áreas prioritárias no trabalho dos enfermeiros com adolescentes a partir do encontrado na coleta de dados.

2 Procedimentos metodológicos

O estudo é de natureza documental, que pode se constituir de uma abordagem valiosa(10) seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema.

A pesquisa documental compreende as seguintes fases: escolha do tema, delimitação dos objetivos, elaboração do plano de trabalho, identificação e localização das fontes a serem pesquisadas, obtenção e leitura do material identificado, apontamento deste material por meio de fichas, análise, interpretação dos dados e redação final do estudo. Essas fases ocorrem numa seqüência natural e de forma articulada(11).

Os documentos utilizados para o desenvolvimento do estudo foram os contidos no CD-room do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN), compreendendo os resumos das dissertações e teses desde 1979 a 2000, limites de catalogação do CD-room e tempo considerado adequado para o desenvolvimento de pesquisas documentais.

Foram selecionadas as dissertações e teses cujas temáticas eram adolescência ou adolescente. Uma vez de posse dessas pesquisas, as mesmas foram submetidas a leituras exaustivas, exploratórias, seletivas e analíticas, nas quais procuramos identificar e responder os questionamentos previamente determinados em um instrumento, que foi submetido à testagem para sua melhor adequação ao estudo.

De posse da análise das produções, os resultados foram apresentados em gráficos, de modo a permitir melhor compreensão dos mesmos. A partir daí, buscamos discutí-los respaldadas em fundamentação teórica, sendo escolhido para esta análise os conceitos de Meleis(12), além da literatura pertinente. O referencial proposto pela autora refere três tipos de abordagens do conhecimento:

- Clínica, com a descoberta de fenômenos e o emergimento de conceitos, sua proposta é explicar, prescrever, desenvolver teorias e a prática clínica. Sua evolução é guiada para situações práticas e suas proposições envolvem a linguagem da experiência;

- Conceitual, com descoberta de fenômenos, seus conceitos são utilizados ou redefinidos em teorias, sua proposta visa o desenvolvimento da teoria e sua aproximação é com a conceitualização. Sua evolução é guiada para a teoria;

- Empírico, com a criação de fenômenos. Seus conceitos são utilizados, redefinidos e modificados para a pesquisa. Propõe descrever, prever, explicar, desenvolver a teoria. Tem aproximação com testes de mensuração e sua evolução é guiada à pesquisa.

A escolha por essa proposta se deu pelo fato desse modelo ser claro, simples e suficientemente abrangente no foco em questão.

3 Resultados e discussão

Na análise, detectamos que o número de autores e o do somatório de dissertações e teses foi de 46. A seguir, apresentaremos algumas características dessa produção.

No Gráfico 1, observamos que 20% (nove) dos estudos realizados no período de 1979 a 2000, acerca da temática adolescente registrados no CD-room são teses de doutorado e 80% (37) são de dissertações de mestrado.


Esses dados podem ser decorrentes do maior acesso dos enfermeiros ao mestrado que ao doutorado, pois os programas de pós-graduação em enfermagem que contemplam o doutorado ainda são restritos, privilegiando alguns estados do Brasil, em geral, os localizados na região Sudeste.

A enfermagem, ao longo das últimas décadas, tem se empenhado na construção de um corpo de conhecimento marcado por conceitos amplos, focalizando a sistematização da assistência(13).

Essa afirmação condiz com o elevado número de dissertações e teses pesquisadas sobre a adolescência, e nos leva a refletir que essa fase da vida tem merecido a atenção de vários estudiosos e tem sido descrito como uma fase de desenvolvimento do ser humano(14), onde ocorrem grandes transformações no indivíduo em nível corporal, mental e social.

Dessa forma, reiteramos a necessidade de estudo da saúde do adolescente nos programas de pós-graduação em enfermagem.

No Gráfico 2, verificamos que há uma predominância de apresentações de dissertações e de defesas de teses sobre a temática adolescente na região Sudeste, totalizando 32 dos 46 estudos encontrados sobre adolescente.


Ressaltamos que houve uma predominância no Rio de Janeiro, na Escola de Enfermagem Anna Nery, com 13 estudos; seguida de São Paulo, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, com oito estudos.

Destacamos, ainda, a produção da Região Nordeste na temática, que foi de 11 trabalhos, entre dissertações e teses, sendo cinco na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), três na Universidade Federal do Ceará (UFC) e três na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o que já pode ser um resultado do incentivo às pesquisas nessa região nos últimos anos. Ressalte-se, ainda, a contribuição da Rede de Enfermagem do Nordeste (RENE) na elevação da produção científica nessa região. Esse número é considerado ainda mais relevante se comparado com a produção da Região Sul, que foi de apenas três estudos.

Os achados podem ser decorrentes de a maioria dos cursos de pós-graduação estarem localizados na Região Sul e Sudeste, o que vem contribuir com a formação de massa crítica para criação desses programas, dificultando, assim, a ampliação dessa formação para outras regiões do país.

Nos últimos anos, uma política de incentivo à pesquisa tem se estabelecido nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, numa tentativa de melhor distribuição dos centros de pesquisa no país, podendo haver melhoria nessas regiões nos próximos anos.

No Gráfico 3, observamos que o interesse sobre o adolescente é recente e tem aumentado significativamente nos últimos anos. A prova disso é que até o início da década de 90 somente dois trabalhos foram registrados no CEPEn sobre a temática. No período de 1990 a 1994 houve um aumento nessa produção de 450% em relação à época anteriormente citada, elevando de dois para nove estudos na área. Esse aumento é, numericamente, ainda mais notório no período de 1995 a 1999, quando houve um total de 35 trabalhos desenvolvidos na área, numa clara ascensão do interesse dos pesquisadores pela temática.


Portanto, percebemos que há uma necessidade cada vez maior de se pesquisar sobre o tema devido às peculiaridades próprias da adolescência, que requerem um cuidar e um pesquisar sistematizado e direcionado para essa clientela.

A cada dia a enfermagem amplia o seu campo de conhecimento como forma de otimizar a prática profissional, adquirir reconhecimento social e reforçar o caráter de cientificidade da profissão(13). Tal afirmação corrobora com o demonstrado no gráfico 3, ao se observar o crescimento da pesquisa sobre adolescência nos últimos anos.

Acreditamos que a atualização desses resultados até o ano de 2003 continuaria demonstrando uma curva ascendente do interesse pelo assunto, devido ao atual momento em que se encontram as políticas públicas voltadas ao adolescente no país em fase de delimitação e aprimoramento.

Em relação à temática, vemos no Gráfico 4 que as dissertações e teses se voltaram ao estudo do tema, abordando questões como a adolescência de forma genérica, com nove pesquisas; a pessoa do adolescente em si, com 25 estudos; mãe adolescente, com sete trabalhos desenvolvidos; e criança e adolescente, com cinco pesquisas.


Inseridos nestas questões, foram focalizados os assuntos: Processo saúde-doença (12), sexualidade (7), atendimento ao adolescente (5), ação ou processo de enfermagem (4), educação em saúde (3), saúde mental do adolescente (2), contracepção (2), aleitamento materno na adolescência (2), meninos de rua (2), cuidado com a família (1), desnutrição (1), violência no trânsito (1), trabalho (1), álcool (1), abuso sexual (1) e aborto (1).

Percebemos, então, a grande abrangência temática em que está inserida a adolescência. Nesta fase, o adolescente tem que encarar diversas mudanças - a menina é obrigada a lidar com um novo corpo que ainda desconhece e a adequar-se ao novo papel de mulher, e o menino sofre mudanças no tom da voz e no corpo, entre outras modificações significativas, como as alterações psicológicas, caracterizadas pela rebeldia, configurando a adolescência como um período envolto na necessidade de auto-afirmação.

De um modo geral, o comportamento dos jovens sofre influência de fatores socioculturais e econômicos, freqüentemente com características regionais. Muitas vezes, na ânsia de se adaptarem às mudanças, os adolescentes não encontram respostas para suas indagações, procurando compensação por meio da agressividade, da gravidez na adolescência, do desinteresse pelos estudos, envolvimentos com álcool e outras drogas. Estes problemas têm se tornado freqüentes na sociedade e uma das formas para tentar prevení-los é orientá-los sobre os assuntos de seu interesse e ocupá-los em atividades recreativas, educativas e profissionalizantes, acompanhando-os sob uma ótica sistematizada das ações de enfermagem, observada nos estudos desenvolvidos, que relacionam atendimento ao adolescente, ação ou processo de enfermagem, educação em saúde, saúde mental do adolescente, entre outros, conforme narrado anteriormente. Cabe aos demais profissionais de saúde também estudar meios apropriados de acompanhamento.

Percebemos que atualmente a literatura tem estudado, entre outros enfoques, questões inerentes à convivência dos adolescentes com os familiares, indo ao encontro de necessidades observadas na observação de que a família ressente-se dos momentos de viver com o aconchego do espaço reservado para seus membros, o que conduz ao distanciamento entre as pessoas e dificulta o encontro familiar tão importante nessa fase de vida(14). Observamos também o grande interesse por temas ligados à vida reprodutiva dos adolescentes - sexualidade, contracepção, abuso sexual e aborto. E, ainda, sobre as práticas de enfermagem voltadas a esse grupo.

A atuação da enfermagem com o público adolescente é freqüente e deve utilizar estudos teóricos para embasar sua prática visando o pleno desenvolvimento das potencialidades dos adolescentes..

No Gráfico 5, observamos que 22 dos 46 estudos são ligados à área clínica, ou seja são estudos relacionados a doenças, formas de tratamento, entre outros. Nove estudos são empíricos, relacionados a experiências, e 15 são conceituais, que refletem sobre o fazer da enfermagem, para posteriormente aperfeiçoar a prática.


Apreendemos, portanto, que o modelo biomédico ainda se encontra fortemente arraigado nos estudos desenvolvidos pelos enfermeiros sobre a adolescência. O atual estágio de desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) faz com que essa seja uma visão ultrapassada na compreensão do processo saúde-doença, tornando necessário o desenvolvimento de mais pesquisas empíricas e conceituais. Os estudos conceituais são indispensáveis ao aprimoramento e aprofundamento da prática de enfermagem no sentido de explicar, desenvolver teorias e a prática clínica, redimensionando situações práticas e suas proposições(12), as quais envolvem a teoria e a prática de enfermagem.

Quanto à natureza das dissertações e teses sobre adolescência, há uma nítida predominância de estudos qualitativos (34), em detrimento dos quantitativos (12).

Os estudos qualitativos citados foram etnográfico (4), fenomenológico (7), interacionismo simbólico (1), representação social (5), materialismo histórico/dialético (5) e outros estudos qualitativos sem fundamentação teórica descrita no resumo do CEPEn (12).

No total, foram 43 estudos exploratório-descritivos, dois experimentais e um estudo bibliográfico. As pesquisas qualitativas direcionam a uma experiência social, valem-se da fonte oral e se encaminham na busca dos significados de vivências para os sujeitos(15). Essa aproximação da enfermagem com as ciências humanas é justificada pelo seu direcionamento ao cuidar de seres humanos, dos quais necessita conhecer as nuanças e subjetividades a fim de traçar linhas de ação para o cuidar.

Por outro lado, a realidade não tem apenas sua versão qualitativa, mas também uma quantitativa, como observamos nos 12 trabalhos apresentados nessa vertente. Quanti e qualitativo, ao mesmo tempo em que se opõem, complementam-se, dando corpo a uma compreensão totalizadora da realidade(16)).

Quanto aos sujeitos envolvidos nas dissertações e teses analisadas, 30 pesquisaram somente os adolescentes, cinco a família do adolescente, três os adolescentes e os profissionais, sete pesquisaram mães adolescentes e um fez pesquisa bibliográfica do tema.

Uma compreensão ampliada das vivências desse adolescente é necessária na busca da melhor delimitação de intervenções para sua saúde, requisitando o estudo não somente do adolescente, mas também das pessoas que compartilham seu cotidiano e interferem no cuidar de sua saúde, como sua família e comunidade.

A necessidade da existência de serviços de saúde de qualidade tem sido defendida como um desafio ao alcance de melhores condições de vida e saúde dos adolescentes, o que também significa compreender a importância das dimensões econômica, social e cultural que permeiam a vida desse grupo(5).

Portanto, é nítida a necessidade de estudos que envolvam mais a família do adolescente e a comunidade na qual ele vive, tornando-os sujeitos partícipes e atuantes em todo o processo de saúde-doença e capacitando-os à promoção da saúde e ao gerenciamento de suas necessidades de saúde, nos casos em que isso é possível.

No Gráfico 8, percebemos que 22 autores não referem o local de coleta de dados, nove a escola, sete citam o hospital, seis o ambulatório ou centro de saúde, um o Instituto Médico Legal (IML) e um o domicílio como local de coleta de dados.


Dos locais de estudo descritos, ainda observamos uma elevada concentração de pesquisas nas unidades de saúde (13) e poucas no habitat desse adolescente (01), sendo que uma importante referência de elo entre esses tem sido a escola, com nove estudos.

A escola se constitui, indiscutivelmente, um espaço importante e privilegiado para o desenvolvimento pessoal e social dos adolescentes e para seu direcionamento aos serviços de saúde5. Educação e saúde historicamente têm caminhado de mãos dadas na busca de melhores condições de vida e saúde à população, especialmente entre adolescentes, clientela largamente encontrada nas escolas e alvo de muitas ações em saúde. Essa intersetorialidade é importante e pode ser útil na elaboração e implementação de políticas públicas mais próximas do cotidiano do adolescente, facilitando o alcance dos objetivos traçados por essas e conduzindo a um movimento maior de cidadania e autonomia em saúde.

4 Considerações finais

A partir do exposto, podemos concluir que, das 46 dissertações de mestrado e teses de doutorado cadastradas pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEn) como referentes ao período 1979-2000 sobre a temática saúde do adolescente, a maioria (37) são de dissertações, constituindo 80% do total encontrado, enquanto 20% são de teses.

Boa parcela teve sua defesa na Região Sudeste (32) e foi desenvolvida, prioritariamente, no período de 1995 a 1999 (35), o que demonstra um interesse recente por essa área e, ao longo do estudo, foi observada também uma elevação contínua dos números de pesquisas em enfermagem sobre adolescência.

Quanto às tendências teórico-metodológicas relativas a essa produção, foi observada a prevalência de estudos clínicos (22) e conceituais (15), ligados à pessoa do adolescente (25), à adolescência de forma genérica (9) e às mães adolescentes (7). Em sua maioria, constituíram estudos de natureza qualitativa (34) e foram desenvolvidos em unidades de saúde (13), tendo como alvo somente os adolescentes (30), não considerando, muitas vezes, o aspecto contextual da saúde nesse grupo.

Com base nos espaços sugeridos pela produção científica encontrada, passamos a sugerir como áreas prioritárias para o trabalho do enfermeiro com adolescentes: o desenvolvimento de pesquisas que considerem o adolescente em seu contexto, destacando o papel da família e da comunidade em que vive esse adolescente; a realização de pesquisas que tenham como cenário o universo comunitário, praticamente não relatado na produção encontrada; e o desenvolvimento de pesquisas empíricas e conceituais, que venham a equilibrar a totalização de pesquisas nos três tipos de abordagens do conhecimento apresentados.

Ressaltamos, ainda, que o desenvolvimento de teses de doutorado deve ser incentivado, em especial nas regiões mais carentes do país, valorizando a contribuição de tais pesquisas para a melhoria da condição social do povo brasileiro, numa assertiva clara aos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Data de Recebimento: 25/05/2004

Data de Aprovação: 28/06/2004

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Abr 2004

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2004
  • Aceito
    28 Jun 2004
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