EDITORIAL
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem. Goiânia-GO, Brasil. Associação Brasileira de Enfermagem, Diretoria de Assuntos Profissionais, gestão 2010-2013. Brasília-DF, Brasil
No Brasil, assim como em todo o mundo é marcante a discussão da mudança do modelo deatenção à Saúde Mental oferecido às pessoas que, num determinado momento da vida, precisam de cuidados especializados na área. Tais reflexões trazem desafios para todos os envolvidos neste processo: gestores, trabalhadores de saúde, formadores de recursos humanos, prestadores de serviço, além dos usuários do sistema de saúde e seus familiares.
A Lei 10.216/2001 legitimou o redirecionamento das ações da área da Saúde Mental, nos pondo diante de uma nova realidade assistencial, orientada para o modelo psicossocial em que estão previstos serviços abertos, de base comunitária, num nítido movimento de transição de práticas oferecidas tão somente em contextos hospitalares. Apoia-se num movimento de inclusão da pessoa e caracteriza a assistência em bases conceituais da reinserção social.
Tais transformações têm influenciado a prática da Enfermagem Psiquiátrica requerendo do profissional posicionamento assertivo diante do paradigma assistencial defendido pela Política Nacional de Saúde Mental. Consequentemente, é necessário que os enfermeiros reorganizem seus processos de trabalhos e repensem seu papel, diante da necessidade de desenvolver ações convergentes com a proposta psicossocial, empreendendo, com competência, projetos terapêuticos construídos com os demais profissionais da equipe de saúde, na perspectiva de práticas interdisciplinares.
A ideia da interdisciplinaridade traz em si a superação do compartilhamento do saber, não abdicando das competências específicas de cada profissão, mas buscando integrá-las a fim de melhor compreender a complexidade da área e possibilitar as transformações no atendimento a despeito das inúmeras dificuldades que se põem no cenário assistencial brasileiro.
Diante das mudanças nas práticas e saberes da área da Saúde Mental espera-se que, também os profissionais da Enfermagem, se empenhem no desenvolvimento de suas competências e se engajem no contexto da interdisciplinaridade, evocando o modelo de atenção psicossocial que compreende a horizontalidade de relações e práticas coletivas, sempre com a participação do usuário e família. Suas ações devem priorizar astecnologias leves, centradas no saber relacional, que se destacam o acolhimento dos usuários, o estabelecimento de vínculos, de confiança e a valorização das relações interpessoais entre usuários e familiares, além da participação política nas deliberações que envolvam o campo da saúde mental.
A inserção do enfermeiro nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) está prevista na Portaria Ministerial 336/02 que traz a obrigatoriedade da presença deste profissional como membro da equipe, havendo a necessidade da formação em Saúde Mental especialmente para os CAPS tipo II, III e CAPS AD.
Vale ressaltar ainda que, neste contexto de mudanças paradigmáticas, cada vez mais se discute a Saúde Mental não somente como especialidade, mas como uma área transversal no processo saúde-doença do ser humano, demandando dos profissionais conhecimentos, habilidades e atitudes na condução do cuidado integral à saúde.
Tendo por base este panorama e atendendo a solicitação de enfermeiros que atuam na área, no âmbito da gestão, da assistência e da formação de recursos humanos, a ABEn criou o Departamento Científico de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental (DEPSM). Regimentalmente, será constituído por enfermeiros associados com atuação na assistência, gestão pública, ensino e pesquisa na área de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental. Entre seus objetivos, visa defender os interesses da sociedade e da Enfermagem no contexto das Políticas Públicas e do Sistema Único de Saúde com ênfase na área de Saúde Mental.
Tal iniciativa oportuniza possibilidades para que se amplie a discussão das questões que inquietam a categoria, assim como viabiliza a troca de conhecimentos entre a saúde mental e as demais áreas de atuação da Enfermagem, especialmente em tempos de intensas mudanças na assistência em Saúde Mental e Psiquiátrica.
Nesta perspectiva, a ABEn, como entidade de caráter cultural, científico e político, por meio do DEPSM, poderá promover e ou apoiar iniciativas com vistas à qualificação dos trabalhadores de enfermagem, a fim de favorecer a excelência da prestação do cuidado especializado. Torna-se, portanto, premente a necessidade de que o enfermeiro assegure seu espaço de ação profissional nos serviços de Saúde Mental e de que se engaje nesta iniciativa da ABEn, através de seus representantes, visando ao fortalecimento da Atenção Especializada em Psiquiatria e Saúde Mental.
Departamento Científico de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental da ABEn
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
03 Jun 2013 -
Data do Fascículo
Abr 2013
