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Práticas colaborativas em equipe de saúde diante da pandemia de COVID-19

RESUMO

Objetivo:

Relatar a vivência de práticas colaborativas no enfrentamento da pandemia de COVID-19.

Métodos:

Trata-se de um relato de experiência acerca das práticas colaborativas das equipes de saúde nos cuidados emergenciais em Unidades de Pronto Atendimento diante da pandemia de COVID-19 em Fortaleza, Ceará, no primeiro semestre de 2020.

Resultados:

Ações de colaboração, cooperação e de comunicação efetiva entre equipe de enfermagem e equipe médica contribuem para manejo de casos leves e complexos de COVID-19, bem como qualificam-se em medidas de cuidados e enfrentamentos adequados e necessários.

Considerações finais:

O relato mostra a necessidade de práticas colaborativas para minimização de efeitos negativos na população diante da pandemia do novo coronavírus.

Descritores:
Práticas Interdisciplinares; Equipe de Enfermagem; Equipe de Assistência ao Paciente; Emergências; Infecções por Coronavírus

ABSTRACT

Objective:

To report the experience of collaborative practices facing the COVID-19 pandemic.

Methods:

This is a report about the experience of collaborative practices conducted by health care teams in emergency service in the Emergency Care Units facing of COVID-19 pandemic in the city of Fortaleza, State of Ceará, in the first semester of 2020.

Results:

Collaborative actions, cooperation and effective communication among nursing and medical team contribute to the management of mild and complex cases of COVID-19, as well as qualify them in suitable and necessary care and confrontation measures.

Final considerations:

The report shows the need for collaborative practices to minimize negative effects on the population in the face of the new coronavirus pandemic.

Descriptors:
Interdisciplinary Practices; Nursing Team; Patient Care Team; Emergencies; Coronavirus Infections

RESUMEN

Objetivo:

Relatar la experiencia de prácticas colaborativas en el enfrentamiento de la pandemia del COVID-19.

Métodos:

Se trata de una declaración de la experiencia referente a las prácticas colaborativas de los equipos de salud en los cuidados en emergencias en Unidades de Pronta Atención ante la pandemia del COVID-19 en Fortaleza, Ceará, en el primer semestre de 2020.

Resultados:

Acciones de la contribución, cooperación y de la comunicación efectiva entre el equipo de enfermería y el equipo médico contribuyen para dirigir los casos leves y complejos de COVID-19, así como se califican en medidas de los cuidados y enfrentamientos adecuados y necesarios.

Conclusiones:

La declaración muestra la necesidad de las prácticas colaborativas para disminución de los efectos negativos en la población ante la pandemia del nuevo coronavirus.

Descriptores:
Prácticas Interdisciplinarias; Equipo de Enfermería; Equipo de Asistencia al Paciente; Emergencias; Infecciones por Coronavirus

INTRODUÇÃO

A pandemia de COVID-19 vem mostrando-se como complexo desafio em saúde pública no mundo, atingindo diversos países nos cinco continentes e causando graves consequências sociais, políticas, econômicas, religiosas, culturais e de saúde(11 Jakovljevic M, Bjedov S, Jaksic N, Jakovljevic I. Covid-19 pandemia and public and global mental health from the perspective of global health security. Psychiatr Danub. 2020; 32(01):6-14. doi: 10.24869/psyd.2020.6
https://doi.org/10.24869/psyd.2020.6...
). Considerada uma emergência, com 11.500.302 casos e 535.759 óbitos até 7 de julho de 2020, representa um grande desafio para os sistemas de saúde no momento(22 Organização Mundial da Saúde. Folha informativa - COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus) [Internet]. 2020[cited: 2020 Apr 25]. Available from: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view =article&id=6101:covid19&Itemid=875
https://www.paho.org/bra/index.php?optio...
). No Brasil, confirmaram-se 1.755.779 casos e 69.184 mortes até 7 de julho de 2020(33 Ministério da Saúde (BR). Painel Coronavírus [Internet]. [cited 2020 Jul 08]. Available from: https://covid.saude.gov.br/
https://covid.saude.gov.br/...
).

Nesse ínterim, percebe-se a necessidade crescente de profissionais capacitados e efetivos para lidar com as demandas em saúde. No entanto, o modelo formativo hegemônico para área da saúde brasileira obedece a características unidisciplinares e uniprofissionais, submetendo-se à regulamentação das profissões para reserva de mercado, com enfoque em concepções fisiopatológicas da vida, práticas isoladas que não contribuem para atuação em equipe e com hierarquização do cuidado em saúde(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
https://doi.org/10.1590/1518-8345.3227.3...
).

Em 1998, foram propostas pela Organização Mundial da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde, universidades e pesquisadores modificações nos modelos formativos em saúde, apontando a educação interprofissional (EIP) como método para desenvolvimento de competências colaborativas que maximizem a eficácia e qualidade do cuidado em saúde. A EIP conceitualmente envolve aprendizagem integrada e interativa entre duas ou mais profissões de saúde, permitindo compreensão específica do papel de cada profissional e potencializando competências colaborativas para o trabalho em equipe(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
https://doi.org/10.1590/1518-8345.3227.3...
).

A interprofissionalidade como mecanismo modificador das práticas da equipe de saúde envolve ações de comunicação eficaz, envolvimento na tomada de decisão, coesão, coordenação de cuidado e resolutividade de problemas, sendo reconhecido que a falta desses fatores diminui a efetividade dos resultados. Nos Estados Unidos, revisão de 23 mil alegações de negligência destacou a má comunicação como um dos principais componentes responsáveis pelo funcionamento deficiente da equipe de saúde, resultando em custo de US$ 1,7 bilhão e perda de cerca de 2 mil vidas(55 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...
).

Destarte, os serviços de emergência são espaços dinâmicos que efetuam assistência a pacientes de alta complexidade, consistindo em locais de alto risco para eventualidade de erros. O panorama mundial de superlotação, prolongamento da permanência em unidades devido à falta de leitos de retaguarda e tempo prolongado de atendimento são situações que podem comprometer a qualidade assistencial, em que a comunicação, cooperação e coordenação são habilidades essenciais para melhoria e efetividade do cuidado(66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
). Além disso, são um dos principais serviços utilizados como porta de entrada para o sistema de saúde neste momento crítico de pandemia e representam importante aliado no desenvolvimento de cuidados e assistência a pacientes com risco de vida.

Nesse sentido, a conjuntura atual diante da pandemia de COVID-19 envolve o desenvolvimento de habilidades interprofissionais para atendimento da demanda crescente de pacientes contaminados, destacando-se também o gerenciamento de conflitos, problemas intraequipe de enfermagem e na interação com a equipe de saúde, além da gestão de cuidados aos pacientes. Há necessidade de desenvolvimento de estudos para evidenciar as melhorias ante a situação de saúde atual à luz das práticas colaborativas em saúde, da interdisciplinaridade e interprofissionalidade.

Assim, observa-se em âmbito mundial a necessidade crescente de desenvolvimento de práticas complexas que têm como alicerce a interdisciplinaridade e interprofissionalidade para alcance de metas de qualidade nos cuidados, por meio da colaboração entre profissionais e ampliação dos modelos de atenção em saúde interdisciplinares(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
https://doi.org/10.1590/1518-8345.3227.3...

5 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...
-66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
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). Ademais, é cada vez maior a percepção de que a unidisciplinaridade obtém resultados ineficazes para a complexidade do processo de saúde e adoecimento das comunidades e população(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
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).

Com base nessa premissa, o crescimento dos sistemas de saúde exigem o desenvolvimento de práticas em saúde pautadas na visão interdisciplinar para solução dos problemas, com resultados efetivos, direcionados à dinamicidade das ações de trabalho em saúde e de manejo das situações de adoecimento(55 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...
-66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
). A enfermagem como profissão relacionada à interação e colaboração interequipe e intraequipe assim como ligada à construção de modelos teórico-práticos de cuidado em saúde vem ampliando as atuações mediante ações interdisciplinares e interprofissionais com as equipes de saúde, contribuindo para modificar as realidades de saúde comunitárias(77 Sonke J, Pesata V, Lee JB, Graham-Pole J. Nurse perceptions of artists as collaborators in interprofessional care teams. Healthcare. 2017; 5:50. doi: 10.3390/healthcare5030050
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).

OBJETIVO

Relatar a vivência de práticas colaborativas no enfrentamento da pandemia de COVID-19.

MÉTODOS

Trata-se de um relato de experiência acerca das práticas colaborativas das equipes nos cuidados emergenciais em UPA (Unidades de Pronto Atendimento) diante da pandemia de COVID-19 em Fortaleza, Ceará. Esses pontos de atenção são instituições de saúde componentes da Rede de Urgências e Emergências (RUE), definidas como unidades pré-hospitalares de atendimento em urgência e emergência(66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
).

O relato é realizado por enfermeiros emergencistas atuantes em duas UPAs no período de 20 de março até 28 de abril de 2020, momento atual do relato.

As UPAs descritas são serviços de nível secundário localizadas em região social e economicamente vulnerável da cidade de Fortaleza, sendo ambas em região litorânea da cidade. Apresentam similaridades em relação à equipe profissional de saúde, práticas e cuidados desenvolvidos, abrigando serviços administrativos e apoio clínico como laboratório e centro de material de esterilização, serviços de urgência e emergência, consultórios médicos, sala de administração de medicações, sala de emergência para pacientes com instabilidade clínica e leitos de permanência para aguardar transferência a hospitais de apoio. O relato descreve o cotidiano dos serviços que prestam assistência no enfrentamento da COVID-19 no Brasil e principalmente no estado do Ceará, que concentra a maioria de casos confirmados no Nordeste do país.

As categorias foram estabelecidas por meio de análise durante a construção dos resultados. Seguiu-se adaptação da análise temática de Minayo(88 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.) e, após construção dos relatos, observaram-se os temas centrais que mais tiveram destaque, configurando-se o cerne da experiência. Posteriormente, foram construídas as temáticas relatadas nos resultados.

A seguir, descreve-se como vem ocorrendo o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus no estado do Ceará na perspectiva desses lócus de atenção.

RESULTADOS

Práticas colaborativas baseadas na comunicação e interação profissional como mecanismo de cuidado a pacientes COVID positivos

Inicialmente, a configuração de atendimento aos pacientes modificou-se com a nova rotina decorrente da pandemia de COVID-19, sendo priorizada a assistência a usuários que chegavam ao setor com quadro de síndrome gripal, caracterizados por febre, tosse seca, coriza e dispneia com saturação de oxigênio (SatO2 > 92%). Após classificação de risco, era realizada a comunicação com o profissional médico específico no consultório por meio de codificação alfabética SG (síndrome gripal), sendo realizado isolamento na unidade, se necessário.

Do mesmo modo, pacientes que apresentavam quadros graves com insuficiência respiratória aguda (SatO2 < 92%) eram remanejados para sala de emergência visando à realização de oxigenoterapia adequada conforme instabilidade clínica. Nesse setor, a unidade assumiu nova configuração, sendo disponibilizados leitos para pacientes COVID positivos e leitos para pacientes COVID negativos, de modo a manter isolamento de casos e da equipe assistencial que efetuava cuidados aos dois fluxos. A seguir, a figura exemplifica o fluxograma de atendimento:

Para efetuação das mudanças na configuração assistencial, empreenderam-se capacitações simuladas na unidade envolvendo equipe médica e de enfermagem acerca de colocação adequada de equipamentos de proteção individual (EPI), intubação orotraqueal (IOT) e ventilação mecânica, assim como atuação diante de paradas cardiorrespiratórias em pacientes suspeitos.

Nessa perspectiva, a mudança no fluxo organizado de atendimento abordado de modo coletivo propõe ampliar as ações colaborativas entre equipe médica e de enfermagem para integração profissional como uma única equipe de saúde direcionada a cuidados específicos a pacientes com COVID19. Diante disso, a interação e comunicação efetiva nesta fase foram a base para atuação da equipe assistencial a fim de, principalmente, diminuir risco de contágio dentro da unidade e empreender medidas assistenciais e de coordenação entre os profissionais de saúde. A cooperação entre os profissionais é importante fator modificador das ações de cuidado efetuadas.

A enfermagem apresenta-se como profissão de destaque para fortalecimento da prática interprofissional colaborativa e do trabalho em equipe pela sua forma de comunicação com os demais componentes da equipe de saúde, nela promovendo harmonia, qualidade na tomada de decisão e impactando a qualidade dos cuidados direcionados aos pacientes(77 Sonke J, Pesata V, Lee JB, Graham-Pole J. Nurse perceptions of artists as collaborators in interprofessional care teams. Healthcare. 2017; 5:50. doi: 10.3390/healthcare5030050
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-88 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.). Competências de atuação em equipe como comunicação, respeito, confiança, conhecimento mútuo, poder, centralização das ações no paciente, características das tarefas e do ambiente foram práticas utilizadas durante a crise da pandemia de COVID-19(99 Karama M, Braultb I, Van Durmea T, Macqa J. Comparing interprofessional and interorganizational collaboration in healthcare: a systematic review of the qualitative research. Int J Nurs Stud. 2018;79:70-83. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2017.11.002
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2017....
).

Em tal contexto, a cooperação interprofissional entre categorias surge como resposta à realidade da saúde mundial que exige novos modelos de assistência para lidar com a multiplicidade de indivíduos portadores de doenças crônicas e com multimorbidades, por meio da atuação de enfermeiros com habilidade em práticas avançadas, médicos, assistentes sociais e farmacêuticos. Na Suíça, pesquisa utilizando entrevistas com grupos focais compostos por clínicos gerais acerca da atuação com enfermeiros evidenciou pouco conhecimento sobre suas habilidades, no entanto denotou possibilidades de cooperação intraequipe(1010 Steinbrüchel-Boesch C, Rosemann T, Spirig R. Neue Zusammenarbeitsformen mit Advanced Practice Nurses in der Grundversorgung aus Sicht von Hausärzten: eine qualitativexplorative studie. Praxis. 2017;106 (9):459-64. doi: 10.1024/1661-8157/a002658
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).

Destarte, equipes multiprofissionais unem trabalhadores que utilizam saberes especializados e disciplinas justapostas, podendo culminar em fragilidade no cuidado. Diferentemente, equipes interprofissionais baseiam-se na resolução de problemas, potencialização da eficácia e qualidade nos cuidados, mediante a compreensão dos papéis e de competências colaborativas para o trabalho em equipe(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
https://doi.org/10.1590/1518-8345.3227.3...
,66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
-77 Sonke J, Pesata V, Lee JB, Graham-Pole J. Nurse perceptions of artists as collaborators in interprofessional care teams. Healthcare. 2017; 5:50. doi: 10.3390/healthcare5030050
https://doi.org/10.3390/healthcare503005...
).

Tendo em vista esse cenário, há necessidade cada vez maior de evolução das equipes multiprofissionais para equipes interprofissionais, assim como a assimilação de conceitos de colaboração interprofissional e práticas colaborativas interprofissionais para melhoria do acesso e da qualidade dos serviços de saúde e da atenção à saúde. Entre pontos positivos dessa prática, pode-se destacar a melhoria da experiência do paciente e família no cuidado à saúde, bem como vantagens na relação custo-efetividade da atenção à saúde(55 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...
).

A educação interprofissional como instrumento de capacitação da equipe de saúde nos cuidados complexos a pacientes graves com COVID-19

As últimas semanas têm requerido dos enfermeiros, técnicos em enfermagem e médicos que atuam nas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), UPAs, hospitais e outros serviços, perspectivas e sentimentos de dedicação, empatia, coragem e resiliência para o cuidado de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19.

A enfermagem, como categoria profissional que atua na atenção secundária, emprega habilidades de liderança da equipe de enfermagem, união do conhecimento científico e técnico para qualificar a assistência de qualidade e possibilitar segurança dos executores e dos usuários do cuidado em saúde(66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
-77 Sonke J, Pesata V, Lee JB, Graham-Pole J. Nurse perceptions of artists as collaborators in interprofessional care teams. Healthcare. 2017; 5:50. doi: 10.3390/healthcare5030050
https://doi.org/10.3390/healthcare503005...
,1010 Steinbrüchel-Boesch C, Rosemann T, Spirig R. Neue Zusammenarbeitsformen mit Advanced Practice Nurses in der Grundversorgung aus Sicht von Hausärzten: eine qualitativexplorative studie. Praxis. 2017;106 (9):459-64. doi: 10.1024/1661-8157/a002658
https://doi.org/10.1024/1661-8157/a00265...
). Na atual conjuntura, a equipe de enfermagem da UPA reuniu as equipes visando à discussão sobre os processos de trabalho para o atendimento de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, com foco no atendimento de pacientes que chegam à unidade com insuficiência respiratória necessitando de procedimentos críticos como IOT (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de atenção na unidade de pronto atendimento para quadros de síndrome gripal, Fortaleza, Ceará, 2020

Nota: UPA - Unidades de Pronto Atendimento


A IOT é um procedimento comumente realizado pela equipe médica e de enfermagem, em que o paciente necessita de uma ventilação invasiva de pressão positiva para o tratamento de diversas patologias. No caso da COVID-19, é preciso medidas de segurança da equipe para realizá-la, pois o risco de contaminação para os profissionais torna-se maior. Essa interação se deu a partir de capacitações para as equipes de saúde em atendimentos aos pacientes COVID-19 graves.

Dentro dessa dinâmica, reuniram-se as equipes em três dias alternados no início de cada atividade enfatizando novos modelos de enfrentamento da pandemia, na presença de profissionais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O objetivo das reuniões interequipes era compreender, na prática, que os processos de colaboração no cuidado a paciente com suspeita de COVID-19 estavam se reorganizando e necessitavam de melhorias urgentes nos aspectos do cuidado.

Nesse âmbito, a coordenação de enfermagem e médica desenvolveram as atividades de capacitação. A participação da equipe deu-se com boa aceitação, envolvimento e colaboração profissional, discutindo-se coletivamente e usando-se vídeos para divulgação das novas práticas. A estratégia da IOT foi pouco questionada, pois a capacitação acontecia de forma clara e objetiva ao ponto que alguns poucos profissionais relatavam suas dúvidas em relação aos materiais utilizados e possíveis dificuldades para efetuação, como falta de insumos.

Assim, destacou-se que, para a prática de IOT bem-sucedida em paciente com suspeita de COVID-19, os profissionais em atuação direta deveriam realizá-la enfatizando ação da equipe de saúde de forma sincronizada, colaborativa, com comunicação dinâmica e efetiva entre as categorias componentes. Também, o conhecimento técnico mostrou-se essencial para um cuidado colaborativo nos serviços de saúde.

Os relatos acerca da atuação entre equipe médica e de enfermagem demonstram determinados elementos inseridos nas práticas colaborativas e interdisciplinaridade como comunicação entre equipes, cooperação mútua e colaboração para alcance de metas, quais sejam qualidade na assistência e no cuidado aos pacientes contaminados(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
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5 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...
-66 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
,99 Karama M, Braultb I, Van Durmea T, Macqa J. Comparing interprofessional and interorganizational collaboration in healthcare: a systematic review of the qualitative research. Int J Nurs Stud. 2018;79:70-83. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2017.11.002
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2017....
). Além disso, as capacitações de simulação objetivam a cooperação entre os profissionais da equipe de saúde, diminuindo riscos e erros durante procedimentos de proteção e complexos.

Nesse ínterim, diversos fatores podem contribuir ou dificultar a interprofissionalidade, tais como: comprometimento dos profissionais com a prática interprofissional direcionada ao paciente; e existência de tensões relativas à percepção de voz e poder desiguais entre categorias(99 Karama M, Braultb I, Van Durmea T, Macqa J. Comparing interprofessional and interorganizational collaboration in healthcare: a systematic review of the qualitative research. Int J Nurs Stud. 2018;79:70-83. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2017.11.002
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2017....
).

No entanto, no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, a interação entre profissionais está sendo desenvolvida de forma positiva, com ressignificação da atuação colaborativa entre equipe de saúde, com base em mudanças diárias no fluxo e atendimento, assim como nas práticas profissionais e no relacionamento interprofissional entre as equipes. Para ilustrar as práticas colaborativas, foi desenhada a seguinte Figura 2:

Figura 2
Práticas colaborativas na Unidades de Pronto Atendimento para enfrentamento da pandemia de COVID-19, Fortaleza, Ceará, 2020

Como demonstrado na Figura 2, foi realizado um ciclo de atividades objetivando melhoria contínua no atendimento direcionado aos pacientes COVID positivos, sendo efetuado rotineiramente em dias determinados. Os treinamentos e simulações sobre IOT e ressuscitação cardiopulmonar eram realizados nas terças-feiras; e as videoconferências sobre utilização de ventilador mecânico e modificações no fluxograma de atendimento, nas quintas ou sextas-feiras, dependendo da disponibilidade dos coordenadores médicos e de enfermagem que assumiram a responsabilidade de liderar o momento.

A não interação entre equipes, desalinhamento de condutas entre profissionais e comunicação ineficaz podem trazer desfechos altamente negativos diante da pandemia de COVID-19, aumentando os custos do sistema de saúde, morbidade e mortalidade, dificultando o clima e a interação na equipe de saúde e trazendo desalinhamento da linha de cuidado e da gestão do trabalho(44 Lima AWS, Alves FAP, Linhares FMP, Costa MV, Marinus-Coriolano MWL, Lima LS. Perception and manifestation of collaborative competencies among undergraduate health students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020; 28:e3240.doi: 10.1590/1518-8345.3227.3240
https://doi.org/10.1590/1518-8345.3227.3...

5 Kilpatrick K, Tchouaket E, Paquette L, Guillemette C, Jabbour M, Desmeules F, et al. Measuring patient and family perceptions of team processes and outcomes in healthcare teams: questionnaire development and psychometric evaluation. BMC Health Serv Res. 2019; 19:9. doi: 10.1186/s12913-018-3808-0
https://doi.org/10.1186/s12913-018-3808-...

6 Batista REA, Peduzzi M. Interprofessional Practice in the Emergency Service: specific and shared assignments of nurses. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 1):213-20. [Thematic Issue: Work and Management in Nursing]. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0797
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...

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).

O desenvolvimento de práticas de colaboração descritas contribuiu para fortalecer a comunicação dentro da equipe de saúde e possibilitou interação por meio da construção de fluxos de atendimento e de cuidado, criação de vídeos de treinamento em redes sociais e aplicativos, assim como simulações de treinamento e reuniões para definição de consenso.

Limitações do estudo

A limitação neste relato de experiência consiste no curto período diante do enfrentamento da COVID-19, bem como nas singularidades oriundas de uma assistência com protocolos ainda pouco definidos e dos quais os profissionais de saúde obtêm pouca informação para o desenvolvimento de suas atividades.

Contribuições para a Área

O manuscrito enfoca a interprofissionalidade e interdisciplinaridade mediante práticas colaborativas como instrumento para fortalecer a atuação da equipe de saúde e melhorar a qualidade de cuidados diante de quadros leves e graves da doença, demonstrando por meio de relatos a melhoria das atividades de saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo retratou as vivências da equipe de saúde formada por médicos e enfermeiros no desenvolvimento de práticas colaborativas para enfrentamento da pandemia de COVID-19 no estado do Ceará, enfatizando a comunicação, interação e cooperação para potencializar a dinâmica e qualidade dos cuidados assistenciais.

A reestruturação das ações de saúde mostrou-se desafiadora, exigindo interconexão entre gestão do cuidado e da saúde, organização de recursos humanos, de insumos e tecnologias, utilização de indicadores epidemiológicos e fluxogramas, ações interprofissionais em cuidados críticos, intersubjetividade no atendimento aos pacientes, indicando princípios interdisciplinares no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Nesta experiência, ficou evidente que as práticas colaborativas em equipe foram relevantes para organizá-la diante do estresse nas emergências, do medo de contágio e conflitos. A enfermagem como profissão relacionada ao cuidado deve amplificar suas inter-relações com a equipe de saúde para melhorar a qualidade assistencial e limitar atrasos e erros.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Ana Fátima Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Out 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2020
  • Aceito
    07 Ago 2020
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