Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação do debriefing na simulação clínica em enfermagem: um estudo transversal

RESUMO

Objetivo:

Avaliar a contribuição do debriefing após as simulações clínicas para estudantes de enfermagem.

Método:

Estudo quantitativo, realizado com 35 estudantes de enfermagem que participaram de cinco cenários de simulação clínica com debriefings planejados a partir do modelo da National League Nursing/Jeffries Simulation Theory. Após o quinto cenário, os estudantes responderam a Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação.

Resultados:

Os itens avaliados envolveram os valores psicossocial, cognitivo e afetivo, sendo que dentro de uma escala de um a cinco, a maior média foi no valor cognitivo com 4,23 (±0,56) pontos, em seguida no psicossocial com 3,77 (±0,53) e por último no valor afetivo com 3,71 (±0,63) pontos.

Conclusão:

O debriefing conduzido após os cenários de simulação clínica foi um exercício reflexivo que contribuiu para o estudante integrar saberes múltiplos nos valores afetivo, cognitivo e psicossocial, e assim desenvolver as competências requeridas.

Descritores:
Simulação; Pensamento; Competência Clínica; Aprendizagem; Estudantes de Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

Evaluate the contribution of debriefing after clinical simulations for nursing students.

Method:

Quantitative study, conducted with 35 nursing students who participated in five clinical simulation scenarios with planned debriefings based on the model of the National League Nursing/Jeffries Simulation Theory. After the fifth scenario, students answered the Debriefing Evaluation Scale associated with the Simulation.

Results:

The items evaluated involved the psychosocial, cognitive, and affective values, and within a scale from one to five, the highest mean was found in cognitive value with 4.23 (±0.56) points, then in psychosocial value with 3.77 (±0.53), and finally in affective value with 3.71 (±0.63) points.

Conclusion:

The debriefing conducted after the clinical simulation scenarios was a reflective exercise that contributed to the student integrating multiple knowledges in affective, cognitive and psychosocial values, and thus develop the competencies required.

Descriptors:
Simulation; Thinking; Clinical Competence; Learning; Nursing Students

RESUMEN

Objetivo:

Evaluar la contribución del debriefing después de las simulaciones clínicas para los estudiantes de enfermería.

Métodos:

Estudio cuantitativo, realizado con 35 estudiantes de enfermería que participaron de cinco escenarios de simulación clínica con debriefings planificados a partir del modelo de National League Nursing/Jeffries Simulation Theory. Después del quinto escenario, los estudiantes respondieron a la Escala de Evaluación del Debriefing relacionada a la simulación.

Resultados:

Los elementos evaluados incluyeron los valores psicosociales, cognitivos y afectivos, siendo que en la escala de 1 a 5 se obtuvo la mayor media en el valor cognitivo con 4,23 (±0,56) puntos, luego el psicosocial con 3,77 (±0,53) y, por último, en el valor afectivo con 3,71 (±0,63) puntos.

Conclusión:

El debriefing evaluado después de los escenarios de simulación clínica fue un ejercicio que contribuyó al estudiante a integrar conocimientos múltiples en los valores afectivo, cognitivo y psicosocial, y así desarrollar las competencias requeridas.

Descriptores:
Simulación; Pensamiento; Competencia Clínica; Aprendizaje; Estudiantes de Enfermería

INTRODUÇÃO

A simulação clínica é uma estratégia de ensino-aprendizagem que permite aos estudantes vivenciarem situações simples ou complexas em ambientes seguros antes da prática real. Esta deve ser orientada por modelos teóricos que direcionem o facilitador a planejar, implementar e avaliar as atividades.

Na Enfermagem, o modelo mais utilizado é da National League Nursing/ Jeffries Simulation Theory, que preconiza a realização da simulação a partir das seguintes características: objetivos, fidelidade, solução de problemas, apoio ao estudante e debriefing(11 Jeffries PR. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. 2nd ed. New York: National League for Nursing; 2012.-22 Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.).

Todas as características do desenho da simulação são importantes, entretanto o debriefing é considerado o componente central desta estratégia(33 Almeida RGS, Mazzo A, Martins JCA, Coutinho VRD, Jorge BM, Mendes IAC. &journal;#91;Validation to Portuguese of the Debriefing Experience Scale]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Sept 11];69(4):658-64. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_0034-7167-reben-69-04-0705.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_...
). Ele deve ser conduzido baseado nos objetivos de aprendizagem estabelecidos antes da execução do cenário simulado, a fim de encorajar o pensamento crítico, criativo e reflexivo dos estudantes(44 Gore T, Thomson W. Use of simulation in undergraduate and graduate education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Feb 10];27(1):86-95. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458...
).

Durante o debriefing os estudantes são incentivados/convidados a expressarem seus pensamentos, sentimentos, falar sobre as dúvidas, incertezas e limitações em sua capacidade de agir, autoavaliar suas ações, decisões, comunicações e atitudes, e assim aprender com as próprias experiências e com as de seus pares(22 Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.).

Recomenda-se que o debriefing seja conduzido de forma estruturada e contribua para o aprendizado do estudante(55 Palaganas JC, Fey M, Simon R. Structured debriefing in simulation-based education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Oct 5];27(1):78-85. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909457
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2690...
). Assim, ele pode ser conduzido “sem julgamento”, “com julgamento”, ou com “bom julgamento”. No primeiro, os erros cometidos pelos estudantes não são pontuados e se exaltam os pontos positivos realizados. No segundo, o facilitador expõe diretamente o erro cometido e questiona o “porquê” foi realizado o procedimento ou a ação dessa forma, e não da forma que ele considera a ideal. Já no debriefing com “bom julgamento”, o facilitador verbaliza a atividade observada ao passo que convida o estudante a expressar-se de forma ativa, valorizando consequentemente o ponto de vista do estudante e articulando de forma conjunta os erros cometidos como uma oportunidade de aprendizagem, portanto, acontece um julgamento crítico e construtivo que favorece o pensamento reflexivo(66 Rudolph JW, Simon R, Dufresne RL, Raemer DB. There’s no such thing as “nonjudgmental” debriefing: a theory and method for debriefing with good judgment. Simul Healthc [Internet]. 2006 [cited 2017 Nov 18];1(1):49-55. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574...
).

Um debriefing rigoroso, sem intimidação ou sem adotar uma postura extremadamente passiva, promove a reflexão, incentiva o estudante a analisar sua prática e a pensar em como aprimorar suas habilidades para a prática de enfermagem(66 Rudolph JW, Simon R, Dufresne RL, Raemer DB. There’s no such thing as “nonjudgmental” debriefing: a theory and method for debriefing with good judgment. Simul Healthc [Internet]. 2006 [cited 2017 Nov 18];1(1):49-55. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574...
). A reflexão consiste em um elemento essencial no desenvolvimento de competências profissionais e implica assimilar conhecimento, habilidades e atitudes com o conhecimento pré-existente(77 Decker S, Fey M, Sideras S, Caballero S, Rockstraw L, Boese T, et al. Standards of best practice: simulation standard journal the debriefing process. Clin Simul Nurs [Internet]. 2013 [cited 2017 Nov 12];9(6):26-9. Available from: http://www.nursingsimulation.org/article/S1876-1399%2813%2900079-0/abstract
http://www.nursingsimulation.org/article...
).

O desenvolvimento do debriefing deve ser permeado pela reflexão, por meio da criatividade, envolvimento ativo, autoavaliação consciente e orientação efetiva de um facilitador experiente(77 Decker S, Fey M, Sideras S, Caballero S, Rockstraw L, Boese T, et al. Standards of best practice: simulation standard journal the debriefing process. Clin Simul Nurs [Internet]. 2013 [cited 2017 Nov 12];9(6):26-9. Available from: http://www.nursingsimulation.org/article/S1876-1399%2813%2900079-0/abstract
http://www.nursingsimulation.org/article...
). Isto como consequência irrefutável de que o sucesso do debriefing repousa na sensibilidade e na capacidade do facilitador de compreender e guiar a discussão para o pensamento reflexivo de modo que o estudante reconheça e verbalize espontaneamente suas falhas e com isso alcance o resultado esperado por ambos os protagonistas do processo, que é o aprendizado e a mudança de comportamento(11 Jeffries PR. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. 2nd ed. New York: National League for Nursing; 2012.

2 Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.

3 Almeida RGS, Mazzo A, Martins JCA, Coutinho VRD, Jorge BM, Mendes IAC. &journal;#91;Validation to Portuguese of the Debriefing Experience Scale]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Sept 11];69(4):658-64. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_0034-7167-reben-69-04-0705.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_...

4 Gore T, Thomson W. Use of simulation in undergraduate and graduate education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Feb 10];27(1):86-95. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458...

5 Palaganas JC, Fey M, Simon R. Structured debriefing in simulation-based education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Oct 5];27(1):78-85. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909457
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2690...

6 Rudolph JW, Simon R, Dufresne RL, Raemer DB. There’s no such thing as “nonjudgmental” debriefing: a theory and method for debriefing with good judgment. Simul Healthc [Internet]. 2006 [cited 2017 Nov 18];1(1):49-55. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574...

7 Decker S, Fey M, Sideras S, Caballero S, Rockstraw L, Boese T, et al. Standards of best practice: simulation standard journal the debriefing process. Clin Simul Nurs [Internet]. 2013 [cited 2017 Nov 12];9(6):26-9. Available from: http://www.nursingsimulation.org/article/S1876-1399%2813%2900079-0/abstract
http://www.nursingsimulation.org/article...
-88 Martins JCA, Mazzo A, Baptista RCN, Coutinho VRD, Godoy S, Mendes IAC, et al. [The simulated journal experience in nursing education: a historical review]. Acta Paul Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 Oct 29];25(4):619-25. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v25n4/en_22.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/ape/v25n4/en_22...
).

Tendo em vista a importância do debriefing após um cenário de simulação clínica e considerando que esta estratégia de ensino-aprendizagem encontra-se em expansão, estudos que avaliem a contribuição do debriefing na formação do estudante de enfermagem podem auxiliar os educadores a aperfeiçoar esta prática.

OBJETIVO

Avaliar a contribuição do debriefing após as simulações clínicas para estudantes de enfermagem.

METODOLOGIA

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Todos os preceitos éticos constantes na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde foram respeitados. E a utilização da escala foi autorizada pelos autores encarregados pela construção e validação.

Desenho, local do estudo e período

Estudo quantitativo, com abordagem transversal, desenvolvido no laboratório de simulação clínica de alta fidelidade de uma universidade pública do sul do Brasil, no período de agosto de 2015 a junho de 2016.

População do estudo

Participaram 35 estudantes do curso de Enfermagem matriculados na disciplina de Saúde do adulto e do idoso durante o período da coleta de dados. Os critérios de inclusão foram: estudantes do curso de graduação em Enfermagem de uma universidade pública do sul do Brasil, matriculados no sexto período, durante o segundo semestre de 2015 (n = 20) e primeiro semestre de 2016 (n = 15). O critério de exclusão foi o estudante ter graduação na área da saúde com competência para exame físico, por considerar que este conhecimento prévio poderia favorecer a atuação do participante nos cenários de simulação. Este foi autorrelatado e avaliado mediante questionamento realizado no momento do convite para participarem da pesquisa.

Protocolo do estudo

Os estudantes participaram de cinco cenários de simulação clínica, que foram planejados e desenvolvidos pelos pesquisadores, testados e validados por estudantes de mesmo período da graduação, em semestre anterior ao início da coleta de dados, e faziam parte de uma disciplina obrigatória do curso de graduação de Enfermagem. As temáticas incluíram acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva, arritmias, suporte básico de vida e suporte avançado de vida. Os conteúdos se basearam no Advanced Cardiology Life Support (ACLS)(99 American Heart Association. Highlights of the 2015 American Heart Association Guidelines Update for CPR and ECC. [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 29]. Available from: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-English.pdf
https://eccguidelines.heart.org/wp-conte...
-1010 ACLS Suporte avançado de via em cardiologia. 4th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012. 424 p.) a partir do qual foi selecionado e elaborado o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes a serem adquiridas. Os objetivos de cada cenário estão apresentados no Quadro 1.

Quadro 1
Objetivos dos cenários de simulação clínica e número de participantes. Curitiba, PR, 2017

Os cenários foram planejados, implementados e avaliados a partir do modelo de simulação da National League Nursing/Jeffries Simulation Theory(11 Jeffries PR. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. 2nd ed. New York: National League for Nursing; 2012.-22 Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.) e conduzidos no simulador de paciente adulto de alta fidelidade, da CIVIAM® modelo METIman. Em cada encontro, realizou-se a aleatorização das equipes, mediante a distribuição de envelopes contendo números que permitiam a divisão dos participantes em equipes de cinco integrantes. Todos os estudantes participaram das simulações propostas. Os cenários foram conduzidos pela autora principal e pelos membros da equipe de pesquisa, que receberam treinamento anteriormente ao desenvolvimento de cada cenário.

As simulações ocorreram em três fases: o briefing, com duração média de sete minutos, momento em que foi revisado as características do simulador e apresentado os objetivos do cenário; a experiência da simulação (10 minutos), e o debriefing, conduzido com bom julgamento, que durou em média 15 minutos, de acordo com as necessidades de cada equipe, e foi conduzido pela pesquisadora principal em todos os cenários, a qual possuía experiência e treinamento para a realização do debriefing em simulação.

Os dados foram coletados após o término do quinto encontro de simulação. Para a avaliação dos cinco momentos, os estudantes responderam a Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação, que foi construída e validada para o português(1111 Coutinho VRD, Martins JCA, Pereira MFCR. [Construction and Validation of the Simulation journal Assessment Scale]. Rev Enf Ref [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];4(2):41-50. Available from: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn2/serIVn2a05.pdf Portuguese.
http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn...
). Sua confiabilidade foi mensurada, demonstrando o coeficiente de alfa de Cronbach de 0,899.

A escala contém 34 itens de autopreenchimento, tipo likert de cinco pontos: discordo completamente (1); discordo (2); nem concordo nem discordo (3); concordo (4), e concordo completamente (5). Quanto a análise, os itens podem ser avaliados individualmente ou em três dimensões, que incluem o “valor psicossocial”, que se refere aos aspectos psicológicos e sociais inerentes à simulação; “valor cognitivo”, atribui a consolidação dos saberes através da discussão durante o debriefing; e “valor afetivo”, que diz respeito aos sentimentos ou afeições.

Análise dos resultados e estatística

Os dados foram tabulados em planilha do Microsoft Excel® e analisados descritivamente, por frequência absoluta e relativa, pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®) versão 22.0, e apresentados em tabelas.

RESULTADOS

Do total de 35 participantes, 29 (90,6%) eram do sexo feminino, 16 (45,7%) possuíam idade entre 22 e 24 anos, 34 (97,1%) não possuíam outra graduação, 26 (74,2%) não cursaram o auxiliar ou técnico em enfermagem e 34 (97,1%) estavam cursando a disciplina da graduação de Enfermagem em Saúde do adulto e do idoso pela primeira vez.

Quanto à Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação, a média geral de concordância foi de 3,9 pontos, sendo maior para o valor cognitivo (Tabela 1).

Tabela 1
Valores mínimo, máximo, média e desvio padrão dos fatores do debriefing associado à simulação. Curitiba, PR, Brasil, 2017

Considerando os itens da escala, para a dimensão psicossocial, verificou-se que os estudantes demonstraram uma concordância de 85,7% nos itens 17, 23 e 26; no item 19 com 88,5%; no item 27 com 88,6% e no item 30, 82,8%. Para a dimensão cognitiva os itens 3, 6 e 7 apresentaram concordância de 97,1% e o item 12 e 13, 91,4%. Na dimensão afetiva os itens 18 e 20, cujas respostas positivas são 1 - “discordo complemente” e 2 - “discordo”, foram aquelas que obtiveram as maiores frequências, representando 85,7% e 82,8% de discordância, respectivamente (Quadro 2).

Quadro 2
Distribuição dos itens da Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação de acordo com as dimensões. Curitiba, PR, Brasil, 2017

Em relação à confiabilidade global da Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação, o valor de alfa de Cronbach, nesta pesquisa, foi de 0,857. Ao analisar o alfa para cada dimensão, obteve-se o valor de 0,887 para o valor psicossocial, 0,923 para o cognitivo e 0,898 para o afetivo.

DISCUSSÃO

A Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação aplicada à estudantes de enfermagem de uma universidade do sul do Brasil, após a participação em cinco cenários de simulações de alta fidelidade e complexidade, obteve resultados de alfa de Cronbach de 0,857, o que revela boa consistência interna, semelhante à pesquisa que validou a escala(1111 Coutinho VRD, Martins JCA, Pereira MFCR. [Construction and Validation of the Simulation journal Assessment Scale]. Rev Enf Ref [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];4(2):41-50. Available from: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn2/serIVn2a05.pdf Portuguese.
http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn...
).

Os resultados encontrados para as três dimensões, psicossocial, cognitiva e afetiva estão relacionados com as competências, habilidades gerais e específicas recomendadas nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Enfermagem (DCNE)(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
).

A análise da dimensão psicossocial apontou uma alta concordância dos estudantes com os itens 17 - desenvolver competências de liderança, 19 - aumentar o potencial de trabalho em equipe, 23 - desenvolver a relação de ajuda, 26 - identificar dificuldades em minha atuação e 27 - promover a autoconsciência (conhecer as próprias limitações).

A elevada porcentagem de concordância do item 17, corrobora as DCNEs que enfatizam que os profissionais de saúde devem estar aptos a assumir a liderança, a qual “envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, gerenciamento de forma eficaz e efetiva”(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
). Este resultado pode ter relação com um dos objetivos não técnicos propostos para a simulação, a saber: designar liderança, demonstrando que tanto a experiência da simulação quanto do debriefing contribuíram para a aquisição desta habilidade.

Os itens 19 e 23 vão ao encontro das competências e habilidades propostas pelas DCNEs, as quais pontuam sobre o currículo da graduação, que deve ser capaz de formar para as competências do trabalho em equipe de enfermagem e multiprofissional, as relações interpessoais e dinâmicas em grupo(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
). Nesta pesquisa, os estudantes tiveram a oportunidade de experimentar na prática o trabalho em equipe, a distribuição da carga de trabalho com funções previamente definidas, bem como o planejamento, mobilização de recursos, comunicação e intervenção, fato que pode ter contribuído para a aquisição das habilidades destacadas nos itens 19 e 23.

A experiência da simulação com o debriefing pode proporcionar a aquisição da competência do trabalho em equipe que envolve a integração de diversos saberes(1313 Perrenoud P. Desenvolver competências ou ensinar saberes: a escola que prepara para a vida. Porto Alegre: Penso; 2013.). Trabalhar em equipe engloba os saberes: agir de modo cooperativo, comunicar-se, autoavaliar-se, refletir, envolver-se, negociar e agir em conjunto para solucionar problemas, multiplicar conhecimentos e construir pontes relacionais, por exemplo. O profissional que sabe trabalhar em equipe está aberto a uma cultura de cooperação e reconhece que a liderança o auxilia a estabelecer prioridades e que pode contribuir para a tomada de decisão coletiva(1313 Perrenoud P. Desenvolver competências ou ensinar saberes: a escola que prepara para a vida. Porto Alegre: Penso; 2013.). Estas concepções vão ao encontro do “saber conviver” e do “aprender a viver juntos” também recomendados nas DCNEs(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
).

Os itens 26 - identificar dificuldades em minha atuação e 27 - promover a autoconsciência (conhecer as próprias limitações) se associam ao objetivo não técnico proposto no quinto cenário, o qual prevê que o estudante reconheça as próprias limitações durante a experiência de simulação.

Na dimensão cognitiva, destacaram-se os itens 3 - aprender mais, 6 - refletir sobre minhas competências, 7 - identificar prioridades na atuação, 12 - identificar aspectos que devo melhorar em atuações futuras e 13 - desenvolver competências para a tomada de decisões acertadas.

Os itens 3, 6 e 12 convergem com a DCNE ao mencionar que a estrutura do curso de graduação deve assegurar um ensino crítico, reflexivo e criativo, que estimule o estudante a aprender a aprender e a aprender a fazer(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
), além da competência do “saber aprender e o aprender a aprender”(1414 Le Boterf G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.). Nessas o indivíduo que sabe “tirar lições da experiência” aproveita sua prática como uma oportunidade de saberes, ele não se contenta em fazer e agir, mas está em busca de teorias e embasamento que validem sua ação.

Acredita-se que a porcentagem de concordância nestes itens (3, 6 e 12) está relacionada com a oportunidade que o estudante teve de participar tanto da experiência da simulação, pela imersão no atendimento clínico, quanto do debriefing, conduzido com bom julgamento e guiado por um facilitador, após cada cenário de simulação, por instigar o pensamento reflexivo e o automonitoramento mediante o envolvimento ativo.

Corroborando um estudo de caso realizado com os estudantes do curso de graduação em Enfermagem de uma universidade do interior paulista, verificou-se que os estudantes conseguem realizar uma revisão crítica da aprendizagem e o debriefing foi considerado um momento de externar os sentimentos vivenciados e uma oportunidade de reflexão sobre os resultados das próprias ações e de identificação das atitudes que comprometem o desempenho durante a simulação(1515 Teixeira CRS, Pereira MCA, Kusumota L, Gaioso VP, Mello CL, Carvalho EC. Evaluation of nursing students about learning with clinicaljournal simulation. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Dec 4];68(2):311-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/0034-7167-reben-68-02-0311.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/003...
).

Em outro estudo realizado em Portugal com 82 estudantes de enfermagem, estes referiram que conseguiram desenvolver, durante a simulação e no debriefing a partir da reflexão da prática de cuidados, competências profissionais necessárias para o exercício profissional de enfermeiro(1616 Presado MHCV, Colaço S, Rafael H, Baixinho CL, Félix I, Saraiva C, et al. Aprender com a simulação de alta fidelidade. Cienc Saude Colet [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 19];23(1):51-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n1/1413-8123-csc-23-01-0051.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n1/1413-...
).

A experiência da simulação com o debriefing está associada à oportunidade de o estudante desenvolver o pensamento crítico, a criatividade, o raciocínio, o julgamento clínico e a tomada de decisão, sendo estes elementos desejados para que o enfermeiro se torne um expert(11 Jeffries PR. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. 2nd ed. New York: National League for Nursing; 2012.,1717 Lasater K. Clinical judgment: the last frontier for evaluation. Nurse Educ Pract [Internet]. 2011 [cited 2017 Oct 25];11(2):86-92. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21212021
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21212021...
).

O item 13 está relacionado com uma das competências e habilidades gerais das DCNEs, que recomendam que o profissional deve ser capaz de tomar decisões, de avaliar, sistematizar e decidir as condutas a partir de evidencias científicas(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
), com o “poder de agir com eficácia em uma situação”(1313 Perrenoud P. Desenvolver competências ou ensinar saberes: a escola que prepara para a vida. Porto Alegre: Penso; 2013.) e também com o “saber agir com pertinência”(1414 Le Boterf G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.). A capacidade de tomar decisões se encaixa em um dos objetivos dos cenários e pode-se inferir que esta foi sendo lapidada pelo próprio estudante durante sua participação ativa tanto nos cenários quanto no debriefing.

O saber agir com pertinência(1414 Le Boterf G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.) se revela no profissional que tem iniciativa e toma decisões pertinentes, assumindo responsabilidades e inovando; é aquele que faz escolhas, assume riscos e reage a contingências, antecipando e prevendo as consequências; sabe interpretar, compreender e como agir diante de situações deterioradas, e por isso é capaz de resolver problemas. Esta competência possibilita a mobilização dos saberes com o fito de agir com pertinência para aprender a aprender e envolver-se com o contexto(1414 Le Boterf G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.).

Em geral, diversos autores(1818 Jersby MA, Van-Schaik P, Green S, Nacheva-Skopalik L. The use of multiple-criteria decision-making theory to measure students’ perceptions of high-fidelity simulation. BMJ Sim Technol Enhan Lear [Internet]. 2017 [cited 2017 Sept 12];3(3):88-93. Available from: http://dx.doi.org/10.1136/bmjstel-2016-000167
http://dx.doi.org/10.1136/bmjstel-2016-0...

19 Bucknall TK, Forbes H, Phillips NM, Hewitt NA, Cooper S, Bogossian F. An analysis of nursing students’ decision-making in teams during simulations of acute patient deterioration. J Adv Nurs [Internet]. 2016 [cited 2017 Nov 15];72(10):2482-94. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27265550
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27265550...
-2020 McCallum J, Ness V, Price T. Exploring nursing students’ decision-making skills whilst in a Second Life clinical simulation laboratory. Nurse Educ Today [Internet]. 2011 [cited 2017 Oct 5];31(7):699-704. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671...
) comentam sobre os benefícios do debriefing no desenvolvimento dos estudantes. O presente estudo vem confirmar estas conclusões e materializar seu impacto positivo na aquisição de habilidades para a tomada de decisão.

A habilidade de tomada de decisão e a priorização de ações têm sido consideradas características fundamentais para estudantes de enfermagem, pois elas envolvem um processo cognitivo complexo, que tem foco na análise de uma situação difícil para determinar a ação(2121 Tabhet M, Taha EES, Abood SA, Morsy SR. The effect of problem-based learning on nursing students’ decision making skills and styles. J Nurs Educ Pract [Internet]. 2017 [cited 2017 Oct 5];7(6):108-16. Available from: http://www.sciedupress.com/journal/index.php/jnep/article/view/10355/6745
http://www.sciedupress.com/journal/index...
). Estas habilidades são consideradas “processos contextuais”, contínuos e em evolução, em que os dados são reunidos, interpretados e avaliados para a escolha de ações baseadas em evidências(2222 Tiffen J, Corbridge SJ, Slimmer L. Enhancing clinical decision making: development of a journal definition and conceptual framework. J Prof Nurs [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];30(5):399-405. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288...
).

Considerando que o processo de tomada de decisão influencia diretamente os resultados e, consequentemente, a segurança do paciente, os autores sugerem que educadores utilizem estratégias de ensino que permitam o desenvolvimento de competência e habilidade para o raciocínio clínico e a resolução de problemas, favorecendo, assim, o aperfeiçoamento da tomada de decisão(2121 Tabhet M, Taha EES, Abood SA, Morsy SR. The effect of problem-based learning on nursing students’ decision making skills and styles. J Nurs Educ Pract [Internet]. 2017 [cited 2017 Oct 5];7(6):108-16. Available from: http://www.sciedupress.com/journal/index.php/jnep/article/view/10355/6745
http://www.sciedupress.com/journal/index...

22 Tiffen J, Corbridge SJ, Slimmer L. Enhancing clinical decision making: development of a journal definition and conceptual framework. J Prof Nurs [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];30(5):399-405. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288...
-2323 Johansen ML, O’Brien JL. Decision making in nursing practice: a concept journal. Nurs Forum [Internet]. 2016 [cited 2017 Nov 22];51(1):40-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25639525
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2563...
).

Neste contexto, o relato de experiência sobre a operacionalização da simulação clínica em uma disciplina de uma universidade do sul do Brasil avaliou que o debriefing contribuiu para o trabalho em equipe, a identificação de fragilidades, o comportamento ético, a percepção das diferentes formas de abordar um mesmo contexto clínico, o saber lidar com o erro próprio, do colega e com as críticas(2424 Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. [From theory to practice, operating journal clinical simulation in Nursing teaching]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2017 Nov 22];71(Suppl 4):1896-903. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s4/pt_0034-7167-reben-71-s4-1791.pdf Portuguese.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s4/pt_...
).

No presente estudo, os estudantes também tiveram a oportunidade de vivenciar esses aspectos, visto que em cada experiência de simulação um membro da equipe se elegia para liderar e, durante o debriefing, o facilitador conduzia a discussão para a reflexão do estudante sobre sua tomada de decisão individual e em equipe. Autores discorrem que o debriefing após a simulação promove o desenvolvimento desta habilidade de tomada de decisão(2020 McCallum J, Ness V, Price T. Exploring nursing students’ decision-making skills whilst in a Second Life clinical simulation laboratory. Nurse Educ Today [Internet]. 2011 [cited 2017 Oct 5];31(7):699-704. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671...
).

Na dimensão afetiva os resultados demonstraram que os estudantes não se consideraram desrespeitados ou incompreendidos (itens 18 e 20). Esses achados coadunam com a proposta das DCNEs, as quais abordam que o projeto pedagógico do curso deve assegurar um ensino-aprendizado centrado no estudante, sendo este sujeito ativo do seu processo de formação(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
). Portanto, estes dados sugerem que o debriefing com bom julgamento contribuiu para o desenvolvimento do estudante, sem humilhação e sem julgamentos ofensivos. Neste tipo de debriefing, o estudante teve um espaço para organizar sua reflexão sobre a ação, descobrindo, assim, novos entendimentos sobre sua atuação no cenário de simulação, o qual servirá para a prática clínica futura.

Destaca-se que, quando o debriefing é mal conduzido, todo o ganho de aprendizado pode ser prejudicado. Isto leva a sentimentos negativos pelos estudantes que podem apresentar diminuição do desempenho clínico e da capacidade de autorreflexão, além de dificuldades na relação com o facilitador(55 Palaganas JC, Fey M, Simon R. Structured debriefing in simulation-based education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Oct 5];27(1):78-85. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909457
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2690...
).

Observa-se que foram inúmeros os ganhos percebidos para a formação do estudante, entre eles a aquisição da competência do pensamento reflexivo, a qual foi desenvolvida durante o debriefing. Esta competência contempla as recomendações das DCNEs ao indicar que a estrutura do curso deve garantir um ensino crítico, reflexivo e criativo, e assegurar que o perfil do egresso contemple um enfermeiro crítico e reflexivo(1212 Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploa...
).

A fase do debriefing após a simulação clínica promove um processo de aprendizagem reflexiva com a oportunidade de desenvolver habilidades múltiplas(22 Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.). Neste estudo, estas habilidades estão representadas nos valores cognitivos, afetivos e psicossociais.

Limitações do estudo

A principal limitação desta pesquisa se refere ao número de participantes e à avaliação do debriefing somente no final das cinco simulações, não permitindo um acompanhamento da evolução da atividade no decorrer da simulação.

Contribuições para a área de enfermagem

Acredita-se que este manuscrito contribui para o planejamento da prática de simulação clínica na formação do estudante de enfermagem no que diz respeito à etapa do debriefing, tendo em vista que este envolve a discussão e a reflexão orientadas pelos objetivos dos cenários e estes vão ao encontro das competências e habilidades estabelecidas pelas DCNEs.

CONCLUSÃO

O debriefing é uma experiência em simulação na qual se realiza uma análise ou reflexão guiada pelo facilitador, que fomenta a autoavaliação, o aprendizado reflexivo e significativo, a reflexão sobre a experiência vivida, a discussão sobre os objetivos da aprendizagem, o reforço das boas práticas, o aprendizado sobre os erros, o fortalecimento da tomada de decisões e o trabalho em equipe.

Portanto, deverá ser um momento de descoberta, aprendizagem compartilhada entre o discente e o facilitador. Deve ir além da avaliação, com o intuito de garantir a segurança, confiança e estímulo durante todo o processo de aprendizagem.

O debriefing conduzido com bom julgamento, após os cenários de simulação clínica, foi um exercício reflexivo que contribuiu para o estudante de enfermagem integrar saberes múltiplos nos valores afetivo, cognitivo e psicossocial, e assim desenvolver as competências requeridas.

O debriefing após as simulações clínicas contribuiu para o desenvolvimento de competências/habilidades no que diz respeito às três dimensões, sendo que os itens relacionados à liderança, relação de ajuda e dificuldades de atuação, da dimensão psicossocial, bem como aprender mais, refletir sobre as competências e identificar prioridades, da dimensão cognitiva, apresentaram os maiores índices de concordância. Em relação à dimensão afetiva, os itens que abordavam aspectos relativos a sentir-se incompreendido e desrespeitado obtiveram a maior discordância.

A Escala de Avaliação do Debriefing associado à Simulação permitiu aos facilitadores conhecerem, na perspectiva dos estudantes, a importância desta para o ensino-aprendizagem, o que reforça a necessidade de sempre avaliá-lo e conduzi-lo de acordo com um modelo que o embase.

  • FOMENTO / AGRADECIMENTO
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

REFERENCES

  • 1
    Jeffries PR. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. 2nd ed. New York: National League for Nursing; 2012.
  • 2
    Jeffries PR. The NLN Jeffries simulation theory. Wolters Kluwer: National League for Nursing; 2016.
  • 3
    Almeida RGS, Mazzo A, Martins JCA, Coutinho VRD, Jorge BM, Mendes IAC. &journal;#91;Validation to Portuguese of the Debriefing Experience Scale]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Sept 11];69(4):658-64. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_0034-7167-reben-69-04-0705.pdf Portuguese.
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/en_0034-7167-reben-69-04-0705.pdf
  • 4
    Gore T, Thomson W. Use of simulation in undergraduate and graduate education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Feb 10];27(1):86-95. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909458
  • 5
    Palaganas JC, Fey M, Simon R. Structured debriefing in simulation-based education. AACN Adv Crit Care [Internet]. 2016 [cited 2017 Oct 5];27(1):78-85. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909457
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26909457
  • 6
    Rudolph JW, Simon R, Dufresne RL, Raemer DB. There’s no such thing as “nonjudgmental” debriefing: a theory and method for debriefing with good judgment. Simul Healthc [Internet]. 2006 [cited 2017 Nov 18];1(1):49-55. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19088574
  • 7
    Decker S, Fey M, Sideras S, Caballero S, Rockstraw L, Boese T, et al. Standards of best practice: simulation standard journal the debriefing process. Clin Simul Nurs [Internet]. 2013 [cited 2017 Nov 12];9(6):26-9. Available from: http://www.nursingsimulation.org/article/S1876-1399%2813%2900079-0/abstract
    » http://www.nursingsimulation.org/article/S1876-1399%2813%2900079-0/abstract
  • 8
    Martins JCA, Mazzo A, Baptista RCN, Coutinho VRD, Godoy S, Mendes IAC, et al. [The simulated journal experience in nursing education: a historical review]. Acta Paul Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 Oct 29];25(4):619-25. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v25n4/en_22.pdf Portuguese.
    » http://www.scielo.br/pdf/ape/v25n4/en_22.pdf
  • 9
    American Heart Association. Highlights of the 2015 American Heart Association Guidelines Update for CPR and ECC. [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 29]. Available from: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-English.pdf
    » https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-English.pdf
  • 10
    ACLS Suporte avançado de via em cardiologia. 4th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012. 424 p.
  • 11
    Coutinho VRD, Martins JCA, Pereira MFCR. [Construction and Validation of the Simulation journal Assessment Scale]. Rev Enf Ref [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];4(2):41-50. Available from: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn2/serIVn2a05.pdf Portuguese.
    » http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn2/serIVn2a05.pdf
  • 12
    Cofen: Conselho Federal de Enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil [Internet]. 2011 Nov 11 [cited 2017 Oct 5];1:59. Available from: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
    » http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_CNE_CES_3_2001Diretrizes_Nacionais_Curso_Graduacao_Enfermagem.pdf
  • 13
    Perrenoud P. Desenvolver competências ou ensinar saberes: a escola que prepara para a vida. Porto Alegre: Penso; 2013.
  • 14
    Le Boterf G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.
  • 15
    Teixeira CRS, Pereira MCA, Kusumota L, Gaioso VP, Mello CL, Carvalho EC. Evaluation of nursing students about learning with clinicaljournal simulation. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Dec 4];68(2):311-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/0034-7167-reben-68-02-0311.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/0034-7167-reben-68-02-0311.pdf
  • 16
    Presado MHCV, Colaço S, Rafael H, Baixinho CL, Félix I, Saraiva C, et al. Aprender com a simulação de alta fidelidade. Cienc Saude Colet [Internet]. 2018 [cited 2019 Jan 19];23(1):51-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n1/1413-8123-csc-23-01-0051.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n1/1413-8123-csc-23-01-0051.pdf
  • 17
    Lasater K. Clinical judgment: the last frontier for evaluation. Nurse Educ Pract [Internet]. 2011 [cited 2017 Oct 25];11(2):86-92. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21212021
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21212021
  • 18
    Jersby MA, Van-Schaik P, Green S, Nacheva-Skopalik L. The use of multiple-criteria decision-making theory to measure students’ perceptions of high-fidelity simulation. BMJ Sim Technol Enhan Lear [Internet]. 2017 [cited 2017 Sept 12];3(3):88-93. Available from: http://dx.doi.org/10.1136/bmjstel-2016-000167
    » http://dx.doi.org/10.1136/bmjstel-2016-000167
  • 19
    Bucknall TK, Forbes H, Phillips NM, Hewitt NA, Cooper S, Bogossian F. An analysis of nursing students’ decision-making in teams during simulations of acute patient deterioration. J Adv Nurs [Internet]. 2016 [cited 2017 Nov 15];72(10):2482-94. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27265550
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27265550
  • 20
    McCallum J, Ness V, Price T. Exploring nursing students’ decision-making skills whilst in a Second Life clinical simulation laboratory. Nurse Educ Today [Internet]. 2011 [cited 2017 Oct 5];31(7):699-704. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20807671
  • 21
    Tabhet M, Taha EES, Abood SA, Morsy SR. The effect of problem-based learning on nursing students’ decision making skills and styles. J Nurs Educ Pract [Internet]. 2017 [cited 2017 Oct 5];7(6):108-16. Available from: http://www.sciedupress.com/journal/index.php/jnep/article/view/10355/6745
    » http://www.sciedupress.com/journal/index.php/jnep/article/view/10355/6745
  • 22
    Tiffen J, Corbridge SJ, Slimmer L. Enhancing clinical decision making: development of a journal definition and conceptual framework. J Prof Nurs [Internet]. 2014 [cited 2017 Oct 5];30(5):399-405. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288
    » www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25223288
  • 23
    Johansen ML, O’Brien JL. Decision making in nursing practice: a concept journal. Nurs Forum [Internet]. 2016 [cited 2017 Nov 22];51(1):40-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25639525
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25639525
  • 24
    Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. [From theory to practice, operating journal clinical simulation in Nursing teaching]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2017 Nov 22];71(Suppl 4):1896-903. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s4/pt_0034-7167-reben-71-s4-1791.pdf Portuguese.
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s4/pt_0034-7167-reben-71-s4-1791.pdf

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    06 Mar 2018
  • Aceito
    09 Mar 2019
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br