In memoriam – Irmã Maria Tereza Notarnicola

Maria Notarnicola, descendente de italianos, nasceu em São Paulo, onde realizou seus estudos primários e secundários. Ingressou na Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo em 1937, quando estava com quase 17 anos de idade, com o nome de Irmã Maria Tereza. Trabalhou por cinco anos na Creche Catarina Labouré, em São Paulo, sendo em seguida transferida para Porto Alegre, onde sua superiora considerou que ela era muito habilidosa e poderia ser enfermeira. Assim, foi enviada para o Rio de Janeiro, onde se formou em 1947 pela Escola de Enfermagem Luiza de Marillac, da Pontifícia Universidade Católica, ano em que participou do I Congresso Nacional de Enfermagem, realizado em São Paulo. Como enfermeira, atuou em inúmeras instituições em Minas Gerais e Rio de Janeiro, em funções de chefia ou supervisão⁽¹⁾.

Em 1958, foi designada para fazer o curso em Enfermagem Obstétrica na Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (atual Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP), quando foi aluna de Madre Marie Domineuc. Em seguida, tornou-se Diretora do Departamento de Enfermagem e Supervisora da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, permanecendo no cargo até 1964, quando foi transferida para o Rio de Janeiro para atuar na Conferência dos Religiosos do Brasil^(2-3).

Recebeu bolsa de estudos de um ano (1959/1960) da Maison de France para fazer o curso de Pedagogia e Didática aplicada à Enfermagem, em Paris⁽¹⁾.

Participou ativamente na ABEn, em nível nacional, ocupando inúmeros cargos, como o de Primeira Tesoureira, Coordenadora de Comissões Permanentes e Especiais, Gerente da Revista Brasileira de Enfermagem e Secretária Executiva em duas gestões, de Ieda Alencar Barreira e Circe de Melo Ribeiro (segundo mandato). Em nível estadual, atuou no Rio de Janeiro e foi Presidente da ABEn – Seção de Minas Gerais⁽¹⁾.

Provavelmente, a contribuição mais sólida e efetiva de Irmã Maria Tereza foi na construção da sede da ABEn, em Brasília, em terreno doado pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), do Governo Federal. Recorde-se que a doação foi efetivada em atenção ao pedido de Maria Rosa Sousa Pinheiro, presidente da ABEn em 1958. Em 1967, no Congresso da ABEn, em Brasília, a presidente Circe de Melo Ribeiro lançou a pedra fundamental da sede como parte da estratégia de início de construção. Havia então ameaças de retomada do terreno, que era bem situado, porém em local descampado, na época, com muita poeira vermelha, vento e sem nenhum sinal de vida, o que dificultava a localização exata do terreno. De toda forma, a pedra fundamental foi lançada, incluindo-se na urna um exemplar do Correio Brasiliense do dia da inauguração do Congresso, o Diário Oficial do dia 20 de julho, a ata da doação do terreno, uma cópia da escritura definitiva do terreno, o estatuto da ABEn e uma foto da inauguração do Congresso, além da ata do lançamento com a assinatura dos presentes. Posteriormente, foi descoberto que, devido a um equívoco do topógrafo que identificara o local como sendo da ABEn, a pedra foi lançada em terreno vizinho, que pertencia a um centro espírita⁽¹⁾.

Em março de 1967 foi lavrada a escritura de doação, assinada pelo presidente da Novacap e pela presidente da ABEn, quando a Associação recebeu o prazo de dois meses para iniciar a construção e dois anos para completá-la. Irmã Tereza foi designada para coordenar diversas campanhas para arrecadação de fundos para iniciar a construção. Mesmo assim, foi necessário pedir uma prorrogação do prazo estabelecido⁽¹⁾.

Irmã Tereza assumiu totalmente a responsabilidade pelas finanças da ABEn, presidida na ocasião por Amália Corrêa de Carvalho, e sua atuação na ComissãoPró-Construção da sede foi essencial para o acompanhamento e finalização da construção em Brasília. Viajou inúmeras vezes pelas 18 horas em ônibus que separam Rio de Janeiro e Brasília para acompanhar o andamento das obras de construção no final da década de 1960, até sua inauguração em 1972, final de seu mandato⁽²⁾.

Conheceu e colaborou diretamente com o trabalho de todas as presidentes da ABEn Nacional, desde a primeira, Edith de Magalhães Fraenkel, incluindo Hilda Anna Kirsch, Zaira Cintra Vidal, Marina Bandeira de Oliveira, Waleska Paixão, Glete de Alcântara, Maria Rosa Sousa Pinheiro, Marina de Andrade Resende, Clarice Ferrarini, Circe de Melo Ribeiro, Amália Corrêa de Carvalho, Maria da Graça Corte Imperial, Ieda Alencar Barreira e Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, até o final da década de 1980. Trabalhou por 33 anos seguidos para a Enfermagem e para os enfermeiros brasileiros, recebendo diversas homenagens, como a Medalha de Honra ao Mérito em 1964, em Minas Gerais, a Placa de Prata em 1967, da ABEn – Seção da Guanabara, o Diploma de Honra ao Mérito em 1970 e o título de Enfermeira do Ano, em 1971, da ABEn Nacional^(1,3).

É um longuíssimo tempo. Muitas Irmãs de Caridade se destacaram em diferentes trabalhos para a ABEn e para a Enfermagem, mas somente uma se dedicou por tanto tempo e em tantas atividades: Irmã Maria Tereza Notarnicola.

REFERENCES

• ¹
  Oguisso T, Freitas GF. Irmã Tereza Notarnicola. Rev Bras Enferm [Internet]. 2006[cited 2017 Jun 29];59(6):762-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v59n6/a08.pdf
  » http://www.scielo.br/pdf/reben/v59n6/a08.pdf
• ²
  Oguisso T. Irmã Maria Tereza Notarnicola: uma vida em prol da Enfermagem [Internet]. São Paulo: Portal da Enfermagem; 30 Jun 2011 [cited 2017 Jun 29]. Available from: http://www.portaldaenfermagem.com.br/plantao_read.asp?id=1848
  » http://www.portaldaenfermagem.com.br/plantao_read.asp?id=1848
• ³
  Ferrarini CDT. Homenagem a enfermeira do ano. Rev Bras Enferm. 1972;25(4):31-3.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Nov-Dec 2017