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Custo operacional de duas técnicas de colheita de urina cultura bacteriológica em mulheres num hospital escola

Custo operacional de duas técnicas de colheita de urina cultura bacteriológica em mulheres num hospital escola

Maria Helena Pessini de OliveiraI; Vera Heloisa Pileggi VinhaII; Edna Musse de Van GriekenIII

IProf. Assistente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

IIProf. Assistente-Doutor da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

IIIEnfermeira-chefe da Secção de Atendimento Integrado do Ambulatório Central do H. C. - F. M. R. P. - USP

Considerando que o exame de urina para cultura bacteriológica é importante para estabelecer o diagnóstico de infecção urinária e que várias são as técnicas empregadas variando desde a colheita pura e simples até a punção supra-púbica, fez-se um estudo comparativo entre duas técnicas - higiene íntima feita pela própria paciente e a técnica asséptica feita por um profissional de enfermagem, sob o ponto de vista microbiológico e custo operacional.

INTRODUÇÃO:

O exame bacteriológico da urina é indispensável para que se possa afirmar com segurança a presença de infecção no trato urinário. (1.5)

As técnicas de colheita de urina para cultura bacteriológica em mulheres são as mais variadas possíveis podendo da colheita pura e simples sem maiores cuidados higiênicos, até a punção supra-púbica(2).

De um modo geral os autores preocupam-se em estudar ou estabelecer técnicas que satisfaçam apenas do ponto de vista microbiolgico, uma vez que a presença de resultado duvidoso implica na repetição de novo exame bem como tratamento desnecessário para o paciente (5,3,4).

Dado a isso grandes são as divergências de técnicas empregadas em hospitais, ambulatórios e laboratórios (10,11). Entretanto, se faz necessário a escolha ou a opção por uma técnica que satisfaça do ponto de vista microbiológico e econômico.

Para isso, fez-se um estudo comparativo entre duas técnicas de colheita de urina para cultura bacteriológica em mulheres, visando o custo operacional e aspectos microbiológicos.

MATERIAL E MÉTODO:

Foram incluídas no trabalho 50 mulheres entre 10 a 70 anos de idade, matriculadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP, portadoras de um pedido de exame de urina para cultura bacteriológica, residentes na cidade de Ribeirão Preto e cidades circunvizinhas , independente das condições e grau de escolaridade.

As mulheres submeteram-se a duas técnicas de colheita de urina para cultura bacteriológica em 2 dias subseqüentes.

- No primeiro dia faziam a auto-higiene dos genitais com água e sabão, como o fazem no domicílio, porém com maior rigor. A seguir a própria paciente colhia o jato médio de urina em tubo esterilizado (técnica I).

- No segundo dia a mesma paciente submetia-se a técnica asséptica feita exclusivamente por um profissional de enfermagem, utilizando como antisséptico o sterylderme e soro fisiológico. Colhia-se o jato médio da urina em recipiente esterilizado, (técnica II). Levantou-se o custo operacional de cada técnica que incluia:

- montagem do ambiente, materiais permanentes e de consumo, e o tempo gasto pelo funcionário.

Todo o cuidado com a conservação, transporte e a semeadura foi tomado para assegurar resultados fiéis. Nenhuma urina foi semeada depois de 2 horas de colhida e todas foram conservadas numa temperatura de 0.º a 4.ºc (6,8,9).

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

1 - Análise Microbiológica

A análise microbiológica quantitativa das uroculturas agrupadas segundo os conceitos negativo (até 1.000 col/ml); duvidosos (> 1.000 até 100.000 col/ml) e positivos (> 100.000 col/ml), apresentaram resultados iguais para as técnicas I e II (2 7 8 9).

Do ponto de vista microbiológico as uroculturas apresentaram a mesma eficácia em ambas as técnicas. O resultado negativo foi da ordem de 84% para a técnica I, 86% para a técnica II. Os resultados positivos foi da ordem de 8% para as técnicas I e II. Os duvidosos tiveram os seguintes percentuais, técnica I 8% e técnica II6%.

2 - Custo Operacional

Quanto ao custo das duas técnicas, a técnica I é sobre todos os aspectos mais eficiente, portanto menos onerosa que a técnica II.

Quanto ao tempo gasto para a execução de ambas técnicas (tabela 1), observa-se os menores valores de tempo para a técnica I com 5 a 10 minutos (82%) seguidas de 10 a 15 minutos (14%). Para a técnica II foram 15 a 20 minutos (56%) e 20 a 25 minutos (20%). Portanto, a média de tempo gasto para a técnica II foi de 8,8 minutos e para a técnica UU 19,8 minutos. Levando-se em conta um laboratório ou um ambulatório de alto fluxo, a técnica I é altamente vantajosa, ganhando-se em tempo e pessoal, (Tabela 1).

Na tabela 2 encontramos o material necessário a montagem do ambiente para a execução de ambas as técnicas. Considerando-se que no hospital já existia o banheiro, estimou-se qual o material permanente necessário. Assim para a técnica I o orçamento foi de Cr$ 30.759,00 epara a técnica II Cr$ 77.250,00 (fevereiro 1982),portanto esta é 151,14%mais onerosa. (Tabela 2).

A tabela 3 relaciona os materiais necessários para a execução de ambas as técnicas e seus valores unitários e totais, orçando para a técnica I Cr$ 168,00 e em Cr$ 4.653,75 para a técnica II. (Tabela 3).

É de se considerar, porém, que o material relacionado para a técnica II inclui alguns instrumentos como cuba rim, cuba redonda, e pinça Pean, não considerados como reutilizáveis, desde que seja num ambiente onde são necessários para outras atividades. Na realidade, para nossos cálculos, utilizamos, apenas sabão neutro (Cr$ 1,00) na técnica I e sterylderme, soro fisiológico, gazes e algodão (Cr$ 37,45) para a técnica II, que são materiais de consumo. Com a inclusão das luvas, que é indispensável na realização da técnica II, o custo eleva-se para Cr$ 97,45. Um par de luvas resiste em média 2 a 3 autoclavagens. Portanto a técnica II é mais onerosa que a técnica I, 9.645%.

A média de colheita de urina bacteriológica no Hospital das Clínicas é de 25 por dia. Portanto, gastar-se-ia Cr$ 25,00 apenas de sabão neutro (um sabão neutro dá para 50 pacientes), e para a técnica II o gasto seria de Cr$ 2.436,25 - sterylderme, soro fisiológico, gaze, algodão e luva, isto considerando apenas material de consumo.

A estrapolação destes dados para a atividade de um ano, considerando-se como média 25 colheitas de urina por dia corresponderia aproximadamente 6.000 coletas anuais, que pela técnica I custariam Cr$ 6.000,00 ao passo que pela técnica II seria Cr$ 584.700,00 (somente materiais gastos sem atentar para o pessoal empregado, desgastes de material e outros.

Na tabela 4 mostra o tempo gasto pelo profissional (um auxiliar de enfermagem), para executar cada uma das técnicas e seus correspondentes em cruzeiros. A técnica II foi 125% mais onerosa que a técnica I. (tabela 4).

Na tabela 5 estão os tempos e os valores em cruzeiros gastos pelo profissional, no caso um atendente, para preparar o pacote de material necessário a realização de ambas as técnicas, portanto a técnica II é 1.363,77% mais onerosa que a técnica I. (tabela 5).

Se os cálculos fossem feitos somando-se ao custo dos materiais também os valores/horas dos funcionários na preparação dos pacotes e no atendimento das mulheres (tabela 3 e 4), teríamos para 6.000 coletas de urinas o valor de Cr$ 110.160,00 técnica I e Cr$ 964.749,00 para a técnica II. Portanto, uma economia de Cr$ 854.580,00 por ano.

O emprego da técnica I permite portanto associar-se quantidade e qualidade, isto é, pode-se atender um maior número de pessoal, em menos tempo, mantendo-se um bom padrão de atendimento.

CONCLUSÃO:

1 - Das 50 pacientes submetidas as técnicas I e II, para colheita de urina cultura, os resultados microbiológicos, mostraram que ambas tiveram a mesma eficácia.

2 - Os tempos médios gastos para execução das técnicas I e II, foram significantemente diferentes: 8,8 minutos por pessoa para a técnica I e 19,8 minutos para a técnica II.

3 - A técnica II foi sob todos os aspectos mais onerosa que a técnica I. Um funcionário gastou em média 19 minutos no preparo do pacote na técnica II e 1,30 minutos pára a técnica I.

Cada coleta de urina pela técnica II gastou Cr$ 97,15 de material de consumo e para a técnica I gastou Cr$ 1,00.

  • 1 - ALMEIDA, S. S. - Tratamento das infecções urinárias. Rev. Clin. Méd. 1(4):33-48,1967.
  • 2 - ALMEIDA, S. S. - Diagnóstico e tratamento das infecções urinárias. Rev. Ass. Méd. Bras. (São Paulo, 9 (7-8): 254-B, 1973.
  • 3 - ANGERAMI, E. L. s.; SANTESSO, M.; OLIVEIRA, B.M.; BOEMER, M. R. - Avaliação da técnica de colheita de urina com assepsia-estudo em mulheres. Medicina CARL (Ribeirão Preto. S. P.) 8(1-2):11-14,1976.
  • 4 - ANGERAMI, E. L. S.; BOEMER, M. R. - Análise bacteriológica de amostras de urina coletadas com técnicas distintas. Rev. Enf. Novas Dimensões, 2(1):28-33,1978.
  • 5 - COIMBRA, M. S. R. - Infecções das vias urinárias. Atualidades Médicas. 11(12):20-26,1976.
  • 6 - DAGUET, G. L. - Técnicas em bacteriologia. I Seróbios. Barcelona. Editorial Jins. pg. 82-86,1977.
  • 7 - KASS, E. H. - Bacteriuria and the diagnosis of infection of the urinary tract. Arch. intern. Med. 100,709-714,1957.
  • 8 - KOURANY, M. - Obtención y manejo de muestras para examenes microbiológicos de las enfermedades transmisibles. Puplicacions científica. 326,38-39,1976.
  • 9 - KUNIN, C. M. - Infecciones urinárias - Diagnóstico, profilaxis y tratamiento. Barcelona, Toray, 1973.
  • 10 - OLIVEIRA, M. H. P. - Levantamento de cinco hospitais da cidade de Ribeirão Preto - Dados pessoais, 1979.
  • 11 - OLIVEIRA, M. H. P. - Levantamento em dez laboratórios particulares da cidade de Ribeirão Preto - Dados pessoais, 1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1983
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